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Ex aequo

Print version ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.28 Vila Franca de Xira  2013

 

Monteiro, Natividade (2011), Memórias de Maria Veleda. Feminista republicana, escritora e conferencista. Introdução e notas de Natividade Monteiro, Leiria, Imagens e Letras, 166 páginas.

 

Teresa Pinto

CEMRI – Universidade Aberta, Portugal

 

Pela mão da historiadora Natividade Monteiro, as Memórias de Maria Veleda, iniciadas em 1943 e publicadas em 1950 no jornal República, ganham justamente estatuto de obra editada, homenageando uma figura ímpar do feminismo e do republicanismo em Portugal. O alcance destas Memórias alarga-se, nas palavras de apresentação de Maria José Guerreiro da Franca e Silva Miranda, bisneta de Maria Veleda, pelo facto de darem, não só «testemunho, em tempo de ditadura, de um passado recente [o da 1.ª República], [mas também por transmitirem] a mensagem de que a intervenção e a defesa de ideais são sempre possíveis…» (p. 3). Acresce que estas foram as únicas memórias publicadas no conjunto de mulheres do movimento feminista e republicano português de inícios do século XX. A obra é enriquecida com algumas fotografias originais de Maria Veleda que, no entanto, mereciam melhor qualidade de reprodução e em alguns casos de um tratamento gráfico mais cuidado, numa editora que dá por nome «Imagens e Letras».

Natividade Monteiro, tendo encetado a sua investigação sobre Maria Velda há mais de dez anos, no âmbito de uma dissertação de mestrado – Maria Veleda (1871-1955), uma professora feminista, republicana e livre-pensadora, (2004) – continuou a reconstruir o percurso de Maria Veleda e a trabalhar na preservação do espólio familiar daquela «cidadã insubmissa de percurso invulgar que muito batalhou pela República» (p. 5), como regista João Esteves no Prefácio desta obra.

Na introdução às Memórias de Maria Veleda, Natividade Monteiro não se limita a contextualizar os textos publicados e a apresentar-nos a autora, função em si mesma suficientemente meritória. O acesso aos manuscritos permitiu a comparação com os textos publicados no jornal República entre 26 de fevereiro e 11 de abril de 1950 e a identificação, não só dos cortes feitos pela censura, como os próprios «acertos de linguagem numa atitude de autocensura, própria de quem escrevia e publicava coartado por um regime ditatorial que tudo vigiava, censurava e reprimia» (p. 9). Relembramos que Maria Veleda, professora, republicana, maçónica e livre-pensadora, foi uma lutadora incansável pela liberdade e pela igualdade, pautando por esses ideais, com uma coerência inquestionável, a sua própria vida pessoal.

Sublinhando o contributo das memórias individuais na produção historiográfica, em particular nos estudos sobre as mulheres, para uma reinterpretação do passado em função «da experiência social de mulheres e homens na teia das múltiplas relações estabelecidas nas esferas da vida pública e privada» (p. 17), Natividade Monteiro adentra-nos, em seguida, no percurso feminista e republicano de Maria Carolina Frederico Crispin, nascida em Faro (1871). Foi precisamente no jornal O Distrito de Faro que se estreou como colaboradora, assinando os seus textos com o psedónimo de Maria Veleda (entre outros), o qual se converteria no nome usado na atividade profissional e política e na vida familiar.

Servindo de antecâmara às Memórias de Maria Veleda, Natividade Monteiro reuniu onze testemunhos sobre a feminista, publicados entre 1902 e 1955, em diversos periódicos, como A Crónica (1902), Sociedade Futura (1904), O País (1908), A República (1909), A Semeadora (1917), Diário de Lisboa (1948) e República (1951, 1952, 1955).

A publicação no jornal República das Memórias, divididas em vinte e dois trechos, iniciou-se num domingo, dia 26 de fevereiro de 1950, data do septuagésimo nono aniversário da autora, e prolongou-se por pouco mais de um mês. O jornal República anunciava a obra, em 24 de fevereiro, sublinhando que nela se reuniam «capítulos sensacionais da história do regime» e «um repositório de enternecidas recordações – a história da vida de uma mulher, abnegada, heroica e gentil, que fica como exemplo das mais nobres virtudes, de amor pelo ideal, em defesa das causas justas e das supremas aspirações dos humildes» (p. 62).

Cabe-nos, agora, percorrer as cerca de noventa páginas de memórias e usufruir da sua leitura.

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