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Ex aequo

Print version ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.29 Vila Franca de Xira  2014

 

Neves, Sofia (Org.) (2012), Intervenção psicológica e social com vítimas, volume II – Adultos, Coimbra, Almedina, 200 páginas.

 

Luísa Saavedra

Escola de Psicologia, Universidade do Minho

 

As temáticas apresentadas ao longo deste volume têm o mérito de conciliar a unidade com a diversidade. Por um lado, a unidade é-lhe conferida pela intervenção em situações de vitimação. Por outro lado, consegue alcançar uma grande multiplicidade de situações deopressão/vitimação e de abraçar uma igual diversidade de métodos de intervenção psicológica e social. Atravessando os campos da violência nas relações de intimidade (heteronormativas e multimarginalizadas), contra mulheres idosas, a violação, o burnout, o mobbing e a exploração sexual, reúne um leque de contributos que conseguem fornecer uma visão extensiva e multifacetada sobre a intervenção nestas áreas. Os itinerários de intervenção passam quer pela intervenção individual, quer em grupo, guiadas por preocupações de empoderamento das vítimas, confrontando posturas tradicionais com perspectivas críticas e feministas.

No primeiro capítulo, Anita Santos e Marlene Matos sugerem uma terapia narrativa baseada num modelo de reautoria, permitindo a resignificação das situações de violência e a reconstrução identitária. O modelo é apresentado passo a passo e com recurso a ilustrações clínicas constituindo, por isso, suporte para intervenções fundamentadas.

Cecília Loureiro, Fábia Pinheiro e Sofia Neves, apresentam no capítulo seguinte, um programa inovador, utilizando o grupo como catalisador da intervenção. Combinando as Terapias Feministas com os Modelos MindfulnessBased Stress Reduction (baseado na filosofia budista) e Coaching, os objetivos intendem promover competências pessoais e interpessoais de autonomia e empoderamento. O programa, detalhadamente descrito, constituium guia de grande interesse na área, aliando as vantagens do trabalho em grupo com os benefícios individuais.

Isabel Baptista, Alexandra Silva e Heloísa Perista, no terceiro capítulo, propõem- nos, percorrer os contextos familiares de violência contra idosas. Começando por situar a incidência da problemática no contexto português, as autoras chamam a atenção para a intersecção das discriminações de género com a idade. Combinando perspectivas teóricas com princípios orientadores para a prática, o artigo é um alerta para a importância do trabalho em rede e da cooperação entre profissionais.

Em termos internacionais, no quarto capítulo, são apresentados os contributos de Michelle Bovin, Stephanie Wells e PatriciaResick (Boston, E. U. A.) sobre a intervenção em situações de violação. Sendo a Perturbação de Stresse Pós-Traumático e a Perturbação Depressiva Major, as principais consequências da violação, o trabalho faz um percurso histórico sobre a intervenção na área, apresentando uma série de abordagens diferenciadas desde o ‘treino de inoculação de stress’, a ‘exposição prolongada’ e a ‘terapia de processamento cognitivo’, indicando as situações em que cada uma das abordagens parece mais indicada.

Seguidamente, numa colaboração entre Espanha, Canadá e Portugal, temos um capítulo sobre o burnoute o mobbing em contexto organizacional. Para além da contextualização teórica destas problemáticas, são identificadas e esquematizadas técnicas para a intervenção. O trabalho é enriquecido com a apresentação exaustiva da avaliação médica e psicológica do caso e do diagnóstico, deixando bem evidente até onde estas situações podem conduzir em termos de mal-estar pessoal.

Numa área ainda pouco explorada em Portugal, Sofia Neves apresenta um capítulo sobre ‘Intervenção psicológica com mulheres adultas vítimas de tráfico humano para fins de exploração sexual’. Apresentando e explorando minuciosamenteprotocolos de avaliação e intervenção, a autora chama a atenção para a importância do significado atribuído pelas vítimas ao seu estado, evitando estereótipos culturais e de género e para a promoção da mudança e empowerment. É ainda salientada a importância do trabalho conjunto de profissionais de diversas áreas nomeadamente ao nível psicológico, social, médico e jurídico. Um capítulo que levanta inúmeras pistas numa área ainda tão jovem.

Finalmente, o último capítulo, da autoria de Nuno Santos Carneiro, promove uma reflexão em torno das ‘violências íntimas multimarginalizadas’ e das dificuldades de apoio por parte de ‘casais do mesmo sexo’ envolvidos em situação de violência íntima. Apelando a conceitos pouco difundidos como cidadania íntima ou heterocidadania, o autor conduz-nos por um ‘roteiro-em-aberto’ numa intervenção afirmativa e integrativa. Defendendo a criatividade e a abordagem multicultural na formação de profissionais de psicologia, o autor consegue dar conta das especificidades próprias destas violências e da necessária especificidade das intervenções.

Esperamos que este livro sirva para estimular uma prática mais consciente, criativa e reflexivas para todas e todos que intervêm nestas matérias.

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