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Ex aequo

versão impressa ISSN 0874-5560

Ex aequo  n.23 Vila Franca de Xira  2011

 

Editorial

 

Teresa Pinto

 

O Dossier Temático do vigésimo terceiro número da ex æquo, subordinado ao tema «Género e Intimidades», convida a reflectir e a debater os impactos na vida dos sujeitos e das famílias decorrentes de alterações registadas, de jure e de facto, na vida privada ou noutras esferas que nesta se repercutem. Anália Torres, coordenadora do Dossier, referindo que «as profundas transformações que ocorreram nos últimos 50 anos nas sociedades contemporâneas no âmbito da vida conjugal, familiar, nas relações íntimas, nas formas de interconhecimento» sofreram uma «aceleração significativa na primeira década do século XXI», sublinhou os «dilemas no plano analítico» que delas decorrem, mercê de coexistências paradoxais entre realidades representadas e vividas, entre práticas novas e tradições retomadas, que urge conhecer e compreender. Investigadoras e investigadores, respondendo ao apelo a contributos lançado sobre a temática deste dossier, aprofundam e problematizam a complexidade dos processos de mudança. Cada um dos textos será apresentado por Anália Torres na introdução ao dossier.

A secção de Estudos e Ensaios é composta por três artigos de temáticas distintas. Em «Sugestionabilidade Interrogativa em Mulheres Vítimas de Violência Conjugal», Diana Cunha e Maria Salomé Pinho contribuem, com um trabalho original, para aprofundar uma temática ainda lacunar na investigação portuguesa, mas fundamental para compreender o comportamento das mulheres vítimas de violência doméstica em diversos contextos, designadamente no judicial. As autoras, com base num trabalho empírico que envolveu mulheres vítimas de violência conjugal e mulheres não vítimas, discutem resultados não esperados face à revisão teórica da temática sobre violência conjugal e sugestionabilidade, como a constatação de que as participantes vítimas de violência conjugal são menos sugestionáveis do que as participantes não vítimas, e abrem novas linhas de pesquisa, nomeadamente sobre a importância, para a temática em causa, das instituições vocacionadas para o apoio especializado a vítimas de violência conjugal.

No artigo «Filles, garçons: qui sont les mal élevés?», Vanina Mozziconacci problematiza, a partir da análise de dois textos elaborados por duas feministas do século XX e publicados com um intervalo de sessenta anos (1914 e 1973), as propostas de uma educação, em contexto familiar, conducente a uma socialização igualitária. Debatendo os efeitos da inculcação de valores em raparigas e rapazes, discutindo argumentações sobre a masculinização das raparigas e a feminização dos rapazes, a autora argumenta sobre o modo como algumas teorias feministas actuais podem renovar a abordagem sobre a educação. Sendo raros os textos de feministas que tratem da temática da educação, o texto de Vanina Mozziconacci, suscitando controvérsia, convida ao diálogo e desafia a investigação.

O colectivo, constituído por Luísa Saavedra, Cristina Maria Vieira, Alexandra Araújo, Liliana Faria, Ana Daniela Silva, Telma Loureiro, Maria do Céu Taveira e Sara Ferreira, apresenta, no artigo «(A)Simetrias de género no acesso às Engenharias e Ciências no Ensino Superior Público», uma investigação relevante para a desconstrução dos estereótipos socialmente construídos que subjazem à escolha de cursos e profissões por parte de cada uma dos sexos. Complexificando as formas de análise da distribuição de cada um dos sexos pelas áreas científicas do ensino superior através de indicadores mais finos, que permitem apreender discriminações mais subtis, as autoras avaliam a frequência de rapazes e raparigas, as médias de candidatura ao Ensino Superior, bem como a opção de candidatura ao Ensino Superior em determinados cursos que integram as áreas habitualmente designadas de «Ciências, Matemáticas e Informática» e «Engenharias, Industrias Transformadoras e Construção». Propondo que os estudos, a nível nacional e europeu, analisem campos mais específicos de formação, este trabalho contribui para uma melhor adequação das estratégias e acções de intervenção às situações reais de distribuição de cada um dos sexos pela oferta de cursos do ensino superior.

Na secção de Leituras e Recensões, Carla Cerqueira dá-nos a conhecer a obra Quem tem medo dos feminismos, coordenada por Maria José Magalhães, Manuela Tavares, Salomé Coelho, Manuela Góis e Elisa Seixas, que reúne em dois volumes as comunicações apresentadas ao Congresso Feminista de 2008, iniciativa que evocou, oitenta anos depois, o Congresso Feminista de 1928. Maria Regina Tavares da Silva faz-nos uma leitura cruzada dos diversos artigos da obra colectiva elaborada por Teresa Pinto (que coordenou), Ilda Abreu, Isabel Lousada, João Esteves, Maria do Céu Borrêcho, Maria Emília Stone, Maria Lúcia Moura, Natividade Monteiro, Paulo Guinote e Zília Osório de Castro, intitulada Percursos, Conquistas e Derrotas das Mulheres na 1.ª República, evidenciando como, no contexto das comemorações do centenário da implantação da 1.ª República, é rasgado o «véu de invisibilidade e de silêncio que, na análise histórica tradicional, habitualmente cobre a acção das mulheres, enquanto agentes activas e intervenientes dessa mesma História». Tatiane Rosa Carvalho introduz-nos o produto de compilação e tradução para língua portuguesa de trabalhos de referência sobre Linguagem. Gênero. Sexualidade, realizado no Brasil por Ana Cristina Ostermann e Beatriz Fontana, e que tornou acessíveis, a um público mais alargado, textos de diferentes perspectivas produzidos desde a década de setenta do século passado.

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