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Ex aequo

versão impressa ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.35 Lisboa jun. 2017

 

EDITORIAL

Editorial

Virgínia Ferreira

 

O trigésimo quinto número da ex æquo é o primeiro do ano em que a revista vai estar sob escrutínio particularmente apertado, uma vez lançada a sua candidatura à integração em importantes plataformas – a DOAJ e a SCOPUS. A APEM sabe que esta não será uma conquista fácil, mas está consciente de que ela é necessária à sobrevivência deste projeto editorial, aberto, que tem sabido contribuir para o desenvolvimento dos Estudos sobre as Mulheres/de Género/Feministas.

Apesar do desenvolvimento extraordinário que os Estudos sobre as Mulheres/de Género/ Feministas têm tido, não têm ainda existência, em muitos países, como é o caso de Portugal, nem enquanto disciplina do saber, nem institucionalização no sistema de ensino superior, nem nas atividades de investigação e desenvolvimento (I&D). Esta situação constitui um obstáculo ao pleno enquadramento epistemológico e profissional de quem trabalha nesta área de estudos. Podemos, assim, afirmar que a sua natureza interdisciplinar, ao mesmo tempo que tem assegurado a sua versatilidade e dinâmica, também se tem constituído em obstáculo à sua plena afirmação. As recomendações políticas produzidas por várias instâncias internacionais no sentido de serem implementadas políticas públicas de promoção da igualdade entre mulheres e homens que combatam os desequilíbrios nos sistemas e nas organizações de ensino e de investigação têm que ser complementadas com a proatividade na mudança do conhecimento produzido – é preciso transversalizar a perspetiva da igualdade de género nos currículos de todas as disciplinas e disponibilizar o ensino dos Estudos sobre as Mulheres/de Género/Feministas. Enquanto a disciplinarização e a institucionalização permanecem inexistentes, ou na melhor das hipóteses incipientes, é importante que especialistas desta área de estudos integrem os painéis de avaliação do ensino ministrado e da investigação financiada, tanto ao nível individual como organizacional. Reivindicação mínima indispensável, que fizemos chegar à agência nacional que gere a ciência e a tecnologia. Entendemos que a ex æquo tem um mandato a cumprir nesta missão e por isso procuramos dar visibilidade às diversas áreas de produção científica, também com o objetivo de fomentar o seu desenvolvimento e de estimular jovens investigadores/as a acreditarem que vale a pena investir em pesquisas sobre temas da vida de todos/as, muitas vezes ausentes ou invisibilizadas pelos estudos da ciência dita mainstream.

Para além dos oito artigos que constituem o dossier temático em volta de Interseccionalidade, Comunicação e Cultura: (Entre)Cruzamentos de Matrizes de Opressão e Privilégio, este número da ex æquo inclui também três textos de dois autores e de uma autora provenientes da América Latina, uma região na qual a revista tern vindo a alargar a sua influência, o que é detetável pelo aumento de propostas de artigos daí provenientes. Como habitualmente, as temáticas destes estudos e ensaios são muito diversas.

Como feliz título de «O Pecado da Carne: Neomaterialismo e a (Re)Descoberta do Corpo», Caynna de Camargo Santos faz a sua primeira abordagem ao quadro teórico do neomaterialismo, consubstanciando a proposta de uma «reviravolta materialista», uma reação a grande influência que a «Viragem linguística» teve nas ciências sociais e humanas, nomeadamente, nas abordagens performativas do corpo remetido à condição de constituído por representações sociais. Com o seu «realismo agencial» e a sua proposta de uma teoria «performativa pos-humanista», Karen Barad fornece as bases para a (re)descoberta do corpo pelo autor.

O cotejamento que faz entre as abordagens de Barad e de Butler do corpo ocupa a segunda parte do artigo. A superação, e não apenas a crítica, do paradigma linguístico e sem dúvida um extraordinário desafio que o neomaterialismo vem trazer à teoria feminista.

No segundo texto, Alfonso M. Rodríguez de Austria Giménez de Aragón faz uma análise do «Uso del subtexto como propaganda machista en el personaje de Lois Lane en Man of the Steel (Zack Snyder, 2013)», concluindo que, apesar de a superfície ser apresentada como uma heroína, uma das mais duradouras da cultura pop desde a sua primeira aparição em 1938,Lois Lane, a intrépida jornalista que namora com o Superman revela-se, quando aprofundamos a análise ate ao nível do subtexto, como uma mulher dependente da ajuda masculina.

O conjunto de artigos não-temáticos fecha com a apresentação a audiência da ex æquo de uma escritora negra, Carolina de Jesus, pela mão de Elaine Santos no seu artigo «Uma sabedoria no desespero. Haque gritar aos ouvidos da aparente surdez: Somas todas Carolina». O texto encerra uma poderosa chamada de atenção para a obra de uma mulher que, apesar deter tudo contra ela, conseguiu exprimir a sua voz que, no entanto, continua silenciada, mesmo no seu país de origem, o Brasil. Através de uma sintaxe sociológica de algumas obras de Carolina de Jesus, a autora chama atenção para o carater potencialmente revolucionário dos conteúdos da obra analisada.

Hoje a ex æquo e uma revista cuja internacionalização e indubitável como o comprovam a publica ao de textos em varias línguas e a atenção dada a publicações provenientes de vários países e continentes. Neste número, isso prova-se pela inclusão de textos em três línguas, mas sobretudo pelas cinco recensões disponibilizadas que nos guiam a leitura de obras publicadas, em Inglaterra, Alemanha, Servia, Brasil e Portugal. Já no número anterior, a diversidade geográfica das obras recenseadas esta igualmente presente. Claro que a nossa preocupa ao vai além da geografia, procurando incluir leituras sabre o desenvolvimento de novas ideias e diferentes formas de compreensão do mundo, sempre sob a égide da análise crítica das relações sociais de sexo/género.

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