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Psicologia

Print version ISSN 0874-2049

Psicologia vol.12 no.2 Lisboa June 1998

https://doi.org/10.17575/rpsicol.v12i2.580 

Percepção de variabilidade de grupo: Modelos de compreensão, resultados empíricos e tendências actuais

Perception of Group Variability: Theoretical Frameworks, Empirical Studies, and Current Trendes

 

Ana Guinote*

*Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, Lisboa.

 


RESUMO

Normalmente, os membros de grupos aos quais não pertencemos, são percebidos de forma menos diferenciada e complexa do que os membros de grupos, aos quais pertencemos. Este fenómeno, a que se chama efeito de homogeneidade do exogrupo, tem sido um dos principais alvos de interesse na investigação em percepção social intergrupal. Neste artigo são discutidas as principais medidas, os resultados e as abordagens explicativas deste efeito.

São ainda consideradas as evoluções mais recentes, como sejam o estudo dos factores contextuais que influenciam a percepção de variabilidade de grupo, nomeadamente a percepção de variabilidade em contextos maioritários e minoritários, e a aplicação dos conhecimentos sobre percepção de variabilidade a outros domínios da psicologia social. Por fim é referida a necessidade de se considerar a percepção de variabilidade de grupo em relação com as necessidades funcionais do perceptor social.

Palavras-chave: variabilidade; percepção intergrupal; efeito de homogeneidade do exogrupo.


ABSTRACT

Normally outgroup members are perceived in a less differentiated and complex fashion than ingroup members. This outgroup homogeneity effect has been one of the most important fields of interest in research on intergroup perception. In this article, measures of perceived group variability, main results and explanations for this effect are discussed. Moreover, recent trends in research are presented: namely, an overview of contextual factors affecting perceived group variability, such as the majority and minority contexts, and the application of perceived group variability to other areas of social psychology. Finally, the need to consider perceived group variability in relation to functional needs of the social perceiver is discussed.


 

Introdução

Todos nós temos por vezes dificuldade em diferenciar as pessoas de grupos, aos quais não pertencemos. Pensemos, por exemplo, nos asiáticos. Quando nos dizem que o mesmo acontece com eles em relação a nós europeus, pensamos que isto só pode residir na indiferenciação dos asiáticos, já que nós sabemos que somos todos diferentes uns dos outros. Só com vários anos de convivência com os asiáticos é que os passamos a perceber de forma mais diferenciada. Esta indiferenciação de membros de grupos, aos quais não pertencemos, pode criar situações desagradáveis e, por vezes, anedóticas. Assim, por exemplo, aproveitando este efeito de homogeneização de grupos, aos quais não pertencemos, asiáticos da cidade de Estugarda que não possuíam passe social deslocavam-se nos transportes públicos usando os passes dos seus amigos. Até que as autoridades descobriram... Apesar de alertados para este facto, os controladores dos transportes públicos queixavam se que faziam todos os esforços, mas não podiam reconhecer com precisão indivíduos asiáticos e nada podiam fazer contra a situação. Após vários debates sobre o assunto recorreu-se a um princípio da legislação alemã, segundo o qual as autoridades só podem exigir a identificação dos cidadãos em situações muito especiais. Esta passou a ser considerada então uma situação especial. Os asiáticos passaram a ter de se fazer acompanhar pelo seu bilhete de identidade, já que a identificação de números e letras é uma tarefa muito mais fácil do que a identificação de faces de um grupo tão desconhecido como aquele.

O efeito de homogeneidade do exogrupo: definição, medidas e abordagens explicativas

O efeito de homogeneidade do exogrupo refere-se a uma assimetria na acentuação das semelhanças do endogrupo e do exogrupo, segundo a qual o exogrupo é percebido de forma mais homogénea que o endogrupo. A percepção de semelhanças dos membros de um grupo pode ser abordada segundo diferentes perspectivas e são também diversas as medidas de percepção de variabilidade. Park e Judd (1990) definem dois tipos diferentes de variabilidade de grupo: uma relativa à dispersão percebida dos membros do grupo ao longo de várias dimensões, usadas na caracterização dos grupos, e outra relativa ao grau em que um grupo é percebido de acordo com os estereótipos existentes. Estes autores consideram a existência de três tipos diferentes de medidas: atribuição de estereótipos, percepção de dispersão e percepção de semelhanças entre membros de um grupo. Esta última medida refere-se, na opinião dos autores, tanto ao aspecto de dispersão, como ao aspecto de atribuição de estereótipos. Quattrone (1986), por sua vez, faz uma distinção entre variabilidade dimensional, variabilidade taxonómica e variabilidade geral. A variabilidade dimensional refere-se às dimensões psicológicas que as pessoas utilizam na percepção do mundo social, a variabilidade taxonómica refere-se à covariação dos atributos dimensionais e a variabilidade geral refere-se à impressão geral do grau em que os membros de um grupo são semelhantes entre si.

Várias medidas de dispersão têm sido desenvolvidas com base nas dimensões psicológicas utilizadas na percepção do mundo social. A maior parte das medidas utilizadas em estudos de percepção de variabilidade enquadra-se dentro deste tipo: Brown e Smith (1989), Jones, Wood e Quattrone (1981), Kashima e Kashima (1993), Kelly (1989), Linville e Jones (1980), Park e Rothbart (1982), Quattrone e Jones (1980), Simon e Brown (1987), Stephan (1977), Simon e Pettigrew (1990), Thompson et al. (1997). Um exemplo deste tipo de medidas consiste em pedir aos sujeitos que imaginem 100 membros de um grupo escolhidos ao acaso e os distribuam ao longo dos vários graus de cada dimensão apresentada. Desta medida pode extrair-se uma série de indicadores, como a probabilidade de diferenciação (Linville, Fischer e Salovey, 1989),1 a amplitude, o desvio-padrão e a média. Uma outra medida dimensional consiste em pedir aos sujeitos que assinalem com duas cruzes, em cada escala (ou seja, em cada dimensão), os valores dos indivíduos mais extremos do grupo, isto é, o valor dos que mais possuem o atributo em questão e o valor dos que menos possuem esse atributo. Segundo esta medida, quanto maior a amplitude entre os dois valores, maior a percepção de variabilidade.

A percepção de covariação entre as dimensões associadas aos grupos tem sido, também, objecto de estudo. Consideremos, por exemplo, que duas pessoas concordam em caracterizar um grupo utilizando como atributos principais o trabalho e a inteligência. Apesar da sua percepção dimensional poder ser a mesma, a correlação entre estes atributos pode variar para as duas pessoas. Uma pessoa pode, por exemplo, perceber os membros do grupo como sendo inteligentes e trabalhadores ou não inteligentes e não trabalhadores. Neste caso teríamos uma covariação máxima que corresponde à homogeneidade máxima do grupo. A outra pessoa pode perceber estes atributos como sendo caracterizados por uma covariação baixa. Neste caso, quatro situações são possíveis: os membros do grupo podem ser percebidos como inteligentes e trabalhadores; inteligentes e não trabalhadores; não inteligentes e trabalhadores; não inteligentes e não trabalhadores. Uma medida taxonómica consiste em apresentar aos sujeitos um número elevado de atributos e pedir-lhes que agrupem esses atributos e que criem uma tipologia que descreva um determinado grupo. Quanto maior o número de grupos criados, maior a variabilidade taxonómica percebida. Embora as medidas de covariação sejam utilizadas com menos frequência do que as medidas dimensionais, encontramo-las em vários estudos: Linville e Jones (1980), Linville, (1982), Brewer e Lui (1984). Linville (1982), por exemplo, pediu as sujeitos universitários para efectuarem uma tarefa segundo a qual tinham que criar subgrupos de pessoas dentro de uma categoria. Os sujeitos deviam pensar em pessoas da mesma idade ou em pessoas mais velhas. De acordo com o efeito de homogeneidade do exogrupo, os sujeitos criaram mais subgrupos quando pensaram em pessoas da sua idade do que quando pensaram em pessoas mais velhas (resultados semelhantes, com grupos etários, foram obtidos por Brewer e Lui, 1984, e Linville, Fischer e Salovey, 1989).

A variabilidade geral tem sido medida de forma directa, pedindo aos participantes que estimem, numa escala, qual o grau de semelhança entre os membros de um grupo. Esta medida foi utilizada em estudos como os de Doosje, Ellemers e Spears (1995), Goethals, Allinson e Frost (1979), Park e Rothbart (1982), Quattrone e Jones (1980), Simon e Pettigrew (1990). É, no entanto, uma medida relativamente obstrusiva, pois as pessoas apercebem-se do que está a ser medido. Além disso, é uma medida facilmente sujeita ao efeito de heurísticas. Assim, por exemplo, as pessoas podem ser guiadas pela heurística de que em todos os grupos existe todo o tipo de pessoas e, consequentemente, atribuir a mesma variabilidade ao endogrupo e ao exogrupo. Como forma de evitar este problema, foram desenvolvidas medidas indirectas de homogeneidade geral (Quattrone e Jones, 1980; Nisbett et al., 1983). As medidas de generalização do comportamento de um indivíduo ao grupo como um todo são, por exemplo, consideradas medidas de variabilidade geral. No estudo de Quattrone e Jones (1980) os sujeitos viram um filme no qual um membro do seu grupo ou do exogrupo tomava uma determinada decisão. Posteriormente efectuaram uma tarefa na qual tinham que estimar a percentagem de membros do seu grupo e do exogrupo que tomariam a mesma decisão. Os resultados mostraram que a generalização foi maior no caso do exogrupo que no caso do endogrupo.

Outra medida de variabilidade consiste em inquirir qual é o grau de intensidade com que os sujeitos descrevem os membros dos grupos recorrendo a estereótipos (Park e judd, 1990). Park e Rothbart (1982), por exemplo, pediram aos sujeitos que indicassem qual a proporção de membros de um grupo que possuíam características estereotípicas e anti estereotípicas. Os autores verificaram que os sujeitos percepcionam o grupo ao qual não pertencem como sendo constituído por indivíduos com uma maior percentagem de atributos esterotípicos do que o grupo ao qual pertencem.

A maior parte das medidas de variabilidade baseia-se em atributos propostos pelo experimentador. No entanto, mais recentemente, também foram desenvolvidos procedimentos baseados em atributos gerados pelos sujeitos (Guinote, 1996; Haslam et al., 1995). Estes procedimentos têm a vantagem de não usar atributos que, por motivos relacionados com diferenças na adequação normativa dos atributos (normative fit) do endogrupo e do exogrupo, possam enviesar os resultados da percepção de variabilidade (Haslam et al., 1995). Foram obtidos bons resultados com metodologias nas quais os sujeitos caracterizam os grupos num formato aberto (Guinote, 1996), estas medidas têm a vantagem de evitar as dificuldades ligadas à interpretação de tarefas estruturadas. Nomeadamente, as medidas de percepção dimensional são difíceis de responder e requerem, muitas vezes, um raciocínio aritmético complexo (ver Haslam et al., 1995; Park e Judd, 1990). Esta questão torna-se particularmente relevante quando lidamos com grupos de baixo nível de escolaridade, como acontece com frequência com grupos de baixo estatuto.

Perspectivas relacionadas com modelos de representação categorial

As principais abordagens do efeito de homogeneidade do exogrupo fazem apelo a diferentes modelos de representação categorial. Segundo a abordagem da familiaridade (Linville, Salovey e Fischer, 1986; Linville et al., 1989), a percepção de variabilidade de um grupo encontra-se directamente relacionada com o número de exemplares conhecidos desse grupo. Como normalmente temos maior familiaridade com membros de grupos, aos quais pertencemos, do que com membros de grupos aos quais não pertencemos, percebemos também maior variabilidade nos nossos grupos do que nos outros. Esta proposta baseia-se em modelos exemplares de representação categorial (Hintzman, 1986; Medin e Schaffer, 1978), segundo os quais as representações de uma categoria são constituídas por exemplares desta categoria. Percepções de distribuição são formadas activando os exemplares relacionados com a categoria e avaliando as probabilidades de diferentes valores com base na força relativa de activação desses valores (Linville et al., 1989, p. 182). Linville e colegas encontraram suporte para o seu modelo numa série de estudos (Linville et al., 1986; 1989). Em estudos longitudinais, estes autores puderam verificar que à medida que aumentava a familiaridade com o endogrupo, aumentava também a percepção da sua variabilidade. Este modelo foi ainda apoiado numa simulação por computador (Linville et al., 1989). Desta autora é também conhecida a hipótese da complexidade-extremidade, segundo a qual quanto menos complexa é a representação que temos de um grupo, mais extremos são os nossos juízos — tanto positivos, como negativos — acerca desse grupo (Linville, 1982). Esta hipótese contrapõe-se a outras perspectivas, como a do efeito de ovelha negra (Marques, Yzerbyt e Leyens, 1988), segundo o qual se obtêm resultados mais extremos face a membros do grupo do próprio, o que é interpretado em termos de princípios motivacionais de favoritismo do endogrupo.

Existem, no entanto, estudos que contradizem a hipótese da familiaridade. Por exemplo, num estudo longitudinal, Brown e Wootton-Millward (1993) constataram que, apesar de ao longo do tempo haver um aumento na familiaridade com o endogrupo, a variabilidade percebida do endogrupo permaneceu inalterada.

No teste da hipótese de familiaridade são interessantes os casos em que os sujeitos têm igual familiaridade com o endogrupo e com o exogrupo. Nestas condições encontra-se, por exemplo, o género, uma vez que somos tão familiares com pessoas do nosso sexo como com pessoas do sexo oposto. Vários foram os estudos a utilizar grupos de género, mas os resultados obtidos divergem. Linville e colegas (1989) não encontraram, de acordo com as suas próprias hipóteses, diferenças na variabilidade percebida do endogrupo e do exogrupo. No entanto, a maior parte dos autores encontrou um efeito de variabilidade do exogrupo em grupos de género (Park e Rothbart, 1982; Park e Judd, 1990; Fiedler, Semin e Finkenauer, 1993). Outros estudos encontraram ainda resultados divergentes para sujeitos homens e mulheres. Enquanto nos homens se verifica um efeito de homogeneidade do exogrupo, nas mulheres tal efeito não se verifica, encontrando-se mesmo um efeito oposto no sentido de o endogrupo ser percebido de forma mais homogénea do que o exogrupo (Brown e Smith, 1989; Cabecinhas, 1994; Lorenzi-Cioldi, 1993; Lorenzi-Cioldi, Eagly e Stewart, 1995). Estes estudos parecem indicar que a familiaridade não é o único factor determinante da percepção de variabilidade e que as relações de poder entre os grupos são uma variável moderadora importante dos fenómenos de percepção social (para uma posição similar ao nível da percepção interpessoal ver Fiske, 1993; Fiske e Dépret, 1996). Contrários à hipótese da familiaridade são também os resultados que mostram que a percepção de variabilidade do exogrupo varia consoante o contexto intergrupal é competitivo ou cooperativo (Judd e Park, 1988). Neste estudo, enquanto o contexto competitivo se encontrava associado a um efeito de homogeneidade do exogrupo, no contexto cooperativo a percepção de variabilidade do endogrupo e do exogrupo era simétrica.

Uma segunda abordagem baseada em modelos exemplares de representação categorial é defendida por Kashima e Kashima (1993). Este modelo dual apoia-se no pressuposto de que a semelhança entre dois exemplares é determinada duplamente pelo número de características que os dois exemplares partilham e pelo número de características distintas nos dois exemplares. A percepção de variabilidade é, assim, determinada pelas semelhanças e pelas diferenças existentes entre os exemplares. Quando é necessário um juízo acerca da variabilidade do grupo, os seus exemplares são extraídos da memória e são feitas as comparações de semelhanças e de diferenças. Embora seja também um modelo exemplar, este modelo difere do modelo de Linville e colegas. Para Linville é o número absoluto de exemplares que é determinante da percepção de variabilidade. Para Kashima e Kashima só algumas características dos exemplares é que são comparadas; como consequência, um grupo pode ser percebido como muito variável se, por exemplo, for constituído por um número reduzido de indivíduos que sejam altamente diferentes entre si.

Baseados num modelo de representação categorial por abstracção directa, Judd e Park (1988; Park e Judd, 1990) propõe uma abordagem explicativa na qual defendem que a informação de variabilidade é abstraída on-line, à medida que contactamos os membros dos grupos. Estas posições baseiam-se em modelos de abstracção, como os modelos de protótipos (Posnes e Keele, 1968; Reed, 1972, Rosch, 1978) e os modelos de frequência de atributos (Hayes-Roth e Hayes-Roth, 1977; Reitman e Bower, 1973). Segundo estes últimos modelos a representação categorial contém informação acerca da frequência das características individuais e das combinações de atributos (covariação). Os novos exemplares são classificados na medida em que os seus atributos são comparados com a frequência destes atributos nas várias categorias. Judd e Park defendem ainda que enquanto as representações relativas ao exogrupo são de tipo abstracto, as representações relativas ao endogrupo são representadas tanto por informação abstracta como por exemplares. Estes últimos podem ser evocados no momento da emissão de um julgamento acerca do endogrupo e contribuir para o aumento da sua variabilidade percebida.

Este modelo é apoiado por alguns estudos, como o de Park e Hastie (1987). Neste estudo foi manipulada a frequência com que os sujeitos observavam os comportamentos de pessoas do seu grupo ou do exogrupo. Os resultados mostram que embora a memória para os comportamentos acerca dos membros do grupo fosse melhor na condição em que os sujeitos viram os comportamentos duas vezes, este efeito não se reflectiu nos julgamentos acerca da variabilidade dos grupos, parecendo demonstrar que as representações de variabilidade tinham sido abstraídas on-line, quando os comportamentos foram vistos pela primeira vez.

Ostrom et al. (1993), por sua vez, sugerem que o efeito de homogeneidade do exogrupo se encontra relacionado com o processamento diferencial de informação relativa ao endogrupo e ao exogrupo. Enquanto que a informação relativa ao endogrupo se encontra organizada sob forma de categorias de pessoas, a informação relativa ao exogrupo está organizada por categorias de atributos. Uma excepção a este princípio foi encontrada em grupos de baixo estatuto (Sedikides> 1997). Neste caso, é a informação relativa ao exogrupo que se encontra organizada por categorias de pessoas, enquanto a informação acerca do endogrupo se encontra organizada por categorias de atributos.

Perspectivas motivacionais da percepção de variabilidade

As primeiras hipóteses de carácter motivacional apoiaram-se na teoria da identidade social (Tajfel, 1978,1981a, 1981b; Tajfel e Turner, 1979) defendendo que o efeito de homogeneidade dç> exogrupo se encontra relacionado com a desindividuação dos membros do exogrupo, sendo um elemento facilitador da sua discriminação.2 No entanto, é importante notar que tanto a teoria da identidade social de Tajfel, como a teoria da auto-categorização de Turner (Turner et al., 1987) são, nas suas versões originais, incompatíveis com assimetrias na percepção de variabilidade do endogrupo e do exogrupo. Segundo a TIS, a saliência da categorização leva a uma acentuação simétrica das semelhanças intracategoriais nos dois grupos, que é idêntica à que se verifica na percepção do mundo físico (Tajfel e Wilkes, 1963). Assim, quando o contexto intergrupal é saliente encontramos uma acentuação de semelhanças tanto do endogrupo como do exogrupo, associada a uma acentuação das diferenças intercategoriais (Tajfel, 1969; 1981b). É só em 1982, numa altura em que já tinham sido publicados alguns artigos sobre percepção de variabilidade, oriundos dos meandros da cognição social, (Jones et al., 1981; Quattrone e Jones, 1980; Linville e Jones, 1980; Linville, 1982) que Tajfel se pronuncia face à acentuação assimétrica de semelhanças do endogrupo e do exogrupo:

The social accentuation of intragroup similarities is not, however, a symmetrical phenomenon applying evenly to ingroups and outgroups. One of the principal features, discussed earlier, of intergroup behavior and attitudes was the tendency shown by members of an ingroup to consider members of outgroups in a relatively uniform manner, as "undifferentiated items in a unified social category. The endpoint of this process is the "depersonalization" and "dehumanization" of the outgroup which often occur in conditions of accurate intergroup tension (Tajfel, 1982, p. 21)

Esta foi a única referência que encontrámos e não temos conhecimento de qualquer análise que permita explicar a origem desta assimetria no quadro dos efeitos da categorização tal como são defendidos pela teoria da identidade social. Em contrapartida, concepções posteriores introduziram conceitos que permitem uma explicação para as assimetrias na percepção de variabilidade. A hipótese da co-variação na percepção interindividual e intergrupal proposta por Deschamps (1982) é uma abordagem na qual se podem enquadrar fenómenos assimétricos na percepção de variabilidade.

A teoria da autocategorização (Turner et al., 1987), por seu turno, baseia-se no princípio cognitivo da representação do self como determinante do nível interindividual ou intergrupal da percepção social. Segundo esta teoria, os contextos que salientam a categorização intergrupal levam a uma percepção dos membros do grupo como permutáveis entre si e à atribuição ao grupo de atributos socialmente partilhados. Relativamente ao endogrupo, esta atribuição de características estereotípicas passa pela autocategorização e auto-estereotipia de si próprio. Também segundo esta teoria, os contextos intergrupais salientes estão ligados a uma acentuação simétrica das semelhanças intracategoriais.

Esta posição é explicitamente defendida num artigo recente (Haslam et al., 1995). Estes autores reinterpretam, inclusivamente, resultados relativos ao efeito de homogeneidade do exogrupo, afirmando que eles se devem a artefactos experimentais, nos quais são criadas condições implícitas de comparação intergrupal para o exogrupo, mas condições de comparação interpessoal para o endogrupo. Isto ocorre, por exemplo, nos estudos experimentais intersujeitos. De acordo com estas hipóteses, os autores demonstraram que quando o contexto comparativo tornava ambos os grupos salientes, o efeito de homogeneidade do exogrupo desaparecia. Em contrapartida, quando só um grupo era julgado, foi possível encontrar um efeito de homogeneidade do exogrupo.

Uma abordagem motivacional mais recente é a da teoria da distintividade ideal (optimal distinctiveness theory, Brewer, 1991; Brewer e Gardner, 1996). Esta teoria baseia-se no pressuposto de que cada pessoa tem duas necessidades opostas que lhe devolvem o seu sentido pessoal: a necessidade de assimilação, ligada à identidade social, e a necessidade de diferenciação, ligada à identidade individual. O grau de inclusividade do endogrupo seria, para estes autores, um regulador importante do equilíbrio destas duas necessidades. Quanto maior o grupo, maior a sua inclusão e maior a necessidade dos seus membros acentuarem a sua identidade pessoal. Nesta perspectiva, as variações na percepção de variabilidade dos grupos estariam mais ligadas a variações ligadas à percepção do eu e do endogrupo e não a variações ligadas ao exogrupo. Como consequência, diz-nos Brewer, "such an interpretation directs attention away from the phenomenon of perceived outgroup homogeneity per se toward questions regarding the determinants of perceived variability of endogrupos" (Brewer, 1993, p. 152).

Apesar das diferenças entre as abordagens ligadas à identidade social, elas têm factores em comum. Por um lado, todas elas pressupõem que os indivíduos derivam grande parte do seu autoconceito dos grupos aos quais pertencem. Por outro lado, o contexto é, nestas teorias, um factor determinante do peso dado a variáveis individuais ou a variáveis de nível grupai. Além disso, as perspectivas motivacionais indicam que a percepção de variabilidade pode ser estudada sem ser necessário recorrer a modelos de representação categorial.

A hipótese de que o efeito de homogeneidade do exogrupo estaria ligado à discriminação desse mesmo grupo e ao favoritismo em relação ao seu grupo não encontrou, no entanto, muito suporte empírico. Simon e colegas (Simon et al, 1990) mostraram, utilizando uma variação do paradigma dos grupos mínimos, que manipulando a percepção de homogeneidade do exogrupo se obtinham efeitos no favoritismo em relação ao endogrupo: quanto maior a homogeneidade percebida do exogrupo, maior era o favoritismo em relação ao endogrupo. Em contrapartida, a percepção de homogeneidade do seu grupo não influenciava o favoritismo face ao mesmo. Noutros estudos não foi encontrada qualquer relação entre percepção de variabiliadade e discriminação do exogrupo (Brown e Smith, 1989; Jones et al, 1981; Judd e Park, 1988; Fiedler, Semin e Finkenauer, 1993; Linville e Jones, 1980; Park e Rothbart, 1982; Quattrone e Jones, 1980).

Percepção de variabilidade de grupo em contextos maioritários e minoritários: a importância de factores contextuais

A investigação recente tem incidido, por um lado, na aplicação da percepção de variabilidade a diferentes áreas de percepção social e, por outro lado, aos efeitos de contexto na percepção de variabilidade. A aplicação da percepção de variabilidade a domínios da percepção social tem-se alargado aos seus efeitos na mudança de estereótipos (Pettigrew, 1981; Linville, Salovey e Fischer, 1986; Park, Judd e Ryan, 1991), ao combate ao preconceito (Wilder, 1978; Park e Rothbart, 1982; Quattrone, 1986), ao favoritismo para com o endogrupo e discriminação do exogrupo (Simon e Brown, 1987; Simon, 1990), ao grau em que a informação estereotípica ou contra-estereotípica é usada em juízos acerca de indivíduos concretos (Lambert e Weyer, 1990; Johnston e Hewstone, 1990), à generalização do comportamento de um indivíduo ao grupo a que pertence (Quattrone e Jones, 1980; Nisbett et al., 1983; Park e Hastie, 1987; Johnston e Hewstone, 1990) e ao grau em que indivíduos são percebidos com sendo membros de um grupo (Kashima e Kashima, 1993).

Outra área de estudo que se tem vindo a desenvolver refere-se aos factores contextuais que influenciam a percepção de variabilidade. Tem-se verificado que o efeito de homogeneidade do exogrupo não é um fenómeno estático e que certos factores contextuais são decisivos no grau em que membros do endogrupo e do exogrupo são percebidos como semelhantes entre si.

Entre eles têm sido estudados o grau de identificação com o endogrupo (Doosje, Ellemers e Spears, 1995; Simon e Brown, 1987; Simon e Pettigrew, 1990), a relevância dos atributos para a identidade social dos sujeitos (Brown e WoottonMillward, 1993; Kelly, 1989) e o estatuto dos grupos (Doosje, Ellemers e Spears, 1995; Simon e Hamilton, 1994; Sedikides, 1997).

Tem-se verificado, por exemplo, que quando os atributos são importantes para a identidade social dos sujeitos, ou seja, quando estão relacionados com a definição dos grupos, os sujeitos reagem acentuando as semelhanças do seu grupo (Brown e Wootton-Millward, 1993; Kelly, 1989). O estatuto é outro factor importante. Enquanto os grupos de elevado estatuto organizam a informação acerca do exogrupo por categorias de atributos e a informação do endogrupo por pessoas, os grupos de baixo estatuto revelam uma tendência oposta (Sedikides, 1997).

Os contextos maioritários ou minoritários dos grupos têm sido fonte de interesse na investigação de variabilidade. Verificou-se que membros de grupos minoritários têm tendência a perceber o seu grupo de forma mais homogénea do que o exogrupo. Esta inversão do efeito de homogeneidade do exogrupo (o efeito de homogeneidade do endogrupo) foi testada através do paradigma dos grupos mínimos (Simon e Brow, 1987; Simon e Pettigrew, 1990) e com grupos naturais (Brown e Smith, 1989; Guinote, 1998, Simon, Glaessner-Bayerl e Stratenwerth, 1991). Mullen e Hu (1989) verificaram numa meta-análise que a percepção de variabilidade do endogrupo diminui com a redução da sua própria dimensão, o que gera um efeito de homogeneidade do endogrupo por parte de membros minoritários.

Vários esforços têm sido feitos no sentido de diferenciar este efeito de um efeito genérico de homogeneidade do grupo menor (ver Bartsch e Judd, 1993). Por exemplo Simon e Brown (1987), Simon (1992) e Karasawa e Brewer (1990, cit. in Brewer, 1993) mostraram que observadores externos que não pertencem a qualquer dos grupos não atribuem mais homogeneidade ao grupo mais pequeno do que ao grupo maior. Além disso, verificou-se que a percepção de homogeneidade não parece estar, de modo geral, relacionada com a dimensão dos grupos. Simon (1992) e Simon e Hamilton (1994) constataram ainda que a dimensão do exogrupo não afecta a percepção de variabilidade do mesmo.

Simon e Brown (1987) avançaram uma explicação de tipo motivacional para o efeito de homogeneidade do endogrupo. Estes autores defendem que, por pertencerem a uma minoria, os indivíduos têm a sua auto-estima ameaçada, o que os levaria a acentuarem a sua identidade social positiva e a intensificarem a solidariedade no seio do grupo. Perceber maior semelhança no seio do seu endogrupo do que no do exogrupo seria uma das formas de aumentar a solidariedade. Os efeitos da acentuação da variabilidade do endogrupo na auto-estima dos seus membros nunca foram estudados com profundidade. Em contrapartida, os resultados parecem indicar que, na ausência de referências de valor, a pertença a uma minoria gera sentimentos desagradáveis nos indivíduos (Sachdev e Bourhis, 1991), parecendo que o estatuto minoritário está associado a uma ameaça. Esta ameaça poderá, no entanto, não estar directamente relacionada com preocupações ao nível da auto-estima, mas antes com preocupações ligadas ao controlo sobre resultados importantes para o indivíduo ou sobre o seu destino (Guinote, 1998).

A saliência dos grupos é outro factor que pode influenciar a percepção de variabilidade. Mullen (1991) é de opinião de que os grupos minoritários emergem como figura ou foco de atenção, enquanto as maiorias são relegadas para o pano de fundo perceptual. Nestas circunstâncias, a minoria é percebida, por ambos os grupos, em termos prototípicos, enquanto a maioria é percebida em termos de exemplares.

Simon propôs um modelo, o esc-model (modelo das categorizações egocêntricas; 1993), no qual sustenta que nas sociedades ocidentais há uma tendência para fazer categorizações egocêntricas, baseadas em comparações entre "eu" e "não eu". É apenas em certos contextos sociais, por exemplo, quando os membros de um grupo têm um destino comum, que passamos a fazer a distinção "nós" e "eles". Nestas condições, há uma acentuação das semelhanças intracategoriais para ambos os grupos. Se acrescido a este facto existirem necessidades de protecção da auto-estima dos sujeitos, ligadas à pertença grupai, a acentuação de semelhanças do endogrupo aumenta, gerando-se um efeito de homogeneidade do endogrupo. Esta abordagem baseia-se na teoria da autocategorização e pressupõe que o efeito de homogeneidade do endogrupo está relacionado com um aumento da importância da identidade social por oposição à identidade pessoal. Alguns estudos parecem apoiar a hipótese da autocategorização por parte de membros minoritários (Simon e Pettigrew, 1990; Simon, 1992; Simon e Hamilton, 1994). Existem, no entanto, algumas incongruências nos resultados obtidos. Assim, por exemplo, foi obtida uma acentuação das semelhanças do endogrupo apenas para alguns, mas não para todos os atributos associados à categorização dos seus membros (Simon e Brown, 1987; Simon e Pettigrew, 1990; Thompson^ al., 1997). Um estudo revelou ainda um efeito de homogeneidade do endogrupo sem que tenha sido encontrada uma acentuação de semelhanças entre o self e o endogrupo (Simon, Glaessner e Stratenwerth, 1991).

Uma perspectiva funcionalista da percepção de variabilidade

Segundo a abordagem proposta por Simon, o efeito relativo de homogeneidade do endogrupo encontrar-se-ia relacionado com uma acentuação de semelhanças dos membros do endogrupo, enquanto que as percepções relativas ao exogrupo permaneceriam constantes. Em termos gerais, esta posição vai ao encontro das perspectivas acima referidas da teoria da distintividade ideal de Brewer e pela teoria da autocategorização de Turner e colegas. No entanto, uma hipótese diferente emerge se considerarmos as necessidades adaptativas dos membros de grupos minoritários. Os membros de minorias têm de adaptar o seu comportamento ao contexto maioritário e têm, portanto, que seguir as regras maioritárias. Como consequência desta necessidade de adaptação, os membros minoritários poderão estar particularmente atentos à informação relativa ao exogrupo, o que por sua vez conduzirá a um efeito de maior diferenciação do exogrupo. Como refere Heider "adequate perception helps the perceiver to control the part of the environment that is perceived. In Lewin's terms, an unstructured region, that is, a region whose properties are not known to the person, can be considered to be a barrier which makes action impossible... knowledge can help to bring about a relationship of mastery and dependence" (Heider, 1958, pp. 30-31). Nestas circunstâncias, a assimetria na percepção de variabilidade por parte das minorias seria devida a um aumento da diferenciação relativa ao exogrupo e não primariamente a uma acentuação das semelhanças no interior do endogrupo.

Esta hipótese encontrou algum apoio num estudo com imigrantes portugueses residentes na Alemanha (Guinote, 1998) e num estudo com as minorias mexicana e negra nos Estados Unidos da América (Stephan, 1977). Utilizando um procedimento baseado em atributos gerados pelos participantes, foi encontrada uma assimetria na percepção de variabilidade por parte do grupo em contexto minoritário (portugueses residentes na Alemanha) que estava relacionada com um aumento da diferenciação dos membros do exogrupo e não com a acentuação das semelhanças no interior do endogrupo (Guinote, 1998). A hipótese de diferenciação do exogrupo já tinha sido proposta por Stephan (1977). Este autor defendeu a opinião de que, como os grupos aos quais não pertencemos representam muitas vezes uma ameaça, temos tendência a desenvolver uma percepção diferenciada dos seus membros, no sentido de aumentar a previsibilidade e compreensão do seu comportamento. Stephan confirmou a sua hipótese de diferenciação do exogrupo. Guriosamente, os dois grupos estudados eram minorias étnicas (mexicanos e negros), facto que passou despercebido ao autor. Este defendia a hipótese da diferenciação do exogrupo como uma hipótese geral. Infelizmente, como esta hipótese não veio a receber suporte, pouco interesse tem sido devotado às condições que podem estar na base da diferenciação de membros do exogrupo.

Em contrapartida, estudos na área da sociologia das migrações (Berry, 1976; Hannigan, 1990; Hill e Schnell, 1990; Winkelman, 1994) e na formação de impressões (Fiske, 1993; Riley e Fiske, 1991) apoiam indirectamente a hipótese de diferenciação do exogrupo. Berry pôde verificar que os imigrantes modificam o seu comportamento na direcção das influências aculturativas da sociedade de acolhimento e que a diferenciação perceptual é o factor que mais facilita esta aprendizagem e diminui o stress da aculturação. Outros estudos mostram que os imigrantes desenvolvem uma percepção diferenciada da cultura de acolhimento (Hannigan, 1990; Winkelman, 1994). Os estudos na área da formação de impressões, por outro lado, mostram que normalmente seguimos uma orientação categorial no processamento de informação relativa a membros do exogrupo (Fiske e Neuberg, 1990). No entanto, em condições de dependência face a membros do exogrupo, passamos a fazer um processamento individualizado da informação acerca desse grupo. Seguindo este princípio, é de supor que, como as minorias estão dependentes de membros do exogrupo, elas estarão orientadas para um processamento individualizado da informação acerca do exogrupo o que contribuirá para um efeito de diferenciação desse mesmo grupo.

Este efeito parece ser, no entanto, diferente de um mero efeito de familiaridade, na medida em que, por um lado, as minorias como os imigrantes não têm, normalmente, acumulada maior familiaridade com o exogrupo do que com o endogrupo. Por outro lado, as representações acerca dos dois grupos e o processamento da informação por parte das minorias parece diferenciar-se do das maiorias: os membros minoritários revelam, nomeadamente, uma elevada elaboração e integração da informação relativa ao seu grupo e ao outro grupo, tentando criar um todo com significado (ver Guinote, 1996, 1998).3 Esta elaboração e integração tinham sido detectadas nos estudos de Bartlett com grupos étnicos. Um dos métodos que o autor desenvolveu foi a reprodução de histórias em série. Utilizando este método Bartlett concluiu que "there will be persistent rationalisation [a tendency to connect the parts, to give a setting and to explain what is presented, representing an 'effort after meaning'], both of a whole story and of its details, until a form is reached which can be readily dealt with by all the subjects belonging to the special social group concerned. This may result in considerable elaboration" (Bartlett, 1932, p. 138). A integração, a que Bartlett chamava então racionalização, pode ser assim uma forma de compensar falhas ao nível da diferenciação da informação relativa ao exogrupo.

A perspectiva da diferenciação do exogrupo em contextos minoritários está de acordo com posições defendidas pelos psicólogos pragmáticos, como James, Angell, Bawden e Dewey, há um século atrás (ver Laehey, 1987). Segundo estes autores a consciência tem a função de guiar a adaptação individual ao fluxo das mudanças. Ela emerge quando há uma necessidade adaptativa premente. Como afirma John Dewey, "So long as custom reigns, as tradition prevails, so long as values are determined by instinct and habit, there is no conscious question.(cit. in Leahey, 1987, p. 264).

Neste artigo apresentámos os principais resultados, as medidas, abordagens explicativas e as evoluções recentes nos estudos de percepção de variabilidade dos grupos. Podemos verificar uma evolução no sentido de se abandonarem modelos estáticos de processamento da informação, condicionados pelo hardware humano, para se passar a considerar uma flexibilidade no funcionamento cognitivo que o coloca ao serviço da adaptação social e das necessidades do perceptor social. Por outro lado, são cada vez mais as perspectivas de aplicação da percepção de variabilidade a outras áreas da psicologia social. Nomeadamente, a introdução deste conceito nos estudos de combate ao preconceito e à discriminação intergrupais tem um potencial prometedor.

 

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Notas

1Para um atributo com m níveis discretos, a probabilidade de diferenciação é dada por Pd=1-IT=1, m pi2 em que pi é a proporção de membros do grupo descritos no nível i do atributo em questão.

2Note-se que o conceito de desindividuação se diferencia do conceito de despersonalização utilizado na teoria da auto-categorização (Turner et al., 1987). Assim, a despersonalização não é "a loss of individual identity, nor a loss or submergenee of the self in the group (as concept of de-individuation) ... it is the change from the personal to the social level of identity..(Turner et al., 1987, p. 51).

3O conceito de complexidade do conhecimento engloba duas vertentes: a diferenciação do conhecimento — ou seja, o número de partes num dado sistema, e o conceito de integração que se refere à organização dessas partes (Witkin et al., 1962).

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