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Etnográfica

versão impressa ISSN 0873-6561

Etnográfica vol.21 no.3 Lisboa out. 2017

 

EDITORIAL

 

Parabéns Etnográfica

 

 

João Leal; Miguel Vale de Almeida; Manuela Ivone Cunha

 

 

A Etnográfica nasceu em 1997, no âmbito do Centro de Estudos de Antropologia Social do então ISCTE. A iniciativa coube a um grupo formado – além de mim – por António Medeiros, Filipe Verde, Paulo Valverde e Rosa Maria Perez.[1]

Na fundação da revista desempenhou um papel decisivo Paulo Valverde, que viria a falecer dois anos depois, e que era então um dos elementos mais promissores de uma nova geração de antropólogos portugueses formada nos anos 1980.

A fundação da revista não pode ser desligada do crescente protagonismo dessa geração de antropólogos e da sua vontade de fazer coisas novas, capazes de contribuírem para a dinamização e a consolidação institucional da antropologia em Portugal.

O projeto da revista era ambicioso. O objetivo era ter uma revista semestral que mantivesse regularidade e pontualidade na sua publicação. Procurava-se conseguir alguma alternância entre números temáticos e números mais abertos. Além dos antropólogos baseados no ISCTE, queríamos também publicar textos de antropólogos ligados a outros departamentos portugueses de antropologia. Havia também a preocupação de incluir regularmente colaborações de antropólogos estrangeiros. Foram definidas algumas secções – “Memória”, “Entrevista”, “Interdisciplinaridades”, “Antropologia Visual” – e foi estimulada a publicação de recensões.

A ambição teve de ser gerida com algum realismo. Embora muitos artigos fossem submetidos à revista por iniciativa dos respetivos autores, a maior parte resultava de convites feitos pela Comissão Editorial. O peer-reviewing era irregular. Para alguns artigos eram pedidos pareceres, mas na maior parte dos casos a sua aceitação estava a cargo da Comissão Editorial, que podia sugerir alterações e acrescentos. Estas opções – que eram comuns a outras revistas da época – resultavam de uma aproximação em modo realista à situação portuguesa da época, onde os hábitos de publicação regular começavam apenas a ser implementados e onde o peer-reviewing sistemático era dificultado pela dimensão reduzida da comunidade antropológica.

Foi um trabalho apaixonado e apaixonante. E com resultados. A revista saiu sempre a horas. A diversidade e qualidade dos artigos tornou-se notória e a Etnográfica entrou na década de 2000 como a revista de referência da antropologia portuguesa.

Em 2003, sete anos depois de iniciada a sua publicação, havia que abrir um novo ciclo na vida da Etnográfica. Pessoalmente, estava satisfeito com o ­trabalho realizado, mas estava também um pouco saturado. Acrescia que, a partir desse ano, depois de quase 20 anos no ISCTE, tinha voltado a dar aulas na FCSH/Universidade Nova de Lisboa). Não fazia para mim sentido que fosse alguém da FCSH a dirigir uma revista ligada ao ISCTE (na altura não existia ainda o CRIA…). Continuei na Etnográfica, como membro do seu órgão executivo, mas a revista passou a ter um novo diretor – Miguel Vale de Almeida – e uma nova Comissão Editorial. A Etnográfica adotou um novo grafismo, passou a contar com um Conselho Consultivo Internacional, o peer-reviewing tornou-se sistemático, começaram a ser editados anualmente três números, e a revista está hoje disponível online e encontra-se indexada em várias plataformas internacionais. A Etnográfica renovou-se e, ao renovar-se, consolidou o seu estatuto de revista de referência da antropologia em Portugal.

Vinte anos depois, continua a ser para mim um prazer e um orgulho ter estado ligado aos anos iniciais deste projeto que – agora sob direção de Manuela Ivone Cunha – continua a ser um projeto ganhador. Parabéns à Etnográfica!

JOÃO LEAL

 

 

Quando, em 2004 assumi a direção da Etnográfica, a Comissão Editorial e eu herdámos um projeto consolidado pelo trabalho de João Leal e sua equipa. Tratava-se de uma excelente revista que, todavia, era produzida no âmbito do CEAS – Centro de Estudos de Antropologia Social, do então ISCTE.

À mudança de direção suceder-se-ia a fundação do CRIA – Centro em Rede de Investigação em Antropologia, no qual o CEAS se integrou, juntamente com investigadores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, da Universidade de Coimbra e da Universidade do Minho.

A grande inovação que o CRIA representou – um dos pouquíssimos centros de investigação interuniversitários – coincidiu ainda com transformações substanciais na política científica portuguesa, quer ao nível de critérios de exigência, quer ao nível de critérios de internacionalização.

Respondemos, creio, aos desafios, desde logo constituindo uma Comissão Editorial que representasse os diferentes polos do CRIA, transformando assim a revista num produto do novo centro. Renovámos também o Conselho Consultivo Internacional, de modo a internacionalizá-lo na sua maioria, representando contextos de articulação da antropologia feita em Portugal: a Europa (quer o Reino Unido e a França, quer os contextos supostamente mais marginais aos centros hegemónicos), os Estados Unidos, e os contextos de língua oficial portuguesa, com destaque para o Brasil.[2]

Procedemos a uma total renovação gráfica da revista; instituímos mecanismos de funcionamento do secretariado profissionalizados;[3] assumimos plenamente e publicitámos a possibilidade de publicação em quatro idiomas (português, inglês, castelhano e francês); decidimo-nos sem complexos pela possibilidade de publicação em português segundo as normas portuguesa ou brasileira; e apostámos na expansão da revista para o contexto da América Latina de idioma castelhano, cuja antropologia se encontrava em franca expansão.

Demos também o “salto” para a publicação online, em acesso aberto, sobretudo aderindo – e o CRIA foi pioneiro nesse gesto – às plataformas SciELO (em 2007) e Revues.org (em 2011). Toda esta estratégia resultou numa expansão da visibilidade da revista, que levou à decisão – até hoje legitimada pela realidade – de passar de dois a três números por ano, a partir de 2010. A expansão terá também sido qualitativa, como atestam as classificações nos sistemas Qualis (Capes, Brasil) ou Scimago Journal & Country Rank (SJR), por exemplo, e a crescente aceitação em sistemas de indexação internacionais (Anthropological Index Online; DOAJ; Latindex; Scopus; Web of Science – SciELO Citation Index).

Internacional, contemporânea, aberta, e exigente – é assim que gosto de imaginar poder qualificar a revista que fizemos – diretor, comissão editorial e secretariado – ao longo desses 12 anos.

MIGUEL VALE DE ALMEIDA

 

 

Tal era a sintonia com o projeto lançado pela equipa de João Leal e desenvolvido pela de Miguel Vale de Almeida, que a minha principal preocupação, quando assumi há um par de anos a coordenação da Etnográfica, foi antes de mais a de assegurar a continuidade do legado das anteriores direções, a todos os títulos notável.

Daí que a renovação da Comissão Editorial e a do Conselho Consultivo Internacional levadas a cabo em 2015/2016 se tenham regido menos pelo salutar princípio do refrescamento periódico das equipas – neste caso um refrescamento parcial, dado ter-se procurado preservar parte dos membros da excelente equipa anterior – do que por dois outros propósitos.[4]

O primeiro foi o de refletir de maneira mais próxima não só a linha editorial da revista na sua amplitude temática-teórica e variedade de idiomas – variedade esta agora também presente no website –, mas ainda a sua atual geografia de autores/as, e leitores/as, em especial a destacada expansão que a Etnográfica teve na América Latina, de onde provém parte importante dos textos que recebe.

O segundo propósito da remodelação do Conselho Consultivo Internacional, que conta com 28 novos membros, além dos que transitam do anterior, foi o de acompanhar a própria evolução do perfil editorial da revista, que se pretendeu agora mais aberto a outras áreas disciplinares: por um lado, aberto a propostas de cariz etnográfico vindas de outras ciências sociais, ou que partilhem com as provenientes da antropologia o mesmo engajamento teórico e metodológico com a etnografia; por outro lado, um perfil recetivo a propostas que contribuam para um diálogo interdisciplinar consistente entre a antropologia social e cultural e a primatologia ou a antropologia biológica, agora também áreas do CRIA.

Consolidada como revista de referência, cujos indicadores de qualidade e posicionamento nos sistemas de indexação internacional e classificação de periódicos continuam a registar melhorias de ano para ano, o êxito da Etnográfica reflete-se também no acentuado crescimento do volume de artigos e dossiês recebidos. Contrastando com o panorama inicial lembrado acima por João Leal, quando a maior parte dos artigos resultava de convites feitos pela Comissão Editorial, ao fim de uma década a revista recebia mais de meia centena de propostas por ano, valor que aumentaria para mais do dobro no final da década seguinte. Mesmo tendo passado de dois para três números ao ano, como assinalou Miguel Vale de Almeida, atualmente a revista apenas publica cerca de um quinto dos artigos que lhe são propostos.

O salto no volume de propostas trouxe desafios adicionais à Etnográfica e impôs novos métodos de trabalho à Comissão Editorial. A gestão deste fluxo tornou-se também inevitavelmente mais exigente para o secretariado. Os membros do Conselho Consultivo Internacional passaram a ser mais mobilizados no processo de avaliação de textos e o seu envolvimento tornou-se tanto mais precioso quanto é crescente a dificuldade, partilhada hoje pela generalidade das revistas científicas, em encontrar pareceristas disponíveis para assegurar a avaliação por pares. Em reconhecimento pela generosidade de tal trabalho, este número comemorativo publica os nomes daqueles e daquelas que dedicaram à Etnográfica o seu tempo e esforço no papel de pareceristas na segunda década de vida da revista (2007-2017).

Prestes a concluir o lançamento de toda a coleção online na plataforma OpenEdition Journals (ex-Revues.org), abrangendo assim os números mais recuados, é em registo de festa e em contraponto que a Etnográfica publica fac-símiles das capas de todos os números dos seus primeiros 20 anos.

E, chegada à maturidade, dificilmente haveria melhor forma de festejar o 20.º aniversário da Etnográfica do que convidar investigadores recém-doutorados e pós-doutorados (2015-2016) a propor curtos textos resultantes da sua investigação. A chamada para artigos deste número foi deliberadamente aberta e sem outra orientação que não a da linha editorial da revista e o crivo habitual da revisão por pares. Quis-se dar toda a margem à surpresa e a tendências emergentes não antevistas. O resultado, cremos, não só comemora como renova o espírito pluralista da Etnográfica na sua variedade de idiomas, formatos e perspetivas.

MANUELA IVONE CUNHA

 

 

 

NOTAS

[1] Desse grupo fundador fez ainda parte Catarina Mira, que assumiu o secretariado (no primeiro ano de edição, o secretariado contou também com a colaboração de Ana Cristina Castro, Carlos Pereira, Maria Manuel Quintela e Rita Jerónimo). À primeira Comissão Editorial juntaram-se ainda, em 2001, Luís Quintais e Paulo Raposo.

[2] Em 2004, quando assumi a direção da revista, a Comissão Editorial passou a contar com alguns novos membros: Jean-Yves Durand, Robert Rowland e Susana de Matos Viegas. Em 2010, a equipa foi reforçada com a integração de Emília Margarida Marques, Fernando Florêncio, Maria Cardeira da Silva, Ramon Sarró e Sónia Vespeira de Almeida, a que se juntaram, em 2011-2012, Antonádia Borges, Cristiana Bastos e Susana Narotzky.

[3] O secretariado tinha sido assegurado por Isabel Cardana em 2004 e 2005, sendo assumido por Ruy Llera Blanes entre 2006 e 2008, e por Catarina Mira, novamente, a partir de 2009.

[4] A Comissão Editorial passaria a integrar, como novos membros, Brígida Renoldi, Elizabeth ­Challinor, Humberto Martins e Matilde Córdoba Azcárate.

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