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Revista de Enfermagem Referência

versión impresa ISSN 0874-0283

Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.23 Coimbra dic. 2019

 

EDITORIAL

 

Por que é imperativo reorientar a educação em enfermagem para reduzir o fosso entre a formação e as necessidades de cuidados de saúde?

 

A enfermagem é protagonista do sistema de saúde devido ao seu potencial inovador, criativo e versátil na promoção da saúde, prevenção de doenças e prestação de cuidados. As enfermeiras e as parteiras, ou enfermeiras obstetrizes, representam quase metade dos recursos humanos em saúde, sendo cerca de 20 milhões de enfermeiras e 2 milhões de parteiras em todo o mundo. As enfermeiras desempenham vários papéis e trabalham em muitos contextos diferentes, sendo frequentemente os primeiros e os únicos profissionais de saúde com os quais as pessoas contactam em caso de necessidades de cuidados de saúde (The Lancet, 2019).

Muito já foi construído e desenvolvido na enfermagem em termos de conhecimento científico, ensino e prática, mas somos confrontados com novas exigências devido às profundas mudanças económicas, sociais, políticas, culturais e ambientais que afetam a sociedade em geral, a vida das pessoas e as suas necessidades de saúde. Essas mudanças também têm interferido com o ensino e a aprendizagem e, portanto, os educadores devem usar novas estratégias para tornar o processo de ensino-aprendizagem mais significativo para os alunos.

O conhecimento e as tecnologias proliferam a uma velocidade exponencial, exigindo novas formas de transferência de conhecimento e uma postura proativa por parte dos professores e dos alunos. A formação dos profissionais de saúde, nomeadamente das enfermeiras, é um fator intimamente relacionado com a qualidade dos cuidados e a segurança do doente. É através da formação teórica e prática que os enfermeiros se mantêm atualizados, mobilizam conhecimentos para contextos práticos e realizam práticas centradas no doente com base na evidência científica atual (Cassiani et al., 2017).

Considera-se que, para alcançar uma educação de melhor qualidade para os profissionais de enfermagem, a educação transformadora e interprofissional deve ser reorientada. Os princípios da educação transformadora incluem a promoção do pensamento crítico; a promoção do desenvolvimento das competências profissionais necessárias para trabalhar em equipa; a adaptação criativa dos recursos globais para abordar as prioridades locais; a integração da educação e dos sistemas de saúde; a formação de redes e parcerias; e a partilha de recursos educativos e inovações globais. A educação interprofissional é uma estratégia para alcançar a educação transformadora e ocorre quando duas ou mais profissões aprendem com, de e sobre cada uma delas para permitir uma colaboração eficaz e melhorar os resultados da saúde (World Health Organization, 2013).

A Organização Mundial da Saúde (World Health Organization, 2016) recomenda que as instituições de ensino adaptem a sua estrutura institucional e as suas modalidades de ensino à educação interprofissional e à prática colaborativa. No entanto, apesar de a educação transformadora e interprofissional em enfermagem estar em pleno desenvolvimento em vários países, ainda há um longo caminho a percorrer em muitos outros países.

Uma outra demanda importante é formar mais enfermeiros para cobrir a escassez global de profissionais adequadamente treinados e distribuídos em todo o mundo. A falta destes profissionais na maioria dos países compromete o objetivo geral de alcançar a saúde para todos até 2030. Existe atualmente um déficit de 800 mil profissionais de saúde na região da América Latina e do Caribe, incluindo enfermeiros (Cassiani et al., 2017). Assim, é recomendado aumentar o número de programas de formação acreditados, especialmente considerando que na maioria dos países há reduzido número de escolas e de programas de pós-graduação em enfermagem; expandir estratégias para formação de enfermeiras de prática avançada; aumentar a produção de conhecimento científico inovador em enfermagem centrado nos problemas da população (Cassiani et al., 2017). A resposta às exigências sociais terá maior impacto nos enfermeiros por parte da sociedade como agentes transformadores da qualidade e segurança dos cuidados.

A enfermagem contemporânea também enfrenta problemas relacionados com a mobilidade e a migração, a falta de regulamentação, os incentivos insuficientes ao desenvolvimento profissional e os ambientes de trabalho inadequados. Por conseguinte, é urgente e necessário oferecer melhores condições de trabalho e salários mais elevados para que os trabalhadores de enfermagem possam desenvolver o seu trabalho de forma mais eficiente.

O documento Massachusetts Nurse of the Future - Nursing Core Competencies (Massachusetts Department of Higher Education, 2016) define 10 competências básicas para os enfermeiros do presente e do futuro, incluindo cuidados centrados no doente; profissionalismo; liderança; informática e tecnologia; prática baseada em evidência; comunicação; prática baseada em sistemas; segurança; trabalho colaborativo em equipa; e melhoria da qualidade. Portanto, pensar a enfermagem contemporânea e futura é imperativo e estratégico, pois é a partir dela que podemos vislumbrar formas de produção em saúde coerentes com as bases fundamentais teóricas, filosóficas, jurídicas e éticas dos sistemas de saúde. Entre as profissões, é a mais porosa aos valores que sustentam os sistemas universais. No entanto, é importante o compromisso político, a massa crítica e o capital social em defesa desta proposta e desta profissão (Arcêncio, 2018).

Desta forma, conclui-se que a educação inovadora e de qualidade em enfermagem requer a interpretação da realidade e a compreensão dos aspetos relacionados com os determinantes socioeconómicos e culturais dos processos de saúde-doença, políticas públicas, formação e prática profissional. Investir hoje no reforço da formação e do desenvolvimento dos profissionais de enfermagem com foco na liderança fará com que a profissão expanda ainda mais o seu papel nos cuidados de saúde num futuro próximo.

 

Referências bibliográficas

The Lancet. (2019). 2020: Unleashing the full potential of nursing [Editorial]. The Lancet, 394(10212), 1879. doi: 10.1016/S0140-6736(19)32794-1        [ Links ]

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Arcêncio, R. A.. (2018). A enfermagem como profissão do futuro e base de sustentação dos sistemas universais. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 26, e3063. doi: 10.1590/1518-8345.0000.3063        [ Links ]

 

Maria Helena Palucci Marziale

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

Universidade de São Paulo – Brasil

 


 

Why is it imperative to redirect nursing education to reduce the gap between training and health care needs?

 

Nursing plays a key role in the healthcare system due to its innovative, creative, and versatile potential in health promotion, disease prevention, and care delivery. Female nurses and midwives make up nearly half of the global health workforce, with around 20 million female nurses and 2 million midwives worldwide. Working in a wide variety of roles and in many different contexts, female nurses are often the first and only health professionals people see for their healthcare needs (The Lancet, 2019).

Much has already been done in terms of scientific knowledge, teaching, and clinical practice in nursing, but we are faced with new demands due to profound economic, social, political, cultural, and environmental changes that affect society in general, and the life and health needs of the populations. These changes have also influenced teaching and learning, thus educators should use new strategies to make the teaching-learning process more meaningful for students.

Knowledge and technology proliferate at a fast pace, requiring new forms of knowledge transfer and a proactive attitude from both teachers and students. The training of healthcare professionals, especially female nurses, is closely linked to the quality of care and patient safety. It is through theoretical and practical training that nurses stay updated, implement their knowledge into clinical practice, and perform their tasks using a patient-centered approach based on current scientific evidence (Cassiani et al., 2017).

Therefore, to achieve a better quality education for nurses, the interprofessional and transformative learning should be redirected. The principles of transformative learning are the promotion of critical thinking; the development of professional skills for effective teamwork; the creative adaptation of global resources to address local priorities; the integration of education and health systems; networking and partnerships; and sharing of educational resources and innovations worldwide. Interprofessional education is a strategy for a transformative education and occurs when two or more professions learn about, from, and with each other to enable effective collaboration and improve health outcomes (World Health Organization, 2013).

The World Health Organization (2016) recommends that education institutions should adapt their institutional set-up and modalities of instruction to interprofessional education and collaborative practice. Although transformative and interprofessional education in nursing is in full development in many countries, there is still a long way to go in several other countries.

Another important demand is to train more nurses to cover the global shortage of adequately trained and distributed professionals worldwide. However, the lack of these professionals in the majority of countries compromises the global objective of achieving health for all by 2030. There is a current deficit of 800,000 health workers in the Caribbean and Latin America region, including nurses (Cassiani et al., 2017). Therefore, it is important to increase the number of accredited training programs, especially given that in most countries there are few nursing schools and graduate programs in nursing; expand the strategies for training advanced practice nurses; increase the production of innovative nursing knowledge focused on addressing the problems of the population (Cassiani et al., 2017). Society will place greater demands on nurses to act as transformative agents for the quality and safety of care delivery.

Contemporary nursing also faces problems related to mobility and migration, lack of regulation, insufficient incentives for professional advancement, and inadequate working environments. Thus, there is an urgent need to offer better pay and working conditions for nurses to perform their jobs more effectively.

The document Massachusetts Nurse of the Future - Nursing Core Competencies (Massachusetts Department of Higher Education, 2016) Education sets out 10 core competencies for present and future nurses, including patient-centered care, professionalism, leadership, informatics and technology, evidence-based practice, communication, systems-based practice, safety, teamwork and collaboration, and quality improvement. It is imperative and strategic to think about contemporary and future nursing so as to find forms of health production consistent with the fundamental theoretical-philosophical, legal, and ethical basis of health systems. Among the professions, it is the one that most assimilates the values that sustain universal systems. Thus, political commitment, critical mass, and social capital are important to defend this proposal and this profession (Arcêncio, 2018).

Therefore, innovative, high-quality nursing education requires an interpretation of reality and an understanding of the socioeconomic and cultural determinants of the health-disease processes, the public policies, training, and professional practice. Today’s investment in strengthening the education and development of nurses with a focus on leadership will help the profession to further expand its role in healthcare delivery in a near future.

 

References

The Lancet. (2019). 2020: Unleashing the full potential of nursing [Editorial]. The Lancet, 394(10212), 1879. doi: 10.1016/S0140-6736(19)32794-1

Cassiani, S. H., Wilson, L. L., Mikael, S. S., Morán Peña, L., Grajales, R. A., McCreary, L. L., …Roso Gutierrez, N. (2017). La situación de la educación en enfermería en América Latina y el Caribe hacia el logro de la salud universal. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 25, e2913. doi: 10.1590/1518-8345.2232.2913

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Massachusetts Department of Higher Education. (2016). The Massachusetts Nursing Core Competencies: A toolkit for implementation in education and practice (2nd ed.). Retrieved from https://archives.lib.state.ma.us/bitstream/handle/2452/685777/ocn987380501.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Arcêncio, R. A.. (2018). A enfermagem como profissão do futuro e base de sustentação dos sistemas universais. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 26, e3063. doi: 10.1590/1518-8345.0000.3063

 

Maria Helena Palucci Marziale

University of Sao Paulo

Ribeirao Preto College of Nursing

Brazil

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