SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.27 issue4Certification of Internists in Specific Areas of Knowledge: Reasons for Doing So author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Journal

Article

Indicators

Related links

  • Have no similar articlesSimilars in SciELO

Share


Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.27 no.4 Lisboa Dec. 2020

https://doi.org/10.24950/Editorial/4/2020 

EDITORIAL / EDITORIAL

 

"Valorizar a Investigação em Medicina Interna

Valuing Research in Internal Medicine

 

Filipa Malheiro,1,2
https://orcid.org/0000-0003-0664-2576

1 Membro do Conselho Editorial, Revista Portuguesa de Medicina Interna, Lisboa, Portugal

2 Serviço de Medicina Interna, Hospital da Luz, Lisboa, Portugal

 

Os projetos de investigação começados por iniciativa do investigador em geral procuram responder a questões colocadas pelos clínicos no seu dia-a-dia. Estas questões devem ser abordadas com uma metodologia robusta, sob orientação ética e científica rigorosas, submetidas por um investigador motivado, com apoio institucional e financiamento por entidade que reconheça o valor da investigação, idealmente com integração numa equipa de apoio.

O Internista ao acompanhar a generalidade dos doentes internados tem a possibilidade de contactar com inúmeras patologias e situações diversas que requerem solução. Esta realidadetorna-sevalorao facilitar a colocação de questões que permitirão iniciar e concretizar alguma investigação clínica e eventualmente translacional.

A investigação translacional é muitas vezes conceptualizada como unidirecional, querendo isto dizer que uma ideia ge- rada por um grupo de investigadores de laboratório é depois ensaiada, provada e aplicada na prática clínica.1 Este papel é desempenhado pelo “médico-cientista” que trabalha quer no “laboratório”, quer em investigação clínica, incluindo ensaios clínicos. De forma mais rara o clínico ao ter a oportunidade de contactar, diagnosticar e tratar com múltiplos doentes e suas patologias pode ainda de forma relevante levantar questões que possam ser abordadas no “laboratório”. Isto permite, assim, que esta relação se torne bidirecional e que haja um fluxo facilitado de informação e trabalho conjunto para solução de problemas concretos. Esta relação bidirecional permitirá ainda enriquecimento mútuo em termos de competências sendo comuns a curiosidade científica e metodologias rigorosas.

É sabido que o ambiente onde se insere a prática clínica é fundamental para o estímulo à investigação, estando facilitada nos ambientes universitários.2 Este ambiente tem, entre outras características, a possibilidadede fomentar a curiosidade científica, absolutamente necessária à investigação, assim como a estrutura para agilizar e ajudar a concretizar os projetos ambicionados.

A Medicina Interna desempenha um papel fundamental nas Faculdades de Medicina através da transmissão de conhecimento e na formação pré-graduada com treino da História Clínica, raciocínio clínico e terapêutico. O trabalho dos Internistas, novamente dado o seu contacto com grande variedade de doentes e suas comorbilidades, permite ainda investigação clínica na aérea da epidemiologia, análises de custo-benefício e avaliação crítica de métodos diagnósticos e terapêuticos.3

É, portanto, evidente que a Medicina Interna deve participar de forma crescente e ativa no meio académico, através da elaboração daestrutura curricular pré-graduada, beneficiando também nesta sequência do referido ambiente facilitador da investigação.

As experiências de investigação vividas pelos internos têm sido apontadas como benéficas e importantes, incluindo a influência direta na sua prática clínica e no gosto e interesse pela formação continua ao longo da carreira profissional. Os projetos de investigação são igualmente referidos como uma parte importante do internato médico.4

Em Portugal, no Programa de formação do internato médico da área profissional de especialização de Medicina Interna é sugerida a aquisição de competências na elaboração e execução de projetos de investigação.5

Vários motivos têm sido apresentados pelos internos para iniciar projetos de investigação tais como curiosidade intelectual e obrigatoriedade para o fazer no ambiente/serviço onde estão inseridos.4

São apontados como obstáculos a falta de tempo, falta de conhecimento e formação nos passos necessários para a investigação em geral, falta de experiência prévia em projetos de investigação efalta de financiamento.6 São sugeridos como facilitadores do sucesso o apoio de um orientador, a reserva de tempo disponível para o projeto,o seguimento de uma timeline e a escolha dum tema que seja do interesse do interno.4

A Medicina Interna, e a sua participação no meio académico, pode ter um papel fundamental na investigação científica que deve ser cada vez mais incentivado. Neste contexto foi criado pela Sociedade Portuguesa de Medicina Interna o centro de Ensino e Investigação em Medicina Interna (EIMI) que pretende refletir e facilitar a concretização de projetos na área da Medicina Interna bem com incentivar e apoiar a maior intervenção dos Internistas no meio académico. Destaco como iniciativasa atribuição de uma bolsa de investigação anual e a consultoria para instituição de projetos de investigação, entre outras atividades.

A investigação é fundamental como satisfação do desejo de conhecimento, resolução de problemas práticos, mas também como forma de investimento,criando valor culturale económico, olhando o futuro através do ensino, treino e desenvolvimento do próprio investigador, mas também da equipa e ambiente em que está inserido. A investigação científica na área da Medicina terá assim a possibilidade de constituir uma mais valia nacional e internacional.

 

REFERÊNCIAS

1.     Peter Hunt, The Clinical-Translational Physian-Scientist: translating bedside to bench, J Infect Dis. 2018;218(suppl_1): S12-S15.         [ Links ]

2.     Monteiro ME. Ensaios clínicos académicos. Rev Port Cir. 2013;2:69-74.         [ Links ]

3.     Follath F. Die Innere Medizin in akademischen Zentren: Wie weiter? Schweiz Med Wochenschr. 1999;129:1857-63.         [ Links ]

4.     Rivera JA, Levine RB, Wright SM. Completing a scholarly project during residency training. Perspectives of residents who have been successful. J Gen InternMed. 2005;20:366-9. doi: 10.1111/j.1525-1497.2005.04157.x.         [ Links ]

5.     Diário da República, 1.ª série — N.º 149 — 3 de Agosto de 2010

6.     Brown AM, Chipps TM, Gebretsadik T, Ware LB, Islam JY, Finck LR, et al. Training the next generation of physician researchers - Vanderbilt Medical Scholars Program. BMC Med Educ. 2018;18:5. doi: 10.1186/s12909-017-1103-0.         [ Links ]

 

Publicado / Published: 18 de Dezembro de 2020

 

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License