SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.17 número1Jovens portugueses que frequentam ambientes recreativos nocturnos. Quem são e comportamentos que adoptamCo-morbilidade psicopatológica numa população toxicodependente do Alentejo índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Toxicodependências

versão impressa ISSN 0874-4890

Toxicodependências v.17 n.1 Lisboa  2011

 

Do estereótipo à visão fenomenológica: análises sobre o “agarrado”

 

Luís Fernandes

Prof. Associado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Rua Dr. Manuel Pereira da Silva 4200-392 Porto jllf@fpce.up.pt

 

RESUMO

Este artigo propõe o confronto entre duas visões acerca do toxicodependente: a que é veiculada pelo estereótipo do “agarrado” e a fenomenológica, proposta aqui a partir do acesso da etnografia à sua experiência. Começamos por caracterizar dois tipos de pensamento, o coisista e o construtivista, como formas de olhar e dizer o real, discutindo assim distâncias e aproximações entre senso-comum e ciência; fazemos em seguida uma breve caracterização do conceito de estereótipo, de modo a enquadrar teoricamente o exercício que nos ocupará o resto do artigo. Este exercício analisa dimensões como a relação da figura do “agarrado” com a exclusão social, com a temporalidade ou com a (in)capacidade da abstinência. Concluímos, não pela necessidade de correcção do estereótipo do “agarrado” a partir do que seria uma visão mais rigorosa da ciência, mas pela evidenciação de como, entre ambas, há realimentações mútuas. A linguagem com que falamos da droga é portanto produto duma construção social de que evidenciamos os papéis do senso-comum, da comunicação social e da ciência, em particular da que inscreve a sua produção no dispositivo medicopsicológico.

Palavras-chave: Estereótipo; Droga; Meios de Comunicação Social; Etnografia.

 

RÉSUMÉ

Cet article propose une confrontation entre deux visions sur le toxi­comane: celle qui est transmise à l’image stéréotypée de l’«accro» et celle qui sort d’une approche phénoménologique, proposé ici à partir de de l’accès de l’ethnographie à son expérience. Nous commençons par caractériser deux types de pensée: l’objectiviste e le constructiviste, façons de regarder et dire le réel, ce qui permet une discussion sur les distances et les similitudes entre le sens commun et la science. Aprés, on fait une brève caractérisation de la notion de stéréotype, pour établir le cadre théorique de l’exercice qui va occuper le reste de l’article. Cet exercice analyse des dimensions comme la rélation de la figure de l’«accro» avec l’exclusion sociale, avec la temporalité ou la capacité/incapacité de l’abstinence. Notre conclusion va dans le sens, non pas de une nécessité de corriger le stéréotype de l’«accro» a partir de ce qui serait une approche scientifique plus rigoureuse, mais par la démonstration de la façon dont, entre eux, il y a une rétroaction mutuelle. Le langage utilisé pour parler de la drogue est donc une construction sociale dont on évidencie les rôles de bon sens, des médias et de la science, en particulier celle qui inscrit sa production dans le dispositif médico-psychologique.

Mots-clé: Stéréotypes; Drogue; Média; Ethnographie.

 

ABSTRACT

This article proposes a confrontation between two visions about the addict: the one that is conveyed by the stereotypical “hooked” user, and the phenomenological one, proposed here from the ethnographic access to his experience. We begin by characterizing two types of thinking: the objectified and the constructivist, as ways to look at reality and explaining it, discussing the differences and similarities between common sense and science. Then we make a brief characterization of the concept of stereotype, in order to establish a theoretical framework for the exercise that will occupy the rest of the article. This exercise examines certain dimensions like the relationship between the figure of the “hooked” and the context of social exclusion, the notion of temporality or the ability/inability to achieve abstinence. Our conclusion is that we must not correct the stereotype of the “hooked” in the context of a more rigorous science, but, instead, to demonstrate how, between the two, there is a mutual feedback. The language we speak when adressing drug issues is the product fo a social constructrion in which we highlight the roles of common sense, the media and science, particularly the one that fits its production in the medico-psychological realm.

Key Words: Stereotype; Drugs; Media; Ethnography.

 

RESUMEN

Este artículo propone el confronto entre dos visiones sobre el drogo­dependiente: la que es vehiculada por el estereotipo del “agarrado” y la fenomenológica, propuesta aquí a partir del acceso de la etnografía a su experiencia. Empezamos por caracterizar a dos tipos de pensamiento, el “cosista” y el constructivista, como formas de mirar y decir el real, discutiendo así distancias y aproximaciones entre sentido común y ciencia; hacemos en seguida una breve caracterización del concepto de estereotipo, de modo a que se encuadre teóricamente el ejercicio que nos ocupará hasta al final del artículo. Este ejercicio analiza dimensiones como la relación de la figura del “agarrado” con la exclusión social, con la temporalidad o con la (in) capacidad de abstinencia. Concluimos, non debido a la necesidad de corrección del estereotipo del “agarrado” partiendo de lo que sería una visión más rigurosa, sino por la evidencia de cómo, entre ambas, hay realimentaciones mutuales. El lenguaje con el que hablamos de la droga es así un producto de una construcción social de que evidenciamos los papeles del sentido común, dela comunicación social y dela ciencia, en particular de la que inscribe su producción en el dispositivo medico-psicológico.

Palabras Clave: Estereotipo; Droga; Medios de Comunicación Social; Etnografía.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Antunes, A. (2010). Fugas urbanas. Contributos para o estudo dos lugares das sociabilidades urbanas para jovens em contextos de sobrevivências da rua. lisboa: Universidade nova de lisboa (tese de doutoramento).

Becker, H. (1963). Outsiders – studies insociology of deviance. nova iorque: the free press of glencoe.

Berger, p. e luckman, t. (1985). A construção social da realidade. petrópolis: vozes [original de 1963].

Blumer, H. (1969). Symbolic interactionism. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.

Calado, V. e Lavado, E. (2010). Representações Sociais da Droga e da Toxicodependência. Inquérito à população jovem presente no Rock in Rio – Lisboa 2008. In Toxicodependências, vol. 16, nº3 pp. 17-27.         [ Links ]

Carvalho, M. C. (2007). Culturas Juvenis e novos usos de Drogas em Meio Festivo. Porto: Campo das Letras.

Cruz, O. e Machado, C. (2010). Consumo “não problemático” de drogas ilegais. In Toxicodependências, vol. 16, nº2, pp. 39-47.

Diniz, A. (2004). Sobre essas coisas a que chamamos crenças. Lisboa: Climepsi.

Fernandes, L. (1997). Etnografia urbana das drogas e do crime. Lisboa: gabinete de Planeamento e de Coordenação do Combate à Droga.

Fernandes, L. e Manita, C. (1998). Imagens da desviância. Droga, Insegurança Urbana e Criminalidade na Imprensa. In A Comunicação Social e a Toxicodependência. Lisboa: CML e Cenjor.

Fernandes, L. e Carvalho, M. C. (2003). Consumos Problemáticos de Drogas em Populações Ocultas. Lisboa: Instituto da Droga e da Toxicodependência.

Fernandes, L. e Araújo, T. (2010). A Vida do Andamento – Para uma Caracterização dos Consumidores Problemáticos de Droga em Guimarães. Porto: faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação U.P. (não publicado).

Gamella, J. e Roldán, A. (1999). Las rutas del extásis. Drogas de síntesis y nuevas culturas juveniles. barcelona: Ariel.

Goffman, E. (1975). Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar. [Original de 1963].

Guba, E. & Lincoln, Y. (1994). Competing paradigms in qualitative research. In N. Denzin & Y. Lincoln (Eds.), Handbook of qualitative research (pp. 105-117). Thousand Oaks, CA: Sage.

Lewis, O. (1963). The Children of Sanchez. Paris: gallimard, 1993.

Machado, Pedro (2008). “Perto de ti, matas. Longe de ti, eu morro. Uma etnografia sobre usos de drogas de rua”. Évora: Departamento de Sociologia da Universidade de Évora (tese de mestrado).

Matza, D. (1969). Becoming deviant El proceso de desviación. Madrid: Taurus Ediciones S.A.

Matza, D. (1964). Delinquency and drift. New Jersey: Transaction Publishers.

Melo, C.; Castanheira, J.; Contreiras, T. e C. Ponte (1997). A droga nos media. Toxicodependências, 3, pp. 79-86.

Menendez, E. (1999). Drogas, construcción y (auto)biografia. Prefácio a O. Romani, Las Drogas – Sueños e razones. Barcelona: Ariel.

Pallarés (1995). “El placer del scorpion. Antropología de la heroína y los yonquis (1970-1990)”. Lleida: Editorial Milenio.

Penedo, C. (2003). O Crime nos Media. O que nos dizem as notícias quando nos falam de crime. Lisboa: Livros Horizonte.

Pilkington, H. (2006). ‘for us it is normal’: Exploring the ‘recreational’ use of heroin in Russian youth cultural practice. Journal of Communist Studies and Transition Politics, 22, pp. 24-53.

Ponte, C.; Cabrera, A.; Santos, R. (1998). O discurso jornalístico sobre toxicodependência e droga. Toxicodependências, 4, pp. 83-90.

Preble E. & Casey, J. J. (1969). Taking care of business – The heroin user´s life on the street. The international journal of addiction, 4, 1, pp. 1-24.

Quintas, Jorge (1997). “Drogados e consumos de drogas: a análise das representações sociais”. Porto: Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (tese de mestrado).

Rekalde, A. (2002). Los médios de comunicación social ante el fenómeno de las drogas: un análisis crítico.Vitória: Servicio Central de Publicaciones del gobierno Vasco.

Romani, O. (2002). Información sobre Drogas Y médios de Comunicación Social. in A, Rekalde (ed) Los médios de comunicación social ante el fenómeno de las drogas: un análisis crítico. Vitória: Servicio Central de Publicaciones del gobierno Vasco.

Romani, O. (2009). Criticando estereótipos. Jovenes, drogas y riesgos. Comunicação ao Congresso Hablemos de drogas, Famílias y Jovens, juntos por la prevención, Barcelona.

Romani, O; Pallarés, J. e Diaz, A. (2001). Dependência o estilo de vida? La vida de un grupo de heroinómanos catalanes en los 80s. In Trabajo Social y Salud, nº 39, pp. 205-216.

Silva, V. (2004). Os contextos da música de dança e os consumos de novas drogas. Porto: faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação U.P. (tese de mestrado).

Vasconcelos, L. (2004). Heroína: Lisboa como Território Psicotrópico nos anos noventa. Lisboa: Imprensa ICS.

Young, J. (1971). The Drugtakers. The social meaning of drug use. Londres: Palladin.

Watzlawick, P. (1991). A realidade é real? Lisboa: Antropos.

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Fernandes, L. e Pinto, M. (2008). Juventude urbana pobre: o “guna” como figura da ameaça”. In M.I.Cunha (ed). Aquém e além da Prisão. Lisboa: 90 graus.

 

Artigo recebido em 19/01/11; versão final aceite em 21/02/11.