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Revista de Enfermagem Referência

versão impressa ISSN 0874-0283

Rev. Enf. Ref. vol.serIV no.6 Coimbra set. 2015

https://doi.org/10.12707/RIV14083 

ARTIGO DE INVESTIGAÇÃO

 

Cultura organizacional da família como preditor das atitudes e comportamentos sexuais em adolescentes

The family organisational culture as a predictor of sexual attitudes and behaviours in adolescents

Cultura organizativa de la familia como predictor de las actitudes y comportamientos sexuales en adolescentes

 

Ivo Manuel Borges Barreira*; Vitor Manuel Costa Pereira Rodrigues**; Maria Cristina Quintas Antunes***

* Doutorando, Enfermagem, UCP – Instituto Ciências da Saúde (Porto). Enfermeiro, Unidade de Cuidados na Comunidade Mãos Amigas, 4890-221, Celorico de Basto, Portugal [ivo1108@gmail.com]. Contribuição no artigo: pesquisa bibliográfica, recolha de dados, tratamento e avaliação estatística, análise e discussão de resultados, escrita do artigo. Morada para correspondência: Rua Principal, n.º39, 5445-102, Carrazedo de Montenegro, Portugal.

** Agregação, Saúde/Enfermagem. Professor Coordenador com Agregação, Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano, CIDESD, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Escola Superior de Enfermagem de Vila Real, 5000-232, Vila Real, Portugal [vmcpr@utad.pt]. Contribuição no artigo: tratamento e avaliação estatística, análise de dados e discussão.

*** Ph.D., Psicologia. Professora Adjunta, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, UTAD, Escola Superior de Enfermagem de Vila Real, 5000-232, Vila Real, Portugal [mantunes@utad.pt]. Contribuição no artigo: contribuição substancial no tratamento e análise estatística dos dados, na discussão dos resultados e na revisão do texto.

 

RESUMO

Enquadramento: O comportamento parental pode ter um efeito significativo nas atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes.

Objetivos: Este estudo teve como objetivo analisar o efeito preditor da cultura organizacional da família nas atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes do 9º ano.

Metodologia: A amostra foi constituída por 364 adolescentes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 14 e os 18 anos. Os instrumentos de colheita de dados utilizados foram o Inventário da Cultura Organizacional da Família e a Escala de Atitudes Face à Sexualidade em Adolescentes.

Resultados: Os resultados evidenciam que as variáveis Cultura das Relações Interpessoais, a Cultura Hierárquica e a Cultura Heurística da família predizem significativamente as atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes.

Conclusões: Este estudo realça a importância da implementação de programas e projetos em meio escolar no âmbito da sexualidade, envolvendo não só os adolescentes, mas também as suas famílias, como elemento essencial na promoção de atitudes e comportamentos sexuais saudáveis.

Palavras-chave: família; atitude; comportamento sexual; adolescente.

 

ABSTRACT

Theoretical framework: Parental behaviour can have a significant effect on the sexual attitudes and behaviours of adolescents.

Objectives: This study objective was to analyse the predictive effect of the family organisational culture in sexual attitudes and behaviours of adolescents in the 9th grade.

Methodology: The sample consisted of 364 adolescents of both genders aged between 14 and 18 years. The data collection instruments were the Inventory of the Family Organisational Culture and the Scale of Attitudes about Sexuality in Adolescents.

Results: The results showed that the family Culture of Interpersonal Relationships, Hierarchical Culture and Heuristic Culture variables significantly predict the sexual attitudes and behaviours of adolescents.

Conclusion: This study highlights the importance of implementing programs and projects in schools on the subject of sexuality, involving not only adolescents but also their families, as an essential element in promoting healthy sexual attitudes and behaviours.

Keywords: family; attitude; sexual behaviour; adolescent.

 

RESUMEN

Marco contextual: El comportamiento de los padres puede tener un impacto significativo en las actitudes y comportamientos sexuales de los adolescentes.

Objetivos: Este estudio tuvo como objetivo analizar el efecto predictivo de la cultura organizativa de la familia en las actitudes y comportamientos sexuales de los adolescentes del noveno año.

Metodología: La muestra se compone de 364 adolescentes de ambos sexos, con edades comprendidas entre 14 y 18 años. Los instrumentos de recogida de datos utilizados fueron el Inventario de la Cultura Organizativa de la Familia y la Escala de Actitudes frente a la Sexualidad en los Adolescentes.

Resultados: Los resultados muestran que las variables Cultura de las Relaciones Interpersonales, la Cultura Jerárquica y la Cultura Heurística de la familia predicen significativamente las actitudes y los comportamientos sexuales de los adolescentes.

Conclusiones: Este estudio pone de relieve la importancia de poner en práctica programas y proyectos en el medio escolar en el ámbito de la sexualidad, que implican no solo a los adolescentes, sino también a sus familias, como elemento esencial en la promoción de actitudes y conductas sexuales saludables.

Palabras clave: actitud; conducta sexual, adolescente.

 

Introdução

A adolescência é conhecida como um período marcado por profundas mudanças internas e externas, que ocorrem a nível biológico, psicológico e social, num processo de desenvolvimento da sua identidade, em que o adolescente se prepara “para um longo processo de emancipação da tutela parental” (Fleming, 2005, p. 61). Neste período, a cultura familiar e os estilos educativos adotados pelos pais poderão conduzir o adolescente para atitudes e comportamentos de risco, designadamente na esfera sexual. Deste modo, a educação sexual deve ser uma área prioritária e a sua abordagem deve ser pensada e planeada para ir ao encontro das suas necessidades. Neste sentido, o enfermeiro possui um papel relevante como educador, na promoção de uma sexualidade saudável e responsável. O enfermeiro deve participar na elaboração e operacionalização destes programas de educação sexual que, tal como refere a United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO, 2009), devem ter como objetivos aumentar o conhecimento e compreensão no âmbito da sexualidade; explicar e esclarecer sentimentos, valores e atitudes; desenvolver ou reforçar competências nesta área e promover e apoiar o comportamento saudável, minimizando o risco. Nestes programas devem também ser incluídos os pais, uma vez que programas de educação sexual abrangentes que incluem os pais podem ser mais eficazes no retardar do início das relações sexuais para adolescentes, uma vez que as atividades familiares podem encorajar os pais a conversar com os seus filhos mais cedo e com mais frequência (Grossman, Tracy, Charmaraman, Ceder, & Erkut, 2014).

Os enfermeiros necessitam assim de compreender como determinadas variáveis, entre as quais, estilos educativos e cultura familiar se relacionam com os comportamentos e atitudes sexuais dos adolescentes, para que se possam desenhar intervenções educativas e preventivas mais eficazes na prevenção dos comportamentos de risco. Deste modo, estabeleceu-se como objetivo para este estudo analisar o efeito preditor da cultura organizacional da família nas atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes do 9º ano.

 

Enquadramento

A cultura familiar poderá dizer-nos muito sobre a forma como determinada família funciona, como os seus elementos se relacionam e se influenciam. Nave (2006), estudando os padrões da cultura organizacional da família concluiu que os tipos de cultura organizacional adotados pelas famílias são preditores de satisfação familiar e de perceção positiva de funcionalidade familiar na perspetiva dos filhos.

Noutro estudo, Ferreira et al. (2013), tendo por base os quatro tipos de cultura familiar identificados por Nave (2006), designadamente, Cultura das Relações Interpessoais, Culturas Heurística, Cultura Hierárquica e Cultura dos Objetivos Socias, avaliaram o tipo de cultura adotada por cada família e compararam os resultados com as atitudes dos adolescentes em relação à sexualidade. Estes autores verificaram que os adolescentes que têm uma atitude má em relação à sexualidade, na sua maioria, apresentam fraca perceção da Cultura das Relações Interpessoais. Já a Cultura Familiar Hierárquica e a Cultura Familiar dos Objetivos Sociais apresentaram-se como moderadas.

Num estudo multinacional, realizado por Madkour et al. (2014), em que foram inquiridos jovens entre os 15 e os 20 anos e pais com idades dos 31 aos 65 anos de 17 países europeus, os resultados confirmaram a influência de normas culturais sobre o comportamento sexual dos adolescentes, nomeadamente sobre o momento da iniciação sexual.

Também Dias, Matos, e Gonçalves (2007), no seu estudo sobre a perceção dos adolescentes acerca da influência dos pais e pares nos seus comportamentos sexuais, afirmaram a importância do estilo parental, concordando com vários outros autores que defendem que o estilo parental deve promover a autonomia e a autodescoberta, uma vez que são aspetos que “estão associados com a competência social e psicológica e diminuem a probabilidade do envolvimento em comportamentos sexuais de risco” (p.631). No estudo conduzido por estes mesmos autores (Dias et al., 2007), os jovens consideraram que o estilo parental autoritário pode ter um efeito adverso, uma vez que que lhes é dada pouca autonomia ou segurança. No que respeita ao estilo parental democrático, os jovens consideraram que a adoção deste estilo pode evitar comportamentos de risco uma vez que “os pais não proíbem, mas estão vigilantes e alertam para os perigos, promove a responsabilização, proporciona um sentimento de confiança, uma maior vontade de respeitar os pais” (p.628). Ainda neste estudo, os autores descobriram que a adoção dos estilos autoritário ou permissivo são considerados, pelos jovens, como fatores que podem conduzir a comportamentos sexuais de risco, tendo sido observada uma associação entre uma menor supervisão parental e a participação dos adolescentes em mais comportamentos de risco, designadamente o início precoce da atividade sexual e as relações sexuais desprotegidas. Ainda no âmbito da influência dos pais sobre os comportamentos de risco, Huang, Murphy, e Hser (2011) realizaram um estudo sobre a monitorização dos pais durante a adolescência, definindo quatro níveis de monitorização parental: alta, crescente, decrescente e baixa. Os seus resultados evidenciaram uma maior probabilidade de o sexo masculino ter um baixo acompanhamento parental e terem maior probabilidade em iniciar relações sexuais antes dos 14 anos. Constataram ainda que um acompanhamento parental alto, em oposição a um baixo, resultaria num adiamento da iniciação sexual de um adolescente cerca de 1,5 anos. Estes autores consideraram importante promover uma comunicação e relações de confiança mútua entre pais e filhos, sugerindo que nunca é tarde demais para os pais aumentarem o acompanhamento do adolescente. Hutchinson et al. (2012) procuraram identificar as formas como as mães influenciavam as crenças e comportamentos sexuais das suas filhas adolescentes e identificaram influências maternas em quatro áreas: a qualidade do relacionamento; a comunicação sexual; a monitorização ou supervisão e modelagem do papel sexual materno. Dentro de cada categoria, mães e filhas identificaram influências maternas positivas e promotoras de saúde e outras negativas e promotoras de uma atividade sexual de risco, o que permitiu melhorar o projeto de intervenção sexual junto das adolescentes e suas mães. Segundo Costa, Pereira, e Leal (2012), os pais portugueses parecem estar a usar mais frequentemente comportamentos de reforço positivo, estabelecimento de regras e limites e reforço da autonomia em vez de castigos físicos ou ignorarem os pedidos dos filhos, o que pode ser um sinal positivo na prevenção de comportamentos de risco.

Para Santos (2010; 2011), a teoria sistémica permite compreender a família, considerando-a como um todo integrado e complexo, que possui características próprias e que não é redutível às suas partes. A família carateriza-se por constantes interações, onde cada membro influencia e é influenciado. O mesmo autor considera que é a repetição constante de alguns fatores ao longo do tempo, como a comunicação estabelecida, a interdependência, as ações e reações e os padrões transacionais que permitem regular os comportamentos dos diversos elementos que constituem a família.

Na formação do individuo, a relação familiar que se estabelece é muito importante, sendo uma das principais fases deste desenvolvimento a adolescência (Santos, Rodrigues, & Almeida, 2010). No estudo de Dias et al. (2007) os adolescentes, na sua maioria, consideraram que são os pais que não se sentem à vontade para falar com os filhos. Estes referem também que “muitas vezes, os pais não detêm conhecimentos ou as informações mais correctas” (p. 627). Por outro lado, podem ser os próprios jovens, a evitar o diálogo com os pais por não se sentirem à vontade (Dias et al., 2007). Também Castro e Rodrigues (2009) constataram que apenas 17,1% dos adolescentes afirmaram falar com pais sobre estes assuntos. As razões apontadas pelos adolescentes neste estudo, foram: não ser um assunto para falar com os pais (33,81%) e a vergonha ou receio (32,05%). Segundo Vilar e Ferreira (2009), as raparigas optam claramente pela mãe para a abordagem de todos os assuntos, enquanto nos rapazes não existe uma preferência evidente por qualquer dos progenitores. Os adolescentes deste estudo consideraram que a qualidade da relação que estabelecem com os pais é muito importante para que haja uma comunicação efetiva. Quando esta comunicação no âmbito da sexualidade se mostra positiva, pode ajudar na resolução de problemas, funcionando como uma fonte de suporte e apoio mais importante até do que os amigos. Os adolescentes referem também que esta comunicação por si só, não tem resultados positivos, mas quando a relação com os pais se mostra distante, “assiste-se, normalmente, a um aumento da influência dos pares nas questões sexuais” (Dias et al., 2007, p. 631). Outros autores defendem que a frequência e a qualidade da comunicação entre pais e adolescentes podem não ser suficientes para diminuir os comportamentos sexuais de risco, uma vez que não será o único fator. Contudo pode ser um passo importante para existir uma conversa aberta e confortável entre pais e adolescentes no âmbito da sexualidade (Schouten, Putte, Pasmans, & Meeuwesen, 2007). Desta forma, as influências que os pais possuem sobre os filhos, devem-se em grande parte à qualidade da relação que estes estabelecem com eles.

Embora a investigação aborde frequentemente a influência da comunicação na família sobre os comportamentos e atitudes sexuais dos adolescentes, a cultura familiar é uma variável ainda pouco abordada.

 

Questão de investigação

Decorrente do objetivo da investigação e com base na revisão teórica efetuada em torno da problemática em estudo, colocou-se como questão de investigação: Existe relação entre a cultura da família e as atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes do 9º ano? Como hipótese de investigação equacionou-se: A cultura da família tem um efeito preditor nos comportamentos e atitudes sexuais dos adolescentes.

 

Metodologia

O presente estudo define-se como um estudo de natureza quantitativa, de tipo descritivo-correlacional e transversal. Nesta investigação participaram 364 adolescentes do 9º ano do ensino regular, a frequentar a escola no ano letivo 2011/2012, correspondentes a 76,31% da população de três agrupamentos de escolas localizados no interior norte de Portugal. A idade dos participantes foi, em termos médios, de 14 anos e 6 meses, variando entre os 14 e os 18 anos, 144 (39,6%) dos quais do sexo masculino e 220 (60,4%) do sexo feminino. A seleção dos elementos da amostra foi realizada com base no método não probabilístico, intencional e por conveniência. Foram considerados como critérios de inclusão: estar matriculado no 9º ano do ensino regular e frequentar uma instituição de ensino, estar presente na aula aquando da colheita de dados, ter autorização dos pais/encarregados de educação para o preenchimento dos questionários e não se opor pessoalmente a isso.

O presente estudo integra-se no projeto de investigação: Monitorização de Indicadores de Saúde Infanto-Juvenil: Impacto na Educação para a Saúde, aprovado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, da equipa de investigadores do Instituto Politécnico de Viseu (Escola Superior de Saúde de Viseu), da Universidade de Évora e da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, coordenado pelo Professor Doutor Carlos Albuquerque. O projeto foi registado em 5 de setembro de 2011 (com o número de registo 0071200008) e aprovado pela Direção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular como Projeto, PTDC/CPE-CED/103313/2008 em 22 de setembro do mesmo ano. Foram tidos em consideração todos os requisitos éticos, como a aprovação do estudo pela Direção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular e autorização escrita dos pais. Também a participação dos adolescentes no estudo foi voluntária, com a possibilidade de desistência e garantia de anonimato e confidencialidade dos dados.

A recolha dos dados foi realizada entre março e maio de 2012, através de questionários, que foram entregues em mão em cada agrupamento de escolas. Os questionários foram acompanhados de uma carta explicativa, onde constavam o projeto em que o estudo se inseria e o seu objetivo, a duração média de preenchimento, os contactos telefónicos e correio eletrónico, para esclarecimento de dúvidas. Antes da recolha de dados foi realizada uma reunião com os coordenadores de diretores de turma para explicar os objetivos e a forma de colheita de dados.

O Instrumento de colheita de dados utilizado foi o questionário construído no âmbito do estudo supramencionado. Deste questionário foi utilizada a primeira parte, que inclui questões relativas a aspetos sociodemográficos (sexo, idade) e comportamentos e atitudes sexuais, designadamente: ter namorado, ter com quem falar sobre sexualidade, ter relações sexuais, fazer contraceção, contraceção de emergência, importância do uso de preservativo nas relações sexuais e a experiência de relacionamento íntimo e sexual. Da segunda parte foram utilizados o Inventário da Cultura Organizacional da Família (ICOF), que permite avaliar a funcionalidade familiar (Nave, 2006) e a escala de Atitudes Face à Sexualidade em Adolescentes (AFSA), que procura analisar as atitudes dos adolescentes face à sexualidade (Nelas, Fernandes, Ferreira, Duarte, & Chaves, 2010).

O ICOF, construído e validado para a população portuguesa por Nave (2006) é, na versão apresentada, constituído por 25 itens distribuídos por quatro escalas de resposta tipo Likert variando desde Nunca (1) até Sempre (6). A cotação do inventário tem o mínimo de 25 pontos e um máximo de 150. O ICOF permite avaliar a funcionalidade das famílias através dos diferentes padrões culturais da organização familiar. As quatro dimensões ou escalas que compõem o ICOF são: a escala da Cultura das Relações Interpessoais (CRI), com nove itens (1, 5, 7, 11, 12, 14, 15, 16 e 25); a escala da Cultura Heurística (CHE), com cinco itens (4, 18, 20, 21 e 22); a escala da Cultura da Hierarquia (CHI), com cinco itens (2, 6, 9, 13 e 19) e a escala da Cultura dos Objetivos Sociais (COS), com seis itens (3, 8, 10, 17, 23 e 24), sendo invertidos os itens 11 e 14, que são cotados em sentido contrário, para que o total de cada escala corresponda a um único sentido de resposta. O estudo das qualidades psicométricas do ICOF revelou valores do alfa de Cronbach superiores a 0,70, com um valor de alfa de Cronbach de 0,93 para o inventário total. A consistência interna das quatro escalas aponta para valores considerados satisfatórios: a escala da Cultura das Relações Interpessoais (CRI) apresenta um α = 0,81, a escala da Cultura Heurística (CHE) apresenta um α = 0,87, a escala da Cultura da Hierarquia (CHI) apresenta um α = 0,73 e a escala da Cultura dos Objetivos Sociais (COS) apresenta um α = 0,76. Na (Tabela 1) podemos comparar a consistência interna obtida neste estudo comparativamente aos valores da consistência interna obtidos no estudo realizado por Nave (2006).

De acordo com Nave (2006), a Cultura das Relações Interpessoais no seio da família considera aspetos como as competências gregárias através das quais se avalia o que a família gosta de fazer em conjunto, as competências comunicacionais e as competências de sentimento de proximidade e coesão. Na avaliação da capacidade heurística da família, o autor considera como elementos fundamentais as competências de co-evolução, onde se avalia a capacidade da família para ultrapassar as crises, a competência de criatividade onde se encontram as soluções para os problemas e as competências de inovação. No que respeita a Cultura Hierárquica, o autor considera como fundamental avaliar a competência de estabelecer e respeitar os limites, as regras e o espaço hierárquico no seio da família, bem como a competência de estabelecer e cumprir papeis. Na dimensão Cultura dos Objetivos Sociais avaliam-se as competências de construir e manter determinada imagem social, de estabelecer relações sociais, a integração social e a competência de adotar comportamentos sociais aceites.

Conclui-se, tal como Nave (2006) que as quatro escalas, constituintes do Inventário da Cultura Organizacional da Família (ICOF), apresentam uma estabilidade temporal perante diferentes tamanhos de amostras uma vez que mantêm as suas qualidades psicométricas.

A Escala de Atitudes Face à Sexualidade em Adolescentes (AFSA) é uma escala de avaliação das atitudes dos adolescentes face à sexualidade. Esta escala foi construída e validada por Nelas et al. (2010) e é constituída por 26 itens elaborados em escala ordinal tipo Likert, possuindo cada item cinco alternativas de resposta variando desde Discordo totalmente (1) e Concordo totalmente (5). Os itens 1, 2, 4, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 16, 18, 19, 20, 22, 23 e 24 são cotados inversamente. Tal como Nelas et al. (2010) optou-se por utilizar esta escala como escala unifatorial pela sua relevância conceptual e pela importância que possui enquanto constructo.

A pontuação global da escala na avaliação das atitudes varia de 28 a 140 e quanto mais elevado o valor, mais favoráveis são as atitudes dos adolescentes face à sexualidade. São exemplos dos itens, em que o adolescente tem de assinalar o seu grau de concordância relativamente às afirmações apresentadas: afirmação (5) - A primeira relação sexual deveria ser sempre com alguém que eu amo; afirmação (14) – Seria incapaz de falar de assuntos sobre a sexualidade com os meus pais.

Relativamente à avaliação das qualidades psicométricas da escala AFSA, no que se refere à consistência interna, apresentou um alpha de Cronbach de 0,81. Este valor é igual ao valor obtido no estudo realizado por Nelas et al. (2010), no qual participaram 840 sujeitos.

 

Resultados

Para analisar o efeito preditor da cultura organizacional da família sobre os comportamentos e atitudes sexuais dos adolescentes, foi realizada uma análise de regressão por etapas. Os resultados evidenciaram que apenas as variáveis Cultura das Relações Interpessoais, a Cultura Hierárquica e a Cultura Heurística predizem significativamente as atitudes e comportamentos sexuais, com um coeficiente de determinação ajustado [r2=.127 e F (360,3) = 18,599, p ≤ .001], tendo sido excluída do modelo a variável Cultura dos Objetivos Sociais. A análise dos valores absolutos dos coeficientes de regressão estandardizados permite-nos concluir que existe uma associação positiva das atitudes sexuais com a Cultura das Relações Interpessoais, (β=.236, p=.005), e a Cultura Heurística, (β=.312, p ≤ .001), e uma associação negativa com a Cultura Hierárquica, (β= -.247, p ≤ .001), sendo a variável Cultura Heurística, a que apresenta a maior contribuição relativa para explicar as atitudes sexuais (β=.312).

(Tabela 2)

 

Discussão

Ao analisar o efeito preditor da cultura da família nos comportamentos e atitudes sexuais dos adolescentes, os resultados permitem evidenciar uma associação positiva das atitudes sexuais com a Cultura das Relações Interpessoais e Cultura Heurística e uma associação negativa com a Cultura Hierárquica, sendo a variável Cultura Heurística a que apresenta a maior contribuição relativa para explicar as atitudes sexuais (β=.312). Segundo Nave (2006), que estudou os padrões da cultura organizacional da família, na avaliação da cultura das relações interpessoais no seio da família são considerados como aspetos importantes as competências gregárias através das quais se avalia o que a família gosta de fazer em conjunto, nas competências comunicacionais e nas competências de sentimento de proximidade e coesão. No que respeita à avaliação da capacidade heurística da família, o mesmo autor considera como elementos fundamentais as competências de co-evolução, onde se avalia a capacidade da família para ultrapassar as crises, a competência de criatividade, pela qual se encontram as soluções para os problemas, e as competências de inovação. Deste modo, a relação positiva entre as atitudes sexuais com a Cultura das Relações Interpessoais e a Cultura Heurística pode ser explicada tendo em conta que numa ótima relação pais-filhos, onde exista uma comunicação eficaz centrada no respeito entre os membros e na resolução de problemas, o adolescente vê a família como uma fonte de apoio e suporte, estabelecendo-se uma relação positiva entre ambos (Dias et al., 2007). No que respeita à Cultura Hierárquica, recorre-se mais uma vez a Nave (2006), de forma a compreendermos quais os aspetos fundamentais a avaliar neste tipo de cultura. Aqui o autor considera fundamental a competência de estabelecer e respeitar os limites, as regras e o espaço hierárquico no seio da família, bem como a competência de estabelecer e cumprir papeis. Neste estudo foi observada uma associação negativa dos comportamentos e atitudes sexuais com a Cultura Hierárquica. Tal como referem Dias et al. (2007), existem fatores familiares que podem funcionar como fatores de risco ou proteção para o adolescente, como o ambiente familiar e as relações familiares, a comunicação sobre sexualidade entre pais e filhos, o estilo parental e a supervisão/monitorização parental. A Cultura Hierárquica poderá comparar-se ao estilo educativo autoritário descrito por Baumrind (1966), o qual carateriza os pais que exercem um enorme controlo através de ordens, que não podem ser questionadas e do recurso a medidas punitivas. Este tipo de comportamento parental centra-se num elevado nível de controlo, centrado no poder dos pais (hierárquico), no uso constante de práticas disciplinadoras e de pouco afeto positivo. Deste modo, tal como referem Dias et al. (2007), este estilo parental autoritário ou cultura hierárquica da família, pode ter um efeito adverso, na medida em que a proibição e a imposição de regras muito rígidas podem incentivar comportamentos de risco. Segundo Nave (2006), a Cultura Hierárquica (regras, normas, papeis e limites) contrasta com a Cultura Heurística (autonomia, inovação, criatividade). Este autor defende que é necessário existir um determinado equilíbrio entre ambas para que haja uma funcionalidade familiar, considerando que para “as regras e os papeis se constituam como elemento fundamental é necessário que a autonomia e a criatividade surjam como moderadoras e complementares” (Nave, 2006, p. 107). No presente estudo, a variável que apresenta a maior contribuição para explicar as atitudes e comportamentos sexuais é a Cultura Heurística. Estes resultados podem ser explicados pelo facto de uma maior satisfação familiar poder corresponder, em parte, a um forte investimento da família nas capacidades heurísticas, capacidades estas que facilitam a mudança e a resiliência (Nave, 2006). Estas capacidades apresentam-se deste modo como imprescindíveis para lidar com um filho adolescente, uma vez que a adolescência é um período conturbado, marcado por transformações que ocorrem a nível biológico, psicológico e social, exigindo da família criatividade e adaptação de forma a lidar com as diversas situações. As capacidades heurísticas da família justificam assim que as atitudes sexuais dos adolescentes possam ser mais positivas e equilibradas.

Quando analisado o efeito preditor da família nos comportamentos e atitudes sexuais dos adolescentes, constatamos que os resultados deste estudo vão ao encontro de resultados de estudos realizados anteriormente. Cardoso, Rodrigues, Nelas, e Duarte (2010), num estudo com adolescentes do 9º ano, descobriram que a satisfação com a família era um dos preditores da afetividade, crenças a atitudes face à sexualidade. Noutro estudo, Dias e Rodrigues (2009) concluíram que os preditores da relação entre pais e filhos, na sua globalidade, contribuíam de modo significativo para a atitude sexual do adolescente. Outros autores também reforçam esta ideia quando referem que na formação do indivíduo, a qualidade da relação que a família estabelece, bem como os valores e as atitudes que transmitem, influenciam as atitudes e comportamentos sexuais (Dias et al., 2007; Ferreira et al., 2013; Grossman et al., 2014; Hutchinson et al., 2012; Santos et al., 2010; Schouten et al., 2007; UNESCO, 2009;). Estes resultados podem ser explicados tendo por base o modelo contextual de estilo parental de Darling e Steinberg (1993), segundo os quais, quer o estilo parental quer as práticas parentais possuem um efeito sobre os resultados específicos de desenvolvimento da criança. Consideram-se também as conclusões de Dias et al. (2007), os quais referem que uma relação positiva e uma supervisão parental são fatores importantes que podem contribuir para influenciar de forma positiva, atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes, devendo promover a sua autonomia e autodescoberta.

 

Conclusão

Relativamente ao efeito preditor da Cultura da Família nos comportamentos e atitudes sexuais, verificou-se que as variáveis Cultura das Relações Interpessoais, Cultura Hierárquica e Cultura Heurística predizem significativamente as atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes. Os resultados desta investigação permitem afirmar que existe uma associação positiva das atitudes sexuais com a Cultura das Relações Interpessoais e a Cultura Heurística e a uma associação negativa com a Cultura Hierárquica, sendo a Cultura Heurística a que apresenta a maior contribuição relativa para explicar as atitudes sexuais. A associação positiva existente entre as atitudes sexuais e a Cultura das Relações Interpessoais e a Cultura Heurística corrobora resultados de anteriores estudos em que a família é vista como uma fonte de apoio e suporte, tendo por base uma ótima relação pais-filhos, uma comunicação eficaz e ajuda na resolução de problemas (Baumrind, 1966; Cardoso et al., 2010; Darling & Steinberg, 1993; Dias et al., 2007; Dias & Rodrigues, 2009; Ferreira et al., 2013; Grossman et al., 2014; Hutchinson et al., 2012; Santos et al., 2010; Schouten et al., 2007; UNESCO, 2009). Outros autores ajudam-nos a compreender este efeito preditor explicando a forma como vários fatores familiares influenciam os comportamentos e atitudes sexuais dos adolescentes.

A realização deste estudo permite consciencializar para a importância da implementação de programas e projetos em meio escolar no âmbito da sexualidade, que tem sido da responsabilidade dos enfermeiros, envolvendo não só os adolescentes, mas também os pais e a restante comunidade educativa. O comportamento parental deve ser considerado como um dos fatores essenciais na relação que se estabelece entre pais e filhos, uma vez que os estilos e as práticas parentais adotadas podem determinar as atitudes e os comportamentos dos adolescentes face ao envolvimento em comportamentos de risco. Assim, estes resultados vão permitir que os enfermeiros possam construir e implementar programas de educação sexual em meio escolar mais estruturados, correspondendo às reais necessidades dos adolescentes na escola. Em estudos futuros seria importante averiguar qual a dimensão da cultura familiar que mais se relaciona com práticas saudáveis, sugerindo-se deste modo recorrer a adolescentes mais velhos que têm uma vida sexual mais ativa. Igualmente importante seria averiguar a cultura organizacional da família recorrendo aos pais, uma vez que apenas se considerou neste estudo a perceção dos adolescentes. Deste modo, estudos futuros com outras variáveis e outros intervenientes poderão permitir obter outras informações necessárias para a compreensão das atitudes e comportamentos sexuais dos adolescentes, no sentido de uma planificação mais adequada do trabalho do enfermeiro em contexto escolar.

 

Referências bibliográficas

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Recebido para publicação em: 24.11.14

Aceite para publicação em: 10.03.15

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