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Ex aequo

versão impressa ISSN 0874-5560

Ex aequo  no.26 Vila Franca de Xira  2012

 

Oliveira, Márcia, Queirós, João, Novais, Carina, Cruz, Sofia, Monteiro, Bruno e Marques, Regina (2011), Percursos de mulheres, trabalho, família e participação associativa no grande Porto, Porto, Livpsic/Movimento Democrático de Mulheres, 136 páginas.

 

Sofia Bergano

Doutora em Ciências da Educação; Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Bragança

 

Percursos de Mulheres é uma obra que reúne um conjunto de textos que resulta do desenvolvimento do projeto de investigação intitulado «Uma Vida de Trabalhos? Trajetórias Profissionais e Participação das Mulheres», coordenado por Márcia Oliveira e desenvolvido pelo Movimento Democrático de Mulheres – Núcleo do Porto. Este projeto de investigação decorreu entre 2008 e 2010 e incidiu sobre mulheres trabalhadoras dos concelhos do Porto, de Vila Nova de Gaia, de Valongo, de Gondomar, de Matosinhos e da Maia.

Deste projeto de investigação destacamos dois eixos fundamentais em torno dos quais a reflexão é desencadeada: o eixo do trabalho e o eixo da participação na vida pública. Assim, esta obra é constituída por diferentes capítulos sobre estas duas linhas matriciais de problematização.

O conjunto dos textos propostos permite a problematização em torno das questões relacionadas com a presença das mulheres no mundo do trabalho e da participação cívica com conciliação entre a vida profissional pessoal e familiar. Assim, e ao longo dos diversos capítulos deste livro, estão presentes as mudanças observadas na sociedade portuguesa, especialmente, na região do Grande Porto, no que concerne ao papel da mulher na estrutura económica e, simultaneamente, a constatação da persistência de desigualdade entre homens e mulheres nas esferas pública e privada.

No primeiro capítulo, da autoria de João Queirós, – Recomposição da estrutura económica e trajetórias socioprofissionais de mulheres do Grande Porto um retrato panorâmico (pp. 13-29) – o autor apresenta as grandes tendências de recomposição da estrutura económica do Grande Porto tendo como principal enfoque as transformações verificadas nos modos de relação das mulheres com o mundo do trabalho. Neste capítulo são conciliados dados oficiais das últimas três décadas com informações recolhidas através do inquérito realizado a 701 mulheres, em idade ativa, realizado no âmbito do projeto «Uma Vida de Trabalhos? Trajetórias Profissionais e Participação das Mulheres». Desta articulação resulta a possibilidade de analisar as diferenças encontradas no interior do conjunto das mulheres, no que às condições socioprofissionais diz respeito e, simultaneamente, a possibilidade de proceder à análise daquilo que são as transformações intergeracionais relativas a estas problemáticas.

O capítulo Trajetórias Profissionais de Mulheres; uma reflexão em torno da mulher, do trabalho e da família (pp. 31-48), da autoria de Carla Novais, dá-nos conta da instabilidade profissional das mulheres e da forma como as exigências da vida familiar podem concorrer para a interrupção e/ou estagnação das carreiras femininas. Relativamente a estes aspetos sublinhamos a importância das questões levantadas no sentido de chamar a atenção para a fragilidade laboral das mulheres e para o que este facto representa, em termos de desvantagem das mulheres no que se refere à proteção social associada ao trabalho.

No seguimento da problematização em torno da conciliação da vida profissional com a vida familiar das mulheres, Sofia Cruz apresenta-nos o caso das mulheres trabalhadoras nos hipermercados (pp. 49-58) e das dificuldades sentidas por elas, na sequência da alteração do código do trabalho e das normas regulamentares das grandes multinacionais que acabaram por constituir um fator de desregulação dos tempos das vidas das mulheres, contribuindo para a agudização dos problemas associados à conciliação do trabalho remunerado com as tarefas familiares tradicionalmente atribuídas às mulheres.

No capítulo O medo. Insidioso elemento da experiência quotidiana de mulheres trabalhadoras em «tempos de crise» (pp. 59-72), João Queirós retoma a problemática da instabilidade económica que se apresenta, de uma forma mais ou menos subtil, nos discursos das mulheres entrevistadas e que, de acordo com o autor, é «o efeito de um caminho que se sente ser percorrido individualmente» (p. 63). Esta citação ilustra de uma forma muito clara a necessidade sentida da partilha e discussão das situações e circunstâncias de vida das mulheres.

Bruno Monteiro, nos capítulos: As normas do gosto associativo. Modalidades de participação associativa das mulheres assalariadas do Grande Porto (pp. 73-98), Aquela que diz não e Notas de uma pesquisa sociológica sobre a abstenção (pp. 99-113) e Materiais para a história natural do sindicalismo (pp. 115-130). Um trajeto feminino na militância sindical (1997-2000), debruça-se sobre a participação das mulheres na esfera pública, propondo uma reflexão em torno da participação das mulheres na vida cívica, designadamente da participação associativa das mulheres assalariadas do Grande Porto; propõe também uma reflexão acerca da abstenção das mulheres e fala ainda do trajeto feminino na militância sindical. Neste conjunto de capítulos, sobre a participação das mulheres, o autor problematiza as questões da cidadania e da permanência de desigualdades entre mulheres e homens nestes domínios.

Este trabalho é de uma pertinência e atualidade inquestionáveis e dá-nos conta de um conhecimento construído de forma contextual e participada, que resulta de vários olhares sobre a desigualdade entre homens e mulheres. Simultaneamente, remete-nos para a heterogeneidade que é possível observar no interior da categoria das mulheres, no que respeita às suas situações laborais, familiares e de participação cívica.

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