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Medicina Interna

Print version ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.27 no.3 Lisboa July 2020

https://doi.org/10.24950/Editorial/3/2020 

EDITORIAL / EDITORIAL

 

"…Não é possível saber tudo na medicina, e certamente não é possível agora numa pandemia. A informação está a mudar rapidamente."1

“…it's not possible to know everything in medicine, and it's certainly not possible right now in a pandemic. Information is rapidly changing.”1

 

Patrícia Dias1,2
https://orcid.org/0000-0002-1158-5417

1Membro do Conselho Editorial, Revista Portuguesa de Medicina Interna, Lisboa, Portugal

2Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal

 

Em Medicina  em  geral, e particularmente no caso da Medicina Interna, os médicos têm a sensação de que é necessário ser omnisciente e omnipresente para ser competente. A prática clínica é assim, frequentemente, geradora de ansiedade e frustração, principalmente quando o tempo não chega para todas as solicitações, nomeadamente para nos mantermos atualizados ao mesmo tempo que trabalhamos em várias frentes na assistência aos doentes, na formação, na investigação.

Em tempo de pandemia esta sensação acentua-se, num cenário de instabilidade constante: a informação nova é praticamente diária, as recomendações variam frequentemente, as normas vão sendo elaboradas ao sabor da ciência e da (in)experiência, a forma de trabalhar foge da rotina. A assistência, quer seja na consulta externa, na urgência, no internamento está condicionada pelo estado de pandemia. Em algumas circunstâncias torna-se necessário trocar o contacto direto, com o insight que a linguagem não-verbal proporciona, pela teleconsulta. O trabalho em equipa, com discussão e partilha de opiniões, principalmente nos casos mais complexos, é dificultado pela cessação das reuniões presenciais, pelo desfasamento de horários, e pela redução do número de profissionais no mesmo espaço. É-nos exigida flexibilidade, conhecimento, disponibilidade, entrega.

No entanto, fazemos um esforço de adaptação e tentamos transformar os desafios em oportunidades.

A teleconsulta, e a telemedicina em geral, podem ajudar a desenvolver capacidades de decisão, e a selecionar as situações em que é absolutamente necessário ou desejável uma avaliação presencial e as que podem ter uma abordagem alternativa, mantendo uma relação benefício/segurança favorável.

As tecnologias digitais ao nosso dispor permitem manter o contacto com os pares, com os orientadores/orientandos, com os professores/alunos, de uma forma que, há alguns anos, não seria possível. Da mesma forma que, do ponto de vista social, distanciamento físico já não significa isolamento, do ponto de vista das relações laborais e interpares podemos permanecer conectados, discutir, partilhar e, eventualmente, até aproveitar para dispor do nosso tempo de forma mais eficiente.

O acesso à informação é fácil e rápido. Difícil é gerir e triar essa informação. As mudanças recentes na publicação científica relativa a investigação em COVID-19, com um aumento do volume e do débito de informação publicada, muito rapidamente e em open-access, levantam questões sobre quantidade versus qualidade da informação, e geram ambivalência na sua interpretação: É melhor alguma ciênciado que nenhuma ciência? Má ciência é melhor ou pior do que nenhuma ciência? Até ser possível haver Medicina Baseada em Boa Evidência, é preciso estabelecer limites razoáveis do que podemos aprender, interiorizar e reter, de modo a utilizar na prática de forma eficiente.

A simplificação da informação facilita a sua comunicação. Apesar dos riscos inerentes à redução de matérias complexas e ainda não totalmente esclarecidas a linhas de orientação curtas,  o  estabelecimento de canais dedicados de comunicação clara e atualizada e a elaboração de protocolos bem definidos, por parte das instituições e das sociedades científicas, pode ajudar a gerir a ansiedade e a organizar o trabalho. No dia-a-dia, é importante sentirmos que não estamos sozinhos.

Por fim, e, voltando ao início, não é possível saber tudo e estar em todo o lado. É preciso identificar e reconhecer aquilo que conseguimos e o que não conseguimos controlar, e adaptar as nossas expectativas à realidade.

 

REFERÊNCIAS

1.      Barrett E, Poorman E. COVID-19: Practical Advice and Support from Internists on the Front Lines. ACP Leadership Academy Webinars. [acedido Julho 2020] Disponível em: https://www.acponline.org/meetings-courses/acp-courses-recordings/acp-leadership-academy/acp-leadership-acade-my-medical-webinars/covid-19-practical-advice-and-support-from-internists-on-the-front-lines        [ Links ]

 

Publicado / Published: 28 de Setembro de 2020

 

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