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Ex aequo

versão impressa ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.35 Lisboa jun. 2017

https://doi.org/10.22355/exaequo.2017.35.05 

DOSSIER: INTERSECCIONALIDADE, COMUNICAÇÃO E CULTURA: (ENTRE)CRUZAMENTOS DE MATRIZES DE OPRESSÃO E PRIVILÉGIO

 

Poder, Resistência e Intersecionalidade: As Disputas Discursivas por Identidade no Seriado Brasileiro «Sexo e as Negas»

Power, resistance and intersectionality: the discursive disputes regarding identity in the Brazilian TV show «Sex and Black Women»

Pouvoir, résistance et intersectionnalité: les disputes discursives de l’identité dans la série télévisée brésilienne «Le sexe et les femmes noires»

Nelson R. de Souza*, Viritiana A. de Almeida** e Daniela R. Drummond***

 

* Universidade Federal do Paraná, Curitiba – Pr., CEP 80.060-000 Brasil

** Universidade Federal do Paraná, Curitiba – Pr., CEP 80.060-000 Brasil

*** Universidade Federal do Paraná, Curitiba – Pr., CEP 80.060-000 Brasil

Correspondência

 

 


 

RESUMO

O objeto deste artigo é o polêmico seriado televisivo brasileiro «Sexo e as Negas». Consideramos que a mídia não tem uma função essencial, determinada previamente, ao contrário, trata‑se de uma instituição atravessada pelo processo social interativo. Os produtos televisivos refletem as controvérsias sociais e atuam sobre elas. Sendo assim, nosso objetivo é analisar como as disputas discursivas que envolvem identidades de raça e gênero aparecem no seriado. Nossa hipótese é que o programa se apropria de linhas de força discursivas sobre raça e gênero presentes na sociedade brasileira. A perspetiva intersecional auxilia na percepção das linhas normativas que operam este dispositivo.

Palavras‑chave: Série de TV «Sexo e as Negas», identidade, gênero, raça, intersecionalidade

 


 

ABSTRACT

The object of this article is the controversial Brazilian television series: «Sexo e as Negas» (Sex and black women). We consider that the media does not have an essential function previously determined, on the contrary, it is an institution crossed by the interactive social process. Television products reflect and act on social controversies. Thus, our objective is to analyze how the discursive disputes involving race and gender identities appear in the series. Our hypothesis is that the program appropriates discursive lines of force about race and gender present in Brazilian society. The intersectional perspective helps to perceive the normative lines that operate this device.

Keywords: The TV series «Sex and Black Women», identity, gender, race, intersectionality

 


 

RÉSUMÉ

L’objet de cet article c’est la série télévisée brésilienne controversée « Sexo e as Negas » (Sexe et les femmes noires). Nous croyons que les médias n’ont pas une fonction essentielle préalablement déterminée. Au contraire, c’est une institution traversé par le processus social interactif. Les produits de télévision reflètent les questions sociales et, au même temps, ils agent sur eux. Ainsi, notre objectif est d’analyser comme les conflits discursifs, qu’impliquent les identités de race et de genre, apparaissent sur la série. Notre hypothèse est que le programme s’approprie des lignes de force discursives sur la race et le sexe présents dans la société brésilienne. La perspective intersectionnelle contribue à la perception des lignes normatives de fonctionnement de ce dispositif.

Mots‑clés: La série télévisée « sexe et les femmes noires », identité, genre, race, intersectionnalité

 


 

 

Introdução

O polêmico programa «Sexo e as Negas» enquadra-se no gênero minissérie.

Ele foi produzido pela Rede Globo de Televisão e exibido entre 16 de setembro e 16 de dezembro de 2014, às terças-feiras após as 23 horas. Foram 13 episódios de 35 minutos cada, numa única temporada, com média geral de audiência de 13,5 pontos; um bom índice para o horário. Foi idealizado por Miguel Falabella que escreveu o roteiro com ajuda de outros colaboradores. A inspiração para «Sexo e as Negas» veio do seriado norte-americano «Sex and the City», programa ambientado em Nova Iorque e que tematizava com humor a vida afetiva e os problemas associados às experiências de sexualidade autônoma de quatro mulheres brancas de classe média.

O seriado brasileiro teve como sua principal locação um bairro popular do Rio de Janeiro, o objetivo foi retratar a intimidade romântica, a sexualidade e o cotidiano de quatro mulheres afrodescendentes1 que vivem numa comunidade popular.

A proposta é dramatizar a experiência de autonomia sexual dessas mulheres negras frente às pressões associadas ao papel social feminino numa sociedade de herança machista. Múltiplas heranças, aliás, pois também faz presença a imagem da sensualidade pervertida da mulher negra submissa aos próprios desejos e ao domínio do homem branco. Esse contexto pede o olhar intersecional, pois a dominação de gênero e racial compõe dois eixos em afinidade eletiva, sem que nenhum deles possa ser apontado como preponderante quanto a seus efeitos de poder.

Entendemos a intersecionalidade, portanto, como o cruzamento recíproco de forças associadas à construção de pertencimentos identitários que se completam no processo de subalternização. Diferenças de gênero, raça, classe, sexualidade, etc. são mobilizadas em dispositivos que constituem subjetividades sujeitadas. A hierarquização destas forças, pelos movimentos sociais, dificulta a apreensão das práticas de poder em toda sua extensão. Essencializar a questão «da mulher» na luta feminista, por exemplo, torna invisíveis, ou secundários, os constrangimentos vividos por mulheres: negras, lésbicas, transexuais, trabalhadoras, etc. (Crenshaw 2002; Oliveira 2010; Hirata 2014). A perspetiva da intersecionalidade, no entanto, busca apreender criticamente o cruzamento destas linhas identitárias e seus efeitos de sujeição.2

Quanto ao seriado, mesmo antes da estreia ele gerou polêmica. Uma página no Facebook chegou a propor o boicote ao programa. O autor rebateu as acusações de que o programa reproduzia o estereótipo da «mulata»3 sensual a serviço dos prazeres do homem branco e, portanto, teria conteúdo racista.

O presente trabalho propõe olhar o seriado, não a partir de seus supostos atributos essenciais – por exemplo, reproduzir preconceitos e estereótipos com efeitos alienantes –, mas entendendo‑o como um dispositivo construído na interação com a sociedade e suas relações de força. Como produto midiático, a série oferece uma boa oportunidade para observação das disputas discursivas, especialmente do entrecruzamento das questões raciais e de gênero. «Sexo e as Negas» retoma conteúdos nevrálgicos da construção identitária nacional: a sensualidade da mulher negra, a sexualidade inter‑racial, o embranquecimento, a mestiçagem, a democracia racial; temas marcados por tensões e ambiguidades próprias das experiências intersecionais.4

As questões que orientam a análise são as seguintes: Que disputas discursivas se encontram no conteúdo da série? Que linhas discursivas sobre gênero e raça são apropriadas pelo seriado e que significados apresentam? Que soluções narrativas o seriado propõe?

Os objetivos da investigação são: analisar o conteúdo do programa procurando identificar traços de reprodução e inovação das linhas discursivas a respeito da questão racial e da sexualidade de mulheres negras. Nossa hipótese é de que os conteúdos do seriado expressam tensões, mas, também uma apropriação de linhas discursivas que apontam para novas propostas de normalização dos comportamentos e da solução dos conflitos dentro da linguagem e do formato televisivo.

Essas apropriações e proposições refletem e, ao mesmo tempo, atuam sobre o cenário político e social.

O trabalho está dividido em duas partes. Primeiro apresentaremos as linhas discursivas sobre raça e gênero presentes na sociedade brasileira, também o estágio atual do debate sobre a relação entre televisão, gênero e raça, especialmente no Brasil. Por fim, abordaremos as linhas teóricas que orientam nossa análise. Na segunda parte, procedemos à observação quantitativa e qualitativa dos conteúdos do seriado.

O seriado «Sexo e as Negas» no contexto das heranças nacional e midiática

No Brasil o debate sobre a questão racial se confunde com os temas da formação e do destino da nação. A crença na constituição de um povo homogêneo prevaleceu sobre discursos que enfatizavam o isolamento dos afrodescendentes devido a supostas características inatas propensas a degenerescência da nação (R. Costa 2009). Racismo de marca e não de origem foi o que prevaleceu. A linha discursiva da identidade nacional unificada opera com a ideia de que a mistura das raças teria a capacidade de superar a herança inferior graças ao embranquecimento do povo. A miscigenação, é fundamental frisar, resulta da elaboração de um mito fundador, mas também da trágica experiência de exploração sexual das mulheres negras pelos colonizadores brancos, tensão que chega até os dias atuais.

O mito da mistura de raças se caracteriza como um discurso aberto a diferentes significados e apropriações (R. Costa 2009) ao longo da história brasileira.

O desejo inter‑racial opera como elo que funda a nação e reaparece em diferentes combinações.

O discurso da mestiçagem, associado ao do branqueamento, parece ter, mais recentemente, operado uma dualidade: a cultura negra, ou mestiça, é celebrada como símbolo da identidade nacional, entretanto, ela permanece separada da cultura branca, que não reivindica simbolizar a nação, mas se mantém dominante.

Os brancos celebram a miscigenação da qual não fazem parte (Machado 2002; R. Costa 2009). O discurso da mestiçagem serve, por exemplo, para ratificar o mito da «democracia racial». Aliás, diante das desigualdades sociais, o apelo discursivo é pela igualdade das raças e dos seres humanos. Por outro lado, frente aos privilégios raciais, a linha argumentativa enfatiza a diferença. Fica evidente o cruzamento estratégico de discursos, interseção prática de argumentos que operam tanto na chave da igualdade quanto da diferença para conferir estabilidade a hierarquias raciais e de gênero. Tais linhas discursivas foram construídas e fomentadas no contexto das disputas do século XIX servindo à hegemonia branca (Munanga 2008), mas é possível afirmar que retornam e são ressignificadas à medida que os conflitos se reorganizam. Abdias do Nascimento, ao denunciar o racismo, associou o ditado popular: «branca para casar, preta para trabalhar e parda para fornicar»5 (Munanga 2008) ao discurso da miscigenação. Gênero e raça são linhas de força muito presentes nas disputas discursivas envolvendo a identidade nacional brasileira, uma de suas resultantes é o mito da «democracia racial», ancorado na miscigenação, associado à harmonia e ao sincretismo cultural.

Tendo em vista estas disputas discursivas, iremos observar os conteúdos do seriado. Todavia, convém fazer o breve balanço das discussões acadêmicas sobre mídia, raça e gênero.

A análise sobre a representação dos afrodescendentes pela televisão brasileira tem importantes referências, como Sodré (1999) e Araújo (2000), que denunciaram a representação estereotipada dos negros e negras na televisão. A ideologia do branqueamento e o mito da democracia racial são mobilizados como chaves explicativas das limitações da televisão e, particularmente, da telenovela.

Não se trata, entretanto, de uma história linear, ela está marcada por avanços, recuos e rearranjos. Neste processo, é possível identificar situações onde o movimento negro viu suas reivindicações serem atendidas (Araújo 2000), o que referenda a tese de que a mídia é, ao menos em parte, responsiva às mobilizações da sociedade na esfera pública (Porto 2012).

Publicações recentes também apontaram o estereótipo como padrão da mídia ao representar mulheres e homens afrodescendentes (Alakija 2012; Borges 2012; K.Costa 2012; Ferro 2012). Entretanto esta perspetiva tem dificuldades em apreender as transformações e contradições, além de minimizar o papel de resistência dos contrapúblicos e suas organizações.

É notório, também, que a emergência da cultura de massa, especialmente na televisão, se deu com um viés feminino e contribuiu para a expansão do universo da mulher na esfera pública. Analisar a mídia, portanto, favorece a reflexão sobre o cotidiano e a constituição das subjetividades (Hamburguer 2007). A mídia, ao contrário das aparências, não favoreceu a demarcação de fronteiras do tipo: público masculino e doméstico feminino; seguiu outro rumo, propiciou apropriações variadas por parte da recepção, refletindo as tensões e contradições presentes na sociedade. As telenovelas brasileiras, por exemplo, não se limitaram a reproduzir padrões associados ao masculino e ao feminino, ao contrário, redefiniram essas fronteiras, pois se ocuparam em representar a comunidade nacional e suas contradições (Hamburguer 2007; Porto 2012). Assim, a cultura televisiva de massa leva conteúdos da esfera pública para o ambiente privado, comprometendo a separação rígida e a hierarquia entre temas masculinos e femininos.

Sem tratar propriamente do feminismo, a telenovela, e alguns seriados pioneiros, promoveram uma contínua liberalização das personagens femininas (Hamburguer 2007) frente à herança nacional machista e patriarcal. Processo que, entretanto, expõe seus limites, pois opera por apropriações que não elevam os problemas cotidianos a conflitos identitários.

O referencial da «midiaculturas» referenda o princípio, segundo o qual, é o jogo interativo e não dicotômico que marca a relação de poder entre as mídias e a sociedade.6 A perspetiva francesa da «midiaculturas» se inspira nos Estudos Culturais ingleses, na Sociologia Construtivista e na concepção da esfera pública polifônica (Maigret 2010). Seu objetivo, na contramão da teoria crítica e do consumo cultural, é valorizar a capacidade reflexiva dos públicos em suas práticas cotidianas interativas. A partir deste ponto de vista, a sociedade está habitada por uma pluralidade de agentes em disputa. Os conflitos são, em grande medida, discursivos e por identidades. Mas não se deve entender o discurso, ou a representação, como efeito imaterial de uma realidade concreta (Morin 2011). Discursos são práticas que operam nas interações cotidianas e que são por elas desafiadas. Trata‑se de um jogo tenso que envolve, por um lado, a reprodução dos quadros interpretativos do mundo e seu poder de estabilizar as relações e, por outro, os desafios e resistências que apontam para as transformações da sociedade (Macé 2006).

As relações de força que perpassam o dispositivo midiático são ambíguas, tensas e contraditórias. Entre outros motivos, porque a mídia, em busca da audiência, opera a reprodução das suas fórmulas, mas também a inovação (Morin 2011); ela almeja tudo representar. A mídia é mais um dispositivo do que um sistema, um dispositivo que engendra ordens discursivas plausíveis, proposições, justificativas que buscam ancorar as ações dos sujeitos rumo às estabilidades, mas que para fazê‑lo precisa, paradoxalmente, iluminar as vozes dissonantes.

A partir deste referencial, usaremos a análise de conteúdo discursivo da série para observar como configurações discursivas se constituem buscando uma coerência estratégica, como elas operam no interior de um dispositivo reafirmando regimes discursivos hegemônicos, mas também tentando absorver resistências. Nosso olhar irá privilegiar as intersecionalidades entre gênero e raça, entendendo intersecionalidade como um conceito

que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da subordinação. Ela trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras (Crenshaw 2002, 177).

Intersecionalidade, portanto, diz respeito às linhas de força que organizam a experiência mobilizando e combinando diferentes traços de identidade com efeitos de subordinação.

O seriado «Sexo e as Negas»: números e disputas discursivas

O seriado foi produzido num contexto brasileiro de relativa mobilidade social ascendente de pobres e afrodescendentes, o que gerou polêmicas associadas ao preconceito social e racial.

O próprio título da série denota estereótipo, remetendo o receptor à associação entre a mulher negra e a sexualidade nos termos de uma herança racista.

Mas o nome da obra também revela uma tensão ao fazer referência ao seriado «Sex and the City», pois aponta para a vontade de ressignificar este quadro reconhecendo e festejando a participação de mulheres negras da periferia na experiência urbana e «moderna» da sexualidade feminina relativamente autônoma.

Fica evidente o cruzamento de elementos que remetem a identidade racial e de gênero de forma ambígua, ambas associadas a experiências passadas e presentes de sexualidade.

Numa análise sobre «Sexo e as Negas», Campos (2014) aponta sua ambiguidade, pois considera que a intenção do autor era mobilizar um olhar feminista, dando voz a mulheres negras. Contudo, o erro está em dissociar a questão de gênero da questão racial e de classe, assim, o que poderia ser visto como valorização da autonomia sexual feminina da periferia urbana, se as protagonistas fossem brancas, aparece como reforço do preconceito, pois, sendo negras e pobres, as atrizes carregam consigo a marca discursiva da «mulata hipersexualizada» disponível aos desejos dos homens brancos. Ao que nos parece, a tensão está em desnaturalizar a sexualidade da mulher submissa, mas retomando a figura subalterna e cristalizada na sociedade brasileira da «mulata sensual»: amante, poligâmica e passiva diante da violência machista. O seriado americano, no entender de Campos (2014), procurou atacar o estereótipo da mulher branca: monogamia e frigidez; representações que serviram à normalização do comportamento sexual deste grupo de mulheres «boas para casar». Erro de agenda, portanto, a adaptação aos padrões brasileiros teria pecado ao colocar nas mãos, ou no corpo, de personagens tão distantes e diferentes uma bandeira de mulheres brancas norte‑americanas.

Entretanto, nos parece que a interseção dos temas feministas e racialistas na série apresenta outras tensões e contradições que merecem ser exploradas.

É interessante investigar como a disputa discursiva, que é uma disputa por identidade, se faz pela apropriação e ressignificação de narrativas, inclusive explorando brechas e mesclando sentidos.

A série se propõe a tratar a vida amorosa de quatro mulheres negras que moram na periferia. Vamos usar também as classificações «preta» e «parda».

Quando falarmos do conjunto das mulheres afrodescendentes, usaremos o termo «negra». Matilde, a Tilde (parda), vive de trabalhos esporádicos, principalmente como garçonete. Soraia (parda) é cozinheira. Zulma (preta) trabalha como camareira no teatro. Lia (preta) não tem trabalho fixo. Tilde vive um longo e complicado relacionamento com um rapaz branco. Ela desfaz o namoro com ele para seguir uma trajetória de estudos e crescimento pessoal que ele não acompanha. Ela entra na faculdade de matemática e vai estudar na Europa. Na sua volta ao Brasil começa o namoro com um homem branco bem‑sucedido. Soraia se sente feliz em exercer livremente sua sexualidade. Vive situações de assédio no trabalho que são denunciadas com veemência. Sua trajetória é feita de várias relações, inclusive com uma experiência homoafetiva. Ao final, ela obtém sucesso profissional com apoio da patroa com quem tem relações sexuais. Zulma vive um impasse entre seus relacionamentos amorosos e o desejo de seu pai de que ela case e constitua família. No seu percurso, ela se casa com um homem negro, colega de trabalho, e tem um filho. O apoio dela se torna importante para que o marido cresça profissionalmente. Lia é separada, tem uma filha e uma neta, seu ex-marido, um homem branco, é o traficante com grande poder na comunidade. Ela luta para refazer sua vida afetiva e sofre com o controle do ex‑marido. Ao final, Lia vive um relacionamento estável com outro homem negro, escritor de livros infantis.

Vamos combinar a análise quantitativa com a qualitativa. O conteúdo dos 13 programas que compõem a série foi dividido em 457 segmentos segundo o critério de mudança de assunto e/ou de cena. Para cada segmento foi aplicada uma planilha dividida em categorias analíticas que procuram identificar conteúdos discursivos, tais como sexo e cor dos protagonistas e interlocutores na cena; temas, principal e secundário, tratados no segmento; viés dado ao tema; existência de conflito no segmento e quem levou vantagem; também segundo o sexo e a cor dos envolvidos. Os dados foram inseridos no software estatístico SPSS que gerou as frequências e correlações.

A Tabela 1 nos informa sobre a frequência de protagonismo conforme a cor e o sexo. Foi considerado protagonista o personagem que dominou o segmento ao propor o tema e/ou impor sua vontade ou viés na conversação.

 

 

Mulheres negras, ou seja, considerada a soma de pretas e pardas, tiveram o protagonismo em 46,8% dos casos. Se obedecermos à divisão entre pardas e pretas, o maior protagonismo passa a ser das brancas com a frequência de 32,8%. Deve‑se registrar que a mulher parda levou uma ligeira vantagem neste quesito em relação à mulher preta. Olhando para a divisão entre negros e brancos, a situação não muda muito, o primeiro grupo ficou com 55,8% do protagonismo nas cenas contra 44,2% do segundo. Considerando a sub‑representação dos negros promovida pela mídia brasileira, não deixa de ser significativa a presença das personagens, pretas e pardas, no seriado. Contudo, é possível verificar uma relativa divisão de espaço com as mulheres brancas.

Acontece que são dois personagens brancos os narradores. A voz do autor, Miguel Falabella, aparece no início dos episódios introduzindo temas. Ele relata, por exemplo, a história da fundação da comunidade. No centro deste «mito fundador» está outra personagem branca, Jesuína, mulher de meia-idade. Ela é neta do pioneiro da comunidade e tem um programa na rádio comunitária. Jesuína faz parceria com Falabella na tarefa de introduzir linhas discursivas. Ela é proprietária de um bar, espaço onde muitas conversas e eventos acontecem. Jesuína vive um caso amoroso com um moço negro mais jovem, mesmo sabendo que ele tem outras aventuras românticas. Individualmente, a personagem de Jesuína detém a maior frequência em protagonismo (16%), seguida de Soraia (13,6%), Zulma (11%), Tilde (9,8%) e depois Lia (9,4%).

Na divisão por sexo o protagonismo feminino é evidente, chega perto de 80%, enquanto os homens ocupam esta situação em apenas 20% dos segmentos. No nosso modo de entender, a presença do grupo pardas em 24,3% das cenas, número ligeiramente superior ao das mulheres pretas, não é significativo em si, mas poderá tornar‑se interessante à luz de conteúdos qualitativos mais adiante.

A Tabela 2 (abaixo) aponta a interação entre protagonistas e interlocutores, considerando o sexo e a cor dos personagens. O lugar de interlocutor foi ocupado preferencialmente por mulheres brancas (23,9%); depois aparecem os homens pretos (21,27%) e, na sequência descendente, homens brancos (15,1%), seguidos de mulheres pardas (12,5%) e mulheres pretas (8,77%). Os homens pardos quase não foram representados como interlocutores. As mulheres negras têm significativa presença como protagonistas, mas aparecem menos do que outros grupos como interlocutoras. Os números em destaque na tabela indicam os maiores índices de interação. O par mais frequente foi o de mulher branca na situação de protagonista interagindo com outra mulher branca como sua interlocutora. Logo a seguir aparece o de mulher branca protagonizando cenas com homens pretos e, só então, aparecem mulheres pardas sendo protagonistas diante de homens brancos, esse par está praticamente empatado com a dupla mulheres pretas e homens pretos, com a diferença de apenas um segmento. Depreende‑se que mulheres brancas agiram mais entre si e com homens pretos. Entretanto, se repetirmos o procedimento de reunir os índices das pretas e pardas, podemos verificar que o protagonismo das mulheres negras se efetiva com a interlocução preferencial com homens brancos seguidos de homens pretos.

 

 

Em resumo, alguns achados da Tabela 1 se repetem nos índices da segunda tabela. Considerando as categorias separadas, as mulheres brancas aparecem em mais segmentos interagindo entre si, mas, ao agregarmos as categorias, as mulheres negras saltam à frente e interagem mais, tendo homens brancos e pretos como principais interlocutores.

A respeito dos temas que tiveram maior frequência, a «questão racial» aparece apenas em sexto lugar com 5,7%. O destaque vai para o assunto «afetividade» com 35%, seguido de temas «culturais» com 12,5% e «sexualidade» com 10,5%. O padrão do seriado enquanto gênero de entretenimento associado à narrativa da vida privada e cotidiana se confirma, pois, afetividade e sexualidade respondem como temas principais de quase metade de todos os segmentos (45,5%). De todo modo, é significativo que este gênero televisivo reserve algum espaço para assuntos polêmicos: machismo e feminismo, juntos, apareceram em 7,5% dos segmentos como tema principal. Outros temas que se destacaram foram: cultura (12,5%), trabalho (9%) e consumo (8,5%).

A tabela 3 (ao lado) permite-nos observar a categoria dos protagonistas em relação ao tema principal manifestado nos segmentos.

 

 

Alguns números merecem destaque. Mulheres brancas protagonizam a maior parte das cenas de afetividade, seguidas de mulheres pretas e das mulheres pardas.

Novamente, mulheres negras superam as brancas. Mas, quando o tema principal é cultura, o protagonismo das mulheres negras não se repete, ou seja, mesmo a soma da frequência de pretas e pardas (13) não atinge a metade da presença das brancas (28). No protagonismo do tema consumo, as mulheres brancas também estão à frente. Quando o assunto principal é a sexualidade, a situação se inverte, as mulheres brancas, com 8 de índice, não protagonizaram mais segmentos do que as pretas (13) e, tampouco, em relação às pardas, essas lideraram o protagonismo neste tipo de cena com frequência (22).

Sobre a relação entre sexualidade e raça, o quinto episódio do seriado é ilustrativo. O título é representativo: «Puro Preconceito». Na principal cena, as quatro protagonistas entram numa loja. Quando elas já estavam de saída, Soraia flerta com um dos dois seguranças que são negros. Um deles acusa-as de furtarem o vestido que levaram para o provador. Tilde se enfurece e chama os seguranças de capitães do mato. Diante da surpresa das amigas, ela explica que esse personagem negro do passado trabalhava para os senhores de escravos, capturando os negros que fugiam. Elas chamam a polícia e o caso acaba na delegacia.

Leonor, a atriz branca para quem Zulma trabalha, foi até a delegacia prestar apoio às protagonistas. A cena tem o tom de denúncia contra o que foi chamado de «preconceito» e não diretamente de racismo. Na sequência da cena, aparecem depoimentos de vários personagens, negros e brancos, denunciando diferentes tipos de preconceitos que já sofreram. Um rapaz negro, por exemplo, diz que sofreu preconceito pelo fato de gostar de mulheres mais velhas. Algumas controvérsias ficam explícitas na cena: o preconceito racial é denunciado, mas, como em outros momentos da série, a ação é levada a efeito por personagens que também são negros, ou seja, é atenuado o preconceito enquanto relação de poder de brancos sobre negros. Neste sentido, é reforçado o discurso mítico da democracia racial, até mesmo o protagonismo do preconceito seria distribuído igualmente.

No mesmo sentido vai outro conteúdo importante da cena: a sequência, feita com diferentes depoimentos, faz uma equivalência entre o preconceito racial e outros tipos de preconceito, diluindo a relação de poder que envolve o racismo. Outro aspeto é que o enquadramento é individual e moral; seriam pessoas preconceituosas que dariam vazão a este sentimento, prejudicando outros indivíduos por diferentes motivos equivalentes entre si.

Mas existe outro elemento fundamental e recorrente na série que aparece no desenrolar desta trama. O segurança que fez a acusação preconceituosa procura Soraya para se desculpar e eles têm uma relação sexual. Ou seja, o discurso se organiza da seguinte forma: o preconceito racial, cujo agente é individual e pode ser de qualquer cor, é equivalente a outros preconceitos, mas pode ser suplantado pela sexualidade. Vivenciar com igualdade a autonomia sexual seria o caminho para igualdade racial. O discurso da democracia sexual operaria articulado à linha discursiva da democracia racial. Dá‑se a retomada da sexualidade como solução dos problemas raciais, agora com o protagonismo da mulher parda ou preta que enfrenta o preconceito distribuído democraticamente entre os grupos raciais. O mesmo se passa com a personagem Gaudéria, uma mulher branca que expõe ao longo da série seu preconceito de classe e racial, mas, ao final, sucumbe à sensualidade de um jovem negro e acaba por se casar com ele. A interseção entre gênero, sexualidade e questão racial opera apagando as relações de poder e recolocando em novos termos a subordinação.

A apropriação da resistência ao racismo se faz com adaptações: primeiro, ao traduzir racismo por preconceito, depois, ao desarmar a denúncia contra os brancos, pois o preconceito racial também partiria de negros contra outros negros e, finalmente, ao enquadrar o tema na esfera das relações individuais e solucioná-lo pela via da sexualidade.

Retornando os dados da Tabela 3, quando o tema é o trabalho, as mulheres pardas e pretas suplantam com boa vantagem as mulheres brancas e outros grupos. Quando o tema principal é «questão racial», as mulheres brancas estão à frente e nem a soma das frequências de pretas e pardas reverte essa situação. Confrontando brancos e negros, neste caso, o quadro não muda. Parece legítimo desconfiar que se reproduz a linha discursiva que reserva à mulher negra um papel principal na sexualidade e no trabalho, concedendo às brancas áreas como cultura e consumo.

Quanto ao viés, 78,3% dos segmentos tiveram a classificação de neutros, enquanto em 9% o enfoque foi crítico ou contestador. Entretanto, 7% das cenas tiveram conteúdo pejorativo ou reprodutor de preconceito e em 5,7% dos casos o tom adotado foi conservador ou liberal. O predomínio da neutralidade nos quadros temáticos condiz com o caráter de entretenimento deste gênero. Mas o seriado também reservou espaço para polêmicas. A Tabela 4 permite uma melhor visualização dos vieses mais frequentes dos principais temas.

 

 

Se somarmos as frequências das colunas «conservador» e «pejorativo», é correto considerar que o viés «progressista» levou desvantagem. De todo o modo, esse viés se fez presente. Na questão racial, por exemplo, ocorre uma divisão entre o tom progressista, leia‑se contestador, e as abordagens conservadoras e pejorativas.

A Tabela 5 ajuda a desfazer equívocos ao cruzar o viés dado aos temas com a presença de conflito.

 

 

É interessante notar que o conflito aconteceu em grande parte dos segmentos onde o tom pejorativo apareceu, ou seja, ocorreu a contestação em 71,8% dos casos. O mesmo se aplica ao viés conservador, em 65,4% dos casos o conflito esteve presente. Aliás, situações de conflito foram encontradas em 24% dos segmentos e a Tabela 6 indica qual personagem levou vantagem segundo a cor e o sexo.

 

 

Os dados indicam que na maioria esmagadora dos casos de conflito (81,8%) não houve vantagem de nenhum dos personagens envolvidos. Para os casos em que ocorreu predomínio, repete‑se o cenário do protagonismo: mulheres negras estão à frente dos demais grupos, com um índice de 7,9%. Entretanto, se considerarmos a divisão entre pardas e pretas, as mulheres brancas levam vantagem em relação às outras categorias, com o índice de 6,1%.

Muitas cenas com caráter pejorativo envolveram a personagem Gaudéria, mulher branca que expunha seus preconceitos raciais e de classe de modo caricatural. Praticamente na totalidade das cenas, ela era contestada por outros personagens, principalmente mulheres brancas.

Por fim, convém olhar como os grupos de personagens se comportaram em relação ao viés dado aos temas. Esta informação está na Tabela 7.

 

 

Apesar de a mulher branca ser a personagem principal, conforme vimos anteriormente, ela divide a hegemonia do viés progressista com a mulher preta, um pouco atrás vem o grupo mulher parda, ou seja, neste caso é nítido o protagonismo das negras, com a frequência de 21 contra 13 das brancas. Quanto ao viés conservador, o protagonismo está com as mulheres brancas, e mesmo a soma da frequência de pretas e pardas não as alcança. O mesmo não pode ser dito com relação ao viés pejorativo, as mulheres brancas têm o predomínio, seguidas pelas pardas, mas as mulheres negras juntas ultrapassam a hegemonia das brancas neste quesito. Isso reforça a percepção, já exposta, de uma linha discursiva que distribui democraticamente entre os diferentes grupos raciais a responsabilidade pelos preconceitos sociais.

Conclusão

Considerando a herança de sub‑representação dos negros na mídia, o seriado inovou ao reservar aos personagens afrodescendentes 55,8% de protagonismo nas cenas, e às mulheres negras 46,8%. A presença de personagens brancos, entretanto, também é significativa (44,2%).

Trata-se de um programa de entretenimento, isto explica o predomínio dos temas afetividade e sexualidade. De todo o modo, assuntos como a questão racial, machismo e feminismo marcam presença. Se mulheres negras disputam o protagonismo com as brancas quando o tema é afetividade, o mesmo não acontece quando o assunto é cultura ou consumo, pois as brancas dominam esses segmentos. Quando o tema é sexualidade as negras são as protagonistas, com vantagem das pardas sobre as pretas; o mesmo se passa quando o tema é trabalho. Dados significativos sobre os limites da série e da própria sociedade brasileira e que corroboram estudos já existentes (R. Costa 2009; Campos 2014).

Quanto ao viés, é possível afirmar que as abordagens conservadoras e pejorativas levaram vantagem, mas foi significativa a presença de segmentos progressistas. Deve-se acrescentar que o conflito esteve bastante presente. Ou seja, a maior parte das falas pejorativas, por exemplo, foram contestadas.

Enfim, é possível afirmar que o seriado apresenta conteúdos de transgressão dos padrões tradicionais quanto a gênero e oferece algum protagonismo às mulheres negras. Mas retoma linhas discursivas no sentido de uma nova normalização, ao enquadrar o racismo como preconceito que não contrapõe brancos e negros, mas indivíduos de todas as cores, inclusive negros contra negros. Ou seja, retoma-se o mito da democracia racial, conferindo-lhe um significado a mais, enquanto democracia do preconceito. Entretanto, a linha discursiva mais importante e significativa está na retomada da sexualidade como elemento fundador e pacificador da nação. Se antes a matriz era a miscigenação propiciada pelo desejo inter‑racial, com a dominação do homem branco sobre a mulher negra, agora prevalece a sexualidade da mulher negra, principalmente da parda, como antídoto contra o preconceito que pode vir de homens brancos, mas também dos próprios negros. O dispositivo que comporta essas linhas de força discursivas opera no sentido de tornar invisível a interseção entre raça e gênero como estratégia de subalternização. Com isso se inibe a formação de subjetividades de resistência.

 

 

Referências

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Correspondência

*Endereço: Rua João Guariza, 610. Curitiba-Pr. Brasil. CEP 82.210-010

Endereço eletrônico: nrdesouza@ufpr.pr ou nrdesouza@uol.com.br

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Nelson Rosário de Souza

Professor nos programas de pós‑graduação em Ciência Política e Sociologia da UFPR e no Núcleo de Estudos Afro‑brasileiros. Coordenador do Grupo de Pesquisa ‘Midiaculturas’.Publicações recentes: «Repensando a Mídia e a Cultura: novos olhares sociológicos». In: Ribeiro, R. (Org.) Jovens, Consumo e Convergência Midiática. Curitiba: UFPR, 2016. «Poder e Comunicação». In: Perissinotto, R. M. (Outros). Curso livre de teoria política: normatividade e empiria. Curitiba: Appris, 2016.

Viritiana Aparecida Almeida

Doutoranda do Programa de Pós‑Graduação em Ciência Política da UFPR. Atua no Núcleo de Estudos Afro‑brasileiros (NEAB/UFPR). Participa do Grupo de Pesquisa ‘Midiaculturas’.

Daniela Rocha Drummond

Doutoranda do Programa de Pós‑Graduação em Ciência Política da UFPR. Participa do Grupo de Pesquisa ‘Midiaculturas’ (UFPR).

 

 

Artigo recebido em 30 de dezembro de 2016 e aceite para publicação em 13 de fevereiro de 2017

 

Notas

1 Entendemos que, sob o ponto de vista político, as quatro protagonistas devem ser vistas como negras, entretanto, usaremos também as classificações preta e parda que são aplicadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fizemos esta opção considerando as características do racismo no Brasil, que hierarquiza os negros conforme as diferenças no tom da pele.

2 Dado os limites deste artigo, analisaremos fundamentalmente a intersecionalidade entre gênero e raça.

3 A palavra mulata remonta à escravidão e à miscigenação. Ela é relacionada à «mula», que é animal híbrido, estéril, produto do cruzamento do cavalo com a jumenta, ou da égua com o jumento. Sendo assim, o uso do termo para mulheres filhas do cruzamento inter-racial de brancos e negras pode ser visto como pejorativo.

4 Partilhamos da perspetiva crítica formulada por autores como Guimarães (1995) que denunciam o caráter mítico da democracia racial no Brasil. A tese da democracia racial foi formulada pelo sociólogo Gilberto Freyre em sua obra clássica publicada originalmente em 1933 (Freyre 1954).

5 Apesar de não se conhecer ao certo a origem deste ditado popular, Gilberto Freyre menciona a sua existência no Brasil marcado pelo patriarcalismo (Freyre 1954)

6 Para uma análise detalhada do referencial «midiaculturas», consultar (Souza 2017).

7 Não aparecem homens pardos nesta situação.

8 Temas com frequências baixas foram suprimidos, são eles: violência de gênero, violência outra, LGBTT, identidade e cidadania. O tema desigualdade social se juntou ao tema desigualdade espacial.

9 Usamos viés progressista quando é manifesto o tom crítico ou contestador do statu quo, das desigualdades ou da hegemonia; neste caso, fica patente o princípio de que todos somos diferentes e de que as diferenças não podem ancorar subordinação. O viés conservador é identificado quando é manifesto o tom liberal, reprodutor dos padrões vigentes, da moralidade tradicional, da ordem e dos costumes; também está presente aqui o princípio da tolerância aos diferentes. O viés pejorativo denota o tom reprodutor dos preconceitos, do racismo, do machismo, da homofobia, etc. Usamos o viés neutro quando o tom mais saliente é o descritivo.

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