SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.18 número3Apresentação da Doença de Whipple como LinfomaApresentação invulgar de colite associada ao Clostridium difficile índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Jornal Português de Gastrenterologia

versão impressa ISSN 0872-8178

J Port Gastrenterol. v.18 n.3 Lisboa maio 2011

 

Migração de Prótese de Rectopexia

Migration of Rectopexy Prosthesis

 

Liliana Santos1, Jaime Ramos1, João Coimbra1, David Andrade2, Rui Macedo2

1Serviço de Gastrenterologia, 2Serviço de Cirurgia Geral 5 do Hospital Santo António dos Capuchos - Centro Hospitalar de Lisboa Central

Correspondência

 

O prolapso rectal (PR) é uma doença pouco comum em adultos jovens. As manifestações mais frequentes são o prolapso/protrusão per ânus e a obstipação, mas pode estar associado a incontinência anal. Podem coexistir colite quística profunda e síndrome da úlcera solitária do recto (SUSR). A SUSR, a manifestação mais frequente do PR, apresenta úlceras, eritema ou formações polipóides na mucosa rectal, classificando-se macroscopicamente em 3 tipos:ulcerativa (55%), polipóide (24%) e plana (21%)1.

O tratamento consiste numa rectopexia e/ou rectosigmoidectomia, por via abdominal ou perineal. A escolha da abordagem cirúrgica é ditada pela idade do doente e pelas doenças coexistentes.

A rectopexia, laparoscópica ou por laparotomia, obtém melhor resposta funcional e menor taxa de recorrência e é considerada a melhor opção em doentes jovens sem outras doenças.

A rectopexia por via laparoscópica, com uma taxa de sucesso idêntica à da laparotomia, tem a vantagem de reduzir a dor e os dias de hospitalização. O procedimento consiste na fixação do recto ao promontório, efectuada com sutura simples ou com a colocação de prótese. A prótese é utilizada para induzir uma maior reacção inflamatória e formação de tecido cicatricial, com vista a uma maior fixação do recto e redução da recorrência. No entanto, os estudos realizados revelaram uma maior morbilidade associada a este procedimento, nomeadamente a infecção da prótese, formação de estenoses, fístulas ou migração para o recto (7% dos casos), não se tendo constatado diminuição da recorrência. O tratamento preferencial destas complicações consiste na remoção da prótese, por laparotomia ou por via anal2,3.

Apresentamos uma doente, sexo feminino, 26 anos de idade, caucasiana, com quadro com 5 anos de evolução caracterizado por prolapso anal,proctorreia, incontinência anal, rectorragias e dor no hipogastro. Três anos antes tinha sido submetida a cirurgia por prolapso rectal por via anal, sem melhoria. Sem outros dados anamnésicos, nomeadamente actividade sexual.

Ao exame proctológico apresentava proctorreia abundante, fétida e prolapso rectal. A rectosigmoidoscopia mostrou múltiplas formações polipóides no recto (Fig. 1 e 2). Asserologias para Clamydiaspp, VIH (1 + 2), Herpes Simplex (1 + 2), VDRL e TPHA foram negativas. O exame parasitológico e bacteriológico das fezes, do exudado anal e vaginal também se revelaram negativos.

 

Fig. 1. Exame proctológico que revela a presença de múltiplos nódulos no recto. 1a – canal anal proximal; 1b – anel anorectal e rectoproximal; 1c – recto proximal.

 

Fig. 2. Prolapso rectal evidenciado durante a realização de rectosigmoidoscopia, após manobra de Valsalva.

 

O estudo histológico da biopsia rectal foi compatível com colite infecciosa e pólipos inflamatórios (Fig. 3).

 

Fig. 3. Exame histológico (Hematoxilina & Eosina) dos nódulos do recto que mostra aspectos de colite infecciosa (3a) e pólipo inflamatório (3b).

 

Fez terapêutica com cefuroxime e metronidazol oral, associado a metronidazol e budesonido tópicos, tendo-se verificado significativa redução do volume da proctorreia. Posteriormente, foi submetida a ressecção anterior recto-sigmoideia, rectopexia com colocação de prótese depolipropileno e transversostomia provisória, tendo ficado assintomática. Nove meses depois, foi encerrada acolostomia tendo permanecido sem recidiva das queixas. No entanto, 3 meses depois, inicia queixas de tenesmo e falsas vontades, tendo realizada nova rectosigmoidoscopia, que mostrou migração parcial da prótese de polipropileno para o recto (Fig. 4). Foi submetida alaparotomia com remoção da prótese. Dois anos após a cirurgia, permanece assintomática sem evidência de prolapso rectoanal.

 

Fig. 4.Rectosigmoidoscopia realizada três meses após a cirurgia, que mostra migração para o recto de prótese de polipropileno colocada aquando da realização de rectopexia.

 

 

REFERÊNCIAS

1. Brosens LA,Montgomery EA, Bhagavan BS, etal.Mucosal prolapse syndrome presenting as rectal polyposis. J ClinPathol 2009;62:1034-1036.        [ Links ]

2.Madiba TE, Baig MK,Wexner SD. Surgical management of rectalprolapse. Arch Surg 2005;140:63-73.        [ Links ]

3. Tou S, Brown SR, Malik AIrqam, et al. Surgery for complete rectal prolapse in adults. Cochrane Database of Systematic Reviews 2008, Issue 4. Art. No.: CD001758. DOI: 10.1002/14651858.CD001758.pub2.        [ Links ]

 

Correspondência: Liliana Santos, Alameda Santo António dos Capuchos, 1150-199 Lisboa - Portugal; Telefone: +351 213 136 300; E-mail: llilibrazao@gmail.com

 

Recebido para publicação: 29/04/2010 e Aceite para publicação: 15/11/2010.