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Sociologia

Print version ISSN 0872-3419

Sociologia  no.tematico8 Porto Dec. 2018

https://doi.org/10.21747/08723419/soctem2018a2 

ARTIGOS

A cidade imaginável: elementos para uma viagem visual e sensorial na cidade do Porto

The imaginable city: elements for a visual and sensorial journey in the city of Porto

La ciudad imaginable: elementos para un viaje visual y sensorial en la ciudad de Oporto

La ville imaginable: éléments pour un voyage visuel et sensoriel dans le Porto

Diogo Guedes Vidal

Unidade de Investigação UFP em Energia, Ambiente e Saúde Universidade Fernando Pessoa

Endereço de correspondência

 


RESUMO

O presente artigo apresenta diferentes formas de ler e imaginar a cidade do Porto através de uma interpretação da cidade como um espaço plural, multivocal e multissensorial. A transformação dos espaços urbanos efetuada pelos que residem na cidade e pelos que nela se movimentam origina diferentes leituras, imagens e representações que, reunidas, constroem verdadeiros mapas mentais. A partir de uma investigação no Mestrado em Sociologia, realizada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, centramo-nos nos seus estudantes, devido à sua heterogeneidade social, geográfica e cultural, enquanto potenciais lentes da cidade, concluindo que o local de residência e a formação académica têm influência na construção dos mapas mentais urbanos.

Palavras-Chave : Cidade; Mapas Mentais; Representações.

 


ABSTRACT

This article aims to present different ways of reading and imagining the city of Porto through an interpretation as a plural, multivocal and multisensorial space. The urban spaces transformation, caused by who lives in the city and who move in it, gives rise to different readings, images and representations that, together, are able to construct true mental maps. Based on a master's degree research in sociology, at the Faculty of Arts of the University of Porto, we focus on its students, due to their social, geographical and cultural heterogeneity, as potential lenses of the city, concluding that the place of residence and the academic field has influence in the construction of the urban mental maps.

Key-Words : City; Mental Maps; Representations

 


RESUMEN

El presente artículo presenta diferentes formas de leer e imaginar la ciudad de Porto a través de una interpretación de la ciudad como un espacio plural, multivocal y multisensorial. La transformación de los espacios urbanos efectuada por los que residen en la ciudad y por los que en ella se mueven origina diferentes lecturas, imágenes y representaciones que, reunidas, construyen verdaderos mapas mentales. A partir de una investigación de maestría en sociología, realizada en la Facultad de Letras de la Universidad de Porto, centrándose en sus estudiantes, debido a su heterogeneidad social, geográfica y cultural, en cuanto potenciales lentes de la ciudad, concluyendo que el lugar de residencia y la formación académica tiene influencia en la construcción de los mapas mentales urbanos.

Palabras Clave : Ciudad; Mapas Mentales; Representaciones.

 


RÉSUMÉ

Cet article présente différentes manières de lire et d'imaginer la ville de Porto à travers une interprétation de la ville comme un espace pluriel, multivocal et multisensoriel. La transformation des espaces urbains opérée par ceux qui vivent dans la ville et ceux qui s'y déplacent donne lieu à différentes lectures, images et représentations qui, ensemble, construisent de véritables cartes mentales. Basé sur une maîtrise en recherche sociologique à la Faculté des Lettres de l'Université de Porto, nous nous concentrons sur ses étudiants, en raison de leur hétérogénéité sociale, géographique et culturelle, comme des lentilles potentielles de la ville, en concluant que le lieu de résidence et la formation académique a une influence dans la construction des cartes mentales urbaines.

Mots-Clé : Ville; Cartes Mentales; Représentations.

 


Introdução

A cidade do Porto é hoje uma cidade internacionalmente reconhecida. Causa e efeito deste reconhecimento são os sucessivos prémios que lhe são atribuídos, nomeadamente o de Melhor Destino Europeu (Santos, 2017) e o facto de ser palco de uma afluência turística em grande escala.

Nesta lógica, são vários os estudos e investigações que se têm debruçado sobre o Porto procurando explorar as transformações físicas e simbólicas de que a cidade tem vindo a ser palco. Diretamente relacionadas com estas transformações encontram-se aquelas que se caracterizam como revitalizações e requalificações urbanas, projetos interventivos a nível cultural e social e, de forma intensa, fenómenos turísticos. Tais mudanças conduzem, inevitavelmente, a que as paisagens da cidade sofram alterações, proporcionando que o seu universo simbólico se altere, resultando em diferentes formas de ler e sentir a cidade. Perante esta evidência, o presente artigo pretende explorar o universo simbólico da cidade através dos estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). A escolha deste público tem como fundamento o facto da Universidade do Porto acolher cada vez mais estudantes provenientes do exterior da cidade que extravasam os limites da Área Metropolitana do Porto e do próprio âmbito nacional. Por conseguinte, no espaço físico da FLUP conflui um número significativo de estudantes provindos de vários cantos do país e do mundo sendo, por isso, um espaço onde existem diferentes formas de usar e sentir a cidade resultantes deste fenómeno que conduzem a uma alteração do seu código identitário.
O seu universo simbólico é, desta forma, sujeito a alterações e, neste sentido, a dimensão representacional da cidade do Porto será o nosso objeto, sendo guiados pelos trabalhos de Carlos Fortuna e Paulo Peixoto (Fortuna e Peixoto, 2000; Fortuna, 2001).

1. A cidade é de quem nela se perde: considerações sobre a flânerie na contemporaneidade

O urbano, a cidade e as suas dinâmicas são mutáveis e flutuantes. Entender as transformações da urbanidade implica mergulhar nos escritos de Walter Benjamin (2001) e na nova imposição do século XIX que o autor discute: um novo horizonte. Este novo horizonte foi fruto das transformações físicas e sociais do século XIX que provocou o surgimento de um novo paradigma de cidade e de Homem. Nascia assim um novo olhar sobre a cidade e sobre as suas dinâmicas, próprio da modernidade. Benjamim (2001) refere que já Baudelaire dava conta da afirmação de uma nova figura entre a multidão: o flâneur. Moderno, aventureiro e observador, destaca-se na cidade pelo facto de contemplar sem os véus que até então a tornavam encoberta. Percebermos que para o flâneur a cidade representa o “seu templo, seu local de culto (...) o verdadeiro lugar sagrado da flânerie” (Rouanet, 1992: 50), ou seja, a cidade é o seu local por excelência, o espaço que contempla e analisa, é um ser da cidade (fruto do urbano). É o flâneur, o novo “…alegorista da cidade, detentor de todas as significações urbanas, do saber integral da cidade, do seu perto e do seu longe, do seu presente e do seu passado…”. (Rouanet, 1992:50). Esta nova figura da cidade era um verdadeiro poeta da cidade, conhecia-a de uma forma inigualável e representava-a como ninguém. Na verdade, o flâneur é o coprotagonista de uma paixão correspondida entre ele, as cidades e as multidões. Baudelaire compara-o a um “…espelho tão imenso quanto essa multidão; a um caleidoscópio dotado de consciência, que, a cada um de seus movimentos, representa a vida múltipla e o encanto cambiante de todos os elementos da vida. É um eu insaciável do não-eu, que a cada instante o revela e o exprime em imagens mais vivas do que a própria vida, sempre instável e fugida.” (Baudelaire, 1997: 21). Esta figura citadina é dotada de uma capacidade inequívoca de deambular pela cidade que se apropria, para além do que é visível, do invisível. A sensibilidade do flâneur permite que o mesmo auxilie no processo de desconstrução das suas múltiplas dinâmicas, sendo por isso um exercício (a flânerie) essencial para um conhecimento integral da cidade.
Teixeira Lopes (2007) refere num artigo seu que o tempo das cidades, ou seja, a forma como se organizam temporalmente os meandros do quotidiano e das práticas sociais, é cada vez mais lido através de uma “…vertiginosa velocidade de fluxos de pessoas, mercadorias e bens imateriais…”, sendo que o autor vai mais longe acrescentando que a metrópole “…elimina as fronteiras oficiais e administrativas” (Lopes, 2007: 72). O autor sugere-nos um novo tempo da cidade, marcado por uma variedade de trocas impossíveis de controlar dada a sua característica efémera e veloz. Perante esta evidência, a cidade do Porto também se assume como um espaço cada vez mais plural e multivocal. Percorrer a cidade é comparável a um ritual de evocação de aromas, sons e sentidos díspares que, reunidos, resultam numa poderosa experiência sensorial. Odores que se misturam no dobrar de cada esquina, sons que se compõem e resultam numa partitura diversa e “Os diferentes lugares do Porto são eles próprios palcos de práticas regulares, rotineiras e fugazes. Ao percorremos a cidade somos levados pelos fluxos citadinos, pelos movimentos pendulares que alteram a paisagem da cidade.” (Vidal, 2016a: 8).

Carlos Fortuna (1998) esboça de forma peculiar e envolvente as plurisonoridades a que somos sensíveis em ambientes urbanos. Fortuna (1998) não se coíbe de referir que Simmel, apesar dos seus valiosos contributos relativos à sociologia sensorial, despreza de uma forma demasiadamente relegadora o sentido auditivo. Quer com isto dizer que o facto de Simmel entender o sentido auditivo como “… passivo, despojado que está de autonomia própria…” (Fortuna, 1998: 23; Simmel, 2001 [1903]), enaltecendo a supremacia da visão face ao mesmo, conduz a uma incapacidade de ouvir os sons da cidade e de conseguir organizá-los segundo uma partitura. Segundo o autor (1998), da cidade e da sua identidade fazem hoje também parte os seus sons. A verdade é que em “…ambiente citadino damos conta de plurisonoridades, aparentemente contraditórias, mas que mapeiam atualmente as paisagens sonoras. Esta pluralidade de sons é visível em ambientes multiculturais... onde culturas diferentes, ou melhor dizendo, sonoridades culturalmente diferentes, se misturam e compõem uma partitura diversa.” (Vidal, 2015:1). Esta noção permite-nos perceber que estamos perante uma ininterrupta reelaboração dos sons da cidade.

Lynch (1960) refere que as imagens da cidade devem conter na sua base uma componente de individualidade/particularidade, ou seja, deverão primar pela marca distintiva face às demais; devem possuir uma relação com o observador e, por fim, essa relação deve ser de caráter emocional, permeada por memórias e experiências pessoais. Mas é neste último ponto que a imagem deve realmente assentar. Quanto mais viva, clara e física a imagem da cidade for, maior será a probabilidade de criarmos um elo para memórias coletivas. Este processo criativo de memórias possui em si mesmo uma particularidade: é fonte de segurança emocional a um espaço físico. Na verdade, a imagem “…deveria, de preferência, possibilitar um fim em aberto, adaptável à mudança, permitindo ao indivíduo continuar a investigar e a organizar a realidade.” (Lynch, 1960:19). Cabe ao indivíduo ser o protagonista desse fim em aberto, de escrever as imagens e fazer, das mesmas, um espólio de uma memória coletiva, ora não fosse esse o verdadeiro sentido da cidade. A construção da memória coletiva tem vindo a ser discutida por vários autores (Lowenthal, 1989; Halbwachs, 1992; Nora, 1993) e o lugar que a memória ocupa na organização social de um grupo ou comunidade reside no facto da mesma ser dinâmica e de ter sempre um fim em aberto, ou seja, podendo ser alterada ao longo dos tempos consoante a própria dinâmica de evolução dos grupos (Nora, 1993). A memória é sempre um elemento atual. O deambular pela cidade é um ato de conhecimento do espaço e dos lugares que a compõem. Paulo Cunha e Silva1, vereador da cultura do mandato 2013-2017 de Rui Moreira, evidenciou que amar a cidade é captar a essência da mesma. Acreditava que a cultura é um poderoso elo de coesão social e, como tal, idealizava o Porto como uma “Cidade Líquida” (Cleto, 2016):

A cidade movia-se como um barco. (…) A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. Era um espelho de outras cidades costeiras. Quando se aproximava, inundava os edifícios, as ruas. Acrescentava-se ao mundo. Naufragava-o. Os habitantes que a viam aproximar-se ficavam perplexos a olhá-la, a olhar-se. Morriam de vaidade (…) Tantas vezes desejaram soltar as cordas da cidade. Agora partiam com ela dentro de uma cidade líquida.” (Leal, 2006:9).

E se esta é a cidade que Cunha e Silva vê para o Porto, então devemos procurar, a cada passo, tornar real a sua vontade. Uma cidade aberta no sentido literal da palavra. Predisposta a receber sem receios, onde a cultura se dispersasse, se “…derramassem, inundando praças, ruas e vielas, indo ao encontro de todos.” (Cleto, 2016:21). O contributo de Paulo Cunha e Silva encontra-se materializado nos esforços contínuos e ativos para o Porto ser uma cidade de cultura democratizada, acessível a todos, sem barreiras físicas e simbólicas, permitindo a construção e reconstrução das representações, imagens e semânticas da cidade. É certo que em parte as mesmas são balizadas pelo peso do passado e da história mas sem dúvida que o presente molda, altera, modifica e transforma. Uma cidade líquida onde o contato físico entre os que nela vivem, deambulam e trabalham se multiplique e se materialize em diversas formas, espaços e lugares. Uma cidade internacional, cosmopolita, desassossegada, luminosa, voltada para uma cumplicidade entre todos.

2. Mapear a cidade, cartografar sentimentos e emoções: o papel dos mapas mentais numa sociologia da cidade e das suas representações

Kevin Lynch, urbanista, expressa em várias obras que a cidade e as suas imagens são elementos fulcrais para um entendimento da mesma (Lynch, 1960). Na verdade, acredita-se que a sua proposta deveria ser testada e uma das técnicas operacionalizadas na investigação que baseia este artigo (Vidal, 2016b; Vidal, 2017) foi a técnica dos mapas mentais.
Importa ter em linha de conta que os mapas mentais devem ser entendidos como representações do que foi vivido, ou seja, fragmentos de experiências e memórias de um contacto com a realidade representada; ou como representações do imaginado, das representações transmitidas por pessoas ou imagens. Nos mapas mentais encontra-se presente a apropriação do lugar que cada um de nós, enquanto indivíduos, faz dos mesmos. Revelam ainda como o espaço é vivido, numa espécie de aproximação à realidade que contribui, em parte, para a configuração do lugar.
Tendo como objeto a cidade do Porto, mais concretamente, a sua dimensão simbólica e representacional (Fortuna, 2001), encontram-se contidos nos mapas mentais emoções, memórias e sensações. A análise da sensorialidade da cidade do Porto extravasa campos disciplinares diversos pelo que é fulcral comparar posições sobre a mesma temática. Utilizando, a título de exemplo, um mapa sensorial do Porto da autoria de Alexandre Burmester2, arquiteto portuense, consegue-se perceber que nele está implícita uma leitura da cidade e das suas divisões simbólicas em relação aos usos e sentidos dos espaços. A relevância deste mapa reside no que o mesmo representa, tal como os mapas mentais que os estudantes construíram: uma representação sobre a cidade e uma imagem mental sobre a mesma. Como o autor afirma “Perceber é conhecer através dos sentidos. Perceber o espaço em que vivemos faz-nos compreender a melhor forma de nele intervir.” (Burmester, 2010:1), revelando a importância dos sentidos e da sensibilidade aos sons, imagens e aromas da cidade. A própria perceção do espaço pode ser partilhada ou não. A sua unicidade assenta precisamente nisso. Antes de partirmos para a análise do mapa devemos ter em consideração que o mesmo corresp onde a uma visão da cidade baseada numa leitura de um tipo de comportamento coletivo disperso no espaço, sustentado na visão que o autor possui sobre a forma como a usamos e vivemos (Burmester, 2010).

A leitura do mapa possibilita um conhecimento das representações que são atribuídas a determinados espaços da cidade. O grande objetivo deve passar por, segundo Burmester, eliminar as ruturas urbanas, ou seja, espaços fragmentados, descontinuados, sem conexão ou sentido entre si, aproximando os espaços considerados neutrais, tendo em vista a construção de espaços sensorialmente agradáveis para os habitantes e transeuntes. O mapa sugere que é na zona ocidental da cidade, identificada como a zona onde existe um elevado capital económico, onde o espaço é permeado por sentimentos positivos relacionados com o prazer e aceitação pela condição em que vivem. Lugares quentes que promovem a empatia, atraem os turistas, transformando-a num local privilegiado e de difícil acesso a classes sociais mais desfavorecidas. Segundo Burmester estes são lugares “… onde a cidade cumpre nas suas formas e funções os seus usos, e de onde resulta um sentimento de aceitação.” (Burmester, 2010:1). Já o centro e norte da cidade são, de certa forma, pautados por clima de resignação e de indiferença face à situação, quase como que numa lógica de naturalização (Burmester, 2010). É neste local que o centro histórico se localiza, balizado por um clima misto de indiferença/resignação face ao lugar que ocupam na cidade. A zona mais oriental, tal como em algumas zonas dispersas no mapa, surgem lugares de rejeição e revolta face ao contexto em que as populações se inserem, marcados por vazios urbanos (Burmester, 2010). A este respeito, torna-se impossível não refletir sobre as transmissões de imagens e representações associadas a vários espaços da cidade. A criminalidade e marginalidade, muito ligadas às zonas limítrofes e orientais onde se localizam complexos habitacionais sociais, são exemplos de representações que os meios de comunicação social, frequentemente, transmitem, resultando numa construção representacional desses espaços com base em suposições e mediatismos muitas vezes pouco aproximados da realidade.

Tomou-se como ponto de partida que a cidade do Porto é passível de se articular com um dos conceitos primordiais de Lynch, o de Legibilidade, referindo-se à “… facilidade com a qual as partes [da cidade] podem ser reconhecidas e organizadas numa estrutura coerente.” (Lynch, 1960:13). Nas palavras de Lynch, estruturar e identificar um ambiente é uma tarefa essencial para todos nós que nos movemos, na medida em que permite orientar-nos na cidade, conferindo-nos segurança. É nesta capacidade de organização imaginária e mental da cidade que reside a sua componente visual e complexa, revelando-se neste processo. Mas também o conceito de Imaginabilidade é referido por Lynch, entendendo-a como a “…qualidade de um objeto físico que lhe dá uma alta probabilidade de evocar uma imagem forte em qualquer observador. Refere-se à forma, cor ou arranjo que facilitam a formação de imagens mentais do ambiente fortemente identificadas, poderosamente estruturadas e altamente úteis.” (Lynch, 1960:20). Este conceito interliga-se com o de Legibilidade na medida em que só é possível representar mentalmente a cidade se a mesma transmitir significados e identidades.

3. Os mapas mentais enquanto técnica: trajetória metodológica

A importância do desenho metodológico numa investigação é atestada pelo resultado da mesma. Na verdade, o desenho metodológico deve ser entendido como uma bússola que nos orienta nos meandros das dinâmicas sociais quando “somos ofuscados pela iluminação das partes, enquanto o todo permanece obscuro.” (Frisby, 1992:95). Como já fora referido, a presente investigação é notoriamente influenciada pelos trabalhos desenvolvidos pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), nomeadamente por Carlos Fortuna e Paulo Peixoto (Fortuna, 1998; Fortuna e Peixoto, 2000; Fortuna, 2001), respetivamente “As novas e as velhas imagens das cidades: um olhar sobre a transformação identitária de cinco cidades portuguesas” (2001), “Cidade, Cultura e Globalização: ensaios de Sociologia” (2000) e “Imagens da cidade: sonoridades e ambientes sociais urbanos” (1998). Por detrás do desenho metodológico encontram-se as seguintes interrogações: será que a formação de um estudante tem implicações na forma como o mesmo pensa e age? E o Porto e as suas representações onde se encaixam nesta lógica? A formação académica tem peso na forma como interpretamos uma determinada realidade? Terá também influência na forma como concebemos a cidade e a interpretamos? Perante estes questionamentos, acrescentamos ainda que para além da formação académica também a naturalidade/residência poderá aqui desempenhar um papel importante enquanto dimensão que condiciona (ou não) a forma como lemos a cidade. Mas também o lugar onde a FLUP se insere poderá, eventualmente, ter peso na mesma leitura sobre a cidade. Inspirados por Kevin Lynch e pelos seus mapas mentais (1960), procuramos analisar se a cidade do Porto é passível de legibilidade e imaginabilidade.
A aplicação dos mapas mentais obedeceu à construção de uma amostragem teórica. Este tipo de amostra, frequente em estudos qualitativos, baseia-se em pressupostos que a distinguem da amostragem estatística, nomeadamente pelo facto que a mesma termina quando a saturação teórica é alcançada. Este tipo de amostra refere-se a um processo de colheita de dados de forma a criar uma teoria, codificando os resultados e sendo orientada pelo decorrer da própria investigação (Glaser e Strauss, 2006). Importa referir que antes de aplicada esta técnica fora aplicado um inquérito por questionário que procurou conhecer a realidade em análise de forma a orientar sobre que grupos deveriam recair os mapas mentais. Não se procurou representatividade, pois essa também não é a principal finalidade, mas sim, a partir do terreno, conseguir construir conhecimento sobre o mesmo. Neste sentido podemos afirmar que os questionamentos iniciais se basearam em “Quais grupos ou subgrupos serão os próximos na coleta de dados? E com que finalidade teórica? (...) Há infinitas possibilidades de comparações múltiplas, por isso os grupos devem ser escolhidos de acordo com critérios teóricos” (Garfinkel, 1984: 47).

Perante esta abordagem, os mapas mentais foram construídos pelos estudantes da FLUP sem qualquer orientação sobre o que deveriam escrever ou desenhar e, ao fim de 18, consideramos que foi atingida a saturação teórica.
O sexo dos estudantes evidencia uma preponderância do sexo feminino que vai de encontro à realidade estudantil da FLUP. Dos estudantes que participaram neste estudo, 83,3 % são do sexo feminino e 16,7 % são do sexo masculino. Relativamente aos seus locais de residência e naturalidade, dos estudantes que participaram 78 % reside ou é natural de municípios que integram a Área Metropolitana do Porto. Os restantes estudantes ou são naturais/residem fora da Área Metropolitana do Porto, com uma percentagem de 11,2 %, ou são de nacionalidade estrangeira, cerca de 11,2 %.

 

 

Para além destas dimensões, a leitura e interpretação dos mapas foi orientada pelos cinco elementos que Kevin Lynch (1960) aponta como organizadores mentais da cidade, a saber: caminhos/vias (paths), aqui entendidos como ruas ou caminhos percorridos pelos indivíduos, normalmente dotados de uma certa característica (ruas comerciais ou de serviços); limites (edges), que podem ser aqui entendidos como limites não administrativos, como o caso de rios, estradas ou muros, às vezes associados a barreiras simbólicas de segregação espacial; bairros ( districts), que se caracterizam por espaços homogéneos, portadores de uma identidade própria, cultural ou social; nós (nodes), espaços de cruzamento, de mudança, onde o observador entra e visualiza a cidade; e, por fim, os marcos ou pontos marcantes (landmarks), mais concretamente, espaços singulares onde o observador não entra dada a sua aura memorável e identitária para a cidade. Revelou-se duplamente aliciante aplicar esta técnica: por um lado, a novidade e o risco associados à mesma; por outro, os resultados, verdadeiramente enriquecedores e quase mágicos de explicar e entender a cidade no seu domínio não físico. Com base na análise qualitativa realizada, a construção dos mapas mentais por parte dos estudantes possibilitou alcançar seis formas de representar a cidade que se distinguem entre si pelo grau de detalhe, noção do espaço (e sua organização) e pelos elementos referidos.

O Porto nos mapas mentais: uma experiência sensorial

É de referir que em grande parte dos mapas ocorre uma ausência de caminhos (paths), devido ao facto dos estudantes se deslocarem, durante os trajetos na cidade, munidos de aparelhos tecnológicos (como telemóveis, tablets, phones) abstraindo-os da realidade que os rodeia. A análise dos 18 mapas construídos revela seis grandes formas de ler a cidade e devido à impossibilidade de apresenta-los todos, selecionamos cinco que representam a diversidade encontrada. A noção ou organização do espaço conduz-nos ao primeiro mapa.

 

 

O autor do mapa acima é um aluno com 24 anos que frequenta o Mestrado em Estudos Africanos, residente em Vila Nova de Gaia. É observável uma quase nula noção do espaço. De notar a ausência de paths (caminhos) mas uma preponderância significativa de marcos, como é o caso dos Clérigos, Palácio de Cristal, Estação de S. Bento, Biblioteca Municipal, Teatro Sá de Bandeira e Rivoli. A orientação na cidade é ancorada nos marcos patrimoniais mediáticos que a caracterizam para o exterior. Não existe organização do espaço e os elementos mencionados encontram-se dispersos e de forma desarticulada, sem ordem ou sentido entre si. Revela uma noção da cidade pouco harmoniosa e orientadora, um certo grau de desconhecimento da mesma. Apenas o centro do Porto é que se encontra representado, sendo entendido como um lugar desorganizado, disperso no espaço e desligado entre si. No mapa que se segue, figura 2 , verifica-se uma evolução da noção de espaço e de organização da cidade. É da autoria de um aluno do Mestrado em História, Relações Internacionais e Cooperação, com 24 anos, a residir em Ovar.

 

 

A análise do mapa sugere-nos uma organização da cidade baseada em caminhos (paths) e em marcos importantes da mesma. Destacamos os Aliados e a Rua de Santa Catarina no caso dos caminhos que permitem aos indivíduos orientarem-se na cidade. Apenas esta figura dá conta de uma pequena referência a Campanhã mas aqui entendida como uma porta de entrada na cidade pois o restante mapa concentra-se, notoriamente, na zona centro e ocidental da cidade. No que se refere aos limites (edges) da cidade é notória a presença do rio Douro e da Margem Sul que corresponde à cidade de Vila Nova de Gaia, bem como a Campanhã. Neste sentido, a cidade é entendida e organizada segundo os seus caminhos, marcos e limites. Damos conta de uma organização e ordenação do espaço mais cuidada e segura, ainda que apenas referente a uma pequena parte da cidade do Porto. A figura 3 apresenta um mapa mental de uma estudante com 21 anos da licenciatura em História e residente em São João da Madeira.

 

 

A imagem mental sobre o Porto é bastante alargada pois encontramos referências a Matosinhos. Verdadeiro é também o grau de detalhe que a estudante apresenta, evidenciando um conhecimento da cidade bastante familiar. O semicírculo que apresenta é a VCI – Via de Cintura Interna – importante elo de ligação para a cidade permitindo a sua comunicação interna, aqui entendida enquanto um nó (node) na tipologia de Lynch. No entanto, constata-se que em termos administrativos alguns elementos não fazem parte do Porto-cidade como é o caso do NorteShopping, Aeroporto Francisco Sá Carneiro, Porto de Leixões e IKEA. Ao nível dos caminhos (paths) não são referenciados mas, no entanto, os bairros ( districts) são referidos como é o caso da Pasteleira e do Aleixo. Já em termos de marcos verificamos a referência à Torre das Antas, Câmara do Porto, Palácio de Cristal e, contrariando a regra, o Jardim Botânico e o Castelo do Queijo. O Hotel Intercontinental surge como integrante das referências simbólicas da cidade, apesar de apenas ter sido inaugurado em 2011. A mobilidade encontra-se igualmente presente no mapa, entendida enquanto dimensão importante na cidade. O Metro surge representado no mapa segundo um “M” o que revela a importância deste transporte e o seu lugar no imaginário simbólico dos estudantes, sendo o cartão Andante o cartão da mobilidade do momento que assegura, para além da ligação interna entre os vários pontos da cidade, ligações com os municípios contíguos. A dimensão cultural da cidade aparece representada pelo Coliseu do Porto como marco simbólico da cidade. O que distingue este mapa dos restantes é a referência a elementos que não fazem parte do núcleo central da cidade, como é o caso do Pólo Universitário de São João e da zona da Foz, contrariando as imagens simbólicas apresentadas até então. É, desta forma, uma visão da cidade mais realista, mais concreta e, seguramente, mais administrativa, esquecendo, porém, a zona oriental da cidade. O mapa mental seguinte (figura 4 ) apresenta a imagem mental de uma estudante da licenciatura em Sociologia, com 21 anos, residente na Maia.

 

 

A imagem que se encontra representada não corresponde ao Porto mas sim a Vila Nova de Gaia como podemos ver relativamente às Caves do Vinho do Porto, ao teleférico e ao Mosteiro da Serra do Pilar. Esta situação leva-nos a três reflexões: uma primeira que se refere à relação de proximidade entre a cidade do Porto e Vila Nova de Gaia, como cidades onde a fronteira administrativa não é visível aos olhos dos seus habitantes na medida em que a distância entre as duas margens é bastante reduzida (quando comparada com o caso de Lisboa e Almada, por exemplo); uma segunda remete-nos para o Vinho do Porto e as suas Caves, associadas de imediato à cidade do Porto, mas que se localizam na cidade de Vila Nova de Gaia; um terceiro ponto referente à imagem do Porto representada no mapa com a paisagem da cidade de Vila Nova de Gaia.
O último mapa mental (figura 5 ) apresenta a cidade não somente através de desenho, mas também de escrita. É da autoria de uma estudante de 22 anos da licenciatura em Línguas e Relações Internacionais, natural da Alemanha e que se encontrava a realizar Erasmus.

 

 

O grau de pormenor e a capacidade sensorial e multivocal que o mapa nos apresenta convidam a que nos deixemos perder nele. Os espaços dominantes do mapa correspondem a espaços de lazer da zona ocidental da cidade do Porto, como é o caso de Serralves, Parque da Cidade e, curiosamente pela primeira vez referido, a praia da zona da Foz. A referência à praia apenas ocorreu num mapa mental de uma estudante não portuguesa. Outros elementos interessantes devem-se, em parte, à referência à Casa da Música como espaço cultural e musical aqui representado com as notas musicais. Também a própria FLUP repres entada pelos “estudantes trajados”3 exemplifica a tradição e a importância da mesma no imaginário simbólico do Porto. No que diz respeito aos caminhos ( paths), apenas encontramos referência à Avenida da Boavista como elo de ligação do centro à Foz. Em relação a marcos da cidade vemos a Estação de São Bento, a Ribeira (bairro/districts), o Palácio de Cristal – representado pelos seus jardins e não pelo edifício -, a Torre dos Clérigos e os Aliados. Em relação aos limites destacamos o rio Douro e as duas pontes – Arrábida (esquerda) e D. Luíz (direita) – e o parque da cidade a dividir a cidade do Porto e Matosinhos. Este mapa contribui para uma cidade marcada pelo percurso de uma estudante Erasmus, que se desloca nos espaços próximos da FLUP, relacionando-se com a cidade de uma forma intensa para alguém que não é residente na mesma. Corrobora a ideia de que conhecer a cidade é saber perder-nos nela pois só assim é possível conhecer os seus sentidos e experienciar as emoções que a mesma desperta. A análise dos mapas mentais sugere um conjunto de elementos que importa refletir. A diversidade de cursos e de origens dos estudantes coincide com leituras plurais sobre a cidade do Porto. Se por um lado os mapas mentais da cidade revelam esta diversidade, por outro aproximam-se em vários pontos. A desorganização da imagem mental da cidade do Porto, características dos primeiros mapas (figura 1 e figura 2 ), possibilita que se estabeleça uma ligação com o que Carlos Fortuna refere como “microcosmos sonoro” (Fortuna, 1998) para o espaço público. Esta situação é visível no desligamento por parte dos indivíduos do próprio percurso que traçam, fruto do seu carácter rotineiro ou simplesmente por estarem conectados à dimensão virtual, resultando num desconhecimento da cidade, dos seus elementos e dos seus percursos. Esta situação assemelha-se a um “piloto-automático” em que o percurso que traçamos não carece de orientação pois já está automatizado. Quando isto ocorre estamos também perante a atitude blasé, ficando indiferentes ao que nos rodeia. Além deste resultado, é visível que da cidade representada, na generalidade dos mapas, fazem somente parte elementos localizados na zona central e ocidental (figura 3 , figura 4 e figura 5 ). A zona oriental da cidade continua esquecida, quase como de costas voltadas para o resto da cidade, desligada ou desconectada. Traz ao debate a necessidade de diversificar a oferta cultural, artística, laboral e social da zona oriental do Porto, de redobrar esforços conjuntos entre instituições que resulte no dinamismo deste espaço e na sua atratividade.

A divisão física e administrativa da cidade acaba também por se esbater nos mapas mentais dos estudantes. A cidade do Porto vê os seus limites serem estendidos no espaço, abraçando os municípios contíguos e trazendo, para o seu campo representacional, elementos externos à cidade. Por fim, é também relevante para o desenvolvimento desta investigação o grau de pormenor que os estudantes estrangeiros possuem sobre a cidade. Ainda que apenas esteja representado um mapa cuja autoria é de nacionalidade estrangeira (figura 5), um outro mapa integrado e analisado na dissertação de mestrado a partir da qual este artigo se desenvolve (Vidal, 2016b: 74) está alinhado com o grau de pormenor daquele. Apesar de não ser possível generalizar para outros estudantes com as mesmas características, a verdade é que a análise qualitativa, de carácter exploratório, sugere que os estudantes não residentes no Porto ou de nacionalidade estrangeira perdem-se na cidade, o que possibilita que conheçam os seus percursos mais e menos oficiais, por vezes diferentes dos que constam nos guias e roteiros turísticos massificados. Já Carlos Fortuna (1998) referia esta necessidade, de nos perder para que assim fosse possível conhecer, desconstruir e, no fim, representar o mosaico da cidade, tal como ele conheceu a cidade de Nova Iorque pela mão de um invisual (Anísio Correia). De forma a aglutinar toda a discussão feita até ao momento, os mapas mentais revelam vários “Portos” e que estes variam conforme a nossa origem e formação. Mas, na verdade, o Porto continua a ser um espaço dual, moldado por espaços distintos, uns mais nobres (ocidental), outros mais turísticos (central) e alguns esquecidos (oriental). Importa que se continue a refletir e a repensar sobre esta temática de modo a que se consiga redesenhar políticas de atratividade para as populações e para as camadas mais jovens. Políticas que vão para além do quesito turístico. O Porto também deve ser para os que nele residem e que o configuram enquanto cidade.

Conclusões

Alicerçados nos contributos de Carlos Fortuna sobre as suas interpretações da cidade, “perder-se na cidade” de Walter Benjamin (2001), na sensibilidade de Simmel e na capacidade descristalizadora de Paulo Peixoto e Carlos Fortuna (2000) sobre as imagens da cidade, percebemos que a cidade e o seu universo simbólico se encontram carregados de símbolos e representações. Como Burmester nos diz, “Perceber é conhecer através dos sentidos. Perceber o espaço em que vivemos faz-nos compreender a melhor forma de nele intervir.” (Burmester, 2010:1) e os mapas mentais evidenciam essa mesma capitalização dos seus sentidos. O Porto é uma cidade que convida a passear nas suas ruas, a conviver em espaços de fruição, de cultura e de lazer. Os mapas mentais analisados sugerem que a cidade líquida de Paulo Cunha e Silva se fez e faz cumprir atraindo os estudantes a usufruir dos seus espaços. Os mapas mentais mostraram que a zona de residência dos inquiridos e a zona onde se encontra a FLUP moldam a forma como os mesmos recriam a cidade no seu imaginário simbólico. Principalmente o local onde a FLUP se encontra permite um contato muito próximo com zonas envolventes sendo que as mesmas foram referenciadas nos mapas na sua maioria, sendo a paisagem dominante o território que compreende a Baixa e a zona do Campo Alegre. A primeira por ser um espaço de lazer e central onde muitos estudantes iniciam o seu percurso de autocarro ou metro com destino à faculdade. A própria atividade praxista, referida por alguns, leva a que a zona envolvente da faculdade seja explorada e daí advém a referência a espaços próximos como o caso da rua da Torrinha. Mas também é notório que nos mapas elaborados pelos estudantes Erasmus ou pelos que residem na Faculdade de Letras, o grau de pormenor aumenta igualmente em espaços circundantes à mesma. Ainda ao nível dos mapas mentais destacamos o valioso contributo em que se tornaram, desconstruindo os receios e dúvidas que antecederam a sua aplicação. Foi através dos mesmos que conseguimos ler a cidade aos olhos dos estudantes, através das suas lentes interpretativas da mesma. Olhares diferentes que variam consoante algumas variáveis, sendo as mais determinantes o curso e a residência, não havendo diferenças segundo o sexo.

O Porto é uma cidade com uma facilidade de imaginabilidade poderosa pois os espaços próprios e característicos como a Casa da Música, a Estação de São Bento e a Ribeira assim o permitem. É também passível de legibilidade pois verifica-se que existe uma capacidade de organização do espaço da cidade na maioria dos mapas através da orientação a partir de pontos estratégicos. É, por si só, um Porto que se multiplica em vários Portos. E se assim é, deve-se ao facto de a cidade se construir simbolicamente por elementos referenciais para os indivíduos. Contudo, temos de ter em linha de conta que muito ficou por fazer, abrindo pistas para um estudo mais alargado e possivelmente comparativo, por exemplo com as representações de elementos da comunidade académica pertencentes a outras Faculdades da Universidade do Porto e outras Universidades da cidade. O que esta investigação evidenciou é que os estudantes são um poderoso meio para a conhecer, pois a sua heterogeneidade revela-se em diferentes formas de representação da mesma.

O Porto, enquanto entidade viva, não se esgota e novas interpretações sobre a sua dimensão simbólica são necessárias para um conhecimento mais aprofundado sobre as imagens e representações da cidade e das situações de dualidade que parecem continuar a persistir.

 

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Endereço de correspondência Universidade Fernando Pessoa. Unidade de Investigação UFP em Energia, Ambiente e Saúde (FP- ENAS) (Porto, Portugal). Praça 9 de Abril, 349, 4249-004 Porto, Portugal. Email: diogovidal@ufp.edu.pt

 

Artigo recebido em 20 de fevereiro de 2018. Publicação aprovada em 10 de julho de 2018

 

Notas

1 Paulo Cunha e Silva faleceu, precocemente, em 2015. A ele devemos uma paixão pela cidade e pela cultura.

2 Para consulta do mapa aceder em http://porto.taf.net/dp/node/6578&print.html

3 O traje académico é um elemento identificativo do estudante português que simboliza o facto de frequentar o ensino universitário. É composto por uma capa, fato, gravata e sapatos pretos, sendo a camisa o único elemento branco.

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