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Ex aequo

versão impressa ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.36 Lisboa dez. 2017

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

Virgínia Ferreira

 

O trigésimo sexto número da ex æquo reúne em dossier um conjunto de textos em resposta ao nosso apelo sobre o tema Género, educação e cidadania: conhecimento, ausências e (in)visibilidades. Os numerosos textos submetidos dizem bem da relevância da temática e de como ela continua a concitar a atenção da academia nos vários países donde recebemos propostas (em especial provenientes da Europa do Sul e da América Latina). As análises ultrapassam largamente a pergunta mais convencional que incide sobre os efeitos da escola mista em rapazes e raparigas ou os diferenciais de in/sucesso escolar entre eles e elas. As abordagens, as teorias de enquadramento, os objetos de estudo e até as conceções de género pautam-se pela diversidade.

As relações sociais de género são uma dimensão fulcral na organização das sociedades e nos processos educativos. As suas implicações nas experiências de vida são bem merecedoras do nosso escrutínio continuado e sistemático. Como se afirma no nosso apelo a submissões de artigos, «A premência de se usar uma abordagem sensível ao género nos diferentes contextos e espaços educativos, formais e não formais, parece não carecer de grandes justificações, dadas as evidências da manutenção, e da reconfiguração, de desigualdades e de discriminações sexuais assentes no diferencial de poder entre mulheres e homens, em diferentes domínios».

A questão do que podemos esperar da escola é, com efeito, fundamental e multidimensional na encruzilhada social e política em que as sociedades se encontram atualmente. Nos diferentes textos que incluem o dossier encontramos ambos os posicionamentos quanto às expectativas a depositar nos sistemas educativos – tanto são vistos como parte do dispositivo de reprodução das desigualdades sociais e sexuais, como apontados como sede de transformação social, agentes fundamentais de rutura e base da construção de sociedades mais justas e equilibradas. A tensão entre estes dois posicionamentos tem continuamente alimentado e expandido a investigação e a produção teórica sobre o tema «educação e género».

Os textos incluídos no presente número da ex æquo compõem ilustrações relevantes dos novos ângulos de análise do campo educacional, em quatro vertentes fundamentais. Registamos, com efeito, um alargamento da investigação ao ensino pré-escolar e ao ensino superior, níveis que tinham estado numa relativa obscuridade. As representações de docentes e estudantes, no primeiro caso e no segundo respetivamente, enquanto pontos de metamorfose necessária, têm vindo a ser cada vez mais recente também se faz presente em estudos sobre as experiências escolares de pessoas que fogem ao cânone da heterossexualidade, nomeadamente, homossexuais e transgénero. Neste caso, a ênfase recai frequentemente nas vivências e nas marcas de violência de que são objeto na escola, quer pelos grupos de pares, quer pelo pessoal docente e não-docente, quer ainda pelas regras das instituições. Vale, ainda, a pena assinalar a proeminência crescente da atenção dada aos espaços informais de educação, nomeadamente os possibilitados pelas novas tecnologias, como é o caso dos blogues. Por fim, alguns textos veiculam propostas políticas de como os sistemas educativos devem enfrentar o desafio da diversidade, hoje cada vez mais reivindicada como sendo parte da sua missão.

No conjunto, os textos incluídos no dossier são bem representativos das tendências mais atuais da produção científica em trono da temática proposta. Em nosso entender, os dois contributos incluídos na secção «Estudos e Ensaios» complementam muito bem os do dossier, centrando-se em espaços diferenciados que se articulam estreitamente com o sistema educativo. Um diz respeito ao campo científico e o outro ao da cultura popular. No caso ambos incidem sobre a realidade brasileira. No texto de Marcel de Almeida Freitas e Eduardo Godinho Pereira, intitulado «A inexpressiva representação feminina nas academias científicas brasileiras e no prêmio nobel», é feita a caracterização da composição sexual da Academia Brasileira de Ciências e do Prémio Nobel, por área científica, bem assim como da estrutura que gere a investigação científica no Brasil (a conhecida CAPES). Por fim, são discutidos os potenciais efeitos negativos nas escolhas e nas oportunidades educativas e profissionais das raparigas perante essas realidades. Denise Castilhos de Araújo e Poliana Lopes trazem-nos uma análise sobre «Que horas ela volta?: Percepções do discurso fílmico por blogueiras feministas do Brasil», na qual podemos ver o papel da cultura popular como recurso para a crítica multicultural do curriculum escolar. Neste caso, temos um filme sobre a exploração das empregadas domésticas no Brasil, que só recentemente viram a lei dar-lhes uma proteção mínima e a análise do que sobre ela escrevem feministas em blogues, um suporte frequente para a expressão dos novos feminismos.

A secção de leituras deste número da ex æquo vem reforçar a diversidade de perspetivas disciplinares, incidindo sobre obras provenientes da filosofia, da sociologia, da psicologia e dos estudos culturais e da comunicação. Um todo capaz, é a nossa convicção, de contribuir com conhecimento válido que traz compreensão à diversidade e complexidade das sociedades atuais.

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