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Medicina Interna

versão impressa ISSN 0872-671X

Medicina Interna vol.26 no.1 Lisboa mar. 2019

https://doi.org/10.24950/rspmi/PP/1/2019 

PÁGINA DO PRESIDENTE / PRESIDENT PAGE

Comunicação Fácil entre a Medicina Interna e a Medicina Geral e Familiar

Easy Communication Between Internal Medicine and General and Family Medicine

 

João Araújo Correia
https://orcid.org/0000-0002-6742-3900

 

Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna

 

É preciso que saibamos valorizar aquilo que nos distingue para melhor.

Os Países do Norte da Europa embarcaram numa ideia americana antiga, de que o sistema de saúde seria mais eficiente com o mesmo doente a passar por vários especialistas de órgão, e quase “implodiram” a Medicina Interna.

Os norte Americanos, que não se importam de reconhecer e corrigir os erros, para além de saberem ponderar a relação entre os custos e a qualidade assistencial prestada, aperceberam-se nos anos 90 de que era preciso ter um médico como gestor do doente no hospital, que não podia ser o generalista do ambulatório. Assim, nasceram os Hospitalistas, cujo crescimento tem sido exponencial, sendo já 55 000 em 2016, presentes em 75% dos Hospitais dos EUA (Watcher R, Goldman NEJM, 2016;375:1011-13).

Nos Países do Sul da Europa, em que Espanha e Portugal são bons exemplos, a Medicina Interna (MI) assume-se como a base confiável do sistema de saúde no Hospital, tanto no número de profissionais, como nas funções que lhe são atribuídas. Em Portugal, no ano de 2018, há 2600 Especialistas de Medicina Interna inscritos na Ordem dos Médicos, que correspondem a 13% dos especialistas hospitalares, e encontram-se cerca de 1000 Internos em formação.

A cobertura nacional da Medicina Geral e Familiar (MGF), não está longe de ser conseguida. Ainda há muita gente sem Médico de Família na Região Sul, mas há vontade política para resolver a situação. A formação médica foi muito melhorada, bem assim como os meios de diagnóstico e terapêutica disponíveis no ambulatório.

No contexto europeu, Portugal e a Irlanda têm o melhor rácio entre as Especialidades Generalistas (MI e MGF) e as outras Especialidades, ultrapassando até os 50% recomendados pelos peritos (OCDE Health at Glance 2018).

Com o número de Internistas e de Especialistas de Medicina Geral e Familiar que existem em Portugal, é incompreensível que mais de 95% dos doentes Internados nos Serviços de Medicina Interna continuem a dar entrada através do Serviço de Urgência!

Esta constatação deve inquietar-nos e não nos podemos conformar com esta realidade, que não muda, e até se agrava. Temos de resistir a que a repetição do facto nos leve a pensar ser normal que os doentes tenham de sofrer tempos infindos no Serviço de Urgência até chegarem a nós!

A gestão do doente agudo não emergente, não pode continuar a ser centrada no Serviço de Urgência que, numa tentativa desesperada de resposta, vai aumentando a sua dimensão, em espaço físico e recursos humanos, sem nunca conseguir a qualidade assistencial pretendida. A doença aguda tem diferentes graus de gravidade e é necessário publicitar um circuito racional obrigatório para o doente, que respeite a missão natural da MGF e da MI.

O tratamento integrado do doente crónico complexo, também obriga à articulação sinérgica entre a MI e a MGF. Só assim é possível prevenir a descompensação da doença e melhorar o prognóstico, com um seguimento continuado, de qualidade e sem sobressaltos.

O que nos faz falta, é uma comunicação fácil entre a MI e a MGF. Temos de ser capazes de a conseguir, porque é esse passo que nos separa de um sistema de saúde equilibrado, racional e seguro. Acredito no benefício para o doente que resultaria do conhecimento entre um Internista de Referência no Hospital e o Médico de Família. Há experiências de sucesso, em que o Internista vai ao Centro de Saúde todas as semanas para discutir casos difíceis (Lugo, Espanha). Logo ali se resolvem dúvidas e se antecipam consultas ou internamentos. Noutros casos, como nas Unidades Locais de Saúde, o Médico de Família pode contactar o Internista do Hospital a que está ligado, e define com ele a melhor opção a tomar para o tratamento do doente.

No meu Hospital, começamos em Dezembro a informar o Centro de Saúde e o Médico de Família, sempre que um seu doente é internado, disponibilizando o contacto dos Internistas do serviço. Será que alguém vai ligar? Continuo a acreditar que sim!

Saber com quem falar, no Hospital ou no Centro de Saúde, é mesmo muito importante! Não me parece que seja uma missão impossível. Acho que o ganho final em saúde para o nosso doente, seria enorme! Vale bem a pena o esforço!

 

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