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Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.27 no.4 Lisboa Dec. 2020

https://doi.org/10.24950/PV/6/19/4/2020 

PONTOS DE VISTA / POINTS OF VIEW

 

Cancer Network for Welfare Aging (NEWAYS): Estratégias para Otimizar os Cuidados ao Doente Idoso com Cancro

Cancer Network for Welfare Aging (NEWAYS): Strategies for Optimizing the Care of Elderly Patients with Cancer

 

Francisco Luís Pimentel1
https://orcid.org/0000-0001-5993-5132

Manuel Veríssimo3,4
https://orcid.org/0000-0002-2793-2129

Carlos Oliveira5
https://orcid.org/0000-0001-7446-8026

Jorge Soares6
https://orcid.org/00000003380489OX

Gabriela Sousa7
https://orcid.org/0000-0002-1563-5522

Paula Martinho da Silva8
https://orcid.org/0000-0001-5705-3689

Manuel Villaverde Cabral9
https://orcid.org/0000-0003-4679-5569

Pedro Lopes Ferreira2,10
https://orcid.org/0000-0002-9448-9542

1Blueclinical Phase I, Porto, Portugal

2Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade De Coimbra; Coimbra, Portugal

3Núcleo de Geriatria da Sociedade Portuguesa De Medicina Interna, Lisboa, Portugal

4Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal

5Liga Portuguesa Contra O Cancro, Lisboa, Portugal

6Faculdade de Medicina de Lisboa, Lisboa, Portugal

7Instituto Português Oncologia De Coimbra Francisco Gentil EPE, Coimbra, Portugal

8Advocacia

9Instituto De Ciências Sociais Da Universidade De Lisboa, Lisboa, Portugal

10Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal

 

Resumo:

O projeto NEWAYS − Cancer Network for Welfare Aging pretendeu criar uma consciência nacional para o problema da Oncologia Geriátrica em Portugal. Para isso, propôs-se definir estratégias de atuação em quatro áreas preponderantes dos cuidados ao doente idoso com cancro, que fomentassem a sua otimização e promovessem o desenvolvimento de políticas em Oncologia Geriátrica em Portugal: clínica, economia e políticas de saúde, investigação epidemiológica e social e outras áreas de atuação (literacia em saúde, tecnologias de informação para os doentes, questões éticas, patient advocacy e awareness). Após um consenso alargado entre os especialistas que constituíram a network que alavancou este projeto, apresentam-se agora as linhas de atuação propostas.

Palavras-chave: Geriatria; Idoso; Neoplasias; Portugal; Serviços de Saúde para Idosos.

 

Abstract:

The project NEWAYS − Cancer Network for Welfare Aging aimed to raise national awareness for Geriatric Oncology issue in Portugal. To do so, it set todefine strategiccourses of action in four preponderant areas in the care of elderly with cancer, in order to foster its optimization and promote the development of Geriatric Oncology policies in Portugal: clinic, economics and health policy, epidemiologic and social investigation and other areas (health literacy, patient-oriented information technologies, ethics, patient advocacy andawareness). After awide consensus amongst the group of experts who composed the network that leveraged this project, the proposed courses of action are now presented.

Keywords: Aged; Geriatrics; Health Services for the Aged; Portugal; Neoplasms.

 

Introdução

O projeto NEWAYS − Cancer Network for Welfare Aging pretendeu criar uma consciência nacional para o problema da Oncologia Geriátrica em Portugal.1 Após um consenso alargado entre os especialistas que constituíram a network que alavancou este projeto, propõem-se as seguintes linhas de ação para a melhoria dos cuidados ao doente idoso com cancro em Portugal:

 

Clínica

a) Implementar a realização de uma avaliação geriátrica sistemática, que respeite as seguintes linhas de atuação sequenciais, prévias à decisão terapêutica:

• Realização de uma “triagem” inicial dos doentes, aplicada de uma forma sistemática a todos os doentes oncológicos com >65 anos de idade e a todos os doentes hematológicos com >75 anos de idade (de acordo com a International Society of Geriatric Oncology - SIOG).

• Aplicação dos seguintes instrumentos de avaliação: questionário G8, instrumentos de avaliação cognitiva [e.g. Montreal Cognitive Assessment (MoCA),já validado para população portuguesa2,3] e escalas de índices de comorbilidades. O questionário G8 avalia vários parâmetros do doente e direciona aqueles com pontuação ≤14 para a Avaliação Geriátrica Compreensiva (AGC). Ainda não se encontra validado para a população portuguesa.4-6

• Realização da AGC aos doentes previamente identificados, como base para um plano de cuidados capaz de responder aos problemas encontrados.

Esta avaliação requererá o envolvimento de equipas de enfermagem, Farmácia Hospitalar (intervindo na polifarmácia e adesão à terapêutica) e outros profissionais de saúde (assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos).

b) Promover um envolvimento crescente dos profissionais de saúde nesta área, através de:

• Implementação de treino prático para a aplicação dos instrumentos de avaliação geriátrica e registo dos seus resultados, realizando sessões presenciais no hospital, com equipas multiprofissionais, e desenvolvendo ferramentas de e-learning.

• Formação sobre a importância da Oncologia Geriátrica na melhoria dos cuidados de saúde a uma população crescente, através de:

- Sociedades científicas, promovendo a realização de cursos e workshops sobre o tema (SPO-Sociedade Portuguesa de Oncologia, SPH-Sociedade Portuguesa de Hematologia, SPRO-Sociedade Portuguesa de Radioterapia e Oncologia, SPC-Sociedade Portuguesa de Cirurgia, SPMI-Sociedade Portuguesade Medicina Interna, APMGF-Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar).

- Realização de um Simpósio Nacional de Oncogeriatria, com o apoio das várias Sociedades médicas nacionais e do SIOG.

• Inclusão da formação em Oncologia Geriátrica no currículo dos cursos de Medicina.

• Promoção do tema junto da opinião pública e media para sensibilização da população em geral.

c) Otimizar os cuidados paliativos nacionais, através de uma ação concertada das estruturas de decisão e dos prestadores de cuidados.

 

Economia e políticas de saúde

a) Criar a figurade gestor/provedor do doente (preferencialmente, o médico de família), que coordene as várias prescrições que o doente recebe por parte de diferentes profissionais de saúde em diversos níveis de cuidados.

b) Desenvolver estudos com o objetivo de fazer um levantamento das necessidades (formativas, de reabilitação, hospiciais, de cuidadores, apoio social/legal, etc.)de (i)doentes oncológicos idosos, (ii) cuidadores informais e (iii) instituições de saúde.

c) Promover a literacia em Oncologia Geriátrica junto de profissionais de saúde, doentes e decisores políticos da saúde, promovendo uma melhor capacitação dos mesmos e decisões mais efetivas.

d) Avaliar a experiência e satisfação dos doentes oncológicos idosos relativamente aos cuidados que lhes são prestados, incluindo a monitorização das expetativas e satisfação com o tratamento, o impacto do estado de saúde e do tratamento na qualidade de vida e a análise de eventuais assimetrias e iniquidades.

e) Incentivar a investigação e desenvolvimento de instrumentos de medição de resultados em saúde e a elaboração de modelos preditivos baseados, não só na idade, como em fatores referentes ao diagnóstico precoce, existência ou não de prevenção, entre outros. Isto inclui a validação de instrumentos de medição em saúde e a sua adaptação para a nossa língua e cultura.

f)  Desenvolver e implementar a medição sistemática da qualidade de vida na população idosa, através da recolha de medidas de resultados reportados pelos doentes (PROs) que permitam conhecer o estado de saúde percebido pelo próprio e seu impacto na qualidade de vida e que, juntamente com outros indicadores clínicos tradicionais, permitam construir indicadores do benefício dos doentes e da sua qualidade de vida relacionada com a saúde.

 

Investigação epidemiológica e social

a) Extrair informação sobre incidência de cancro − nomeadamente no doente idoso − em Portugal do Registo Oncológico Nacional (RON) e de outras fontes, como a International Agency for Research on Cancer (IARC), permitindo um melhor conhecimento sobre os padrões de distribuição da doença oncológica no país.

b) Extrair informação sobre literacia em saúde e, em particular, literacia em cancro, em Portugal através da base de dados europeia SHARE (Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe).

c) Registar a prevalência de neoplasias e as características sociológicas dos doentes oncológicos atuais e dos sobreviventes de cancro, por faixa etária, nos “Inquéritos Nacionais de Saúde” promovidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

d)  Incorporar indicadores sociológicos na  avaliação  do doente oncológico geriátrico, registando-os e equacionando-os nos processos de decisão dos cuidados a prestar. Os indicadores sociológicos que vierem a demonstrar ter poder preditivo de resultados em saúde devem ser incorporados no RON.

e) Desenvolver estudos para prever as necessidades de cuidados sociais no país (ex. por NUT, concelho, etc.), atual e futuramente, incluindo as necessidadesdos sobreviventes idosos.

f) Desenvolver um instrumento que estabeleçaa probabilidade de sobrevivência dos doentes, por grupos estratificados com base em avaliações geriátricas (ex.: CGA).

g) Integrar pessoas com formação sociológica (além de psicólogos e gerontólogos) nas equipas responsáveis pela elaboração dos formulários de REGISTO em Oncologia Geriátrica.

h) Perpetuar a colaboração NEWAYS através de projetos de investigação, endereçando propostas de financiamento a patrocinadores e entidades governamentais (e.g. Fundação para a Ciência e Tecnologia).

i) Criar coortes prospetivas de avaliação de indicadores sociológicos através de fundos como Horizonte 2030 ou Fundação Calouste Gulbenkian.

 

Outras áreas de atuação

a) Efetuar um diagnóstico do que já foi feito pelos media nacionais na mediatização da doença oncológica, ponderando renovados modos de relatar a doença, especificamente dirigidos ao idoso.

b) Diminuir a complexidade do sistema de cuidados de saúde e sociais, facilitando a sua compreensão e acesso pelos cidadãos em geral, e pelos doentes idosos em particular.

c) Diversificar as estratégias, modos de comunicação e de informação, adaptando-as aos diferentes níveis de literacia em saúde presentes na sociedade portuguesa, considerando formas de comunicação adequadas às populações mais idosas e doentes com cancro.

d) Apoiar iniciativas que melhorem a literacia em saúde nos grupos mais idosos da sociedade portuguesa,quer através dos profissionaisde saúde, quer da televisão (através da ficção televisiva, nomeadamente telenovelas, algo já testado e desenvolvido em vários países, como a América Latina e mesmo em Portugal).

e) Criar programas de literacia no âmbito do diagnóstico e tratamento do cancro dirigidos aos idosos, destacando: a divulgação dos sinais de alarme de cancro com o objetivo do diagnóstico mais precoce possível; noções sobre os métodos de diagnóstico mais frequentes, suas vantagens e inconvenientes; e noções sobre os tratamentos mais frequentes e alternativas terapêuticas.

f) Facilitar o direito a uma segunda opinião.

g) Promover a intervenção dos movimentos de entre ajuda.

h) Disponibilizar apoio jurídico, psicológico e social aos doentes.

i) Promover os cuidados centrados no doente, com articulação entre os prestadores e definição de uma redede cuidados em Oncologia.

j) Melhorar os sistemas informáticos de apoio às consultas, disponibilizando ao médico e doente mais tempo para o diálogo epara o fomento da sua boa relação.

k) Integrar na formação dos prestadores de cuidados de saúde os princípios de patient advocacy.

l) Divulgar os princípios de patient advocacy junto dos cidadãos.

m) Desenvolver, por parte dos prestadores de cuidados, normas para ajudar à prevenção do erro médico.

n) Adequar os meios tradicionais de participação do doente na investigação em doenças oncológicas ao grupo etário, designadamente a linguagem.

o) Promover a sensibilização dos profissionais de saúde para a recusa em receber tratamento.

Espera-se que este documento se traduza na implementação de linhas de atuação e políticas em Oncologia Geriátrica e fomente a consciencialização da sociedade civil para a importância de melhorar a qualidade de vida do doente idoso com cancro.

 

Agradecimentos

Os autores agradecem a participação neste trabalho dos seguintes elementos que colaboraram em cada uma das respetivas áreas de atuação:

Clínica – Ângelo Oliveira, António Feio, Deolinda Pereira, Elizabete Valério, Hélder Mansinho, João Raposo, José Eduardo Guimarães, Luísa Carvalho, Paulo Costa

Economia e políticas de saúde – João Oliveira Malva, Lara Noronha Ferreira, Manuel Caldas de Almeida, Nuno Miranda

Investigação epidemiológica e social – António Moreira, António Parreira, Maria Luís Rocha Pinto, Pedro Alcântara da Silva

Outras áreas de atuação – Ana Sofia Carvalho, Ana Paula Martins, Felisbela Lopes, Leonor David, Rita Espanha, Sofia Crisóstomo

Agradecem ainda a Joana Cavaco Silva pela assistência de Medical Writing.

 

REFERÊNCIAS

1.     Pimentel FL, Oliveira C, Soares J, Veríssimo M. Neways: Cancer Network for Welfare Aging. Acta Med Port. 2016; 29: 235–6.

2.     Freitas S, Simões MR, Martins C, Vilar M, Santana I. Estudos de adaptação do Montreal Cognitive Assessment (MoCA) para a população portuguesa. Avaliação Psicológica. 2010; 9: 345–7.

3.     Freitas S, Simões MR, Santana I, Martins C, Nasreddine Z. Montreal Cognitive Assessment – Versão portuguesa. Coimbra: a Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental, Universidade de Coimbra; 2013. [consultado Jan 2019] Disponível em: https://www.uc.pt/en/fpce/research/CINEICC/digital_library/Montreal_Cognitive_Assessmen.

4.     Helwick C. Yoga, Geriatric Assessment, and Nausea/Vomiting Addressed in Session on Supportive Care and Survivorship Issues. ASCO Post. 2011. [consultado Jan 2019] Disponível em: http://www.ascopost.com/issues/october-15-2011/yoga-geriatric-assessment-and-nauseavomiting-addres-sed-in-session-on-supportive-care-and-survivorship-issues/.         [ Links ]

5.     Soubeyran P. Validation of the G8 screening tool in geriatric oncology: the ONCODAGE project. J Clin Oncol. 2011; 29: 9001. doi: 10.1200/jco.2011.29.15        [ Links ]

6.     Soubeyran P, Bellera C, Goyard J, Heitz D, Curé H, Rousselot H, et al. Screening for Vulnerability in Older Cancer Patients:  The  ONCODAGE Prospective Multicenter Cohort Study. PLoS One. 2014; 9: e115060. doi: 10.1371/journal.pone.0115060.         [ Links ]

 

Responsabilidades Éticas

Conflitos de Interesse: Os autores declaram a inexistência de conflitos de interesse na realização do presente trabalho.

Fontes de Financiamento: Não existiram fontes externas de financiamento para a realização deste artigo.

Proveniência e Revisão por Pares: Não comissionado; revisão externa por pares.

 

Ethical Disclosures

Conflicts of interest: The authors have no conflicts of interest to declare.

Financing Support: This work has not received any contribution, grant or scholarship Provenance and Peer Review: Not commissioned; externally peer re-viewed.

 

© Autor (es) (ou seu (s) empregador (es)) e Revista SPMI 2020. Reutilização permitida de acordo com BY-NC. Nenhuma reutilização comercial.

© Author(s) (or their employer(s)) and SPMI Journal 2020. Re-use permitted under CC BY-NC. No commercial re-use.

 

Correspondence / Correspondência:

Francisco Luís Pimentel – fpimentel@blueclinical.pt

BlueClinical, Ltd.

Avenida Villagarcia de Arosa, Nº 1919, 1º, 4460-439 Senhora da Hora, Matosinhos, Portugal

 

Received / Recebido: 21/01/2020

Accepted / Aceite: 03/03/2020

 

Publicado/ Published: 18 de Dezembro de 2020

 

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