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Etnográfica

versão impressa ISSN 0873-6561

Etnográfica v.12 n.1 Lisboa maio 2008

 

Recorrências antroponímicas lusófonas

 

João de Pina Cabral *

 

A proposta central deste ensaio é que a tradição antroponímica lusófona constitui um fenómeno de regionalidade sociocultural que permite um exercício da comparação contrastiva.  Desde as mudanças que ocorreram no início da Época Moderna, o nome lusófono promove que a pessoa se apresente como tendo “naturalmente” uma presença independente das instâncias de dominação que a criam.  O campo é estruturado por três binómios assimétricos: o binómio nome próprio / sobrenome, que apresenta a pessoa como unitária, enquanto a família assume o aspecto de colectividade; o binómio nome oficial / outros nomes, que posiciona a pessoa como a instância elementar da cidadania e da espiritualidade (a alma); o binómio masculino / feminino, que cria um processo de englobamento do feminino pelo masculino.

Palavras-chave: lusofonia, nomes de pessoa, comparação controlada, dominação.

 

 

Lusophone anthroponymy recurrences

This essay approaches the Lusophone tradition in personal naming as a kind of sociocultural regionality, allowing for subsequent contrastive comparison.  Ever since the changes that took place at the onset of the Modern Era, Lusophone names can be seen to promote the person as possessing a “natural” existence when faced with the primary instances of domination which relate with it.  Three assymetric bynomials structure the field: the opposition between first name and surname, presents the person as unitary when faced with the family which, thus, becomes a collective phenomenon; the opposition between official name versus other names places the person as the building block of citizenship and spirituality (the soul); the opposition masculine/feminine creates a process of encompassment of the later by the former.

Keywords: lusophone, personal names, controlled comparison, domination.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

 

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* Insituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa, Março de 2008 - pina.cabral@ics.ul.pt

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