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Sociologia, Problemas e Práticas

versión impresa ISSN 0873-6529

Sociologia, Problemas e Práticas  n.38 Oeiras mayo 2002

 

GLOBAL YOUTH? YOUNG PEOPLE IN THE TWENTY-FIRST CENTURY

(University of Plymouth, 3-5 Setembro de 2001)

Pedro Abrantes *

Durante três dias, cerca de uma centena de investigadores de ciências sociais, vindos de todo o mundo “ocidental”, estiveram reunidos na pequena e pacata cidade inglesa de Plymouth, com o intuito de discutir abordagens, teorias e metodologias que permitam compreender os jovens de hoje e lançar bases para políticas sustentadas nesta área. O congresso foi organizado pela British Sociological Association e combinou grandes conferências plenárias com pequenos espaços de debate e apresentação de comunicações.

A existência e possível caracterização de uma “juventude global” serviu, ao longo de toda a conferência, como pano de fundo para se conhecer e discutir realidades bem distintas que ora aproximam, ora dividem os jovens nas sociedades contemporâneas. Os novos media (da televisão à internet, passando pelos telemóveis) e os padrões de consumo globais foram avançados como poderosos mecanismos de formação de uma vivência juvenil global, pautada por práticas e identidades semelhantes. Ainda assim, as assimetrias de recursos e a desigualdade nas formas de apropriação e consumo parecem garantir todo um universo de diferenças, mesmo onde aparentemente se observam coincidências.

A actualidade — ou possível reformulação — dos conceitos e teorias dos denominados “estudos subculturais” (nomeadamente, dos realizados em Birmingham nos anos 70 pelo CCCS) constituiu também um dos temas quentes do congresso. Foram assim re-equacionadas questões como a consciência política ou a produção de novas formas contra-culturais. A proposta de um novo quadro de análise, de pendor pós-modernista, avançada por alguns investigadores como David Muggleton, encontrou inúmeras resistências.

Entre os “resistentes”, destaque para Paul Willis, autor da última conferência e que apresentou um quadro renovado, no qual a “imaginação etnográfica” se cruza com uma complexa teoria acerca da tensão entre a reificação/fetichismo provocados pela sociedade de consumo e as possibilidades emancipatórias dos jovens. Por outro lado, Paul Hodkinson e Liza Catan chamaram a atenção para o facto de o desenvolvimento exponencial dos meios de comunicação estar a originar não uma sociedade global homogénea, mas a preservação (ou até, em alguns casos, o isolamento) de pequenos grupos ou subculturas. A desintegração dos referenciais geográficos e a possível formação de fenómenos neotribais foram temas discutidos por outros investigadores, entre os quais Jonathan Epstein, que equacionou a violência global organizada através dos novos média.

Mas se foram vários os focos de debate teórico, a verdade é que este congresso permitiu também o conhecimento e reflexão acerca de variadíssimos contextos, experiências e situações em que os jovens constroem as suas vidas. Debateram-se assim diversos fenómenos, dos quais se destacam: a relação entre o desemprego e a marginalização social (Fred Cartmel); a indústria cool e as suas técnicas de marketing (Christian Bucce); os jovens que viajam pelo mundo integrados em projectos de turismo/voluntariado (K. Simpson); o “pânico moral” em torno da juventude na Eslovénia (Gregor Bulc); a cidadania juvenil e as suas ambiguidades (Jennifer Harvey); a cultura popular dos descendentes de asiáticos na Austrália (Melissa Butcher); a complexa moral sexual dos jovens ingleses (Deborah Chambers e outros); a fragmentação da “cultura de dança” (O’Hagan); a apropriação dos telemóveis pelos jovens coreanos (Kyongwon Yoon); as políticas sociais e a construção das identidades juvenis nos EUA (Najma Nazy’at).

Apesar da aparente dispersão dos temas, todas estas comunicações permitiram equacionar a importância primordial assumida pelas identidades, no contexto juvenil contemporâneo, bem como reflectir acerca dos complexos mecanismos que presidem à sua construção. Constatou-se ainda a actual debilidade das políticas de juventude e consequente necessidade de trabalhar em dialéctica constante com as ciências sociais (às quais se exigiu também uma posição de maior envolvimento e responsabilização), de forma a contribuir mais eficazmente para que os jovens ultrapassem os explosivos desafios com que hoje se confrontam.

Este congresso constituiu assim um fértil espaço de debate entre diversas perspectivas — por entre concepções teóricas, metodologias empíricas e políticas desenvolvidas — sobre a juventude. A diversidade das origens, formações e experiências dos participantes (marcaram presença desde académicos ortodoxos a profissionais de acção social), longe de constranger, promoveu o necessário contacto entre diferentes tradições e entre teoria e acção. Resta acrescentar que o entusiasmo e a informalidade vividos permitiram que os debates e as teias de relacionamento, gerados nos anfiteatros, se estendessem no tempo e no espaço, avançando pelas ruas de Plymouth até aos pubs da doca marítima, onde a noite caía suavemente.


* Pedro Abrantes. E-mail: pedro.abrantes@iscte.pt

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