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Ex aequo

versão impressa ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.39 Lisboa jun. 2019

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

Virgínia Ferreira

 

 

No ano em que comemora 20 anos, a ex æquo disponibiliza mais um conjunto de textos de grande interesse para visibilizar o contributo de muitas mulheres, reconhecidas como escritoras, ou não, que se dedicaram a examinar e a comentar e denunciar as mais diversas condições vividas pelas suas contemporâneas. Esse é o contributo que nos traz o dossier temático deste número 39 da revista, dedicado às Mulheres na imprensa periódica colonial: discursos e representações. O tempo colonial de referência é o do império português e, por isso, não é de estranhar que aqui encontremos textos que versam sobre estudos de caso com origem numa diversidade de países de língua portuguesa, incluindo, para além evidentemente de Portugal, Cabo Verde, Moçambique e Brasil. Nele se agregam textos procedentes da área de Estudos Literários, que tem marcado uma rara presença na revista, pelo que assim se procurou colmatar um claro e injustificado défice.


As investigações agora reportadas dão continuidade ao processo só recentemente iniciado de desocultação de muitos contributos de mulheres extraordinárias, para a imprensa e o jornalismo, que foram sendo remetidos à obscuridade pelos estudos literários e historiográficos mainstream. Nelas encontramos abordagens de cariz interseccional que cruzam as articulações entre sexo, género e raça. A apresentação detalhada de cada uma das contribuições incluídas no dossier temático é feita no texto de autoria das editoras convidadas, Jessica Falconi e Doris Wieser, a quem o conselho editorial agradece a colaboração.

Na secção de Estudos e Ensaios, incluímos um texto que dá continuidade às questões das identidades que dominam a atual produção científica sociológica. Trata-se do texto da autoria de Nicolas Martins da Silva e de Sofia Marques da Silva intitulado: «“Cada um no seu canto!”: Olhares de jovens do ensino profissional sobre homossexualidade e masculinidade». Nele se dá conta de uma pesquisa junto de jovens estudantes que frequentam o ensino profissional, um contexto educativo raramente estudado, para, tendo em conta conceitos como sexualidade, heteronormatividade e homofobia, discutir as perspetivas de rapazes e raparigas sobre homossexualidade na sociedade e dirimir questões como o preconceito, tipificação de comportamentos e importância da abordagem das sexualidades por parte da escola. Podemos com segurança inclui-lo no acervo já largo de contributos que chama a atenção para mudanças urgentes no papel da escola na educação sexual.

O segundo texto da autoria de Maria do Mar Pereira aborda uma problemática frequentemente abordada nestes editoriais. Com o título «“You Can Feel the Exhaustion in the Air around You”: The Mood of Contemporary Universities and its Impact on Feminist Scholarship», a autora dá conta do ambiente que se vive no sistema universitário em Portugal, tal como é percebido e vivenciado por quem se dedica aos Estudos sobre as Mulheres, de Género e Feministas (EMGF). É um interessante pretexto para refletirmos sobre os desafios que se colocam atualmente ao ensino e pesquisa dos EMGF nos sistemas universitários cada vez mais marcados pelas políticas neoliberais, pelos cortes orçamentais e por estilos de gestão managerialistas. Alguns dos processos em curso merecem ser objeto de reflexão, nomeadamente, a hiperespecialização e a disciplinarização; os riscos de invisibilidade associados à estratégia de mainstreaming de género; a «ideologia de género» e os antimovimentos sociais (ver dossier temático sobre A «ideologia de género» e a religião no número 37 da ex æquo); os impactos produzidos pelos estudos pós-coloniais e LGBTIQ (ver dossier temático sobre Trans-ações de género: ressonâncias e saberes trans* no número 38 da ex æquo), a que se acrescentam a globalização neoliberal dos sistemas de ensino, que transformam ideias em produtos comerciais e a burocratização, exploração e medição do trabalho académico, que define o pano de fundo de «Exhaustion in the Air» que Maria do Mar Pereira encontrou nas académicas Portuguesas a ensinar e investigar na área dos EMGF, mas que poderá ser extensível a outros contextos nacionais e científicos.

Como sempre, fechamos com um convite ao prosseguimento da leitura, atendendo às sugestões que colegas nos trazem de obras em variadas línguas sobre diversas problemáticas. Assim, Sara Vidal chama a atenção para a importância da coletânea Women’s Activisms in Africa. Struggles for Rights and Representation, para ficarmos a saber mais sobre a mobilização de mulheres no continente africano. Os 10 capítulos que a compõem abrangem as regiões do Norte de África e África Subsariana e vão, em alguns casos, até à época da resistência e combate ao colonialismo. María Teresa Márquez traz-nos a sua leitura de Barbarismos queer y otras esdrújulas, editado por R. Lucas Platero, María Rosón y Esther Ortega, o que de algum modo dá continuidade às leituras disponibilizadas no dossier temático do número 38 da ex æquo (já referido). Outra coletânea é-nos apresentada por Helena Pereira de Melo. Tem por título Género, Direitos Humanos e Desigualdades, e compõe-se de uma diversidade de textos que estiveram na base de algumas das comunicações feitas no âmbito do I Congresso Internacional de Estudos de Género, realizado em 2016 e promovido pelo CIEG. Também nesta obra encontramos alguns contributos sobre as questões dos Estudos sobre a Mulheres, de Género e Feministas, provenientes de contextos e quadros teóricos diversos.

O 20.º aniversário da ex æquo, que aqui assinalamos, constitui uma oportuna ocasião para aprofundarmos a reflexão sobre os desafios que se colocam aos Estudos sobre as Mulheres, de Género e Feministas, a que prometemos dar visibilidade em próximos números. Aproveito, aliás, para, em meu nome e do Conselho Editorial, estender estes agradecimentos ao e às colegas que têm colaborado com a organização dos dossiers temáticos da ex æquo, uma tarefa que reconhecemos árdua, pois compreende a gestão do processo de arbitragem duplamente cega de todos os textos. Na verdade, só essa colaboração tem tornado possível a sobrevivência da revista e a qualidade de alto nível que tem garantido a crescente valorização que esta tem conhecido nas plataformas de indexação de revistas científicas. A este propósito vale a pena referir que, finalmente, aparece listada entre os títulos de revistas indexadas nas Ciências Sociais e nos Estudos de Género (Gender Studies) da SCOPUS, como se pode verificar na última lista divulgada por esta base (maio de 2019).

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