SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
 número51A utilização das TIC nas empresas portuguesas índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Sociologia, Problemas e Práticas

versão impressa ISSN 0873-6529

Sociologia, Problemas e Práticas  n.51 Oeiras  2006

 

O ginásio. Um panóptico deBentham para o cuidado de si?

Ana Luísa Pereira*

 

Resumo

O ginásio: um panóptico de Bentham para o cuidado de si?

Partindo da ideia de panóptico desenvolvida por Foucault e dos seus trabalhos ulteriores relativos às tecnologias do self, operacionalizou-se uma descrição densa do ginásio de fitness. Neste sentido, pretendeu-se analisar o modo como o espaço do ginásio condiciona os alunos/clientes nas suas práticas corporais. Tal como foi evidenciado pela descrição efectuada, são vários os factores estruturais do ginásio que lhe conferem um estatuto quase de panóptico. Diríamos um panóptico situado, mas que faz parte de toda uma conjectura social e cultural que se impõe em muitos dos campos sociais em que os indivíduos têm que se mover. Por essa mesma razão, encontram necessidade de cuidar de si, de uma forma disciplinada.

Palavras-chave Foucault, panóptico, tecnologias do self, ginásticas de academia.

 

Abstract

The gym: a Bentham’s panopticon for personal care?

Starting out from the Foucault’s idea of the panopticon and his later work relating to technologies of the self, we have operationalized a thick description of the fitness gym. To this end we sought to analyse the way in which the gym space affects learners/clients in their bodily exercises. As the description shows, there are several structural factors in the gym which turn it almost into a panopticon. We might describe it as a panopticon which is situated in a particular place, but which is part of a whole social and cultural conjecture prevalent in many of the social domains in which individuals are required to move. For that very reason, they need to take care of themselves in a disciplined manner.

Key-words Foucault, panopticon, technologies of the self, fitness academies, exercise.

 

Résumé

Le gymnase: un panoptique de Bentham pour prendre soin de soi ?

En partant de l’idée de panoptique développée par Foucault et de ses travaux ultérieurs sur les technologies du self, cet article procède à une description détaillée du gymnase de fitness. Il s’agit d’analyser la manière dont l’espace du gymnase conditionne les élèves/clients dans leurs pratiques corporelles. La description effectuée fait ressortir plusieurs facteurs structuraux du gymnase qui lui confèrent un statut de quasi panoptique. On pourrait dire un panoptique situé, mais qui fait partie d’une conjecture sociale et culturelle qui s’impose dans de nombreux champs sociaux où l’individu doit évoluer. Pour cette raison même, ils éprouvent le besoin de prendre soin d’eux, d’une manière disciplinée.

Mots-clés Foucault, panoptique, technologies du self, gymnastiques d’académie.

 

Resumen

El gimnasio: un panóptico de Bentham para su cuidado?

Partiendo de la idea de panóptico desarrollada por Foucault y de sus trabajos anteriores relativos a las tecnologías del yo, se estableció una descripción consistente del gimnasio de fitness. Se pretendió en este sentido, analizar el modo en como el espacio del gimnasio condiciona a los alumnos/clientes en sus ejercicios. Tal como fue demostrado por la descripción efectuada, son varios los factores estructurales del gimnasio que le confieren un estatuto casi de panóptico. Podemos decir un panóptico específico, pero que forma parte de todo un concepto social y cultural que se impone en muchos campos sociales en los que los individuos se deben mover. Por esta misma razón, encuentran la necesidad de cuidar de sí mismos, de forma disciplinada.

Palabras-clave Foucault, panóptico, tecnologías del self, gimnasios.

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text only available in PDF format.

 

Referências bibliográficas

Bardin, L. (1977), Análise de Conteúdo, Lisboa, Edições 70.         [ Links ]

Barnett, C. (1999), “Culture, government and spaciality: reassessing the ‘Foucault effect’ in cultural-policy studies”, International Journal of Cultural Studies, 2 (3), pp. 369-397.

Baudrillard, J. (1995), A Sociedade de Consumo, Lisboa, Edições 70.

Baudrillard, J. (1996), A Troca Simbólica e a Morte (vol. I), Lisboa, Edições 70.

Bourdieu, P. (1980), Le Sens Pratique, Paris, Les Editions de Minuit.

Burgess, R. (1997), A Pesquisa no Terreno: Uma Introdução, Oeiras, Celta Editora.

Consiglieri, V. (2000), As Significações da Arquitectura: 1920-1990, Lisboa, Editorial Estampa.

Costa, A. F. da (1986), “A pesquisa no terreno em Sociologia”, em A. Santos Silva e J. Madureira Pinto (orgs.), Metodologia das Ciências Sociais, Porto, Edições Afrontamento, pp. 129-148.

Crossley, N. (2004), “The circuit trainer’s habitus: reflexive body techniques and the sociality of the workout”, Body and Society, 10 (1), pp. 37-69.

Dean, M. (2001), “Michel Foucault: ‘a man in danger’”, em G. Ritzer e B. Smart (orgs.), Handbook of Social Theory, Londres, Sage Publications, pp. 324-338.

Duncan, M. (1994), “The politics of women’s body images and practices: Foucault, the panopticon, and shape magazine”, Journal of Sport & Social Issues, 18 (1), pp. 48-65.

Eskes, T., M. Duncan, e E. Miller (1998), “The discourse of empowerment: Foucault, Marcuse, and women’s fitness texts”, Journal of Sport & Social Issues, 22 (3), pp. 317-344.

Featherstone, M. (1991), “The body in consumer culture”, em M. Featherstone, M. Hepworth e B. Turner (orgs.), The Body: Social Process and Cultural Theory, Londres, Sage Publications, pp. 170-196.

Fernandes, A. (1999), Para uma Sociologia da Cultura, Porto, Campo das Letras.

Ferreira, V. (2003), “Atitudes dos jovens portugueses perante o corpo”, em M. Cabral e J. Pais (orgs.), Condutas de Risco, Práticas Culturais e Atitudes Perante o Corpo, Oeiras, Secretaria de Estado da Juventude e Desportos, Celta Editora, pp. 265-366.

Foucault, M. (1975), Surveiller et Punir, Paris, Gallimard.

Foucault, M. (1979), Microfísica del Poder (2.ª ed.), Madrid, La Piqueta.

Foucault, M. (1981), Power/Knowledge: Selected Interviews, 1972-1977, Toronto, Random House.

Foucault, M. (1988), “Technologies of the self”, em L. Martin, H. Gutman e P. Hutton (orgs.), Technologies of the Self: A Seminar with Michel Foucault, Massachusetts, The University of Massachusetts Press, pp. 16-49.

Foucault, M. (1993), “About the beginning of the hermeneutics of the self: two lectures at Darmouth”, Political Theory, 21 (2), pp. 198-227.

Foucault, M. (1994a), História da Sexualidade I: A Vontade de Saber, Lisboa, Relógio d’Água.

Foucault, M. (1994b), História da Sexualidade II: O Uso dos Prazeres, Lisboa, Relógio d’Água.

Foucault, M. (1994c), História da Sexualidade III: O Cuidado de Si, Lisboa, Relógio d’Água.

Frank, A. (1996), “Reconciliatory alchemy: bodies, narratives and power”, Body and Society, II (3), pp. 53-71.

Giddens, A. (1994), Modernidade e Identidade Pessoal, Oeiras, Celta Editora.

Giddens, A. (2000), “Viver numa sociedade pós-tradicional”, em U. Beck, A. Giddens e S. Lash (orgs.), Modernização Reflexiva: Política, Tradição e Estética no Mundo Moderno, Oeiras, Celta Editora, pp. 53-104.

Gomes, R. (2003), “A cultura de consumo do corpo contemporâneo e a queda da educação física escolar: reflexões pouco óbvias”, em Instituto do Desporto de Portugal (org.), O Desporto para Além do Óbvio, Lisboa, Instituto do Desporto de Portugal, pp. 87-99.

Gomes, R. (2005a), “O corpo como lugar de lazer”, em R. Gomes (org.), Os Lugares do Lazer, Lisboa, Instituo do Desporto de Portugal, pp. 105-121.

Gomes, R. (2005b), O Governo da Educação em Portugal, Coimbra, Imprensa da Universidade.

Hall, E. (1994), A Linguagem Silenciosa, Lisboa, Relógio d’Água.

Le Breton, D. (1999), L’Adieu au Corps, Paris, Éditions Métailié.

Lemke, T. (2001), “’The birth of bio-politics’: Michel Foucault’s lecture at the Collège de France on neo-liberal governmentality”, Economy and Society, 30 (2), pp. 190-207.

Maguire, J. (2001), “Fit and flexible: the fitness industry, personal trainers and emotional service labor”, Sociology of Sport Journal, 18, pp. 379-402.

Maguire, J. (2002), “Body lessons: fitness publishing and the cultural production of the fitness consumer”, International Review for Sociology of Sport, 37 (3-4), pp. 449-464.

Markula, P. (2003), “The technologies of the self: sport, feminism, and Foucault”, Sociology of Sport Journal, 20, pp. 87-107.

Marzano-Parisoli, M. (2001), “The contemporary construction of a perfect body image: bodybuilding, exercise addiction, and eating disorders”, Quest, 53, pp. 216-230.

Pereira, A. (2002), “Razões para a prática de ginásticas de academia como actividade de lazer”, RPCD, Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2 (4), pp. 57-63.

Platão (1999), “ Fédon” em Platão, Diálogos III (3.ª ed.), Lisboa, Europa-América, pp. 84-166.

Santos, J. S. (2000), “O espelho e o reflexo: fantasias e perplexidades, I parte”, Brotéria, 151, pp. 165-187.

Sassatelli, R. (1999), “Interaction order and beyond: a field analysis of body culture within fitness gyms”, Body and Society, V (2-3), pp. 227-248.

Shildrick, M., e J. Price (1996), “Breaking the boundaries of the broken body”, Body and Society, II (4), pp. 93-113.

Shilling, C. (1997), The Body and Social Theory (3.ª ed.), Londres, Sage Publications.

Silva, A. S. (1994), Tempos Cruzados: Um Estudo Interpretativo da Cultura Popular, Porto, Edições Afrontamento.

Simmel, G. (1997), Simmel on Culture, D. Frisby e M. Featherstone (orgs.), Londres, Sage Publications.

Spielvogel, L. (2002), “The discipline of space in a Japonese fitness club”, Sociology of Sport Journal, 19, pp. 189-205.

Turner, B. (1996), The Body and Society (2.ª ed.), Londres, Sage Publications.

Vala, J. (1986), “A análise de conteúdo”, em A. Santos Silva e J. Madureira (orgs.), Metodologia das Ciências Sociais, Porto, Edições Afrontamento, pp. 101-128.

Warde, A. (2001), “Intermediação cultural e alteração do gosto: discursos sobre a preparação de alimentos”, em C. Fortuna (org.), Cidade, Cultura e Globalização, Oeiras, Celta Editora, pp. 121-134.

 

*Gabinete de Sociologia do Desporto da Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Doutora em Ciências do Desporto e docente de Sociologia do Desporto na Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Integra a Unidade de Investigação do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto. E-mailanalp@fcdef.up.pt.

 

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons