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Revista de Enfermagem Referência

versión impresa ISSN 0874-0283versión On-line ISSN 2182-2883

Rev. Enf. Ref. vol.serV no.1 Coimbra ene. 2020

https://doi.org/10.12707/RIV19075 

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO (ORIGINAL)

RESEARCH PAPER (ORIGINAL)

 

Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes: tradução e validação para o contexto português

Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes: translation and validation for the Portuguese population

Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes: traducción y validación al contexto portugués

 

Maria Isabel Domingues Fernandes*1
https://orcid.org/0000-0002-4856-4441

Isabel Maria Pinheiro Borges Moreira1
https://orcid.org/0000-0002-6371-003X

Armando Manuel Silva1
https://orcid.org/0000-0001-5562-584X

Maria da Conceição Alegre de Sá1
https://orcid.org/0000-0003-4095-8822

Cristina Maria Figueira Veríssimo1
https://orcid.org/0000-0002-8836-2828

Maria Neto da Cruz Leitão1
https://orcid.org/0000-0003-0876-776X

 

1 Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem, Coimbra, Portugal

 

RESUMO

Enquadramento: O sexismo, definido como crenças, atitudes, comportamentos e práticas que refletem avaliações negativas sustentadas no género, reforça a desigualdade entre mulheres e homens, devendo haver intervenção precoce para a diminuir.

Objetivo: Validar a versão espanhola da Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes (DSA) para o contexto português.

Metodologia: A validação compreendeu a tradução, adaptação cultural do instrumento e validade do constructo, na qual participaram 259 adolescentes (13-19 anos), provenientes de escolas do ensino básico e secundário.

Resultados: Pela análise fatorial exploratória, verificou-se que o sexismo hostil (SH; 16 itens), e o sexismo benévolo (SB; 10 itens) são responsáveis por 38,34% e 10,25% da variância total, respetivamente.

Conclusão: A escala DSA possui boas propriedades psicométricas, mantendo os itens da versão original. O SH apresenta valores superiores em indivíduos do sexo masculino, enquanto que o SB é mais evidente em indivíduos do sexo feminino. O SH aumenta com a idade dos adolescentes. A DSA revelou-se um instrumento válido para medir o sexismo em adolescentes portugueses.

Palavras-chave: sexismo; adolescente; estudos de validação; violência de género

 

ABSTRACT

Background: Sexism is defined as individuals’ beliefs, attitudes, behaviors, and practices that reflect negative evaluations based on gender and reinforce gender inequality. Early interventions should be implemented to reduce it.

Objective: To validate the Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes (DSA) for the Portuguese population.

Methodology: Validation included translation, cultural adaptation, and construct validity procedures, in a sample of 259 adolescents (aged 13 to 19 years) attending basic and secondary education schools.

Results: The exploratory factor analysis showed that hostile sexism (HS; 16 items) and benevolent sexism (BS; 10 items) account for 38.34% and 10.25% of total variance, respectively.

Conclusion: The DSA scale has good psychometric properties and kept the items of the original version. HS is higher in male adolescents and BS is higher in female adolescents. HS increases with age. The DSA scale proved to be a valid tool for measuring sexism in Portuguese adolescents.

Keywords: sexism; adolescent; validation studies; gender violence

 

RESUMEN

Marco contextual: El sexismo, definido como las creencias, las actitudes, los comportamientos y las prácticas que reflejan evaluaciones negativas sostenidas en el género refuerza la desigualdad entre mujeres y hombres, por lo que se necesita una intervención temprana para reducirlo.

Objetivo: Validar la versión española de la Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes (DSA) para el contexto portugués.

Metodología: La validación incluyó la traducción, la adaptación cultural del instrumento y la validez de constructo, y participaron 259 adolescentes (de 13 a 19 años) de escuelas primarias y secundarias.

Resultados: Mediante el análisis factorial exploratorio, se verificó que el sexismo hostil (SH; 16 ítems) y el sexismo benévolo (SB; 10 ítems) son responsables del 38,34% y del 10,25% de la varianza total, respectivamente.

Conclusión: La escala DSA tiene buenas propiedades psicométricas y mantiene los ítems de la versión original. El SH presenta valores superiores en individuos del sexo masculino, mientras que el SB es más evidente en individuos del sexo femenino. El SH aumenta con la edad de los adolescentes. La DSA ha demostrado que es un instrumento válido para medir el sexismo en los adolescentes portugueses.

Palabras clave: sexismo; adolescente; estudios de validación; violencia de género

 

Introdução

O sexismo está associado à violência, particularmente contra as mulheres, sendo este um fenómeno presente em todas as sociedades. O Committee of Ministers Council of Europe (2019) considera que as atitudes sexistas contribuem para um clima de intimidação, medo e discriminação, não promotor do bem-estar entre homens e mulheres. Os modelos de masculinidade e feminilidade perpetuados ao longo das gerações têm contribuído para a violência de género, pelo que a intervenção com vista à minimização da violência deve ser iniciada na infância e com crianças dos diferentes sexos (Santoro, Martínez-Ferrer, Monreal Gimeno, & Musitu, 2018).

Os adolescentes continuam a interiorizar e a manter a crença de que as mulheres e os homens nascem com atributos tradicionalmente associados ao feminino e ao masculino, o que constitui uma condição favorável ao exercício da violência de género (Recio, Cuadrado, & Ramos, 2007). De acordo com os autores, para que se possa direcionar adequadamente programas preventivos sobre violência de género, é necessário o conhecimento sobre o sistema de crenças dos adolescentes, nomeadamente as crenças relacionadas com os traços e atributos associados aos homens e às mulheres, bem como à distribuição dos papéis de género.

O conceito de que a intervenção deve ser iniciada na infância é reforçado na revisão sistemática realizada por Ramiro-Sánchez, Ramiro, Bermúdez, e Buela-Casal (2018), quando se identifica que os adolescentes mais sexistas têm uma atitude de maior aceitação da violência exercida pelo parceiro íntimo, apresentam mais comportamentos sexuais de risco, maior atração por parceiros sexistas, maior dependência emocional do parceiro e vivem o amor idealizado, revelando diferenças sustentadas em desigualdades de género. Estes resultados conduziram os autores a concluírem que as atitudes sexistas estão relacionadas com relações de intimidade pouco saudáveis entre adolescentes.

Contudo, para a promoção de uma cultura não sexista são necessários instrumentos confiáveis que permitam avaliar objetivamente crenças e traços de sexismo. Assim, é objetivo deste estudo validar a versão espanhola da Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes (DSA) de Recio et al. (2007), para a contexto português, disponibilizando à comunidade científica um instrumento validado, adequado à medição do sexismo em adolescentes.

 

Enquadramento

O sexismo foi, inicialmente, definido como hostilidade contra as mulheres, contudo a investigação neste campo levou à expansão do conceito. Swim e Hyers (2009), definem sexismo “como atitudes, crenças e comportamentos dos indivíduos e práticas organizacionais, institucionais e culturais, que refletem avaliações negativas de indivíduos com base no género e que apoiam a desigualdade de status de mulheres e homens” (p. 407). Esta é uma definição que deixa claro que o sexismo não se restringe unicamente às atitudes individuais, mas também a práticas institucionais, e pode refletir uma atitude negativa (Dovidio, Hewstone, Glick, & Esses, 2010; Barreto & Ellemers, 2013). Estas evoluções permitiram que em 2018, Ramiro-Sánchez et al., tenham agrupado os conceitos de sexismo em duas categorias: os tradicionais e as novas formas de sexismo. As formas tradicionais consideram o sexismo como uma atitude que prejudica ou discrimina o outro assente na inferioridade e na diferença de papéis entre homens e mulheres. Às formas tradicionais de sexismo está associado o conceito de machismo, entendido como o conjunto de crenças, atitudes e comportamentos que revelam superioridade dos homens sobre as mulheres.

As novas formas de sexismo integram o sexismo benévolo, caraterizado por um conjunto de atitudes e comportamentos em relação às mulheres, assente numa visão da mulher como um ser fraco e frágil. Este, é percebido como emocionalmente positivo pois há uma proteção dos homens para com as mulheres (Etchezahar & Ungaretti, 2014).

Tanto as formas tradicionais como as novas formas de sexismo enfatizam a diferença de papéis entre homens e mulheres e a inferioridade destas face aos homens. As novas formas de sexismo são mais difíceis de erradicar pela sua natureza subtil, pois estão associadas a uma conotação positiva o que lhes confere maior aceitação pelas mulheres (Ramiro-Sánchez et al., 2018).

A literatura refere que as diferentes formas de sexismo estão associadas ao sexo e à idade. Os homens revelam níveis mais elevados de sexismo, fundamentalmente o hostil, do que as mulheres (Costa, Oliveira, Pereira, & Leal, 2015; Rojas-Solís & Raimúndez, 2011) e os mais jovens mostram atitudes mais benevolentes em relação aos homens, enquanto nos mais velhos estas atitudes são mais hostis (Costa et al., 2015). Contudo, outros estudos, tal como estes autores referem, identificam que as atitudes mais polarizadas e hostis são mais frequentes nos jovens enquanto os adultos tendem a apresentar atitudes mais benevolentes.

A necessidade referida levou Recio et al. (2007) à construção de um instrumento de medida que permite avaliar os traços de sexismo entre adolescentes - Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes (DSA). Esta escala integra 26 itens que avaliam os conceitos dos adolescentes sobre: papéis e funções tradicionalmente atribuídas às mulheres (trabalho doméstico, cuidados à criança e aos dependentes); papéis frequentemente atribuídos aos homens (trabalho público, produzir os recursos económicos da família); e aspetos relacionados com as relações de intimidade e de violência. A DSA é uma escala construída em Espanha, validada com adolescentes espanhóis com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos. Na globalidade e por subescalas, apresenta um valor de consistência interna entre 0,80 e 0,92 (Recio et al., 2007).

 

Questão de investigação

A versão portuguesa da escala DSA apresenta boas propriedades psicométricas para avaliar os traços de sexismo em adolescentes?

 

Metodologia

A presente investigação é um estudo metodológico que se insere numa abordagem quantitativa e transversal. O processo de adaptação cultural da DSA, foi realizado segundo a metodologia de Beaton, Bombardier, Guillemin, e Ferraz (2000), utilizando a técnica tradução-retroversão.

A adaptação transcultural dos instrumentos de autopreenchimento para uso num novo país, cultura ou língua, necessita de um método único para obter uma equivalência entre o original e a versão traduzida. Neste processo de tradução e validação sistemático, optou-se por seguir as recomendações de Beaton et al. (2000) que propõem cinco etapas. Na etapa 1, foram convidados dois tradutores para traduzir a DSA da língua espanhola para a portuguesa, seguindo-se a síntese e fusão das duas traduções (etapa 2). A retroversão do português para o espanhol foi também realizada por dois tradutores independentes com domínio da língua espanhola, a partir da 1ª versão de consenso. Das duas versões criou-se uma retradução final única (etapa 3). Na etapa 4 procedeu-se à revisão de todos os relatórios escritos, visando resolver possíveis discrepâncias e obter a versão pré-final. Por fim, realizou-se uma reunião de quatro peritos (professores com atividade pedagógica e de investigação neste domínio temático) com os investigadores onde, a escala original, as traduções e os relatórios escritos explicativos das decisões anteriores foram analisados, de forma a obter consenso sobre as discrepâncias. Assegurou-se, assim, a operacionalidade da escala e obteve-se a versão final aplicada no estudo (etapa 5).

Instrumento

O instrumento de colheita de dados incluiu: 1) Variáveis demográficas: idade, sexo e localidade de residência; 2) Escala de deteção de sexismo em adolescentes (DSA), resultante da tradução e adaptação ao contexto português das autoras Recio et al. (2007). Esta escala é constituída por 26 itens, 16 desenhados para medir o sexismo hostil (SH) e 10 para avaliar sexismo benévolo (SB). A escala de resposta aos itens é do tipo Likert com 6 possibilidades de resposta (1 – discordo totalmente; 2 – discordo bastante; 3 – discordo; 4 – concordo; 5 – concordo bastante; e 6 – concordo totalmente). Para a cotação da escala deve-se calcular as pontuações nas duas subescalas através da pontuação média dos itens que as compõem. Também se pode obter uma pontuação dos traços de sexismo global a partir da média total das pontuações. A interpretação dos resultados deve ser feita atendendo a que: altas pontuações nas subescalas de sexismo hostil e benevolente revelam atitudes sexistas e estereotipadas; altas pontuações no sexismo hostil revelam esta crença com um caráter claramente negativo; altas pontuações no sexismo benevolente manifestam a visão subordinada da mulher através de um suposto afeto e proteção.

A amostra é não probabilística, de conveniência, integrando 259 adolescentes a frequentarem o 9º ano de escolaridade, em dois agrupamentos de escolas da região centro de Portugal. Tinham idades compreendidas entre 13 e 19 anos (Média = 14,15; DP = 0,92), sendo 48.3% do sexo masculino e 51,7% do sexo feminino.

Procedimentos formais e éticos

Para a utilização da DSA foi feito um pedido de autorização de tradução e validação para a versão portuguesa aos autores originais (Recio et al., 2007), que foi respondido favoravelmente.

Para a colheita de dados foi necessário realizar um conjunto de procedimentos formais e éticos: registo prévio (processo nº 13755/215) e parecer favorável da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD); autorização do Ministério da Educação, a partir do registo, em setembro de 2015 (Nº 0252500002) no sistema de Monitorização de Inquéritos em Meio Escolar (MIME); pedido de parecer à Comissão de Ética da Unidade de Investigação em Ciências da Saúde: Enfermagem (UICISA:E) que foi favorável (parecer nº 297/08-2015); autorização dos agrupamentos de escolas; aos pais/encarregados de educação dos estudantes após informação sobre o estudo, foi solicitada autorização para participação dos seus filhos/educandos e assinatura do consentimento informado; e aos estudantes cujos pais/encarregados de educação tinham autorizado a participação, foi também apresentado, no momento da colheita de dados, documento para o seu consentimento informado.

A recolha de dados teve lugar em sala de aula em horário planeado para o efeito e com a orientação dos investigadores e professores. Foi assegurado o anonimato dos participantes, assim como a confidencialidade dos dados.

No desenvolvimento da adaptação portuguesa do instrumento de avaliação, seguiu-se uma metodologia composta por duas fases: a primeira fase de tradução e adaptação cultural da escala e a segunda fase a aplicação do método de Análise Fatorial Exploratória (AFE) do instrumento.

Na análise dos dados, recorreu-se a uma análise fatorial exploratória, realizada no programa IBM SPSS Statistics, versão 21.0, para determinar o número de fatores a reter, o número de itens que lhes estão associados e a consistência interna dos mesmos.

A AFE será útil na estimação de fatores comuns se existir uma correlação elevada entre as variáveis. Para a determinar recorreu-se à medida de adequação da amostragem de Kaiser-Meyer-Olkin (teste KMO) e ao teste de esfericidade de Bartlett, pois permitem aferir a qualidade das correlações de forma a prosseguir ou não com a análise fatorial. O valor recomendado do teste KMO é que seja superior a 0,6 e o valor do teste de Bartlett seja significativo (Worthington & Whittaker, 2006).

 

Resultados

O estudo psicométrico, ao nível da consistência interna, revelou um alfa de Cronbach elevado, de 0,931 para os 26 itens cotados na escala tipo Likert, pontuados de 1 a 6. A correlação de item-total corrigida variou de 0,418 a 0,697, à exceção do item 1 “As mulheres são, por natureza, mais pacientes e tolerantes do que os homens”, cuja correlação foi de 0,356 (Tabela 1). Dado que o alfa de Cronbach (0,932) não se elevaria muito com a exclusão deste item, optou-se pela sua manutenção, e assim foi mantida a escala original.

 

 

No estudo da validade de constructo, foi calculada previamente a medida de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO = 0,932) e o Teste de Bartlett (X2 = 3463,848; p < 0,001), para posteriormente se proceder à análise fatorial exploratória pelo método dos componentes principais, com rotação ortogonal varimax dos fatores e normalização de Kaiser.

Realizou-se análise fatorial exploratória em que a matriz de inter correlações entre os itens da escala foi inicialmente submetida à análise de componentes principais, que extraiu quatro fatores com eigenvalues acima de um, responsáveis por 58,01% da variância total do instrumento. Contudo, o teste gráfico (screen plot) revelou que o número ideal de fatores a serem extraídos situava-se em dois. Assim, e tendo em conta que a versão original também tinha duas subescalas (sexismo hostil e sexismo benévolo) e dois daqueles fatores apresentarem um valor inferior a 5% da variância explicada, optou-se pela solução a dois fatores, o que vai ao encontro da versão original. De seguida, foi realizada uma análise fatorial forçando uma solução de dois fatores, através do método de rotação ortogonal (varimax). Estes explicaram 49,09% da variância total do instrumento e nele foram retidos os itens que apresentaram cargas fatoriais iguais ou superiores a 0,35 (Tabela 2).

O fator 1, sexismo hostil, ficou constituído por 16 itens e apresentou eigenvalue igual a 10,09, sendo responsável por 38,34% da variância total. O fator 2, sexismo benévolo, ficou constituído por 10 itens, responsáveis por 10,25% da variância total, tendo obtido eigenvalue igual a 2,67. A análise da consistência interna desses fatores, calculada através do Alpha de Cronbach, revelou resultados iguais a 0,926 e 0,853 respetivamente.

A análise das diferenças entre os adolescentes em função do sexo na versão portuguesa da DSA é apresentada na Tabela 3. Os adolescentes do sexo masculino obtiveram pontuações superiores às adolescentes no total da escala, embora não sejam diferenças estatisticamente significativas (t(257) = 1,234; p = 0,218). Na subescala do SH as pontuações são significativamente superiores nos adolescentes do sexo masculino relativamente às adolescentes (t(257) = 3,626; p < 0,001). Este padrão inverte-se na subescala do SB, onde a pontuação média dos adolescentes do sexo masculino é significativamente inferior à das adolescentes (t(257) = -2,526; p = 0,012).

Verifica-se ainda que a idade está correlacionada de forma direta com o sexismo, ou seja, à medida que aumenta a idade dos estudantes aumentam os scores do sexismo (r = 0,188; p = 0,003). No que se refere à subescala do SH também se verificou uma correlação direta com a idade (r = 0,216; p = 0,000; Tabela 4).

 

 

Face aos resultados encontrados na validação da escala para a população portuguesa importa analisá-los à luz da evidência científica.

 

Discussão

Este estudo tinha como objetivo traduzir e adaptar a versão espanhola da Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes (DSA; Recio et al., 2007) para a cultura portuguesa. Os resultados encontrados permitem concluir que a DSA possui boas propriedades psicométricas, mantendo-se os mesmos itens e as duas subescalas – SH e SB - da versão original. Após análise das variâncias explicadas, mantiveram-se as duas subescalas iguais à versão original pois, após se proceder à análise fatorial forçando-se uma solução a dois fatores, estes explicam 49% da variância total do instrumento e todos os fatoriais iguais e superiores a 0,35. Esta decisão foi convergente com a de Bezada Morales (2017).

Os resultados obtidos com a análise da consistência interna, quer na escala na sua globalidade, quer nas duas subescalas, são elevados e convergentes com os valores encontrados noutros estudos. No que se refere à escala na sua globalidade, o valor de Alpha de Cronbach encontrado neste estudo foi 0,931, sendo superior ao verificado por Recio et al. (2007; 0,90) e por Bezada Morales (2017; 0,888). No que se refere à subescala do SH verificou-se uma consistência de 0,926, sendo similar aos valores encontrados por Recio et al. (2007; 0,92) e Bezada Morales (2017; 0,872). Quanto ao SB o valor encontrado foi 0,853 (inferior ao da subescala do SH), mas superior aos referidos para a mesma subescala por Recio et al (2007; 0,80) e Bezada Morales (2017; 0,747).

No que se refere às correlações entre a DSA e o sexo, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas, ainda que os adolescentes do sexo masculino tenham apresentado pontuações superiores às adolescentes. Quanto ao sexismo hostil os valores são superiores nos adolescentes do sexo masculino, com diferença estatisticamente significativa face às adolescentes. No que se refere ao SB, verifica-se uma inversão dos resultados, ou seja, a pontuação dos adolescentes do sexo masculino é significativamente inferior à das adolescentes, verificando-se também uma diferença estatisticamente significativa. Os resultados referidos são convergentes com os apresentados por Recio et al. (2007) e Bezada Morales (2017). Assim, é possível dizer que as adolescentes rejeitam mais as crenças de SH do que os adolescentes do sexo masculino, mas aceitam mais facilmente as crenças do SB.

Estes resultados alertam para a necessidade de desocultar as diferentes formas de sexismo, especialmente o benévolo. Este dado é ainda mais relevante para as adolescentes, pois pode ajudar a legitimar estereótipos de género, muito associados a manifestações afetivas consideradas positivas. Os resultados reforçam ainda a necessidade de intervenções com adolescentes para a prevenção do sexismo colocarem uma ênfase especial na desocultação das diferentes formas de SB (Mamani, 2017).

Este estudo permitiu, ainda, verificar que existe correlação entre sexismo e idade, ou seja, quanto maior a idade dos adolescentes, maior o sexismo, nomeadamente o SH. Estes resultados são convergentes com o concluído por Recio et al. (2007) e permitem salientar que as intervenções de prevenção do sexismo devem ocorrer em fases mais precoces da adolescência, atendendo a que com o avançar da idade as crenças e estereótipos tendem a ser intensificados.

Considera-se uma limitação do estudo o recurso a uma amostra não probabilística.

 

Conclusão

Sabendo que a literatura refere que o sexismo é uma forma clássica de hostilidade contra as mulheres, reforçando os papéis tradicionais de género, que aumenta com a idade, legitima a violência nas relações de intimidade, aumenta o risco de violência sexual, está associada à construção de relações de intimidade com pessoas sexistas, à maior dependência emocional do parceiro, à pior qualidade nas relações e aos mitos do amor romântico, assume-se como fundamental a existência de um instrumento de avaliação do sexismo nos adolescentes, sempre que se perspetivam intervenções nestes domínios.

A DSA revela-se como uma escala com boas propriedades psicométricas para a avaliação do sexismo em geral, bem como, do SH e do SB, nos adolescentes portugueses. Assim, este estudo de validação da DSA revela-se particularmente importante, pois não foram encontrados na literatura outros instrumentos já validados para esta população portuguesa.

Sugere-se a continuidade de estudos com a DSA que façam a avaliação das propriedades psicométricas noutras amostras populacionais de adolescentes portugueses.

 

Referências bibliográficas

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Contribuição de autores:

Conceptualização: Fernandes, M. I. D., Moreira, I. M. P., Silva, A. M., Leitão, M. N., Sá, M. C. A., Veríssimo, C.M.F.

Tratamento de dados: Silva, A. M., Veríssimo, C. M. F.;

Metodologia, Moreira, I. M. P., Fernandes, M. I. D., Silva, A. M.

Redação - preparação do rascunho original: Fernandes, M. I. D., Moreira, I. M. P., Silva, A. M., Leitão, M. N., Sá, M. C. A., Veríssimo, C. M. F.

Redação - revisão e edição: Fernandes, M. I. D., Moreira, I. M. P., Silva, A. M., Leitão, M. N., Sá, M. C. A.

 

* Autor de correspondência:

Maria Isabel Domingues Fernandes

Email: isabelf@esenfc.pt

 

Como citar este artigo: Fernandes, M. I. D., Moreira, I. M. P., Silva, A. M., Sá, M. C., Veríssimo, C. M. F., & Leitão, M. N. C. (2020). Escala de Detección de Sexismo en Adolescentes: tradução e validação para o contexto português. Revista de Enfermagem Referência, 5(1), e19075. doi: 10.12707/RIV19075.

 

Recebido: 16.10.19

Aceite: 18.01.20

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