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Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. vol.19 no.3 Lisboa maio 2012

 

Lipomatose gastroduodenal

 

Gastroduodenal lipomatosis

 

 

Ana Catarina Lagos, Inês Marques e Beatriz Neves

Serviço de Gastrenterologia II, Hospital Pulido Valente (CHLN), Lisboa, Portugal

*Autor para correspondência

 

 

Caso clínico

Os autores apresentam o caso de um doente de 59 anos com antecedentes de obesidade, dislipidémia e diabetes mellitus não insulino-tratada que foi referenciado à Consulta de Gastrenterologia por apresentar na endoscopia digestiva alta, realizada no contexto de investigação de dispepsia, várias formações polipóides sésseis do corpo gástrico e bulbo duodenal com dimensões entre os 5 a 12mm, revestidas por mucosa normal, de cor amarelada e com o «cushion sign» positivo (figs. 1 e 2). Foram realizadas várias biopsias destas lesões que demonstraram mucosa gástrica sem particularidades histológicas. Analiticamente não se registavam alterações. Realizou ecoendoscopia, que revelou que as formações polipóides sésseis correspondiam a lesões arredondadas da submucosa hiperecogénicas, confinadas à parede, sem adenopatias adjacentes, aspeto ecoendoscópico compatível com lipomas (fig. 3). Completou o estudo com tomografia computorizada torácica e abdominal que identificou várias lesões arredondadas da parede gástrica e bulbo duodenal com densidade de gordura, compatíveis com o diagnóstico de lipomas, já estabelecido pela ecoendoscopia (fig. 4). A endoscopia alta de revisão ao fim de um ano demonstrava as lesões descritas anteriormente, sem expressão evolutiva.

 

Figura 1 Várias formações polipóides sésseis do corpo gástrico com dimensões entre os 5 a 10mm revestidas por mucosa normal.

 

Figura 2 Formações polipóides sésseis do bulbo duodenal com dimensões entre os 5 e 12mm revestidas por mucosa normal.

 

Figura 3 Lesão arredondada da submucosa hiperecogénica, confinadas à parede, sugestiva de lipoma.

 

Figura 4 Várias lesões arredondadas da parede gástrica e bulbo duodenal com densidade de gordura.

 

Os lipomas gástricos/intestinais são tumores benignos da submucosa pouco frequentes, correspondendo a menos de 2% das lesões submucosas e raramente têm manifestações clínicas1. A sua apresentação na forma de lipomatose difusa, com mais de 10 lipomas e eventual envolvimento do intestino delgado e cólon é extremamente rara. A endoscopia digestiva alta pode sugerir o diagnóstico, pois os lipomas apresentam-se como lesões polipoides revestidas de mucosa normal, de consistência mole e de cor amarelada, podendo também estar presente o «tenting sign» e o «cushion sign»2. O primeiro consiste em tracionar a mucosa que recobre o lipoma, verificando que esta se destaca facilmente, tal como se verifica nas outras lesões submucosas. O segundo sinal consiste em tocar com uma pinça de biopsia no lipoma, verificando que este se deprime facilmente e retoma rapidamente à sua forma inicial. As biopsias geralmente são inconclusivas, dado localização submucosa dos lipomas. No entanto, é a ecoendoscopia ou tomografia computorizada que permitem alcançar o diagnóstico definitivo. Os lipomas na ecoendoscopia apresentam-se como lesões intensamente hiperecogénica confinadas à 3.a camada. Na tomografia computorizada, os lipomas surgem como lesões com densidade negativa.

Devido à sua natureza benigna e ausência de manifestações clínicas (70% dos casos), não têm habitualmente indicação terapêutica nem obrigam a seguimento ou vigilância3. Os casos sintomáticos geralmente apresentam-se com dor abdominal e, menos frequentemente, hemorragia. Nestes casos, a terapêutica endoscópica poderá ter lugar, nomeadamente a hemóstase e a polipectomia. A polipectomia endoscópica, apesar das suas possíveis complicações, nomeadamente perfuração e hemorragia4, tem sido uma alternativa cada vez mais segura, como se constata em vários estudos publicados na literatura4,5. Um relato recente demonstra o papel da enteroscopia de duplo balão na resolução endoscópica de um caso de intussusceção intestinal por lipomatose do jejuno6.

 

 

Bibliografia

1. Bodas A, Rivilla F. Intestinal lipomatosis in a 10-year-old girl. Eur J Pediatr. 2008;167:601-2.         [ Links ]

2. Rogy MA, Mirza D, Berlakovich G, Winkelbauer F, Rauhs R. Submucous large bowel lipomas: presentation and management Na 18-year study. Eur J Surg. 1991;157:51-5.         [ Links ]

3. Haller JD, Roberts TW. Lipomas of the colon: a clinico-pathologic study of 20 cases. Surgery. 1964;55:773-81.         [ Links ]

4. Bromberg SH, Zampieri JC, Cavalcanti LF, Waisberg J, Barreto E, Godoy AC. Lipomas colorretais: correlac¸ão anatomoclínica de 29 casos. Rev Ass Med Brasil. 1997;43:319-25.         [ Links ]

5. Fukuda S, Yamagata R, Mikami T, Shimoyama T, Sawaya M, Uno Y, et al. Gastric lipoma successfully treated by endoscopic unroofing. Digestive Endoscopy. 2003;5:228-31.         [ Links ]

6. Lee BJ, Park JJ, Joo MK, Kim JH, Yeon JE, Kim JS, et al. A case of small-bowel intussusception caused by intestinal lipomatosis: preoperative diagnosis and reduction of intussusception with double-balloon enteroscopy. Gastrointest Endosc. 2010;71:1329-32.         [ Links ]

 

Conflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

 

*Autor para correspondência

Correio eletrónico:catarina.lagos@gmail.com (A.C. Lagos).

 

Recebido a 24 de março de 2011; aceite a 23 de agosto de 2011