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Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. vol.19 no.5 Lisboa set. 2012

 

Doença hepática autoimune em Pediatria – comentário

 

Autoimmune liver disease in pediatric patients – review

 

Jorge Amil Dias

Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, Centro Hospitalar S. João, Porto, Portugal

Correio eletrónico:jamildias@zonmail.pt

 

As doenças imunomediadas têm tido um rápido incremento de prevalência e início mais precoce. Várias doenças, que há anos eram descritas como próprias do «adulto jovem», são hoje correntes na prática pediátrica. Esta nova realidade tem várias implicações relevantes para os doentes afetados. Em primeiro lugar, é importante que os médicos se vão adaptando à nova realidade epidemiológica para estabelecer o diagnóstico correto e atempado, evitando perda de tempo e de dinheiro em estudos caros e inúteis que atrasem o diagnóstico correto. Se isto é sempre verdade na prática médica, adquire particular importância quando os recursos financeiros são mais escassos e devem ser corretamente geridos com um aumento da eficácia.

Mas a nova realidade epidemiológica tem outras implicações importantes: ao diagnosticar mais cedo patologias crónicas, cada doente tem uma perspetiva de doença mais prolongada, de maior acumulação de efeitos laterais de medicação continuada e maior probabilidade de complicações da doença. Todos estes aspetos afetam o prognóstico e a qualidade de vida dos novos jovens afetados.

Um problema adicional no tratamento das doenças crónicas identificadas na infância e adolescência consiste na transição para os cuidados de saúde da idade adulta. É sobejamente conhecido que o tipo e o ambiente das consultas pediátricas são substancialmente diferentes dos que os jovens encontram ao passarem para as consultas especializadas de adultos. Essa transição é frequentemente «dolorosa» e pode levar a uma considerável taxa de abandono (em vários estudos atinge os 50%), o que pode ter grande importância no abandono de terapêutica crónica e significativo agravamento da doença de base, especialmente quando esta é assintomática nas fases de remissão.

Todas estas questões justificam que os médicos de cuidados especializados pediátricos e de adultos colaborem ativamente para corretos cuidados de saúde a jovens afetados por doenças crónicas.

A doença hepática autoimune corresponde a um grupo de patologias (hepatite autoimune, colangite esclerosante primária autoimune e hepatite autoimune de novo após transplante) que tem tido aumento de prevalência em pediatria. A hepatite autoimune em crianças pode ter uma evolução particularmente agressiva na ausência de tratamento precoce, pelo que o seu diagnóstico correto tem grande importância.

No presente número do JPG, publica-se uma análise da experiência de 19 anos num centro pediátrico. A natureza retrospetiva deste estudo impede uma completa visão de todos os fatores associados à doença e o respetivo protocolo diagnóstico.

No resultado da pesquisa de autoanticorpos, os autores não distinguem entre a positividade para AMA e SMA por um lado, e LKM-1 por outro, sabendo-se que geralmente são mutuamente exclusivos e permitem classificar os doentes em AIH tipo 1 ou 2, com interesse diagnóstico e estratificação de risco para doença mais agressiva.1 Tratando-se de uma revisão de período prolongado (19 anos), seria também útil fornecer informação sobre o tipo de teste serológico usado pois a variação de resultados no mesmo doente poderá ter correspondido a tipo de teste diferente, já que a consistência de resultados pode depender de fatores técnicos.2

Os autores não proporcionam informação detalhada sobre o protocolo terapêutico e critérios para a suspensão de imunossupressão, o que seria importante pois 6 dos doentes tiveram recaída após o tratamento, como é frequente.

Apesar destas limitações inerentes à natureza retrospetiva da avaliação e o largo período de observação, o artigo tem o mérito de revelar as dificuldades diagnósticas, mesmo num centro com elevada motivação em virtude da experiência acumulada em Hepatologia Pediátrica.

 

Bibliografia

1. Mieli-Vergani G, Vergani D. Autoimmune liver diseases in children - what is different from adulthood? Best Pract Res Clin Gastroenterol. 2011;25:783-95.         [ Links ]

2. Vergani D, Alvarez F, Bianchi FB, Cançado EL, Mackay IR, Manns MP, et al. Liver autoimmune serology: a consensos statement from the committee for autoimmune serology of the International Autoimmune Hepatitis Group. J Hepatol. 2004;41:677-83.         [ Links ]