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Psicologia

Print version ISSN 0874-2049

Psicologia vol.32 no.1 Lisboa Jan. 2018

https://doi.org/10.17575/rpsicol.v32i1.1309 

Adversidade na infância e objetivos de vida em adultos: Papel mediador da vinculação aos pais

Adverse childhood experiences and purpose in life in adults

 

Maria de Fátima Marques Silva1, c, Catarina Pinheiro Mota2

1Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal

2Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal. Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Porto, Portugal

cAutor para correspondência


 

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo analisar a contribuição das experiências adversas na infância no desenvolvimento de objetivos de vida na adultícia, sendo testado o papel mediador da vinculação aos pais na associação anterior. A amostra foi constituída por 511 indivíduos, com idades compreendidas entre os 25 e os 50 anos de idade. Para a recolha dos dados foram utilizados questionários de autorrelato. Os resultados apontam para um efeito preditor negativo das experiências adversas na infância face aos objetivos de vida enquanto adultos. Observou-se, ainda, que a qualidade da vinculação aos pais tem um papel mediador na associação entre as experiências adversas na infância e os objetivos de vida na adultícia.

Palavras-chave: Vinculação; adversidade na infância; objetivos de vida; adultos.


ABSTRACT

Mediational role of attachment to parents:The present study aims to analyze the influence of the adverse childhood experiences in the development of purpose in life in adulthood, studying the mediational role of attachment to parents. The sample was composed by 511 adults, with ages ranging from 25 to 50 years. For data collection we used self-report questionnaires. The results suggest a negative predictor effect of adverse childhood experiences on the purpose in life in adults. The quality of the attachment to parents has a mediational role in the association between adverse childhood experience and purpose in life in adulthood.

Keywords: Attachment; adverse childhood experiences; purpose in life; adulthood.

 


A teoria da vinculação originalmente estudada por Bowlby e Ainsworth destaca a necessidade do ser humano para o estabelecimento, desde os primeiros tempos de vida, de ligações afetivas com figuras significativas. Estas ligações podem ter efeito na trajetória do desenvolvimento físico e emocional do ser humano, assim como os modelos de representação de si e dos outros (Ainsworth, 1989; Bowlby, 1969, 1988).

Bowlby (1969) salienta a vinculação como o processo de estabelecimento de um laço emocional, primordialmente construído com as figuras significativas, que garante a segurança e proteção da criança em momentos de maior ameaça, atuando como um fator promotor para a exploração do meio circundante. Assim, uma vinculação segura com as figuras primordiais, baseada no estabelecimento de uma relação de confiança, segurança, responsividade e proximidade emocional, permite que o indivíduo desenvolva representações positivas do selfe dos outros e, também, um maior sentido de autoconfiança e independência observável quer na adolescência quer na adultícia. Os indivíduos que apresentam uma vinculação insegura pautada pela ansiedade de separação e inibição, surgem como mais propensos ao desenvolvimento de uma estruturação do self e perceção do mundo assentes nos pressupostos da desvalorização, desconfiança e/ou ambivalência (Bowlby, 1973).

Na relação com as figuras primordiais, a criança interioriza as características da mesma, conduzindo à elaboração de modelos internos dinâmicos (internal working models), que funcionam como mapas cognitivos e afetivos, capazes de orientar a ação futura do indivíduo (Bowlby, 1973). É a partir da organização e assimilação destes modelos que o indivíduo orienta os seus comportamentos, interpreta e antecipa os comportamentos dos outros e elabora as suas escolhas e expetativas face ao futuro. Estes modelos, embora evidenciem uma certa resistência à mudança, são suscetíveis de transformações ao longo do desenvolvimento, em resposta a eventuais modificações que ocorrem nas relações que o indivíduo estabelece com o contexto (Waters & Cummings, 2000).

A existência de uma vinculação segura concorre para que o indivíduo se adapte de forma positiva às mudanças, tornando-se emocionalmente mais capaz de enfrentar as vicissitudes e mais flexível na forma como elabora os seus pensamentos e comportamentos (e.g. Bowlby, 1969; Lyddon & Sherry, 2001). Ainda de acordo com a literatura, os indivíduos que apresentam uma vinculação insegura parecem apresentar estratégias de regulação emocionais menos ajustadas (Esbjorn, Bender, Reinholdt-Dunne, Munck, & Ollendick, 2012).

Na investigação longitudinal de Minnesota (Sroufe, Egeland, Carlson, & Collins, 2005) verificou-se que a história de vinculação segura parece estar significativamente associada ao desenvolvimento de autoestima, autorregulação emocional e competências relacionais. Este dado é corroborado no estudo de Mota e Matos (2009) que incluiu uma amostra de 403 adolescentes, entre os 14 e os 19 anos de idade, e que revelou que a qualidade da vinculação aos pais parece ter influência ao nível da predição da autoestima. Ainda segundo a literatura, a existência de ligações seguras parece ter implicações no desenvolvimento de maior autonomia, eficácia social, autoconfiança, capacidade para enfrentar os desafios e para perspetivar as relações interpessoais como mais estáveis (e.g. Meier, Carr, Currier, & Neimeyer, 2013).

Num estudo longitudinal de Scharf, Mayseless, e Kivenson-Baron (2004), que visou 88 jovens adultos, entre os 17 e os 18 anos de idade, cujo objetivo era analisar de que forma as representações de vinculação podem influenciar etapas que caracterizam o início da adultícia, verificou-se que a vinculação segura prediz estratégias de coping positivas e maior capacidade para estabelecer relações íntimas. Outros estudos longitudinais corroboram estes dados ao evidenciarem que a qualidade das relações aos cuidadores pode estar associada a maior satisfação na progressão para a vida adulta e para a vida profissional (e.g. Buhl, 2007; Gore & Aseltine, 2003), assim como melhor competência social (Faria, 2008).

Segundo Malekpour (2007) o ambiente onde a criança cresce e a vinculação estabelecida com as figuras significativas parecem deter um impacto significativo em diversos aspetos do percurso desenvolvimental do indivíduo tanto na infância, como em fases posteriores.

Rizzini e Dawes (2001) definem a adversidade como a exposição a um conjunto de situações desfavoráveis que podem comprometer o normal curso do desenvolvimento do ser humano. Aquando das primeiras investigações empíricas sobre a adversidade, os maus-tratos adquiriram um especial destaque, o que fomentou um maior conhecimento sobre os abusos de índole física, emocional e sexual. Através das contribuições empíricas subsequentes, o domínio das experiências adversas foi ampliado, passando a contemplar não só as agressões infligidas diretamente ao indivíduo como também situações específicas de omissão de cuidados e de condições do contexto social e familiar no qual o indivíduo se encontra, designadamente, violência doméstica contra a figura materna, divórcio parental e elementos da família com historial de abuso de substâncias, doença mental, suicídio e prisão (Felitti et al., 1998).

Neste contexto, as experiências que ocorrem no subsistema familiar podem assumir-se como fatores protetores ou de risco para o desenvolvimento biopsicossocial do indivíduo tanto no decorrer da infância como no restante processo vivencial. O impacto das experiências de abuso e negligência durante a infância tem sido analisado em termos do percurso de desenvolvimento (Teisl & Cicchetti, 2008), sendo encontradas evidências que parecem apontar para comprometimentos ao nível do desenvolvimento socioemocional do indivíduo e aumento do risco de problemas relacionais (e.g. Loh, Maniam, Tan, & Badi`ah, 2010; Grady, Levenson, & Bolder, 2016).

Vários estudos revelam que as experiências de maus tratos e/ou negligência tendem a afetar as representações de vinculação, sendo que as crianças sujeitas a este tipo de vivências tendem a desenvolver representações inseguras e/ou desorganizadas relativamente às figuras parentais e a si próprias (e.g. Benavente, Justo, & Veríssimo, 2009; Marques, 2006). Ainda segundo a literatura, a vivência de experiências adversas na infância parece condicionar a expressividade e desenvolvimento autónomo e diferencial do indivíduo, sendo frequentemente associada a piores indicadores de saúde e a menor satisfação de vida, assim como a maior dificuldade na resolução positiva das tarefas que surgem ao longo do desenvolvimento (e.g. Gavin, 2011; Mersky, Topitzes, & Reynolds, 2013; Pinto, Alves, & Maia, 2015; Pires, 2005; Shi, 2013).

A adversidade na infância surge, assim, como um fator não negligenciável no bem-estar e saúde mental e física dos indivíduos (e.g., Alves, Dutra, & Maia, 2013; Anda, et al., 2002; Loh, et al., 2010), sendo que vários estudos empíricos associam estas experiências à adoção de comportamentos de risco para a saúde (e.g. Alves & Maia, 2010; Pinto, et al., 2015).

Ainda que a literatura seja escassa no estudo da associação entre as experiências adversas na infância e os objetivos de vida, importa ressaltar uma investigação desenvolvida por Maia et al. (2007) com uma amostra de 211 indivíduos entre os 18 e os 35 anos de idade em que se verificou que a vivência de maus-tratos na infância estava associada a uma menor satisfação com a vida.

Numa investigação desenvolvida por Morimoto e Sharma (2004), os autores concluíram que os efeitos das experiências adversas na infância, como abuso e negligência emocional, podem ser atenuados por fatores como a coesão familiar, qualidade da vinculação às figuras parentais e coping. Segundo a conceção de Fonagy, Steele, Steele, Higgitt, e Target (1994) a construção de um vínculo seguro com as figuras parentais é, ainda, promotor de uma maior capacidade de resiliência face às experiências tidas como adversas no decorrer da infância.

A vivência de experiências adversas parece associar-se a uma perspetiva de vida menos promissora, todavia com a crença de que existe a possibilidade desta trajetória melhorar (Schafer, Ferraro, & Mustillo, 2011). Ainda segundo o estudo desenvolvido por Schafer, Ferraro, e Mustillo (2011), que pretendeu analisar o impacto das experiências adversas na infância nas trajetórias de vida de 1680 adultos com idades compreendidas entre os 25 e os 74 anos de idade, concluiu-se que o caráter cumulativo destas experiências é mais determinante do que a especificidade das experiências adversas na infância.

Assente numa visão de cariz fenomenológico e existencial, o conceito de objetivos de vida congrega duas dimensões a saber, o sentido de vida e objetivos na vida (Frankl, 1963). Enquanto o sentido de vida está associado à vertente cognitiva, isto é, à consciência que o ser humano tem acerca do sentido e significado da sua existência, os objetivos na vida baseiam-se na experiência afetiva do indivíduo, focalizando as metas, aspirações, objetivos e satisfação do mesmo relativamente à sua vida (Peralta & Silva, 2003).

Segundo várias evidências empíricas, a existência de mais objetivos de vida está associada a um funcionamento mental mais adequado, assim como a melhores índices de satisfação com a vida, controle emocional, estratégias de copinge capacidade para tomar decisões (e.g., Crumbaugh & Maholick, 1964; Ryff & Singer, 1998). A existência de objetivos de vida, em relação aos quais o indivíduo orienta a sua ação e os seus projetos, parece favorecer, ainda, a superação de eventuais adversidades da vida (Frankl, 1994). Por outro lado, a ausência e/ou diminuição destes objetivos parecem estar associadas ao comprometimento de algumas funções psicológicas, favorecendo o surgimento de eventuais condições psicopatológicas e de comportamentos de risco, designadamente, toxicodependência e ideação suicida (Crumbaugh & Maholick, 1964; Harlow, Nemcomb, & Bentler, 1986).

Na literatura mais recente são encontradas algumas evidências que associam os objetivos de vida com alguns constructos estudados na Psicologia, designadamente, qualidade de vida, bem-estar psicológico e integração social (Da Silva, Aquino, Melo, & Damásio, 2008; Melo, Eulálio, Silva, Filho, & Gonzaga, 2013; Oliveira & Silva, 2013).

Objetivos e hipóteses

O presente estudo tem como principal objetivo analisar o efeito das experiências adversas na infância no desenvolvimento de objetivos de vida enquanto adulto, assim como testar o papel mediador da vinculação aos pais na associação anterior. Desta forma, espera-se que a vinculação aos pais se associe negativamente com a adversidade na infância e positivamente com os objetivos de vida na adultícia. Aguarda-se, igualmente, que a adversidade na infância se associe negativamente com os objetivos de vida. Por fim, espera-se que a vinculação aos pais exerça um efeito mediador na associação da adversidade na infância e o desenvolvimento de objetivos de vida.

MÉTODO

Participantes

No estudo participaram 511 adultos, 351 (68.7%) do sexo feminino e 160 (31.3%) do sexo masculino com idades compreendidas ente os 25 e os 50 anos (M = 34.69; DP = 7.82). No que respeita à escolaridade dos participantes, 54 (10.6%) compreendem habilitações relativas ao ensino básico, 52 (10.2%) ao 3.º ciclo, 146 (28.6%) ao ensino secundário e 259 (50.7%) têm uma formação académica superior.

Instrumentos

Foi utilizado um Questionário de Dados Sociodemográficos, construído no sentido deabordar questões relativas às dimensões sociodemográficas dos participantes.

Foi aplicado o Questionário de Vinculação ao Pai e à Mãe(QVPM) (Matos & Costa, 2001) de modo a avaliar as representações de vinculação que adolescentes e jovens adultos têm relativamente a cada uma das suas figuras parentais, sendo que a valores mais elevados corresponde uma melhor qualidade da vinculação. Atendendo ao facto de a amostra ser constituída por adultos, procedeu-se à aplicação de uma versão retrospetiva do instrumento. Este instrumento é composto por 30 itens, dispostos numa escala do tipo Likertde seis pontos, cujas opções de resposta variam entre “discordo completamente” e “concordo completamente”. Focaliza três dimensões, cada uma com 10 itens: Qualidade do laço emocional (QLE) “Apesar das minhas divergências com os meus pais, eles eram únicos para mim”, Ansiedade de separação (AS) “Era fundamental para mim que os meus pais concordassem com aquilo que eu pensava” eInibição da exploração e individualidade (IEI) “Os meus pais impunham-me a maneira deles verem as coisas”.

Para a presente amostra, os valores de alphade Cronbachforam:QLE pai = .92; QLE mãe = .89; AS pai = .84; AS mãe = .83; IEI pai = .87; IEI mãe = .88. A totalidade do instrumento assume valores de alphade Cronbach de .85 para o pai e .82 para a mãe. As análises fatoriais confirmatórias apresentam índices de ajustamento adequados para os modelos tanto na versão para o pai,χ2(21) = 146.59; p=.001,com CFI = .95; SRMR = .07; RMSEA =. 09, como para a mãe, χ2 (21) = 107.99; p= .001, com CFI = .97; SRMR = .06; RMSEA = .09.

O Adverse Childhood Experiences Study Questionnaire(Felitti et al., 1998), traduzido por Silva e Maia (2008), permite avaliar a ocorrência e frequência de experiências adversas na infância. Neste instrumento, scores mais altos correspondem a uma maior perceção de vivências adversas na infância. Trata-se de um instrumento de autorrelato constituído por 77 itens e organizado por 3 dimensões: Experiência contra o indivíduo, Ambiente familiar disfuncional e Negligência, que perfazem um total de 11 subescalas. Para fins da presente investigação, e atendendo ao interesse da temática, não se procedeu à utilização de todas as subescalas do instrumento, selecionando apenas as de maior interesse para os objetivos propostos. Esta questão não afetou a validade das medidas, tendo as mesmas sido salvaguardadas mediante análise das propriedades psicométricas do instrumento, conforme valores de alfa e índices de ajustamentos apresentados.

No que respeita à dimensão experiência contra o indivíduo, foram utilizadas as subescalas abuso físico (4 itens) “Alguém o puxou, agarrou ou lhe atirou com alguma coisa?” e abuso emocional (3 itens) “Alguém o insultou ou lhe disse palavrões?”, da dimensão ambiente familiar disfuncional procedeu-se à aplicação da subescala exposição a violência doméstica (3 itens) “Com que frequência o seu pai, padrasto ou namorado da mãe puxou, agarrou ou atirou com alguma coisa à sua mãe?” e da dimensão negligência foi utilizada a subescala negligência emocional (4 itens) “Havia alguém na minha família que me ajudava a sentir especial ou importante”.

Os valores de alphade Cronbach para a presente amostra foram: Abuso físico = .86; Abuso emocional = .82; Violência doméstica = .89; Negligência emocional = .80. A análise fatorial confirmatória apresentou índices de ajustamento adequados, χ2(45) = 154.02; p=.001, com CFI = .96; SRMR = .05; RMSEA = .08.

O Purpose in Life Test (PIL-R) (Crumbaugh & Maholick, 1969), traduzido e adaptado por Peralta e Silva (2003), permite avaliar os objetivos, metas, ambições e aspirações que caracterizam e dão significado e sentido à vida do indivíduo. Este instrumento é constituído por 3 partes distintas, sendo que para o efeito se procedeu apenas à aplicação dos itens de cotação objetiva que se encontram dispostos numa escala do tipo Likert, com sete opções de resposta que vão desde “discordo totalmente” a “concordo totalmente”. Este instrumento comporta 2 fatores: Dimensão Vivencial e Dimensão Existencial. A Dimensão Vivencial remete para a forma como o sujeito avalia as suas vivências pessoais e as relaciona com a sua própria vida, tendo sido utilizadas as subescalas satisfação com a vida (5 itens) “Geralmente sinto-me muito aborrecido” e avaliação de objetivos, ambições, metas e progressos (4 itens) “Não tenho nenhuma meta ou aspiração na vida”. A Dimensão Existencial baseia-se na consciência que o sujeito tem do sentido da existência do ser humano tendo sido usada a subescala avaliação da consistência e coerências das convicções e escolhas (4 itens) “A vida parece-me sempre entusiasmante”.

No que respeita à interpretação dos dados, verifica-se que uma maior pontuação corresponde a objetivos de vida superiores, caracterizados por sentimentos de realização pessoal e social e, contrariamente, valores baixos revelam objetivos de vida menores refletindo perda de interesse pela vida e vazio existencial.

As subescalas utilizadas foram selecionadas à luz do interesse do estudo, sendo que todas as questões inerentes à validade das medidas foram garantidas, conforme atesta a análise das propriedades psicométricas do instrumento.

Os estudos psicométricos efetuados na amostra revelam um coeficiente de alphade Cronbach de .83 para satisfação com a vida, .74 para avaliação de objetivos, ambições, metas e progressos, e .65 para consistência e coerência das convicções e escolhas. A análise fatorial confirmatória indicou bons valores de ajustamento para o modelo,χ2(24) = 79.19; p= .001,com CFI = .97; SRMR = .04; RMSEA = .07.

Procedimento

O método de estudo baseia-se num paradigma ético e deontológico onde as questões de privacidade, confidencialidade e anonimato e participação voluntária foram asseguradas. Numa primeira fase, foram recolhidos os dados recorrendo à resposta em papel dos questionários de autorrelato, destacando o recurso a empresas e instituições do Norte de Portugal. Numa fase posterior, a recolha de dados foi realizada através da construção de um protocolo de resposta online.

Estratégia de análise de dados

A presente investigação apresenta um cariz transversal dado que o conjunto de medições foi realizado num único momento. O tratamento dos resultados foi realizado através do recurso ao programa estatístico SPSS – Statistical Package for Social Sciences –, na sua versão 20.0 para o sistema Windows.De modo a verificar se os dados seguiam os pressupostos de normalidade, procedeu-se ao cálculo dos valores de assimetria e de achatamento, assim como à realização do teste de Kolmogorov-Smirnov, gráficos de Histogramas, Q-QPlots, Scatterplotse Boxplots(Maroco, 2007; Pallant, 2001). Procedeu-se, igualmente, à utilização do programa estatístico EQS 6 – Structural Equations Program no sentido de desenvolver as análises factoriais confirmatórias e os modelos de equações estruturais.Atendendo aos objetivos traçados, recorreu-se, ainda, ao desenvolvimento de análises correlacionais e modelos de equações estruturais desenvolvendo modelos de mediação com recurso ao Teste de Sobel, que permite aferir o efeito indireto da variável independente sobre a variável dependente através da variável mediadora (Baron & Kenny, 1986), tendo sido utilizada a técnica de Preacher e Kelley (2011) para avaliação do efeito de mediação.

RESULTADOS

Associações entre a vinculação aos pais, adversidade na infância e objetivos de vida dos adultos

Através da observação da Tabela 1, é possível constatar a existência de correlações significativas entre as variáveis em estudo. Analisando as dimensões da adversidade na infância e os objetivos de vida, verificam-se associações significativas, negativas de magnitude baixa a moderada entre todas as variáveis (r = -.10, p < .05 a r = -.25, p < .01), à exceção da associação entre a exposição a violência doméstica e a avaliação da consistência e coerência das convicções e das escolhas, que não é significativa.

Tal como seria esperado, existe uma associação positiva e significativa, de magnitude moderada, entre a inibição da exploração e individualidade, para ambas as figuras parentais, e as variáveis da adversidade na infância (pai r = .28, p < .01 a r = .36, p < .01; mãe r = .22, p < .01 a r = .39, p < .01), e negativa moderada da mesma com as variáveis dos objetivos de vida (pai r = -.27, p < .01 a r = -.24, p < .01; mãe r = -.26, p < .01 a r = -.31, p < .01). No que concerne à qualidade do laço emocional, os resultados apontam, para ambas as figuras parentais, a existência de correlações significativas, moderadas, no sentido negativo relativamente às variáveis do abuso físico, abuso emocional e exposição a violência doméstica (pai r = -.28, p < .01 a r = -.32, p < .01; mãe r = -.22, p < .01 a r = -.29, p < .01) e altas em relação à negligência emocional (pai r = -.55, p < .01; mãe r = -.53, p < .01). Na associação com os objetivos de vida, são observadas correlações significativas positivas, moderadas, com todas as variáveis (pai r = .29, p < .01 a r = .19, p < .01; mãe r = .26, p < .01 a r = .19, p < .01). Na análise da ansiedade de separação, os resultados indicam a existência de correlações significativas baixas e negativas, em relação a todas as variáveis da adversidade (pai r = -.19, p < .01 a r = -.16, p < .01; mãe r = -.14, p < .01 a r = -.12, p < .01). Em relação às dimensões dos objetivos de vida, os resultados sugerem, apenas, a existência de uma correlação significativa, no sentido negativo, baixa, entre ansiedade de separação face à figura materna e satisfação com a vida (r= -.12, p < .01).

Efeito da adversidade na infância nos objetivos de vida: papel mediador da vinculação aos pais

A análise de equações estruturais permite observar um efeito inicial da adversidade na infância no desenvolvimento de objetivos de vida (β = -.30). No que concerne à variável mediadora da qualidade da vinculação aos pais, foi tida em consideração a dimensão da qualidade do laço emocional, na medida em que melhor contribui para o sucesso do modelo. De modo a analisar o papel mediador da qualidade do laço emocional aos pais, foram tidas em consideração as relações entre as variáveis, nomeadamente, da adversidade na infância (abuso físico e abuso emocional) como preditora quer da qualidade do laço emocional quer dos objetivos de vida (satisfação com a vida, avaliação de objetivos, ambições, metas e progressos e avaliação da consistência e coerência das convicções e escolhas).

Assim, verificou-se que a adversidade na infância prediz de forma negativa a qualidade do laço emocional tanto em relação à figura paterna (β= -.36) (Tabela 2) como materna (β = -.35) (Tabela 3), denotando-se um efeito positivo da qualidade do laço emocional nos objetivos de vida, tanto em relação à figura paterna (β= .32) como materna (β = .30). Aquando da introdução, no último passo do Teste deSobel, da qualidade do laço emocional, verificou-se em relação à figura paterna que o efeito direto da adversidade na infância sobre os objetivos de vida (β= -.30) diminui (β= -.19), remetendo para a existência de uma mediação parcial testada através da vinculação ao pai (Sobel test z= - 4.30, p < .001, β= -.16) (Tabela 2). Os índices de ajustamento encontram-se adequados aos dados recolhidos (χ2(16) = 42.74, p = .001, Ratio = 2.67, CFI = .99, SRMR = .04; RMSEA = .06).

 

Figura 1

 

Da testagem do efeito mediador da qualidade do laço emocional à mãe na equação final resultou, igualmente, uma diminuição do efeito direto da adversidade na infância sobre os objetivos de vida (β= -.30) para (β= -.21), o que atesta igualmente a existência de uma mediação parcial através da vinculação à mãe (Sobel test z= - 4.09, p < .001, β = -.13) (Tabela 3). Os índices de ajustamento encontram-se adequados (χ2(17)= 40.71, p = .001, Ratio = 2.4, CFI = .99, SRMR = .03, RMSEA = .06).

 

Figura 2

 

DISCUSSÃO

Associação entre a adversidade na infância e os objetivos de vida

O presente estudo pretende analisar o efeito da adversidade na infância sobre o desenvolvimento dos objetivos de vida na idade adulta. O papel da vinculação aos pais foi ainda testado enquanto mediador nesta associação. Relativamente às associações entre as dimensões da adversidade na infância e objetivos de vida, verificou-se que todas as variáveis se associam de forma negativa, à exceção da exposição a violência doméstica com a avaliação da consistência e coerência das convicções e das escolhas. Embora a literatura seja escassa ao nível do estudo desta relação, é possível prever que indivíduos com vivências de adversidade na infância desenvolvam mais facilmente modelos de representação interna negativos e disfuncionais, que conduzem a uma leitura menos promissora face aos objetivos que delineiam para a sua vida. Num estudo realizado por Maia e colaboradores (2007), com uma amostra de 211 indivíduos entre os 18 e os 35 anos de idade, verificou-se que indivíduos com história de maus tratos na infância, na forma de abuso e negligência, apontavam uma menor satisfação com a vida.

Numa investigação desenvolvida por Oliveira e Silva (2013), com uma amostra de 146 indivíduos, com idade média de 68,9 anos, verificou-se uma associação positiva entre o sentido de vida e o bem-estar psicológico. O mesmo estudo verificou, ainda, que o sentido de vida atua como fator relevante ao nível das respostas facultadas pelo indivíduo relativamente à vivência de experiências adversas.

Segundo a hipótese avançada por Angst, Gamma, Rössler, Ajdacic, e Klein (2011), a vivência de experiências adversas pode criar determinadas vulnerabilidades no indivíduo, nomeadamente ao nível do surgimento de ansiedade e distúrbios do humor, diminuição da autoestima e do autodomínio. Estas vulnerabilidades poderão ter efeito negativo no modo como os indivíduos projetam as suas vidas e definem os seus objetivos de vida, uma vez que podem sentir-se menos capazes de os atingir.

Associação entre a qualidade da vinculação aos pais e a adversidade na infância

Os resultados do presente estudo apontam para associações negativas entre a qualidade do laço ao pai e à mãe e a adversidade na infância sob a forma de abuso físico, abuso emocional, negligência emocional e exposição a violência doméstica. Deste modo, parece que a existência de uma vivência pautada pela ausência de situações adversas na forma de abuso, negligência e violência doméstica se encontra associada ao estabelecimento de um vínculo seguro com as figuras significativas. Por seu turno, a presença da qualidade do laço emocional aos pais faz com que a criança perceba que o papel das figuras cuidadoras está a ser desempenhado de forma competente e responsivo, favorecendo em si mesma a noção de proteção, segurança e apoio (Bowlby, 1980).

Tal como evidenciado amplamente na literatura, os indivíduos que na infância sofreram situações abusivas ou negligentes tendem a desenvolver uma representação mais negativa acerca das figuras de vinculação, uma vez que entendem que as mesmas não foram capazes de desempenhar adequadamente o seu papel de cuidado, apoio e segurança (e.g. Benavente et al., 2009; Marques, 2006). De acordo com Riggs, Cusimano e Benson (2011), o abuso emocional por parte das figuras de vinculação na infância parece contribuir para uma vinculação insegura. Esta vinculação insegura parece potenciar de forma significativa a criação de vulnerabilidades ao longo do processo desenvolvimental, uma vez que tende a contribuir para a criação de representações negativas acerca de si, dos outros, e das relações.

Segundo várias evidências empíricas, níveis moderados de ansiedade de separação podem refletir a proximidade entre a criança e as figuras parentais, sendo esta uma forma de a criança contestar e protestar face à quebra de um vínculo seguro desenvolvido com as figuras parentais (e.g. Bowlby, 1988; Parke & Buriel, 2008).Na presente investigação, a associação negativa encontrada entre a ansiedade de separação e as experiências adversas na infância (abuso físico, abuso emocional, negligência emocional e exposição a violência doméstica) poderá associar-se a uma relação estreita entre este tipo de eventos e a perceção de pais poucos responsivos e apoiantes, recriando sentimentos de insegurança.

As crianças expostas a experiências adversas (maus-tratos e negligência), constroem modelos distorcidos do Self e percecionam os outros como indisponíveis e rejeitantes (Benavente et al., 2009). Segundo os mesmos autores, este tipo de vivências pode associar-se a representações de vinculação insegura (desligadas, preocupadas e desorganizadas). Segundo Stovall-McClough e Dozier (2004), perante a existência de experiências de maus-tratos e negligência, os padrões inseguros de vinculação podem surgir como forma de minimizar a ansiedade num contexto de rejeição e indisponibilidade e, subsequentemente, maximizar as experiências de segurança.

Por outro lado, a inibição da exploração e individualidade, face a ambas as figuras parentais, correlaciona-se de forma positiva com a perceção de experiências adversas na infância. Assim, a existência de dinâmicas familiares que promovam situações de abuso, negligência e violência doméstica podem condicionar a expressividade e desenvolvimento autónomo e diferencial do indivíduo, estando frequentemente associadas a uma maior vulnerabilidade face ao desenvolvimento de psicopatologia e a menor satisfação com a vida (e.g. Gavin, 2011; Pinto et al., 2015; Shi, 2013).

Associação entre a qualidade da vinculação aos pais e os objetivos de vida na vida adulta

No que se refere às associações entre as dimensões da vinculação aos pais e as variáveis dos objetivos de vida, constatou-se que a qualidade do laço emocional com ambas as figuras parentais se associa de forma positiva com todas as variáveis dos objetivos de vida. O desenvolvimento de uma vinculação segura parece estar associado a uma maior autoconfiança e autonomia do indivíduo (Bowlby, 1973), facto que parece ser passível de favorecer a afirmação de objetivos, sendo que a visão positiva que o indivíduo tem de si próprio pode promover a crença nas suas capacidades de delinear objetivos e de os alcançar. Deste modo, os adultos que reportam a existência de relações na infância baseadas no suporte emocional, segurança e responsividade com as figuras parentais, apresentam uma maior satisfação com a vida, avaliação da consistência e coerência das convicções e das escolhas que realizam e melhor avaliação de objetivos, ambições, metas e progressos na sua vida. Por outro lado, a inibição da exploração e individualidade na relação com as figuras parentais está associada negativamente com os objetivos de vida. Estes resultados eram esperados no sentido em que as restrições ao desenvolvimento da individualidade podem fazer com que o indivíduo não se sinta tão confiante para o estabelecimento de objetivos de vida, tendendo a não confiar tanto nas suas capacidades e, consequentemente, a investir menos na sua vida, o que em última análise, pode conduzir a uma menor satisfação com a vida.

Num estudo longitudinal desenvolvido por Sroufe et al., (2005), com uma amostra de 212 indivíduos, acompanhados desde o nascimento até à idade adulta, verificou-se que a vinculação está associada à autoconfiança, regulação emocional e desenvolvimento de competências pessoais. De um modo geral, estas competências parecem associar-se a uma melhor competência para atingir e definir objetivos de vida.

No mesmo sentido, evidências mais recentes têm estudado o papel da vinculação no processo desenvolvimental do ser humano, sendo que numa investigação longitudinal desenvolvida por Faria (2008), com 58 estudantes durante a frequência da licenciatura, verificou-se que os estudantes que revelaram vinculação segura tenderam a percecionar-se como socialmente mais competentes. A autoperceção desta competência social poderá estar associada a uma maior autonomia e interdependência, assim como a uma maior capacidade para criar e atingir os objetivos de vida.

Os resultados sugerem, ainda, uma associação negativa entre ansiedade de separação face à figura materna e os objetivos de vida, especificamente, ao nível da satisfação com a vida. Segundo várias evidências empíricas, as relações demarcadas pelo medo de separação podem contribuir para uma menor confiança e autoestima dos indivíduos, contribuindo para uma leitura menos promissora face à satisfação com a vida. Estas evidências são corroboradas pelo estudo desenvolvido por Rocha, Mota, e Matos (2011) com uma amostra de 742 adolescentes, entre os 13 e os 23 anos de idades, que concluiu que a ansiedade de separação prediz de forma negativa a autoestima.

O facto de esta associação se verificar apenas em relação à figura materna, pode ser explicado num contexto social em que o papel da figura cuidadora é mais comummente atribuído à figura materna (e.g., Monteiro, Veríssimo, Vaughn, Santos, & Fernandes, 2008).

Efeito mediador da vinculação aos pais na associação entre as experiências adversas na infância e os objetivos de vida

O último objetivo do presente estudo consistiu em analisar o efeito mediador da vinculação aos pais na associação entre as experiências adversas na infância e os objetivos de vida. Os resultados encontrados sugerem que a adversidade na infância surge como uma variável que prediz negativamente o desenvolvimento de objetivos de vida. Este efeito é escassamente abordado pela literatura, todavia, as consequências das experiências adversas na infância são constatadas por vários estudos, nomeadamente ao nível de perturbações da saúde, perturbações comportamentais, diminuição na produtividade laboral, dificuldades na regulação emocional e evitamento de relações íntimas (e.g., Anda et al., 2004; Loh, et al., 2010; Maia et al., 2006; Pinto, et al., 2015). Da mesma forma, a literatura revela que subjacente à vivência de experiências adversas na infância se encontra uma representação pouco valorativa das figuras de vinculação, uma vez que a criança tende a interpretar as mesmas enquanto pouco protetoras e indisponíveis, desenvolvendo uma vinculação do tipo insegura (e.g. Benavente, 2010; Benavente et al., 2009; Cicchetti, Rogosch, & Toth, 2006). Ainda que não tenham sido encontrados achados empíricos que abordem diretamente a associação entre as experiências adversas na infância e os objetivos de vida, o caráter negativo deste tipo de experiências parece potencializar uma visão mais negativa do indivíduo acerca do seu percurso de vida. Indivíduos que padecerem de experiências negativas na infância podem evidenciar uma maior propensão para o desenvolvimento de vinculações inseguras, facto que acarreta menos estratégias pessoais e uma visão mais negativa de si e, inerentemente, menos disponibilidade para elaborar e concretizar eventuais objetivos de vida.

Em termos práticos, o indivíduo poderá deter uma expectativa menos promissora e investida face ao futuro, desenvolvida com base em experiências precoces. Este facto parece, portanto, levar a que o indivíduo não invista de forma tão particular no estabelecimento de objetivos de vida, limitando a satisfação com a vida.

No presente estudo destaca-se o papel da qualidade do laço emocional aos pais enquanto variável mediadora na associação entre as experiências adversas na infância e os objetivos de vida. Nesta medida, a qualidade do laço emocional aos pais apresenta uma mediação parcial (Preacher & Kelley, 2011) que permite que as experiências adversas tenham um menor impacto ao nível dos objetivos de vida, o que potencializa um desenvolvimento mais adequado e positivo. Tal como salienta Ryff e Singer (1998), a afirmação e experienciação de objetivos de vida é algo intrinsecamente relacionado com uma saúde mental positiva, sendo que vários achados empíricos têm vindo a associar esta variável com a qualidade de vida, bem-estar psicológico e integração social (e.g. Da Silva et al., 2008; Melo et al., 2013; Oliveira & Silva, 2013).

A relevância deste estudo parece ser fomentada pelo cariz inovador do mesmo, dada a escassez de investigações nacionais e internacionais que abordam a associação específica das variáveis alvo de estudo, especialmente no que concerne à relação da adversidade na infância e objetivos de vida. Entender o impacto das experiências adversas na infância e da vinculação aos pais, é contribuir para a fomentação de uma compreensão mais sistémica e integrativa do papel que as relações afetivas precoces podem assumir a curto, médio e longo prazo. Este estudo parece, deter ainda, importantes implicações práticas ao nível da implementação de programas de intervenção precoces junto das figuras parentais e eventual círculo familiar mais alargado, por forma a diminuir a ocorrência de experiências adversas na infância e garantir um melhor desenvolvimento e ajustamento psicológico futuros.

São assumidas algumas limitações, nomeadamente o recurso a instrumentos de autorrelato e o caráter transversal do estudo. A opção por um estudo longitudinal permitiria reduzir o efeito decorrente desta investigação ser realizada segundo uma conceção retrospetiva. Em termos de pistas futuras, seria importante contemplar análises qualitativas como entrevistas semiestruturadas e incluir outras variáveis relacionais como: qualidade da ligação na fratria, relação amorosa, qualidade das relações familiares e relação com o grupo de pares. Estas variáveis têm vindo a ser estudadas pela literatura nacional e internacional, sendo que os seus efeitos parecem ser amplamente destacados ao nível do processo desenvolvimental do ser humano. A avaliação destas variáveis poderia revelar efeitos mediadores da vinculação aos pais e das experiências adversas com os objetivos de vida na adultícia.

 

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Historial do artigo

Recebido

28/04/2017

Aceite

08/01/2018

Publicado

05/2018

 

Financiado por

Esta investigação é parcialmente suportada pela FCT através do projeto PEst-C/PSI/UI0050/2011 e o FEDER com fundos do programa COMPETE sob o projeto FCOMP-01-0124-FEDER-022714.

 

cAutor para correspondência:

Fátima Silva, Departamento de Educação e Psicologia da UTAD, Quinta de Prados, 5000-801, Vila Real. E-mail: fatima_m_silva@hotmail.com.

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