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Psicologia

versão impressa ISSN 0874-2049

Psicologia vol.18 no.1 Lisboa jan. 2004

https://doi.org/10.17575/rpsicol.v18i1.414 

Contributos para uma cartografia da investigação em psicologia em portugal

Uma análise a partir dos trabalhos apresentados no V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia

Towards an overview of psychological research in Portugal: an analysis drawing on the papers presented at the V National Symposium of Psychological Research

 

Paula Castro*; Margarida Garrido**; Carla Mouro***; Rosa Novo**** e Rute Pires*****

*-**-***Departamento de Psicologia Social e das Organizações, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Av. das Forças Armadas, Lisboa.

****-*****Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, Alameda da Universidade, Lisboa.

 


RESUMO

O presente artigo constitui um balanço do V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia. Procurou-se, em primeiro lugar, analisar a distribuição temática e institucional da investigação apresentada, que se mostrou heterogénea e diversificada e, na sua grande maioria, realizada ou liderada por psicólogos vinculados a instituições universitárias. Foi também analisada a saliência dos diversos temas e a sua estrutura de associação, através da frequência das palavras-chave dos trabalhos apresentados e de uma análise de correspondências múltiplas, a qual permitiu elaborar uma cartografia das tendências de pesquisa em Portugal, mostrando as várias lógicas que organizam as diferentes linhas temáticas e as instituições universitárias a elas mais associadas.

Palavras-chave Investigação em psicologia, áreas científicas da psicologia, história da psicologia.


ABSTRACT

The present paper aims to be an overview of the V National Symposium of Psychological Research. The thematic and institutional distribution of the presented research showed to be heterogeneous and diversified and mostly originating in academia. The thematic assodative structure of the presented works was also analysed, through a multiple correspondence analysis of the key words, which allowed the mapping of the research trends in Portugal, showing the several underlying logics that organize the different thematic lines and the academic institutions most attached to each of them.


 

Objectivos do artigo

O presente artigo tem dois objectivos principais. Em primeiro lugar, pretende constituir um balanço do V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia, que decorreu entre 16 e 18 de Outubro de 2003, em Lisboa, no Centro de Congressos da Fundação Calouste Gulbenkian. Enquanto Comissão Organizadora, pretendemos apresentai e divulgar mais amplamente a distribuição temática e institucional dos trabalhos apresentados no simpósio.

Em segundo lugar, este trabalho pretende contribuir para uma cartografia das tendências da pesquisa em psicologia no nosso país, analisando as relações entre as áreas científicas e os domínios temáticos nos quais a investigação se desenrola. Esta análise será feita através de métodos bibliométricos que implicam o estudo da conocorrência das palavras-chave (ver Vala, Lima & Caetano, 1996) propostas pelos autores dos trabalhos apresentados no V simpósio.

O V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia

Dentro desta mesma série de simpósios promovida pela Associação Portuguesa de Psicologia (APP), o anterior a este havia tido lugar em Novembro de 1996 (ver Brito-Mendes & Ventura, 1998).

Nos anos que se seguiram, a investigação em Psicologia em Portugal continuou a mostrar grande vitalidade e uma abrangência crescente, e os campos de aplicação da disciplina continuaram a alargar-se, características que era intenção da APP tomar novamente visíveis. Era uma vez mais imperioso reflectir sobre os rumos da investigação, a diversidade das metodologias e das técnicas, as relações entre os domínios teóricos e os aplicados e as pontes de diálogo entre as áreas científicas da psicologia e desta com as disciplinas que partilham espaços próximos. Para tanto, era necessário voltar a reunir psicólogos portugueses de diversas áreas de especialidade e de diferentes inserções institucionais, interessados em apresentar e em discutir os seus trabalhos de investigação com os colegas.

Foram, assim, estes os objectivos da realização do V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia.

Estrutura do Simpósio

O programa científico incluiu mesas-redondas por convite, simpósios temáticos, sessões temáticas e posters.

A sessão de abertura contou com uma conferência de Maria Benedicta Monteiro sobre a investigação em psicologia em Portugal, vista através dos simpósios desta série, e com uma homenagem ao colega e organizador do simpósio anterior, Carlos Brito-Mendes, da responsabilidade de Paulo Ventura, e cujo texto se publica também neste número de Psicologia.

As mesas redondas visavam o debate entre diferentes participantes sobre um tema específico, e houve lugar a duas, uma intitulada "A investigação em psicoterapia: passado, presente e futuro", e outra intitulada "A psicologia e as ciências sociais e humanas".

Os simpósios temáticos integravam um conjunto de três a cinco apresentações sobre um mesmo tema, organizadas por um coordenador. As apresentações orais não inseridas em simpósios foram agrupadas em sessões com coerência temática. Houve também lugar para sessões de posters, durante as quais os respectivos autores estavam presentes para discutir o seu trabalho com os participantes do simpósio.

Os números do V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia

Para além das participações nas mesas redondas, o simpósio contou com 348 trabalhos centíficos, distribuídos pelos três formatos propostos. No que respeita a apresentações orais, houve lugar a 43 simpósios, que incluíram 180 comunicações, e a 21 sessões temáticas, que incluíram 88 comunicações; no total, houve, portanto, 268 comunicações apresentadas oralmente. Foram ainda expostos em formato de poster 80 trabalhos.

Em comparação com os simpósios anteriores regista-se um aumento muito significativo do número de trabalhos apresentados. Refira-se, a título comparativo, que o total de trabalhos de investigação apresentados no II simpósio, em 1988, foi de 100 (ver Monteiro, Lima & Fiadeiro, 1989), no III simpósio, em 1992, o total foi de 168 (ver Caetano & Ventura, 1994) e no IV Simpósio, em 1996, o total foi de 195 (ver Brito-Mendes & Ventura, 1998). Queremos também salientar a grande predominância neste V simpósio do formato de simpósio temático, o que denota um nível de colaboração entre os investigadores que permite falar de uma comunidade científica com uma notória capacidade de articulação e de trabalho em rede.

 

figura 1

 

Distribuição por área científica, por instituição e por formato

Distribuição dos trabalhos por área científica

Foi solicitado aos participantes do V simpósio que inscrevessem os seus trabalhos numa das várias áreas científicas que se apresentam na figura 2

Ao mostrar como se distribuíram as escolhas dos investigadores, a figura 2 indica que as áreas mais representadas (com mais de 25 trabalhos) foram a psicologia social (n=41), a psicologia clínica e psicoterapia (n=39), a psicologia da saúde (n=37), a psicologia cognitiva (n=36), a psicologia do desenvolvimento (n=36), a avaliação psicológica (n=33), a psicologia da educação (n=33) e a psicologia do desporto (n=29).

De um modo geral, poderíamos ainda dizer que as áreas menos representadas correspondem quer a áreas emergentes no nosso país (casos da psicologia forense, da psicologia comunitária e da psicologia ambiental), quer a áreas consolidadas mas que neste simpósio atingiram uma expressão menos importante (casos da orientação escolar e profissional, da psicologia das organizações e da neuropsicologia),

Distribuição dos trabalhos por área científica e por formato de apresentação

A figura 3 mostra a distribuição dos trabalhos apresentados por área científica e por formato de apresentação.

Gostaríamos de destacar, na análise da figura 3, que em todas áreas científicas propostas excepto duas, se realizou um número muito significativo de simpósios temáticos. Tomando, como temos vindo a fazer, a organização destes como um indicador da maturidade das redes de colaboração entre investigadores, parece possível afirmar que a tendência para uma colaboração sistemática está em vias de consolidação na investigação em psicologia no nosso país.

Distribuição dos trabalhos por instituição de pertença dos autores

Os autores dos trabalhos apresentados no V simpósio são provenientes de 93 instituições diferentes, número que reflecte a tendência para esta série de simpósios congregar uma grande diversidade de pertenças institucionais e para aproximar investigadores e profissionais com áreas de interesse similares, mas com acessos a campos e contextos diferenciados de trabalho e investigação. A figura 4 apresenta as instituições de pertença mais representadas.

De uma forma geral há a salientar, na análise da figura 4, que a presença mais importante e numerosa é das universidades.

É notória a importante contribuição dos trabalhos de autores provenientes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, da Universidade do Minho, muito mais representada do que na edição anterior, do ISCTE, da Faculdade de Motricidade Humana, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto e do ISPA. É ainda importante notar a presença já bastante marcada de duas universidades privadas que não existiam à data do anterior simpósio — a Universidade Lusófona e a Universidade Independente.

Porém, isso não significa que outras instituições universitárias então universitárias tenham estado ausentes. A figura 4 toma visível a participação de investigadores de diversas outras instituições de ensino superior, nacionais e até estrangeiras, e rima ampla representação de instituições ou serviços de áreas diversas, designadamente da saúde, do emprego e da solidariedade social, da área judicial, militar e associativa.

Distribuição dos trabalhos por instituição de pertença e área centífica

A figura 5 apresenta a distribuição das instituições de pertença dos autores por área científica.

Uma análise da figura 5 destaca a forte ligação que algumas áreas científicas mantêm com algumas instituições universitárias. É particularmente notória a ligação estreita entre a Faculdade de Motricidade Humana e a psicologia do desporto. Ainda que bastante menos notória, destaca-se também a ligação entre a psicologia social e o ISCTE, embora esta área esteja também representada pela Universidade do Porto e, com menor presença, por diversas outras instituições universitárias. Quanto à psicologia da saúde, a Faculdade de Psicologia de Lisboa contribuiu particularmente para a sua presença no V simpósio, embora esta temática seja apresentada um pouco por todas as universidades presentes. O mesmo pode ser dito a propósito da psicologia da educação, onde no entanto se destaca o papel da Universidade do Minho e o da Universidade do Porto. A psicologia do desenvolvimento esteve especialmente representada nos trabalhos apresentados pelo ISPA e pela Universidade do Porto, mas tem uma representação importante de várias outras universidades. Na psicologia cognitiva merece destaque a Faculdade de Psicologia de Lisboa, que também se destacou nas áreas de clínica e psicoterapia e na avaliação psicológica, em ambas acompanhada pela Universidade do Minho.

Análise das palavras-chave

A análise das palavras-chave propostas pelos autores dos trabalhos apresentados no V simpósio permitirá obter uma perspectiva diacrónica relativamente a dois aspectos: a saliência dos vários temas que a investigação em psicologia em Portugal trata e a co-ocorrência desses temas, ou seja, as relações que estes temas mantêm entre si. No seu conjunto, estes dois aspectos permitem conhecer a receptividade dos investigadores portugueses às diferentes temáticas e as relações destas entre si. O estudo das relações entre os diversos temas toma-se particularmente importante, pois permitirá compreender a lógica interna que organiza as escolhas de um grande número de investigadores e as linhas de orientação adoptadas no seio das instituições a que estão agregados. Esta análise permitirá detectar as mais importantes constelações de preferências e de investimentos em termos de áreas ou temáticas centíficas.

Deste modo, mesmo salvaguardando o facto de os trabalhos apresentados no simpósio poderem não constituir uma amostra representativa da investigação que se realiza em Portugal, esta análise permite contribuir para uma cartografia da investigação em psicologia realizada no nosso país por alturas do V simpósio.

Método

O número total de palavras-chave dos 349 trabalhos científicos incluídos no livro de resumos do V Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia é de 1028 (ver Castro, Novo, Garrido, Pires, & Mouro, 2003).

Recorde-se que para cada trabalho era solicitada a identificação de três palavras-chave, o que teoricamente resultaria num corpus de análise de 1047 palavras (3 palavras x 349 trabalhos). Todavia, como esta solicitação nem sempre foi correspondida, a definição do corpus da análise exigiu a aplicação dos três critérios seguintes:

— consideração das três primeiras palavras-chave referidas em cada trabalho, quando o seu número excedia o solicitado;

— consideração do total de palavras referidas, quando estas eram inferiores ao solicitado;

— extracção de três palavras-chave do título do trabalho, nos casos em que estas não eram referendadas.

A primeira etapa para o apuramento da saliência dos temas tratados nestas investigações consistiu na eliminação das repetições, dos plurais, das variantes lexicais, das variantes dos tempos verbais e das redundâncias semânticas. Este primeiro procedimento de clarificação das unidades de análise reduziu o número de palavras-chave para 723 palavras não redundantes. Para analisar estes dados no sentido de compreender as suas co-ocorrências era ainda necessário reduzir a variabilidade e categorizar este elevado número de palavras-chave.

Assim, as 723 palavras originais foram então agrupadas em categorias, de acordo com critérios definidos em função da leitura da lista de palavras já triadas. Este procedimento permitiu identificar 42 categorias, as quais agrupam 95% da totalidade das palavras-chave, pois apenas foram retidas as categorias com frequência igual ou superior a 5.

Depois desta categorização, restaram ainda 39 palavras-chave distintas entre si e pouco frequentes (5%). Estas palavras são referentes a áreas muito específicas, ou de significado demasiado generalista para poderem ser incluídas numa das categorias formadas, ou para formarem elas próprias uma categoria diferenciada, ficando por isso de fora das análises posteriores.

Resultados

Por forma a identificar a prevalência dos vários temas no V simpósio, o quadro 1 apresenta a frequência com que as 1028 palavras-chave se distribuíram pelas 42 categorias definidas. Note-se que as 39 palavras-chave excluídas apresentam uma frequência bastante inexpressiva (52).

A análise do quadro 1 permite verificar que as categorias mais frequentes foram as que agruparam palavras-chave referentes a perturbações psicopatológicas, avaliação psicológica, autoconceito, doença, educação, cognição, saúde e prevenção, processos psicoterapêuticos, relações interpessoais, desporto e orientações metodológicas — os temas que pontuam acima de três por cento. É, portanto, bastante evidente a vincada heterogeneidade dos temas mais tratados neste simpósio. Encontramos vários níveis de análise e várias áreas de aplicações e de interface com a sociedade entre estas categorias mais frequentemente abordadas no simpósio.

Também com elevada frequência — entre os 3 e os 2,5 por cento — encontramos mais uma vez palavras-chave muito variadas. Algumas referem-se no seu conjunto a temas do âmbito genérico da psicologia do desenvolvimento — como processos de desenvolvimento, relações pais-filhos, adultos. Outras, em comparação com anos anteriores, surgem como áreas emergentes, como é o caso da psicologia comunitária. Outras são áreas que permanecem visíveis, mas sem grande crescimento, como a psicologia do ambiente, a psicologia das organizações, as relações intergrupais e leitura e escrita.

Muito mais raros—praticamente residuais—são temas como as medidas psicofísicas, a motivação, a aprendizagem, a psicologia evolutiva, as atitudes e a percepção. Alguns destes temas, porém, são temas clássicos, quer da psicologia geral (percepção, motivação, aprendizagem), quer da psicologia social (as atitudes), que aqui surgem como temas que parecem ter perdido centralidade no nosso país.

Para responder ao nosso segundo objectivo, a cartografia das tendências de pesquisa nos trabalhos nacionais de investigação em psicologia, foi realizada uma análise de correspondências múltiplas (HOMALS), na qual cada trabalho entrou na matriz de input como uma linha e as categorias entraram como colunas. A notação por linha assinalava a presença ou ausência da categoria no conjunto das palavras-chave de cada trabalho.

O quadro 2 mostra a frequência das categorias retidas para análise. Assinala-se que ele não replica as frequências do quadro 1, porque se refere a uma matriz de presença/ausência e não a uma contagem simples de frequências. Foram retidas as categorias que contavam com doze ou mais ocorrências; adicionalmente, retiraram-se, após se estudarem algumas soluções preliminares, as categorias que pesavam exclusivamente em uma dimensão muito pouco explicativa, ou que não pesavam de todo em soluções que extraíam pelo menos sete dimensões.

As 23 categorias finalmente retidas e mostradas no quadro 2 correspondem a 54,8% das categorias iniciais. São elas que constituem a matriz de input para a HOMAL.S cujas características de seguida se apresentam. Uma vez que as HOMALS com soluções a dois factores se mostravam pouco capazes de abranger uma percentagem significativa da inércia, optou-se por apresentar em primeiro lugar uma solução a sete factores, para com ela analisar as várias lógicas que subjazem à co-ocorrênda de palavras-chave nestes trabalhos* No quadro 3 podem ser vistos os valores próprios dos sete factores.

Por sua vez, o quadro 4 mostra as contribuições dos elementos para os factores.

O quadro 4 permite mostrar que para a definição do primeiro factor são especialmente relevantes as categorias relacionadas com a saúde e prevenção, a doença, as perturbações psicopatológicas e os modelos e processos psicoterapêuticos. Ou seja, o primeiro eixo está particularmente relacionado com as questões da doença, da perturbação ou do sofrimento e da sua abordagem e tratamento. No segundo factor são mais salientes as categorias identidade, relações intergrupais e grupos, o que permite dizer que congrega temas fortes da psicologia social. Para o terceiro factor contribuem de forma mais marcada as categorias cognição e memória, sendo assim um factor que relaciona temas da psicologia cognitiva. Para o quarto contribuem as categorias educação, processos de desenvolvimento e justiça, pelo que estará a reflectir estudos associando estas áreas.

No quinto factor pesam mais as questões relacionadas com as relações pais-filhos, os processos de desenvolvimento, a avaliação psicológica e a orientação escolar e profissional, o que parece tomá-lo um factor relacionado com as problemáticas do desenvolvimento e com as técnicas que ajudam a compreendê-lo e encaminhá-lo. O sexto factor relaciona perturbações psicopatológicas e ambiente, possivelmente por via de problemáticas como o stresse ambiental, e toda a ordem de riscos ambientais e suas consequências. Por fim, o sétimo factor relaciona a saúde e prevenção, os processos psicoterapêuticos e a psicologia comunitária, com toda a probabilidade remetendo para questões de ordem comunitária com intervenção de profissionais de saúde.

Uma vez encontradas estas sete dimensões, e a fim de compreendermos melhor as inter-relações entre as várias categorias associadas aos dois primeiros factores — os mais relevantes do ponto de vista da inércia —, repetimos as análises da HOMALS, tendo retirado algumas categorias que não contribuíam nada nem para o primeiro nem para o segundo factor.

Com esta solução a inércia associada aos dois primeiros factores atinge os 18, 23%. O quadro 5mostra as categorias que ela integra, bem como as suas contribuições para os factores.

Por sua vez a figura 6 mostra a projecção no espaço dos dois primeiros factores. Apresenta ainda a projecção, como variáveis ilustrativas, das instituições de pertença do primeiro autor.

Ela permite ver que o primeiro quadrante é ocupado pelas categorias identidade, relações intergrupais e grupos, e que estas categorias — que remetem para temas clássicos da psicologia social e nomeadamente da psicologia social europeia — estão a ocupar o mesmo quadrante que o ISCTE. Ainda neste quadrante encontramos também a Faculdade de Psicologia do Porto. No segundo quadrante agrupam-se as categorias relacionadas com questões de saúde e prevenção, doença e perturbações psicopatológicas e com o tratamento (modelos e processos psicoterapêuticos), que são aquelas que definem o primeiro eixo. Sobre este e na proximidade das categorias encontramos o ISPA. Também muito próxima desta realidade está posicionada a Faculdade de Psicologia de Lisboa, já no terceiro quadrante. No quarto e último quadrante, por sua vez, reúne-se um conjunto mais heterogéneo de categorias. Ocupando um lugar muito próximo do centro, o que aponta para que estejam a pesar em outro(s) eixos, as categorias autoconceito e organizações.

Um segundo agrupamento com as categorias relações interpessoais e género, que se compreende bem — examinando as contribuições dos elementos para os factores e que ajuda a definir a segunda dimensão por oposição àquela a que dizem respeito as relações entre grupos. Por fim, as categorias memória, cognição e avaliação psicológica surgem associadas numa terceira lógica temática, também próxima da Faculdade de Psicologia de Lisboa.

Em suma, poderíamos dizer, após este conjunto de análises, que a investigação em psicologia em Portugal, tal como foi apresentada neste V simpósio, surgiu bastante heterogénea e bastante estruturada em tomo de lógicas que respeitam as delimitações científicas e temáticas tradicionais, sem muita inter-relação de temas desenvolvidos de forma mais transversal.

 

Referências

Brito-Mendes, C, & Ventura, P. (1998). IV Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia, Psicologia, XI/, 141-147.         [ Links ]

Caetano, A., & Ventura, P (1994), VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia, Psicologia, IX, 211-214.         [ Links ]

Castro, P. Novo, R., Garrido, M., Pires, R. & Mouro, C. (Orgs,) (2003). V Simpósio Nacional de investigação em Psicologialivro de resumos, Lisboa: APP.         [ Links ]

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Vala, J., Lima, M. L., & Caetano, A. (1996). Mapping European social psychology: co-word analysis of the communications at the 10th General Meeting of the EAESP, European Journal of Social Psychology, 26,845-850.         [ Links ]

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