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Psicologia

Print version ISSN 0874-2049

Psicologia vol.24 no.2 Lisboa July 2010

 

Emoções e expressão facial: novos desafios

Emotions and facial expression: New challenges

 

Cristina de Sousa1

1Directora do Laboratório de Ciências Afectivas, FACIN LAB, Lisboa

 


RESUMO

Partindo de questões controversas na pesquisa sobre a emoção e as expressões faciais, revemos posições teóricas da Abordagem da Expressão Emocional e apresentamos alternativas de pesquisa. São analisadas questões como: terminologia; expressões involuntárias ou deliberadas; tipo de informação que deriva das expressões faciais; cultura versus universalidade das expressões faciais da emoção; influência do contexto; metodologia. Novos desafios são enfatizados quando analisamos as directrizes emergentes na pesquisa da ligação entre emoção e expressão facial, que apontam para: influência dos aspectos sociais e comunicativos; multifuncionalidade; dialectos emocionais específicos de cada cultura; valorização crescente do contexto; análise dos componentes; comportamento facial como variável dependente; análise de contextos naturais; ênfase nos Modelos Componenciais.

Palavras-Chave: emoção, expressão facial, contexto, social, componentes


ABSTRACT

Starting from controversial questions in research about emotion and facial expressions, we review some theoretical positions of the Emotional Expression Approach and present some research alternatives. Some questions are analysed: terminology; spontaneous or deliberated expressions; information given by facial expressions; culture versus universality of emotional facial expressions; context influence; methodology. New challenges are emphasized when we analyse emergent guidelines in the study of the link between emotion and facial expression, which lead to: Influence of social and communicative aspects; multi-functionality; specific cultural emotional dialects; growing valorisation of context; component analysis; facial behaviour as dependent variable; analysis of natural contexts; emphasis on Componential Models.

Keywords: emotion, facial expression, context, social, components


Toda a gente sabe que Darwin escreveu acerca de expressões faciais, mas nem toda a gente concorda com aquilo que ele queria dizer.

(Russell & Fernández-Dols, 1997, p. 5).

Introdução

A citação refere-se à publicação da obra intitulada The expression of emotions in man and animals (Darwin, 1872), utilizada como referência principal pelos autores que defendem a universalidade das expressões faciais da emoção. Complementando esta citação com outra do principal representante da pesquisa científica na área da universalidade da expressão facial das emoções, que afirma que “nós necessitamos de aprender que tipo de informação deriva de uma expressão facial, de quem e em que contextos sociais e culturais” (Ekman, 1989, p. 160), podemos dizer que, em conjunto, perspectivam a necessidade de uma compreensão mais aprofundada acerca da expressão facial da emoção, que inclua alternativas de pesquisa, quer teóricas, quer metodológicas, como condição fundamental para a construção do conhecimento científico. Assim, questões como a influência da cultura versus a universalidade das expressões faciais da emoção merecem, em nosso entender, uma atenção cada vez mais específica dos investigadores desta área, “porque uma verdadeira compreensão de como as pessoas de diferentes culturas entendem a ligação entre faces e emoção (e nada mais) ainda mal começou.” (Russell & Fernández-Dols, 1997, p. 24). A obra editada por estes autores The Psychology of Facial Expression concentra-se na clarificação desta e de outras questões, tendo gerado contributos muito válidos para a exposição das mesmas neste artigo.

Se necessitamos de saber, como é sugerido por Ekman (1989), que tipo de informação deriva do comportamento facial, de quem e em que contextos, podemos afirmar, como introdução, que essas informações são variadas e não se ligam só à emoção nem aos padrões expressivos prototípicos das emoções básicas (de Sousa, 2006; Kaiser & Wherle, 2001a, 2001b). Na sequência da questão dos contextos onde ocorrem, podemos também enfatizar que um repensar da influência do contexto faz cada vez mais sentido, já que, como veremos mais adiante neste artigo, a selecção dos múltiplos e variados significados da face depende do contexto (Fernández-Dols & Carroll, 1997). Finalmente, não podemos esquecer as questões metodológicas, pois de acordo com alguns autores (Wagner, 1997), a metodologia usada deve corresponder às questões de investigação e se, tradicionalmente, os estudos de julgamento e reconhecimento facial têm sido usados para pesquisar as informações possíveis das expressões faciais, com todas as limitações inerentes, sabemos que é principalmente pelos estudos de codificação, com planos experimentais, que podemos identificar a estrutura e os componentes das expressões emocionais no comportamento facial, com especial ênfase para as investigações que partem de contextos naturais e que apresentam maior validade ecológica (Fernández-Dols, 2006).

Com a breve apresentação destas questões, pretendemos mostrar a ponta do icebergue em décadas de pesquisa dominadas pela Teoria Neurocultural de Ekman (1972), que afirmam a invariabilidade e universalidade das expressões faciais da emoção através das culturas. É nossa intenção, através deste artigo, expor a emergência de novos desafios quando analisamos as tendências actuais na pesquisa da ligação entre emoção e comportamento facial, que apontam principalmente para a consideração de dialectos emocionais específicos de cada cultura, para a influência dos aspectos sociais e comunicativos no comportamento facial para além da emoção, para a valorização crescente do contexto e para a análise dos componentes do comportamento facial em contextos naturais e quotidianos, que permitem entender melhor a sua multifuncionalidade.

Ao longo deste artigo especificaremos estas questões nos seguintes pontos: expressão, exibição ou comportamento facial; expressões involuntárias ou deliberadas; informações emocionais, sociais e comunicativas; universalidade e diferenças culturais; a importância do contexto; a metodologia dos estudos. Terminamos com uma síntese conclusiva das principais ideias explicitadas, integrando-as sob a emergência de novos desafios.

Expressão, exibição ou comportamento facial

A partir da interpretação dos trabalhos de Darwin, iniciam-se questões controversas no estudo das expressões faciais, que se mantêm durante décadas de pesquisa, tais como: “Existe ou não uma ligação directa entre expressões faciais e emoções?”; “Existe ou não uma universalidade das expressões faciais da emoção?”; “Que tipo de informação as expressões faciais transmitem?”; “Existem ou não expressões faciais emocionais inatas e prototípicas ligadas a emoções básicas?”; “As expressões das emoções são involuntárias ou deliberadas?”. Uma questão mais recente está ligada à própria utilização do termo expressão (Ekman, 1997a). Essa questão situa esta controvérsia em torno da utilização do termo expressão ou comunicação facial, defendendo o autor que se deve manter o termo expressão por várias razões: revela um estado interno, está de acordo com as ideias de Darwin, e designaria uma parte das modificações que ocorrem internamente a nível cerebral, sendo simultaneamente um sinal de que essas modificações estão a ocorrer. Contudo, de acordo com o autor (Ekman, 1997a), o uso do termo expressão não quer dizer que se ignore o impacto que as expressões têm nos outros, pois para este, as expressões faciais também comunicam informação; mas deveríamos ter cuidado com o uso do termo comunicação, pois pode implicar que as expressões emocionais são feitas intencionalmente para enviar uma mensagem e isso não seria congruente com a ideia da espontaneidade defendida pelo autor.

Contrariamente, outros autores têm realçado a ideia de que as emoções são essencialmente comunicações (Averill, 1998) e são fundamentalmente sociais (Parkinson, 1996), surgindo o uso do termo exibição facial2 nos autores que pretendem acentuar mais os aspectos comunicativos e sociais (Chovil, 1997; Fridlund, 1997).

Consequentemente, a partir desta controvérsia, alguns autores têm evitado o termo expressão por transmitir uma ideia de ‘tirar para fora’ alguma coisa que está dentro (Fernández-Dols, 1999; Parkinson, Fischer & Manstead, 2005) e poder confundir-se esta utilização com o assumir da ligação directa entre face e emoção. Pela mesma linha de raciocínio, têm evitado também a utilização de exibição, já que pode implicar fazer uma demonstração para outros, o que seria intencional. Se o primeiro termo está associado ao significado emocional, o segundo tem um significado mais prático, surgindo então como alternativa o termo conduta facial ou comportamento facial, que no contexto interpessoal seria muito mais complexo do que expressão de emoções ou exibições de significado (Parkinson, Fischer & Manstead, 2005). Conduta ou comportamento surgem, assim, como termos idênticos. Em trabalhos anteriores (de Sousa, 2006) preferimos também usar o termo comportamento facial por ser mais englobante e parecer mais congruente com o estudo de cada acção e movimento facial como componente com significado próprio. Integrámos o comportamento facial nos comportamentos não verbais e incluímos, não só as acções faciais das expressões, analisadas pelo sistema FACS3, mas também outro tipo de movimentos e condutas ligados à face (e.g. ritmo e amplitude dos movimentos da cabeça), que têm um significado muito próprio como comportamentos sociais e comunicativos.

Contudo, o fundamental deste ponto não é de forma alguma a defesa de uma terminologia, mas evidenciar as controvérsias que têm rodeado cada um dos termos, enfatizando a implicação de que o uso do termo expressão facial não deve traduzir a ideia de que há uma relação directa entre esta e a emoção.

Expressões involuntárias ou deliberadas

A clarificação conceptual acerca da terminologia desperta outra controvérsia, isto é, se as expressões faciais da emoção4 são involuntárias ou deliberadas. Ekman (1997a) defende que as expressões faciais da emoção são involuntárias, isto é, não são feitas intencionalmente para transmitir uma mensagem. Para este autor existem outros movimentos faciais que são feitos deliberadamente para comunicar. Assim, destas ideias podemos depreender que estamos perante pólos opostos de comportamento facial - as expressões emocionais que seriam involuntárias e os movimentos faciais com intenção de comunicar.

Pelo contrário, outros autores têm enfatizado a ideia que as emoções são mais actos comunicativos dirigidos a outras pessoas do que simples reflexos de estados mentais (Averill, 1998; Bavelas & Chovil, 1999; Fridlund, 1991). Outros ainda têm realçado os aspectos sociais e relacionais das emoções (Parkinson, 1996; Parkinson, Fisher & Manstead, 2005).

A este propósito, Russell e Fernández-Dols (1997) consideram que existe um continuum entre pólos, do qual os comportamentos faciais espontâneos, involuntários e não dirigidos por um lado, e os artificiais, deliberados e posados, por outro lado, podem ser os pontos extremos, que raramente ocorrem. Até porque os comportamentos faciais naturais podem ser espontâneos e simbólicos (comunicativos) na sua natureza e serem intencionalmente dirigidos a uma audiência. Assim, os comportamentos podem ser caracterizados por diversos graus de intencionalidade. Poderíamos distinguir entre comportamento de comunicação, que implica que existam códigos partilhados entre os interlocutores, e comportamento de informação, que não utiliza um código, mas pode ser interpretado pelo observador (Fernández-Dols, 1988).

Destas reflexões, podemos então afirmar que nem todo o comportamento ou expressão facial é feito com intenção de comunicar, mas é fundamentalmente informação em contexto social. Para além disso, os comportamentos faciais não são deliberados e conscientes, por um lado, e espontâneos e naturais, por outro, mas são mais ou menos conscientes, mais ou menos espontâneos, não sendo assim possível estabelecer uma distinção demarcada, 2 pois: “Nós espontaneamente fingimos, nós naturalmente descobrimos poses” (Russell & Femández-Dols, 1997, p. 23).

Informações emocionais, sociais e comunicativas

Relativamente ao tipo de informação que o comportamento facial pode transmitir, podemos dizer que, tradicionalmente, as informações emocionais têm tido um papel relevante nas investigações. Numa revisão dos estudos científicos sobre as expressões faciais, os defensores das informações emocionais (Ekman, 1989; Ekman & Oster, 1982) direccionam o enquadramento dos estudos para a demonstração de que existe uma ligação forte entre emoção e expressão facial, com fortes evidências da universalidade de algumas expressões faciais emocionais. Ekman (1989) sublinha que uma ligação directa entre expressão e emoção já tinha sido evidenciada por Darwin. Contudo, para Russell e Fernández-Dols (1997), a forma vaga como Darwin conceptualiza a emoção e a expressão, permite que a sua obra seja interpretada de diferentes maneiras, já que o seu conceito de “estado da mente” é suficientemente ambíguo para se adequar a qualquer modelo da emoção, incluindo outro tipo de abordagens mais cognitivas ou comportamentais.

Assim, numa revisão alternativa, Russell e Fernández-Dols (1997) preocupam-se mais em enfatizar os estudos que diferem da abordagem de Darwin destacada por Ekman (1989), e que de alguma forma evidenciam outras funções da expressão facial, diferentes da expressão emocional, realçando o papel do contexto e da cultura, ao contrário da tese da universalidade. Acentuam também que, por volta de 1980, a pesquisa sobre a face foi dominada pelo denominado Programa de Expressão Facial5, que se centrou numa lista de emoções básicas específicas, encaradas como causa e como sinal recebido pelas expressões faciais, que “...clama Darwin como seu originador, Tomkins como o seu teórico moderno, e Izard, Ekman e dúzias de outros cientistas, como seus práticos ” (Russell & Fernández-Dols, 1997, p. 4).

Outra revisão teórica feita por Chovil (1997) referencia estudos que demonstram que os comportamentos faciais são afectados pela presença de um receptor, realçando também a importância dos factores sociais e comunicacionais. De acordo com Chovil (1997), até aos últimos anos da década de 70, existiram poucos estudos sobre as expressões faciais em contextos sociais. Os estudos de Kraut e Johnston (1979) foram um marco no estabelecimento de que as exibições faciais dos adultos eram afectadas pela presença de um receptor, ou seja, o sorriso aparece mais frequentemente quando os indivíduos estão em contacto social com outros do que quando não estão em interacção social. Assim, os resultados dos seus estudos mostram que as pessoas sorriem mais vezes para outras pessoas, do que sorriem em função de alguma experiência agradável. Mesmo quando existe essa experiência agradável, o sorriso é direccionado para os outros.

Outros autores (Fernández-Dols & Ruiz-Belda, 1995), confirmam os resultados de Kraut e Johnston (1979), através da análise das expressões faciais dos campeões de medalhas de ouro olímpicas, durante diferentes fases da cerimónia da entrega dos prémios, verificando que os sorrisos ocorreram mais vezes na fase interactiva, reafirmando assim um efeito de audiência já referenciado por outros (Fridlund, 1994). Assim, este autor prevê mais sorrisos nos contextos interactivos do que nos não interactivos.

De acordo com Chovil (1997), outro factor que parece afectar as expressões faciais é o contacto do olhar, ou seja, estas têm maior probabilidade de ser exibidas se existir um receptor para as ver do que se não existir (ver Bavelas, Black, Lemery & Mullet, 1986). Num outro estudo, que envolve a sociabilidade das situações de comunicação, Chovil (1991) demonstra que a probabilidade de aparecimento de exibições faciais é afectada pelos parâmetros comunicativos da situação. Trata-se de um estudo filmado que envolve escutar uma experiência pessoal de outra pessoa em quatro condições experimentais: a) face a face; b) separados por uma divisória; c) pelo telefone; d) sozinho, ouvindo um gravador. A maior frequência de exibições faciais do ouvinte foi encontrada na condição face a face.

A importância dos factores sociais e a função de comunicação delineadas por estes estudos, fornecem, de acordo com Chovil (1997) uma boa base para a emergência de uma nova abordagem das expressões faciais, a Abordagem Comunicativa Social6, já que ajudaram a constatar o seguinte: a) as exibições faciais (e.g., sorriso) geralmente ocorrem mais frequentemente em situações sociais do que não sociais; b) a disponibilidade de um receptor aumenta a probabilidade de ocorrência de uma expressão facial; c) as exibições faciais ocorrem mais vezes nas interacções face a face do que nas interacções não visuais.

Em suma, se por um lado constatamos que, consoante a posição teórica dos autores, é dada menos importância a determinados estudos e são enfatizados outros, por outro lado verificamos que, por detrás destas revisões, está uma multiplicidade de estudos que confirma as diversas informações que as expressões faciais possuem e que não se limitam à emoção. Na diferença de valorização das informações, emergem diferentes abordagens no estudo do comportamento facial: a Abordagem da Expressão Emocional7(Ekman, 1989), que enfatiza as emoções, a Perspectiva da Ecologia comportamental8, (Fridlund, 1991, 1994), que enfatiza os factores sociais e ainda a Abordagem Comunicativa Social (Chovil, 1997), que integra os aspectos emocionais e sociais numa perspectiva comunicacional9.

Revendo alguns dos conceitos principais da Abordagem da Expressão Emocional, para compreendermos a oposição de muitos investigadores a estes, podemos dizer que esta se centra principalmente no indivíduo e nos processos psicológicos, em que os comportamentos faciais são vistos como “expressões” de emoções subjacentes. Nos mecanismos subjacentes à ocorrência de comportamentos faciais, esta abordagem defende que um estímulo desencadeia uma emoção e esta leva à expressão facial. As expressões faciais espontâneas ocorreriam independentemente da presença de um receptor e seriam bastante diferentes dos actos comunicativos (o discurso), que estariam especificamente ligados aos outros indivíduos. Com a Abordagem da Expressão Emocional, o valor comunicativo não é a primeira explicação para a ocorrência da expressão facial, pelo contrário, esta só tem valor comunicativo no sentido em que pode ser encarada pelos outros como um sinal do estado emocional de alguém. Ekman (1992; 1993, 1994) defende ainda que existem estados emocionais primários ou emoções básicas a que correspondem “expressões faciais prototipicas”.

Como alternativa a esta abordagem clássica, aparece a Perspectiva da Ecologia Comportamental que contesta os protótipos expressivos das emoções, já que as exibições faciais só têm significado em contexto, onde acontecem para servir motivos sociais dos individuos, sem necessidade de existir uma ligação com a emoção. Esta perspectiva baseia-se na contribuição da evolução para defender que as expressões faciais são instrumentos sociais utilizados na interacção social, onde seriam desenvolvidas para transmitir intenções sociais (e.g. prontidão para o ataque, submissão, apaziguamento) a uma audiência específica. Como explicitámos anteriormente, o sorriso não seria produzido em função da emoção da felicidade, mas em função de uma prontidão para a afiliação, de uma empatia com os outros, sendo assim dirigido a uma audiência (Fernández-Dols & Ruiz-Belda, 1995). Fridlund (1997) defende também a existência de uma audiência implícita, a par da audiência explícita (presença física), já que muitas vezes agimos e interagimos como se os outros estivessem presentes, imaginando ou recordando.

Finalmente a Abordagem Comunicativa Social (Chovil, 1997), que não nega que os comportamentos faciais possam traduzir informação acerca das reacções emocionais, assume que existe um domínio mais vasto que é transmitido pelas nossas exibições faciais. Assim, as expressões emocionais, aquelas que transmitem emoção, seriam encaradas como um subconjunto na vasta informação dos comportamentos faciais. Acentua as funções sociais e comunicativas dos comportamentos faciais, considerando que estes são expressivos para outra pessoa e não transmitem só um estado psicológico. Seriam actos comunicativos porque têm mais tendência para ocorrer quando os outros estão presentes, especificamente quando encaram a pessoa e podem ver as acções. Esta abordagem enfatiza os factores sociais, mas não defende que estes têm sempre o mesmo potencial. Chovil e Fridlund (1991) sugeriram que as acções faciais têm mais probabilidade de acontecer quando existe um receptor disponível, quando são úteis para transmitir uma informação particular e quando essa informação é pertinente ou adequada à interacção social.

Fundamentalmente, “em vez de se examinar as acções faciais como um caminho para os processos psicológicos, elas são acompanhantes exteriores para a interacção social” (Chovil, 1997, p. 321). É um comportamento que fornece informação a outras pessoas, transmite mensagens em contextos comunicativos, onde a interacção social é essencial para compreender a ocorrência de acções faciais. Para além de realçar o efeito da exibição facial no receptor, esta visão teórica afirma que a relação emissor-receptor é vista como essencial para compreender porque é que os comportamentos faciais ocorrem. Mais ainda, os actos verbais e não verbais comunicativos não são encarados como separados uns dos outros, mas como partes do mesmo processo.

Assim, nesta abordagem a comunicação face a face é um conjunto integrado de actos verbais e não verbais. De certa forma, estes actos podem ser muitas vezes especializados nas informações que melhor transmitem, mas ao mesmo tempo existe muita flexibilidade na forma como nos expressamos, pois “O nosso sistema de comunicação é também adaptativo às exigências da situação” (Chovil, 1997, p. 323).

Na Abordagem Comunicativa Social (Chovil, 1997), os comportamentos faciais não poderão ser isolados da produção verbal que os acompanha, opinião também partilhada por outros autores acerca da generalidade do comportamento não verbal (Wagner & Lee, 1999). Assim, o discurso é mais um aspecto a valorizar e o contexto comunicacional é essencialmente um contexto relacional dentro de um contexto social. É neste contexto relacional que podemos analisar o significado duma expressão facial.

Em suma, pela análise das controvérsias acerca do tipo de informação que a face pode transmitir, vimos que a relação directa entre comportamento facial e emoção está “socialmente” ultrapassada. Assim, a expressão facial pode estar associada, por exemplo, a acontecimentos psicológicos confundíveis com a emoção, como a dor, a fadiga, o aborrecimento, ou o interesse (Russell & Fernández-Dols, 1997), a estados de afecto nucleares10 (Russell, 2003), a factores sociais muito importantes (Chovil, 1997), a indicadores de processos cognitivos, como a atenção, a resolução de problemas (Smith & Scott, 1997), assim como a vastas tendências de acção que podem ser inferidas por observadores da face (Fridja & Tcherkassof, 1997). Para além disso, a mensagem expressa pela face e recebida pelo observador pode estar nas intenções e motivos sociais daquele que a expressa (Fridlund, 1997), existindo uma função comunicativa das expressões faciais (Bavelas & Chovil, 1997) e também uma ligação à interacção social (Fernández-Dols & Ruíz-Belda, 1995).

Para podermos compreender o significado das acções faciais, devemos investigar mais acerca das situações onde são exibidas, incluindo o discurso verbal que as acompanha. Assim, a análise dos comportamentos faciais requer a análise do contexto social como um contexto relacional, onde estabelecemos interacções e desenvolvemos relações com os outros.

Sabemos que os comportamentos faciais manifestos nem sempre coincidem com a experiência emocional (e.g., chorar em vez de sorrir numa situação de alegria), e a sua ligação com a emoção pode ser mais uma sobreposição de vários sistemas (emocional, social e comunicativo) do que somente uma parte do sistema emocional. Para além desta sobreposição, existe também uma multifuncionalidade das expressões faciais nos contextos, que tem sido realçada por alguns autores (Kaiser e Wherle, 2001b). Assim, um sorriso ou um franzir de sobrancelhas têm significados diferentes nas diversas interacções sociais e contextos. Podem ser um sinal de regulação de discurso, um sinal relacionado com o conteúdo verbal, um modo de sinalizar uma relação, um indicador de um processo cognitivo, de uma emoção, ou um sinal de afecto.

Em nosso entender, esta multifuncionalidade da expressão facial nos contextos pode ir ao encontro dos novos desafios na investigação da expressão facial, pois permite compreender como é que a mesma expressão facial nos pode dar informações tão diferentes nos diversos contextos sociais.

Universalidade e diferenças culturais

A Abordagem da Expressão Emocional (Ekman, 1989; Ekman, Friesen & Ellsworth, 1982a) afirmou também que os aspectos “universais” poderiam ser procurados nas expressões típicas das emoções básicas, ao passo que as diferenças culturais deveriam ser procuradas nos estímulos ambientais que desencadeiam reacções emocionais específicas, nas regras que governam e orientam a expressão nas diferentes situações (regras de exibição)11 e em algumas consequências da activação emocional. Pela realização de estudos inter-culturais, estes autores afirmam que há expressões faciais específicas que estão universalmente associadas a determinadas emoções. Na sequência desta ideia foi formulada uma teoria da expressão facial das emoções, denominada Teoria Neurocultural, com o objectivo de enfatizar dois factores - um relativo aos aspectos universais e outro às diferenças culturais.

O termo “neuro” refere-se à relação entre as emoções particulares e a activação de determinados músculos faciais, aquilo a que chamam o Programa Facial das Emoções e que seria, pelo menos em parte, inato. O termo “cultural” refere-se às circunstâncias activantes que suscitam a emoção, às regras que governam a sua manifestação e às consequências daí resultantes, sendo tudo isto aprendido e variável nas culturas. No fundo, as expressões seriam as mesmas, os estímulos é que poderiam mudar de cultura para cultura, consoante as normas sociais definidas. Quando a emoção é suscitada, ela activa então o Programa de Expressão Facial, que é o elemento universal. Ou seja, o termo “programa” indica um conjunto de instruções codificadas no nível neural, que modela as respostas ao nível do comportamento observável, as modificações ao nível do sistema nervoso central e autónomo e as modificações relativas à experiência subjectiva. Os processos cognitivos podem ou não intervir, consoante os estímulos. Quando o contexto não é interpessoal, a expressão é quase um reflexo. Numa situação interpessoal complexa, existe uma elaboração cognitiva mais complicada. Resumindo, o que parece ser importante para Ekman (1989) é que o “programa” liga cada emoção a uma configuração diferente e particular de impulsos neurais, afirmando assim a invariabilidade e universalidade das “expressões faciais” associadas a cada emoção. Nesta teoria, Ekman (1989) prevê que, antes de o “programa expressivo” ser activado, podem existir algumas interferências a que o autor chama regras de exibição, que são culturalmente determinadas e aprendidas.

Os teóricos da Abordagem da Expressão Emocional parecem reunir um consenso quanto à existência de seis emoções fundamentais: medo, fúria, surpresa, tristeza, alegria e nojo. A estas têm sido acrescentadas algumas outras, como o interesse ou o desprezo, mas quanto a estas o consenso já é menor (Ricci-Bitti & Zani, 1997).

Outros autores analisaram este Programa de Expressão Facial (Fernández-Dols, Carrera, Oceja, & Berenguer, 2000; Fernández-Dols & Russell, 1997) descrevendo a vasta assumpção de corolários teóricos que este implica. Contudo, segundo Fernández-Dols et al. (2000), os investigadores não são unânimes no seu apoio a cada um dos pontos citados, mas o Programa de Expressão Facial parece principalmente sugerir que a expressão de emoções básicas é um conceito psicológico universal. Assim, estes corolários têm sido muito debatidos e, segundo a opinião de Russell e Fernández-Dols (1997), surgem de imediato duas temáticas que têm intensificado as discussões e conduzido a repensar todo o Programa de Expressão Facial. A primeira, refere-se às evidências acerca da universalidade das expressões faciais e a segunda, à assumida ligação da emoção com a face.

Relativamente à controvérsia da universalidade/cultura das expressões faciais da emoção, Russell e Fernández-Dols (1997) rebatem-na seriamente, propondo uma “Universalidade Mínima”, que prevê uma certa quantidade de semelhanças inter-culturais na interpretação das expressões faciais, sem postular um sistema inato de sinalização emocional. Também Izard (1997), grande defensor da Abordagem da Expressão Emocional, apoiado em estudos mais recentes, diz-nos que as emoções básicas podem ser expressas através de uma vasta gama de padrões faciais e não somente pelos protótipos. Aceitarmos a possibilidade de os comportamentos faciais terem uma universalidade mínima em determinados eventos emocionais (Russell & Fernández-Dols, 1997), significa assumir que podem também ter significados muito específicos e diferentes de cultura para cultura.

Elfenbein & Ambady (2003a) têm contribuído para a explicitação do papel das culturas desenvolvendo uma teoria dialéctica acerca da forma como as emoções são percebidas e comunicadas culturalmente. O desenvolvimento desta teoria assenta em pesquisas que revelam a existência de uma vantagem endogrupal (Elfenbein & Ambady, 2002) no reconhecimento e compreensão das emoções. Em geral, os indivíduos são mais eficazes em reconhecer emoções expressas por membros da sua própria cultura do que em reconhecer emoções expressas por membros de um grupo cultural diferente. Esta vantagem endogrupal foi estabelecida através de diferentes métodos experimentais, de emoções positivas e negativas e diferentes formas de comunicar emoções, como as expressões faciais, o tom de voz e a linguagem corporal.

Elfenbein e Ambady (2003a), considerando que o Programa de Afecto Facial12 universal defendido por Ekman (1972) na sua teoria neuro-cultural, juntamente com o conceito de regras de exibição (Ekman, 1989), são insuficientes para explicar as diferenças culturais, desenvolvem o conceito de dialectos emocionais específicos de cada cultura. Assim, cada grupo cultural teria um Programa de Afecto Especifico, que incorpora alguns ajustamentos ao programa universal. Estes ajustamentos, adquiridos através da aprendizagem social, iriam criar diferenças no aparecimento da expressão emocional através das culturas. Estas diferenças de estilo não teriam necessariamente um objectivo ou significado específico, diferenciando-se assim das regras de exibição ou de descodificação13, que são técnicas de regulação conscientes, em prol do benefício ou harmonia social. Segundo as autoras, uma distinção fundamental entre a teoria neurocultural e a teoria dialéctica, é que esta última sugere que as diferenças culturais, na expressão emocional podem advir de duas fontes, o Programa de Afecto Especifico e as regras de exibição, e não somente das regras de exibição. Da mesma forma, a teoria dialéctica identifica duas fontes diferentes na percepção das emoções, o Programa de Afecto Especifico e as regras de descodificação, e não somente as regras de descodificação. Outra distinção importante da teoria dialéctica relativamente à teoria neurocultural, é que esta sugere que existe uma ligação directa entre as diferenças culturais, que se manifesta na expressão e percepção da emoção. Seria assim o Programa de Afecto Especifico que ligaria estes dois processos complementares numa cultura específica. Esta seria uma das razões pela qual os defensores da Teoria Neurocultural não têm em conta as evidências empíricas trazidas pela vantagem endogrupal, já que consideram que as diferenças culturais na expressão e percepção emocional emergem de dois processos diferentes, ou seja, as regras de exibição e as regras de descodificação. Pelo contrário, existe por detrás uma cultura com um dialecto emocional específico, que ligaria estas regras e explicaria as vantagens dos mesmos grupos culturais relativamente a outros, quer na expressão, quer na percepção das emoções.

Na mesma linha de investigação, as autoras (Elfenbein & Ambady, 2003b) realizaram outros estudos que fornecem evidências do papel importante da familiaridade cultural no reconhecimento das expressões faciais da emoção. Utilizaram participantes Chineses e Americanos com diferentes níveis de exposição, quer à China, quer aos Estados Unidos, como por exemplo, “Chineses-Americanos” e “Chineses vivendo nos Estados Unidos”, entre outros. De uma forma geral, verificaram que os participantes são mais eficazes no julgamento de emoções expressas por um grupo cultural com o qual têm uma maior familiaridade. Verificaram também que os participantes Chineses e Americanos residentes na sua própria nação eram mais rápidos nos julgamentos das expressões emocionais dos membros do endogrupo cultural. Assim, estes resultados fornecem evidências de que existe um impacto das diferenças culturais na compreensão das emoções.

Parece-nos assim que a teoria dialéctica representa um desafio para os investigadores que queiram verdadeiramente conhecer os dialectos emocionais específicos de cada cultura, entender os processos de vantagem endo-grupal, de familiaridade cultural e, em última análise, do papel da aprendizagem cultural nestas gramáticas e vocabulários específicos da expressão e percepção da emoção. Daí que surjam outros autores que afirmam que as emoções diferem através das culturas, numa variedade de formas interligadas (Parkinson, Fischer e Manstead, 2005). Primeiro, as práticas culturais específicas representam diferentes ocasiões para a ocorrência das emoções (e.g., rituais). Segundo, os valores sociais fornecem critérios a partir dos quais os eventos emocionais são avaliados. Terceiro, a socialização cultural promove diferentes respostas corporais habituais e modos de expressão durante a emoção. Quarto, as pessoas regulam a apresentação das suas emoções de acordo com padrões culturais. Quinto, a interpretação e avaliação das emoções por outras pessoas também depende do seu sistema de significado cultural. De acordo com Parkinson, Fischer & Manstead (2005) a cultura preenche tanto a vida emocional, que será difícil que alguns dos seus aspectos não seja tocado pela cultura. Não poderíamos estar mais de acordo.

A importância do contexto

Na formulação original da abordagem emocional (Ekman, 1989) a expressão facial é independente e não necessita do contexto para ser interpretada em termos de significado. Contudo, Ekman (1997a) afirma mais tarde que, quando uma expressão é vista fora do contexto, sem discurso, movimento do corpo, postura e conhecimento do que está acontecer, esta transmite informação, mas não tanta como quando é vista no contexto.

Fernández-Dols e Carroll (1997) afirmam que todos os autores que desenvolveram o Programa de Expressão Facial enfatizaram a importância da expressão facial como fonte independente e auto-suficiente de informação emocional. Situando-se numa linha de investigação alternativa, estes autores realçam a ideia de que, tal como qualquer estímulo, a interpretação das expressões faciais depende do contexto. Se para a abordagem emocional, o que é importante é a quantidade de informação, para estes autores é o tipo de informação que é completamente alterado, diferente, e por isso a expressão facial não pode ser dissociada do contexto. Os estudos de Fernández-Dols e Carroll (1997) sobre contexto e significado demonstram, assim, que o tipo de informação depende do contexto que lhe serve de fundo. Evidenciam os autores que um observador tanto pode reconhecer tristeza como alegria no choro, alegria ou um convite social no sorriso. Apresentam duas fotografias que constituem dois exemplos muito interessantes das diferenças de percepção quando estão isoladas ou integradas no contexto. Fora do contexto, percepcionamos uma mulher com uma expressão de dor e um homem com uma expressão de fúria. Integrados nos contextos situacionais, a mesma mulher representa afinal uma campeã Olímpica, com uma medalha de ouro, vivendo um dos momentos mais felizes da sua vida. A outra fotografia revela afinal um soldado americano libertado, depois de ter sido feito refém e foi classificada pela revista Time-Life como “uma expressão ambígua” de alegria.

De acordo com estes autores (Fernández-Dols & Carroll, 1997), a selecção dos múltiplos e variados significados da face depende do contexto. Mais, o reconhecimento de emoções a partir da face está, como em qualquer processo perceptivo, sujeito aos princípios que relacionam a figura com o fundo, e se muda o fundo, tal como noutro estímulo qualquer, a interpretação do comportamento facial também muda. Acentuam assim que uma determinada expressão facial num contexto pode ser parte de um episódio emocional diferente, e ter um significado emocional diferente, quando comparada com a mesma expressão facial noutro contexto. De igual forma, outros autores (Kaiser & Wherle, 2001b), afirmam que o significado concreto de uma expressão facial só pode ser determinado tendo em conta o contexto situacional e temporal. Nas interacções quotidianas, nós conhecemos o contexto e podemos usar toda a informação que está disponível para interpretar a expressão facial de outra pessoa.

Em suma, os contextos são importantes para entender o significado das expressões faciais, que efectivamente devem ser estudadas em contextos interactivos. Esta opinião é, assim, partilhada por diversos autores (Fernández-Dols, 1999; Fernández-Dols & Ruíz-Belda, 1995; Kaiser & Wherle, 2001b). O contexto social, definido como os acontecimentos situacionais que rodeiam a expressão facial (Fernández-Dols & Carroll, 1997) influencia o significado dos comportamentos faciais. A diferentes contextos estão associadas diferentes informações transmitidas pelas expressões faciais e, para além disso, podemos também dizer que as reacções a uma face podem variar consoante uma expressão é comum ou invulgar num dado contexto (Russell & Fernández-Dols, 1997). Podemos ainda afirmar, de acordo com os mesmos autores, que estes contextos devem ser, quando possível, contextos naturais.

Outro ponto levantado por Femández-Dols e Carroll (1997) questiona em que medida as informações faciais e as informações contextuais estão ligadas por um processo aditivo, linear ou integrado. Estes autores fornecem evidências de um sistema integrado, a partir do qual podemos dizer que, em períodos de intensa emoção, a expressão facial é uma corrente complexa e rápida de movimentos faciais, encarada como o resultado de um sistema de tensão com forças afectivas e situacionais (Fernández-Dols, 1999). Para além disto, todos os acontecimentos e processos estão envolvidos em contextos e qualquer acontecimento ou processo constitui um contexto para outros acontecimentos e processos (Ginsburg, 1997). Mais ainda, um evento ou processo ocorre no final de algo que acabou de ocorrer e ocorre também como um componente de algum processo ou acontecimento mais vasto. Assim, segundo Ginsburg (1997), os comportamentos faciais podem ter contextos lineares ou hierárquicos, e estes são cumulativos, ou seja, uns precedem os outros, o que leva o autor a defender um sistema dinâmico em que as expressões faciais ocorrem num fluxo de acções situadas e só podem ser compreendidas como características desse fluxo. A estas características cumulativas e dinâmicas só pode estar subjacente uma flexibilidade contextual que Chovil (1997) também acentua, quando afirma que o sistema de comunicação em que incluímos o comportamento facial é adaptativo em relação às exigências da situação.

Estas explicações levam-nos então a defender um sistema dinâmico e integrado com relações recíprocas de influência, em que os acontecimentos contextuais influenciam o significado do comportamento facial e as características do contexto (e.g, nível de sociabilidade) influenciam o nível de Interacção. A própria expressão facial pode mudar as características do contexto social e regular, através deste, a interacção social (Ginsburg, 1997). Se o sistema é também cumulativo, só podemos compreender as expressões faciais em relação com outros comportamentos; e, se existe flexibilidade na forma como nos expressamos, isso depende da flexibilidade de adaptação das expressões faciais aos contextos sociais e do fluxo das modificações no tempo.

Em suma, os estudos mais recentes sobre expressão facial têm enfatizado a importância do contexto na sua análise e da interacção social como factor privilegiado para o seu aparecimento (Ginsburg, 1997). Se o contexto social pode modelar a expressão facial através das características desses mesmos contextos, como a presença dos outros e as exigências da situação (Philippot, Feldman & Coats, 1999), podemos afirmar que são os contextos relacionais que orientam o comportamento facial como comportamento social na interacção. Estes contextos de relações sociais podem ser definidos em três níveis: cultural, grupal e interpessoal.

Pensamos que qualquer investigador concorda com esta importância do contexto, e podemos dizer que as discrepâncias teóricas e empíricas verificadas são muitas vezes influenciadas por opções metodológicas na análise das expressões faciais, ou seja, têm-se utilizado mais estudos de julgamento e fotografias estáticas do que estudos em contextos naturais. Se o contexto é uma sequência dos acontecimentos que inclui as causas e consequências do comportamento facial (Ginsburg, 1997), torna-se então necessário ter melhores descrições do contexto e usar mais contextos naturais. Esta questão é particularmente importante quando nos propomos evidenciar novos desafios na temática da emoção e expressão facial.

A metodologia dos estudos

Numa análise da metodologia dos estudos de julgamento, Wagner (1997) salienta que a lista de critérios utilizada por Ekman, Friesen e Ellsworth (1982b) para o estudo das faces é muito restritiva. Foram formuladas assim para lidar com questões que não requerem necessariamente um nível elevado de validade ecológica e actualmente não se aplicam a muitas questões que preocupam os investigadores. Da mesma opinião são os autores Russell e Fernández-Dols (1997), que consideram que as questões ecológicas, tanto são relevantes para os estudos de produção da expressão facial, como para os estudos de reacção às faces, sendo necessário investigar se as reacções espontâneas dos observadores estão bem representadas pelo tipo de escalas de julgamento frequentemente usadas nos estudos das expressões faciais.

Uma questão que nos parece fundamental é que as imagens apresentadas aos observadores não devem ser isoladas dos contextos, não devem ser “à prova de contexto”, como afirmam alguns autores (Fernández-Dols & Carroll, 1997). Os estudos de julgamento que utilizam imagens isoladas do contexto, ignoram um factor: cada face é apresentada num contexto constituído por uma série de outras faces e este contexto, que não é nada ecológico, exerce uma poderosa influência sobre a emoção percepcionada. Mais ainda, os observadores são livres de imaginar qualquer situação para cada pessoa cuja face lhes seja mostrada (Fernández-Dols & Carroll, 1997; Ginsburg, 1997).

De uma forma geral, podemos então afirmar que a relação entre aquilo que causa o comportamento da face e aquilo que o observador pensa que causa deve ser uma questão empírica e não uma assumpção implícita. Existe assim uma confusão entre distintas questões de pesquisa, que esteve muito presente nos estudos da Abordagem Emocional, que utilizaram quase sempre estudos de julgamento (Russell & Fernández-Dols, 1997). Se uma expressão facial é causada pela raiva de quem a expressa, isso não implica necessariamente que os observadores posam saber isso. Inversamente, só porque observadores leigos inferem raiva de uma face, não implica necessariamente que quem a expressa esteja realmente enraivecido.

De acordo com Bavelas e Chovil (1997), as faces em diálogo ou em interacção movem-se rapidamente para transmitir informação, em conjunção com outros actos simbólicos simultâneos. Para estudar este tipo de fenómeno não se podem usar descrições físicas de fotografias paradas. Convém analisar os comportamentos faciais à medida que ocorrem na interacção social real, com o objectivo de compreender o seu significado no contexto. Esta ênfase na flexibilidade dos comportamentos faciais leva-nos à questão da utilização dos contextos naturais. Muitos estudos sobre expressões faciais ainda incluem muitas fotografias de expressões faciais paradas, para além de histórias artificiais de uma situação. Alguns autores (Fernández-Dols & Carroll, 1997) acentuam a necessidade de se utilizarem mais procedimentos ecológicos, mais fontes naturais de expressão e informação contextual que se pareçam mais com a vida quotidiana.

Se a utilização dos contextos naturais tem sido cada vez mais enfatizada na área do comportamento facial (Fernández-Dols & Carroll, 1997; Fernández-Dols & Ruíz-Belda, 1995; Russell & Fernández-Dols, 1997), tem-se também realçado a necessidade de estudar o comportamento facial mais como variável dependente (Ekman, 1997b; Fernández-Dols & Carroll, 1997), através de procedimentos de codificação que permitam um melhor conhecimento dos seus componentes e acções faciais envolvidos.

Quer em relação a um melhor conhecimento dos contextos, quer em relação ao procedimento de codificação das acções faciais, estamos de acordo com alguns autores (Fernández-Dols, 2006), que afirmam que uma descrição detalhada da informação apresentada nos comportamentos quotidianos seria uma espécie de teste de realidade, antes de se fazerem reivindicações teóricas. Este tipo de procedimento serviria para evitar conclusões prematuras e programas de pesquisa ineficientes. Não fosse a própria psicologia social inspirada pelas descrições da linguagem quotidiana, com quem partilha assumpções básicas acerca da realidade. Pelas palavras do próprio autor, podemos dizer que seriam: “excursões saudáveis aos proibidos e normalmente exóticos territórios da história natural, tal como aquelas que Darwin fez a bordo do HMS Beagle antes de desenvolver a sua teoria revolucionária” (Fernández-Dols, 2006, p. 132).

Conclusão: Novos desafios

Vimos que o uso do termo expressão facial deve evitar a ligação com a perspectiva clássica, que implica uma relação directa com a emoção. Novos desafios emergem quando passamos da visão estrita da expressão facial da emoção para o vasto mundo das informações sociais e comunicativas, complementando assim as diferentes perspectivas. Se as emoções têm uma função relacional (Parkinson, Fischer & Manstead, 2005), também a regulação da expressividade emocional acontece nas, e pelas relações sociais que construímos com os outros. Daí que os factores emocionais só possam ser compreendidos se não os desligarmos dos factores sociais e comunicativos. Até porque a expressão facial é fundamentalmente informação em contextos relacionais.

A perspectiva da multifuncionalidade (Kaiser & Wherle, 2001b) dá-nos uma base teórica para compreendermos as diferentes informações e consequentes funções que a mesma acção facial pode traduzir. Vejamos o exemplo do franzir de sobrancelhas (Au4)14. Pode significar percepção de obstáculo ao objectivo, incompreensão, esforço antecipado, concentração, dificuldade (Kaiser & Wherle, 2001a, 2001b; Smith & Scott, 1997). Também está relacionado com a diminuição do campo visual (Ekman, 1979) e aparece associado à ideia de “mente” (Parkinson, Fischer e Manstead, 2005). Por outro lado aparece associado à expressão de fúria (Ekman, 1979) e ao desagrado (Smith & Scott, 1997). Até pode ser considerado um eficiente captador de atenção do outro (Tipples, Atkinson & Young, 2002) e como sinal conversacional está mais associado à ênfase de uma questão (Ekman, 1979).

O enquadramento destes diferentes significados não pode partir do conceito de “padrões expressivos prototípicos” de emoções inatas e universais, já que este esquece a diversidade de informações, o papel dos contextos e representa uma abordagem categórica ao comportamento facial. Assim, temos que usar um modelo de análise que vá para além das “expressões típicas da emoção”, uma abordagem componencial que tem vindo a ser enfatizada por diversos autores (de Sousa, 2006; Kaiser & Wherle, 2001a, 2001b; Scherer & Ellgring, 2007a, 2007b; Smith & Scott, 1997).

De acordo com Smith e Scott (1997), existem três tipos de modelos de análise do significado da expressão facial, que brevemente explicitaremos: o Modelo Categorial Puro, o Modelo Componencial e o Modelo Componencial Puro15. Relativamente ao Modelo Categorial Puro, o significado é transmitido através das expressões faciais que correspondem a categorias das diversas emoções. Assim, as acções faciais individuais que não sejam configurações mas só componentes, não têm qualquer significado (e.g., levantar de sobrancelhas). No Modelo Componencial Puro, pelo contrário, a configuração facial não é mais do que a soma das suas partes e a configuração só tem significado pela inferência que é feita a partir dos componentes, e nunca pela produção de um comportamento facial distinto. Por último, o modelo que realçamos é o Modelo Componencial, que adopta a perspectiva de que uma configuração facial pode ter um significado categorial, mas por outro lado, os componentes, ou as acções faciais, também podem revelar informações. Para defender este modelo, Smith e Scott (1997) verificaram empiricamente que: a) muitas unidades de acção facial estão presentes em diferentes expressões de emoções; b) as evidências sobre comportamentos faciais espontâneos que representam expressões completas das emoções são raras; c) a mesma emoção pode ser evidenciada por diferentes expressões, porque partilha unidades de acção facial; d) os indivíduos costumam referir a experiência subjectiva de uma a quatro emoções misturadas.

Este modelo permite assim que a mesma acção facial, como o franzir de sobrancelhas, seja um indicador de processos cognitivos (e.g., percepção de obstáculo), processos afectivos (e.g, fúria e desagrado), mas também pode revelar estratégias de auto-apresentação (e.g., eficiente captador de atenção do outro). Nesta linha de pensamento, Kaiser e Wherle (2001b) enfatizam também a flexibilidade ou rapidez das modificações expressivas nos contextos, realçando que os indivíduos podem usar os comportamentos faciais de uma forma mais ou menos consciente, de modo a atingir um motivo social (e.g., obter atenção ou suporte), podendo assim existir uma regulação da auto-apresentação. Assim, se os comportamentos faciais se situam num continuum entre espontaneidade e deliberação, não sendo possível estabelecer uma distinção demarcada entre eles, podem simultaneamente fazer parte de processos, mas também de estratégias, na espontaneidade dos nossos fingimentos e na natural utilização das nossas poses nas relações sociais. Propomos assim que o comportamento facial pode traduzir processos cognitivos, afectivos mas também estratégias de auto-apresentação, que só podem ser compreendidos pela análise dos contextos relacionais (de Sousa, 2006).

Se Ekman (de 1972 a 1997b) nunca se deteve muito a analisar os eventos que antecediam a emoção, também não especifica que tipos de elaborações cognitivas complicadas são aquelas que menciona relativamente às expressões faciais da emoção. São as teorias da avaliação (Kaiser & Wherle, 2001a; Scherer, 2001) que têm esmiuçado esta questão e podem dar um importante contributo. Elas analisam o impacto das situações sociais nos processos cognitivos, na avaliação dos eventos emocionais antecedentes e nas reacções fisiológicas e expressivas. São teorias que não são esquecidas pelos Modelos Componenciais da Emoção (Scherer & Ellgring, 2007a, 2007b), possibilitando informações sobre processos cognitivos que podem ser interligadas aos processos afectivos. O Modelo Componencial, articulado com as teorias cognitivas da avaliação, concentra-se em acções faciais e deixa de se focalizar na questão da universalidade das “expressões faciais da emoção”, pretendendo “...estudar as expressões faciais espontâneas nas interacções sociais.” (Kaiser & Wherle, 2001a, p. 289).

O conhecimento dos dialectos emocionais específicos de cada cultura, do papel da aprendizagem cultural nas gramáticas e vocabulários específicos da expressão e percepção da emoção e, em geral, da compreensão do papel da cultura na vida emocional e expressões associadas, representa um desafio na pesquisa da expressão facial. Para este desafio, os Modelos Componenciais da Emoção (Sherer & Ellgring, 2007a) constituem uma alternativa mais abrangente do que a Abordagem da Expressão Emocional, já que expandem o âmbito teórico de trabalho na área da expressão facial da emoção. Nas suas próprias palavras: “.seria aconselhável ponderar a utilidade da assumpção típica, por parte de muitos investigadores, dentro e fora da psicologia, que o único objecto digno de estudo é um número pequeno de emoções básicas com expressões prototípicas produzidas por programas neuromotores” (Scherer & Ellgring, 2007a, p. 128). Estes modelos não contestam a ideia fundamental de que as expressões faciais traduzem estados emocionais diferenciados, mas essencialmente propõem que as emoções têm um carácter emergente baseado na interacção de diferentes componentes, orientados pela avaliação de um evento que os desencadeia. O conceito de emoções mistas, pesquisado por alguns autores (Carrera & Oceja, 2007), vai ao encontro desta expansão teórica.

Assim, o desafio da revalorização do papel do contexto no estudo da expressão facial da emoção pode ajudar na compreensão da interacção destes componentes e do seu verdadeiro significado nos contextos sociais. Para os enquadrar, devemos partir de descrições mais detalhadas dos contextos onde emergem e codificá-los a partir da sua ocorrência em contextos naturais. Parece-nos, assim, que para compreender a expressão facial como um comportamento nas relações sociais, com informações emocionais, sociais e comunicativas, não é já possível seguir as orientações teóricas da Abordagem da Expressão Emocional. Para além disso, as acções faciais podem traduzir processos cognitivos e afectivos, mas também estratégias de auto-apresentação mais ou menos deliberadas, mais ou menos espontâneas. O seu significado e as suas diferenças culturais só podem ser compreendidos em contextos relacionais, privilegiando na sua análise um Modelo Componencial.

Todos os desafios e tendências emergentes de pesquisa na área da expressão facial levam-nos então a afirmar, de acordo com outros autores, que: “O tempo pode estar maduro para uma maior mudança de paradigma no estudo da expressão facial... ” (Scherer & Ellgring, 2007a, p. 128).

 

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Notas

2No original inglês facial displays, que traduzimos por exibições faciais.

3Facial Action Coding System, sistema de codificação facial (Ekman & Friesen, 1978; versão revista Ekman, Friesen & Hager, 2002)

4Este termo é muitas vezes utilizado para designar expressões prototípicas de emoções.

5Assim designado por Russell & Fernández-Dols (1997), Facial Expression Program, no original em inglês.

6Assim designada por Chovil (1997), Social Communcative Approach no original em inglês.

7Assim designada por Chovil (1997), Emotional Expression Approach, no original em inglês.

8Assim designada por Manstead, Fisher & Jakobs (1999), Behavioral Ecology View, no original em inglês.

9Os estudos de Kraut & Jonhston (1979) e a replicação de Ruíz-Belda & Fernández-Dols (1995) constituem um marco para as abordagens alternativas à Abordagem da Expressão Emocional. São referenciados por Manstead, Fisher & Jakobs (1999) na Perspectiva da Ecologia Comportamental, para realçar a interacção social como factor de produção da expressão facial. São também referenciados por Chovil (1997) para evidenciar os factores sociais na Abordagem Comunicativa Social.

10Core afffect, no original em inglês.

11Display rules no original em inglês.

12Programa de Afecto Facial significa o mesmo que o Programa de Expressão Facial já anteriormente referido, contudo mantemos aqui a designação original de Elfenbein & Ambady (2003a), Facial Affect Program, por ser um termo especificamente ligado à con-ceptualização do Programa de Afecto Especifico.

13Display rules e Decoding rules, no original em ingles.

14Action Unit 4, do sistema de codificação facial denominado Facial Action Coding System (FACS, Ekman, Friesen & Hager, 2002)

15Assim designados por Smith e Scott (1997). No original inglês, Purely Categorical Model, Componential Model e Purely Componential Model.