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Ex aequo

versão impressa ISSN 0874-5560

Ex aequo  n.21 Vila Franca de Xira  2010

 

Introdução: Maria De Lourdes Pintasilgo, cinco anos depois. Ecos de palavras dadas.

 

Fernanda Henriques

Universidade de Évora

 

Em 2005, no quadro do desaparecimento repentino de Maria de Lourdes Pintasilgo, a ex aequo quis homenagear a sua vida e a sua obra publicando um número temático, Maria de Lourdes Pintasilgo – Um Legado de Cidadania, onde recolheu depoimentos e artigos, nacionais e estrangeiros, que testemunhavam a sua estatura de pensadora e de política.

Este gesto da revista da Associação Portuguesa de Estudos sobre as Mulheres quis, ao seu nível, colmatar a tremenda injustiça que representou a ausência de reconhecimento da parte do país que, institucional e politicamente, ignorou a sua morte.

Cinco anos volvidos, no que seria a comemoração dos seus 80 anos, a ex aequo quis, de novo, trazer a vida e a obra de Maria de Lourdes Pintasilgo para a ribalta do debate e, nesse quadro, resolveu dedicar-lhe o dossier temático do seu número 21. Para isso, recolheu artigos, memórias e balanços que exploram o imenso legado que constitui a sua obra escrita, que a Fundação Cuidar o Futuro tem vindo a disponibilizar ao público em geral.

O dossier integra, no total, um conjunto de oito textos de natureza diversa e cuja organização é a seguinte:

● A abrir o dossier, é a voz da própria Maria de Lourdes Pintasilgo que se faz ouvir, através de um texto, sem data, que se chama, Émergence du féminin et démocratisation du politique.

Trata-se de um texto em que Maria de Lourdes Pintasilgo problematiza o contributo das mulheres enquanto sujeito de poder e de decisão política. Situa esta problemática no contexto dos acontecimentos e ideias que vão dando forma aos anos 90 do século 20. Nessa análise, considera que o contributo das mulheres tem como objectivo mudar a própria política, para que seja mais atenta aos problemas reais das pessoas e dos povos. Nesta perspectiva analisa num primeiro tempo a presença das mulheres na política. Num segundo momento, aprofunda as mudanças em curso na perspectiva de uma crescente interdependência em termos económicos e políticos, em que o meio-ambiente emerge como um novo actor social. Finalmente, analisa o contributo das mulheres na reorganização dos laços sociais e de novos modos de gestão da vida na sociedade. A participação das mulheres na tomada de decisão não se deve limitar a seguir modelos dominantes e obsoletos. Importa inventar novas formas de democracia, em que predomina uma lógica de preservação de todas as formas da vida. Para isso é importante que deixem vir ao de cima a cultura que as formou enquanto mulheres.

● O segundo texto, de Marijke de Koning, é, ainda, uma abertura, porque se inscreve no quadro de uma confissão pessoal de relação com Maria de Lourdes Pintasilgo, pelo que, não sendo a sua presença directa é, contudo, a força da sua ressonância em alguém.

Com o título, Nomear a aurora sem Ela, este texto representa um percurso poético de luto que a autora desenvolve com uma grande coragem, e que, centrado no tema da nomeação – da (im)possibilidade e da diversidade dos modos de nomear –, abre um caminho fecundo à temática em causa.

Seguem-se os artigos, propriamente ditos, em número de 5.

● O primeiro, de Isabel Allegro de Magalhães, é todo ele dedicado ao pensamento e acção de Maria de Lourdes Pintasilgo.

O artigo tem por título A dimensão do cuidar e a ressignificação do espaço público no pensar e agir de Maria de Lourdes Pintasilgo, constituindo uma exploração sistemática dos seus escritos. Com profundo conhecimento da pessoa de Maria de Lourdes Pintasilgo, com quem «durante mais de 40 anos conviveu», mas também com uma experiência directa dos meandros da temática do cuidar e das respectivas implicações no seu pensamento e na sua acção, se mais não fosse porque «durante cinco anos, no Terraço do Graal e ainda em vida de Maria de Lourdes Pintasilgo, congregou um grupo – diverso, flutuante e coeso – com jovens e adultos, para estudo e discussão do livro: Cuidar o Futuro. Um livro […] onde o “cuidar” é apresentado como cerne da atitude política, conferindo maior exigência à função política do espaço público», Isabel Allegro faz, paulatinamente, a análise, em articulação sistemática, das noções de cuidar e de espaço público. Para além dessa análise, a autora procura, ainda, realçar a linha de coerência do pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo, desde o início do seu desenvolvimento, mostrando como tais noções se enraízam na rede de preocupações que a ocuparam desde os anos 50 do século XX.

● O segundo artigo é de J. (Hans) B. Opschoor e tem como título Caring for Future Generations and Biodiversity: Earth Ethics and some implications for structuring the global public domain.

Neste artigo, Hans Opschoor pretende mostrar a maneira como as sociedades podem estender a sua preocupação em relação ao bem comum, incluindo aí, não apenas as futuras gerações, mas também outras dimensões da biodiversidade terrestre. Fá-lo explorando algumas linhas de desenvolvimento da filosofia moral e da ética num contexto de direitos e responsabilidades ou deveres que os humanos têm ou deveriam ter, destacando a influência que elas deveriam ter sobre o modo como as sociedades configuram o seu espaço público.

● O terceiro artigo é de Ana Tavares e aborda o tema da intervenção directa de Maria de Lourdes Pintasilgo na vida política portuguesa, enquanto Primeira- Ministra do V Governo Constitucional.

Com o subtítulo, Em busca das reacções na imprensa, a autora procura explorar a imagem de Maria de Lourdes Pintasilgo em dois Semanários – O Jornal e o Expresso –, no contexto do seu exercício como Primeira-Ministra. Este artigo é parte de um estudo mais vasto que Ana Tavares está a desenvolver, no âmbito de um Mestrado em Questões de Género, na Universidade de Évora, e que é pioneiro entre nós. Embora a abordagem que aqui se apresenta seja introdutória, ela já nos permite identificar, claramente, as resistências diversas que Maria de Lourdes Pintasilgo teve de enfrentar no exercício das suas funções políticas.

● O quarto texto, intitulado O cuidado como ser e o cuidado como agir, é de autoria de Marília Rosado Carrilho.

Enquadrado num projecto de investigação, também pioneiro, dedicado à exploração filosófica do pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo, este artigo trata a noção de cuidado em duas acepções: a de constituição ontológica do ser humano – desvelando o seu sentido no pensamento heideggeriano – e a de modo de agir do próprio ser humano, no quadro da sua vida colectiva – seguindo o pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo. A pertinência da análise assenta no facto de Maria de Lourdes Pintasilgo, política, ter sido leitora de Heidegger, filósofo. Nesta medida, pretende-se desocultar alguma da influência da noção de cuidado em Heidegger sobre o pensamento social e político de Maria de Lourdes Pintasilgo.

● O último texto é de Irene Borges-Duarte e tem como título A fecundidade ontológica da noção de cuidado. De Heidegger a Maria de Lourdes Pintasilgo.

Inserido no mesmo projecto referido antes, o texto de Irene Borges-Duarte, como ela própria afirma, está organizado em cinco momentos, sendo o primeiro linguístico e que «procurará mostrar o que se oculta sob a palavra-temática do «cuidado», os três seguintes farão diferentes percursos em torno do tema do cuidado no pensamento heideggeriano e o quinto, «conclusivo, em que se afirmará, numa perspectiva contemporânea, em que a meditação de Maria de Lourdes Pintasilgo se integra, a fecundidade ontológica da noção de cuidado». Ainda em palavras da autora, o texto pretende «dizer o seguinte: a categoria fenomenológica do cuidado, enquanto «existenciário», introduz na história – não tanto da filosofia como do ser –, pela primeira vez, a consideração da responsabilidade ontológica intrínseca aos humanos, não apenas para consigo mesmos (individual ou colectivamente), mas para com o ser de tudo quanto há.»

● O dossier fecha com uma reflexão/balanço sobre o trabalho e a intencionalidade da Fundação Cuidar o Futuro que Maria de Lourdes Pintasilgo fundou.

Com uma tríplice autoria – Fátima Grácio, Paula Borges e Marijke de Koning – o texto dá a conhecer, não apenas as actividades que foram desenvolvidas pela FCF, nestes cinco anos, mas também a preocupação com a fidelidade àquilo que a sua fundadora enunciou como projecto.

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