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Sociologia

Print version ISSN 0872-3419

Sociologia  no.tematico6 Porto Dec. 2016

https://doi.org/10.24747/0872-3419/soctema5 

ARTIGOS

 

O mundo aos nossos olhos: socialização familiar e reflexividade

The world as we see it: family socialisation and reflexivity

Le monde à nos yeux : la socialisation familiale et la réflexivité

El mundo ante nuestros ojos: socialización familiar y reflexividad

Ana Caetano

Instituto Universitário de Lisboa, Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-IUL) (Lisboa, Portugal). Endereço de correspondência: CIES-IUL, Edifício ISCTE, Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal. E-mail: ana.caetano@iscte.pt

 


RESUMO

Este artigo tem por objetivo analisar a centralidade dos processos de socialização familiar na formação da reflexividade individual, com base numa abordagem biográfica. Uma visão diacrónica dos percursos individuais é crucial para compreender não só o modo como a capacidade de cada pessoa se pensar a si mesma no mundo é desenvolvida ao longo do curso de vida, sendo estruturada decisivamente no seio da família, mas também a forma como o impacto da socialização familiar na formação de competências reflexivas ocorre diferenciadamente de acordo com o enquadramento socioeconómico da família.

Palavras-chave: reflexividade; socialização familiar; biografia.


ABSTRACT

The main goal of this article is to analyse the centrality of family socialisation processes in the formation of personal reflexivity, using a biographical approach. A diachronic overview on individual lives is crucial to understand not only how the ability to think about oneself is developed throughout the life course and is structured in a significant way within the family, but also how the impact of family socialisation in the formation of personal reflexivity competences occurs differently according to the family's social background.

Keywords: reflexivity; family socialisation; biography.


RÉSUMÉ

Cet article vise à analyser la centralité des processus de socialisation familiale dans la formation de la réflexivité individuelle, basée sur une approche biographique. Une vision diachronique des parcours individuels est cruciale pour comprendre non seulement la manière dont la capacité de chaque personne se pense elle-même dans le monde est développée au fil du cours de la vie, en étant structuré de manière décisive au sein de la famille, mais également la manière dont l'impact de la socialisation familiale sur la formation de compétences réflexives se produit de manière différente selon le cadre socioéconomique de la famille.

Mots-clés: réflexivité; socialisation familiale ; biographie.


RESUMEN

Este artículo pretende analizar la centralidad de los procesos de socialización familiar en la formación de la reflexividad individual basada en un enfoque biográfico. Es necesaria una visión diacrónica de los recorridos individuales para comprender no solo la capacidad de cada persona de pensar en sí misma dentro del mundo que se desarrolla a lo largo del transcurso de la vida, quedando estructurada decisivamente en el seno de la familia, sino también la forma en que el impacto de la socialización familiar en la formación de competencias reflexivas ocurre diferenciadamente en consonancia con el marco socioeconómico de la familia.

Palabras clave: reflexividad; socialización familiar; biografía.


 

Introdução

A forma como cada pessoa observa e interpreta o mundo, bem como o lugar que nele ocupa, é constituída ao longo do percurso biográfico, mas encontra, em grande medida, no seio da família as bases da sua formação. É neste contexto, e em fases iniciais de vida, que se estruturam esquemas mentais de desenvolvimento da reflexividade individual, enquanto capacidade de os indivíduos se pensarem a si mesmos tendo em consideração as suas circunstâncias sociais.
Ser sujeito social implica ser reflexivo, sendo a reflexividade uma capacidade universal, socialmente constituída, condição de existência em sociedade. Mas deve ser também considerado o papel que a mesma desempenha enquanto competência social, que se forma em circunstâncias específicas, que é estimulada em determinados contextos e que tem efeitos concretos nas vivências individuais. Ou seja, apesar de ser uma capacidade individual comum, é formada, ativada e tem eficácia causal diferenciada consoante os processos sociais e os contextos implicados. É uma capacidade partilhada pelo facto de resultar de dinâmicas de socialização (nomeadamente familiares) que, apesar de se configurarem de modos muito distintos, são transversais aos atores sociais. É uma capacidade aprendida, que ao ser desenvolvida contextualmente e ao produzir consequências diferenciadas na existência dos indivíduos, assume também o papel de competência. Todas as pessoas pensam sobre si mesmas por referência às suas circunstâncias sociais, mas não o fazem necessariamente da mesma forma.
O presente artigo tem precisamente por objetivo a análise dos processos de formação da reflexividade individual, em particular dos que ocorrem na família. Esta discussão assenta numa pesquisa centrada no modo como essa capacidade é formada, nas suas modalidades de exercício e nos efeitos que a mesma tem nas práticas individuais (Caetano, 2013). Mobilizando uma estratégia metodológica qualitativa, de cariz intensivo, foram realizadas entrevistas biográficas, em mais do que uma sessão, a um conjunto socialmente diversificado de pessoas, com o intuito de captar experiências passadas, interpretações presentes e projetos de futuro. Com base neste material empírico foi possível explorar os mecanismos e processos que participam na constituição dos modos diferenciados como cada pessoa se perceciona, observa e interpreta o mundo social em que vive.

O estudo sociológico da reflexividade individual

Considerando que os indivíduos têm um papel ativo na construção da realidade social em que vivem, bem como na sua reprodução, não seria viável conceber as suas existências como obedecendo a princípios mecanizados de ação, que não exigissem qualquer tipo de olhar distanciado sobre aquilo que são e fazem, e sobre o que os rodeia. Ser indivíduo em sociedade significa também ser sujeito de si mesmo, ou seja, ter a capacidade de se tomar a si próprio e às suas condições sociais como objeto de observação e reflexão (Sayer, 2010).

A monitorização da ação é uma característica fulcral das dinâmicas sociais (Giddens, 2004). É através deste mecanismo que as pessoas adequam as suas práticas aos contextos em que atuam e aos atores sociais que neles encontram e com quem interagem. É verdade que a ação tem uma componente pré-reflexiva, que permite aos sujeitos saberem como agir num dado contexto, sem que para tal tenham de refletir sobre a melhor coisa a fazer. As dinâmicas sociais são repetitivas e estruturam-se em torno de rotinas que sustentam a segurança ontológica dos indivíduos (Giddens, 2001). Seria impossível que vivessem num estado permanente de alerta. É essa a função do sentido prático de que falava Bourdieu (2002, 2008). Mas mantendo isto em mente, nenhum papel social, nem nenhum enquadramento estrutural funcionam, em todo o momento, com base em guiões pré-definidos que não exigem qualquer tipo de adaptação individual.
Há sempre um grau de imprevisibilidade que permeia os contextos sociais. Estes dependem sempre do encontro entre determinadas condições estruturais (que os sujeitos geralmente não podem controlar), com indivíduos dotados dos seus próprios sistemas de disposições, que, por sua vez, se adequam variavelmente quer à configuração desses enquadramentos, quer às disposições dos agentes com quem neles interagem (Lahire,
2001, 2002). Neste sentido, e porque é impossível prever todos os parâmetros de definição da situação, os sujeitos antecipam, preparam e reajustam as suas perspetivas e práticas, tanto in loco, como com algum distanciamento temporal (prévio ou posterior), de modo a tornarem possível as suas condutas e a própria interação. Para além disso, mesmo quando os indivíduos estão perante situações familiares, nas quais a orientação do sentido prático é suficiente, são múltiplas as ocasiões em que as práticas habituais são tomadas como objeto de reflexão.
Estas considerações fundamentam o modelo analítico no qual a pesquisa ancorou (Caetano, 2011, 2013). Este modelo combina propostas de diferentes autores que podem ser consideradas complementares em muitos aspetos, nomeadamente a abordagem disposicionalista de Bourdieu (2001, 2002, 2003) e Lahire (2001, 2002), a teoria da estruturação de Giddens (2004), o realismo crítico de Archer (2003a, 2003b), as propostas interacionistas de Goffman (1993) e também o contributo de autores de síntese como Mouzelis (2008).

A reflexividade é entendida como um mecanismo interno à mente individual, que se expressa através de conversas internas, ou seja, através de diálogos que cada pessoa mantém consigo mesma na sua mente nos quais clarifica e define crenças, atitudes, objetivos e práticas (Archer, 2003b). Mas para além desta componente interna expressa-se também através de manifestações externas, nomeadamente através do discurso, oral (sobretudo em contexto de interação) (Chalari, 2009) e escrito (Lahire, 2001). Neste sentido, é importante conceptualizar as dimensões interna e externa da ação para dar conta destas duas vertentes do conceito (Mouzelis, 2008). A relação entre ambas é mediada a três níveis. Ao nível estrutural pelo sentido prático, que faz a ponte entre as condições materiais de existência e as disposições incorporadas, permitindo aos agentes saberem o que fazer em situações sociais sem terem de ativar mecanismos de racionalização (Bourdieu, 2001, 2002; Giddens, 2004; Lahire, 2001). Ao nível contextual pelos enquadramentos e parâmetros da interação que cada pessoa mantém quer consigo mesma, quer com os outros, no sentido em que a definição e o rumo das condutas sociais dependem sempre dos enquadramentos intra e interrelacionais dos sujeitos (Goffman,
1993; Mouzelis, 2008). E ao nível individual pela própria reflexividade, que tem o potencial de atuar na mediação entre os constrangimentos e possibilidades das estruturas e os projetos individuais, através dos quais os sujeitos procuram adequar os seus objetivos e preocupações às suas condições sociais (Archer, 2003b, 2007, 2012).
Os princípios orientadores deste modelo têm por base a ideia de que é possível combinar propostas geralmente apontadas como opostas, como sejam a dualidade da estrutura e o dualismo analítico. Tal como Archer (2003b) defende, a análise da reflexividade como mecanismo social pressupõe, de facto, entender as estruturas sociais como entidades externas, na medida em que os sujeitos as tomam como objeto que constrange ou possibilita os seus projetos pessoais. Por outro lado, esta argumentação não contraria necessariamente a noção de que as estruturas sociais têm também uma existência interna que se concretiza nos sistemas de disposições dos indivíduos (Caetano, 2015b). Os processos de interiorização da exterioridade configuram o sentido prático (Bourdieu, 2008), ou a consciência prática (Giddens, 2004), que produzem ajuste pré-reflexivo das condutas às condições materiais de existência. Reflexividade e sentido prático são ambos mecanismos de orientação da ação, que podem atuar em circunstâncias diferentes, mas que se articulam permanentemente na definição das práticas (Adams, 2006; Adkins, 2003; Akram e Hogan, 2015; Chandler, 2013; Elder-Vass, 2007; Farrugia e Woodman, 2015; Fleetwood, 2008; Mouzelis, 2008; Sayer, 2010; Sweetman, 2003).

Os parâmetros operatórios deste modelo de análise foram transpostos para um dispositivo metodológico ajustado às especificidades da análise empírica da reflexividade (Caetano, 2011, 2015a). Mobilizando uma estratégia metodológica qualitativa, de cariz intensivo, foram efetuadas entrevistas biográficas a 20 pessoas, sendo que para cada uma delas foram realizadas pelo menos duas sessões de entrevista. O guião foi estruturado em torno de três blocos de questões. O primeiro diz respeito ao percurso biográfico, centrando- se nas condições e contextos do trajeto pessoal, bem como nos projetos e preocupações centrais de cada pessoa. O segundo remete para a vida quotidiana dos sujeitos, com especial enfoque nas rotinas diárias, mas também nas suas possíveis ruturas. E o terceiro bloco é aquele que diz mais diretamente respeito ao exercício da reflexividade, incorporando questões relativas às conversas internas de cada pessoa e às formas discursivas das reflexões individuais.
Foi entrevistado um conjunto relativamente diversificado de pessoas, sobretudo do ponto de vista do sexo, da idade, da escolaridade, da atividade profissional e das origens sociais: 10 mulheres e 10 homens, com idades compreendidas entre os 21 e os 80 anos, com relações diferenciadas com o sistema de ensino (desde aqueles que não frequentaram a escola, até aos que completaram o doutoramento), com atividades profissionais muito diferentes (desde pastor a professor universitário) e com origens sociais também distintas (mais e menos favorecidas). Para cada uma das 20 pessoas entrevistadas foi elaborado um retrato sociológico, enquanto ferramenta de análise da produção social dos indivíduos (Lahire, 2002), que destaca os elementos biográficos e as lógicas de causalidade social que permitem perceber como é que se traduzem numa dada pessoa os processos de formação, exercício e eficácia causal da reflexividade.

As primeiras grelhas de interpretação do mundo

É na esfera familiar, no âmbito da denominada socialização primária, que se enraízam de modo mais profundo os parâmetros de formação do modo como os indivíduos refletem sobre si mesmos, tendo por referência as suas circunstâncias sociais. Os sujeitos nascem em condições sociais e familiares que não são da sua escolha e que determinam os seus esquemas interpretativos do real (Berger e Luckmann, 2004: 139). É no seio da
família, a única realidade que conhecem intimamente até certa fase das suas vidas, que desenvolvem uma grelha de observação e avaliação daquilo que os rodeia. O mundo social é filtrado, pelo menos numa etapa inicial, pelos contextos familiares. Os seus membros, com base nas próprias grelhas interpretativas, indissociáveis da sua localização no espaço social, selecionam os elementos do real que maior importância assumem e que constituem o universo simbólico e material da família.
As crianças e adolescentes aprendem o lugar que ocupam no grupo familiar, mas também no seu exterior, o comportamento mais adequado a adotar em determinados contextos, como devem interpretar aquilo que ocorre dentro e fora da família, bem como os limites daquilo que desejam e do que lhes é possível concretizar. A reflexividade integra assim os processos mais vastos de interiorização da exterioridade (Bourdieu, 2002: 163). É nestas dinâmicas que se formam as disposições, mas também as competências reflexivas. No seio da família, os indivíduos aprendem a agir “como deve ser”, sob orientação do sentido prático, sem que tenham de deliberar sobre as suas opções, mas é também neste contexto que desenvolvem a capacidade de se questionarem a si mesmos e àquilo que os rodeia. Há, aliás, relatos, de alguns entrevistados, de episódios de ativação de competências reflexivas que remontam ao período de infância.
De facto, o contexto familiar é fulcral e desempenha um papel decisivo na constituição da reflexividade individual, pelo facto de ter um cariz introdutório ao mundo, se prolongar no tempo e constituir, assim, as bases disposicionais de cada pessoa (Bourdieu, 2008; Lahire, 2007, 2011). É no âmbito da socialização primária que os sujeitos fazem os primeiros exercícios de abstração de papéis e atitudes e que começam a desenvolver uma relação distanciada consigo mesmos. Estas dinâmicas remetem para o papel ativo que os sujeitos também assumem nos processos de socialização, ao invés de serem recetáculos passivos de normas, valores e práticas (Abrantes, 2011).
A influência da família na constituição de competências reflexivas ocorre, contudo, de forma distinta consoante o seu enquadramento social, sendo possível identificar diversos estilos de exercício da reflexividade. Essas diferenças podem ser tipificadas, na medida em que representam padrões de proximidade e distanciamento entre entrevistados. No fundo, é possível definir uma tipologia de modos de reflexividade, atendendo não só aos processos de formação de competências reflexivas, mas também ao exercício e à eficácia causal dos modos de cada pessoa se pensar a si mesma no mundo (Nico e Caetano, 2015). Embora estes três processos sejam indissociáveis, o foco da discussão centra-se apenas nas dinâmicas de constituição diferenciada de quatro perfis reflexivos, através dos estímulos que ocorrem na família: auto-referencial, funcional, resistente e pragmático.

A convergência de estímulos diretos que se reforçam mutuamente

A reflexividade auto-referencial caracteriza-se pelo permanente questionamento dos sujeitos relativamente às suas perceções, práticas e relações em diferentes contextos sociais e momentos no tempo, tomando frequentemente as suas próprias conversas internas como objeto de reflexão. É um perfil particularmente feminizado e qualificado, sendo que os estímulos para a constituição e desenvolvimento de competências reflexivas aumentadas são transversais às diferentes esferas de vida por onde estes indivíduos se movem.
Nestes casos a reflexividade é estimulada de forma direta desde muito cedo, sobretudo através do contacto com a diversidade cultural. Os indivíduos que integram este grupo mantêm uma relação de grande proximidade com os familiares do ponto de vista emocional, mas também na partilha de atividades culturais e nas sociabilidades. Os pais e os avós (e por vezes tios ou primos) assumem-se como figuras centrais nas suas vidas, pela ligação emocional que desenvolveram, mas também pelo contacto que lhes proporcionaram com determinado tipo de práticas e valores. Estes entrevistados relatam múltiplos episódios de incentivo de atividades culturais, como sejam a leitura, a escrita, a audição de música, a prática de um instrumento musical, a participação em grupos de teatro, as idas ao cinema ou a outro tipo de espetáculos culturais, o investimento em ativismo cultural, a prática de artes decorativas ou a realização de viagens dentro e fora do país.
O seio familiar e o espaço doméstico são entendidos como lugares de abertura e como palco de concretização dos interesses pessoais de cada sujeito. Os entrevistados eram incentivados a levarem os amigos (ou namorados) para casa, a aí organizarem atividades conjuntas, bem como a partilharem com os pais a evolução dos seus relacionamentos (de amizade ou amorosos). Algumas práticas como a leitura ou a audição de música são inclusive partilhadas entre pais e filhos, numa relação de duplo sentido: se numa fase inicial liam ou ouviam o que encontravam em casa, com a adolescência, com o contacto com outras pessoas e meios e com o consequente desenvolvimento de um gosto pessoal passaram também a sugerir aos pais livros e músicas. No fundo, estabeleceram com os pais uma relação de amizade, em muito assente no diálogo. Estes entrevistados foram particularmente estimulados a exteriorizarem os seus pensamentos e emoções e a exercerem a sua reflexividade discursivamente, sobretudo com a família e amigos. Mesmo ultrapassado o processo mais precoce de identificação com os familiares, inerente às dinâmicas de socialização primária na família, e até depois de atualizarem as suas disposições noutros contextos sociais, estes entrevistados mantiveram sempre os pais como referências centrais nas suas vidas.
Outro aspeto fulcral nos processos de estímulo da reflexividade levados a cabo no seio da família diz respeito à valorização das qualificações formais. O ambiente familiar imbuído de interesses culturais tornou a prossecução dos estudos para o ensino superior numa escolha evidente para os sujeitos. Os entrevistados que integram o perfil auto- referencial desenvolveram na família práticas de aprendizagem e de procura e interesse pelo conhecimento muito similares aos que eram exigidos em contexto escolar, pelo que a transição e a articulação entre estes dois enquadramentos foi sempre vivida de forma harmoniosa e com mútuo fortalecimento. A este nível importa destacar a importância atribuída à organização pessoal no seio da família, que encontrou reforço positivo na experiência escolar. É quase generalizada a descrição dos pais como sendo metódicos e organizados; traços estimulados nos filhos e reforçados pela escola. A socialização de género no seio da família, pelas expectativas direcionadas para as mulheres na adoção de uma postura responsável, organizada e regrada, bem como a participação em atividades de lazer que exigem características pessoais similares (como a prática de um instrumento ou o teatro), constituíram ainda reforços adicionais a este tipo de competências reflexivas.

As ideologias políticas, em particular de esquerda, são outro dos elementos de transmissão familiar que atuaram no estímulo da reflexividade. Bem presente nos seus discursos estão preocupações vincadas com desigualdades sociais que decorrem da presença constante de inquietações manifestas diretamente pelos pais relativamente a processos de diferenciação social. Apesar de serem oriundos de agregados domésticos favorecidos do ponto de vista económico e cultural, os pais fizeram questão que os filhos não tomassem os seus contextos de vida por garantidos, fazendo-os tomar consciência da existência de outros meios de vida e da necessidade de assumirem uma atitude proactiva na manutenção e melhoria das suas condições de existência. Este processo resultou no estímulo direto da autonomia pessoal, no desenvolvimento de uma visão crítica sobre si e sobre o mundo e na assunção, desde muito novos, de responsabilidades familiares e financeiras.
As vivências familiares dos indivíduos com uma reflexividade auto-referencial foram, no fundo, mais viradas para o exterior (embora mantendo a interdependência emocional da família) do que as dos restantes entrevistados, no sentido em que estão permeadas pela permanente circulação por diferentes contextos e pelo contacto com padrões de heterogeneidade cultural e social. A pluralidade disposicional daqui decorrente atuou no estímulo direto da reflexividade individual. Ao moverem-se por diferentes enquadramentos tiveram de aprender as regras sociais e as normas de conduta de cada um deles e adaptar-se à pluralidade disposicional das pessoas com quem foram interagindo nesses contextos (Burns e Flam, 2000).
O contacto com esta diversidade contextual articula-se com o estímulo de atividades que remetem para uma relação mais distanciada com o mundo, com a valorização da formação escolar e de práticas de organização pessoal, com o apoio à elaboração de projetos individuais, com o incentivo à construção de uma perspetiva pessoal sobre o que os rodeia e com o desenvolvimento de preocupações sociais, num ambiente propício ao desenvolvimento da reflexividade individual. Isto porque todos estes elementos implicam tomada de consciência relativamente a outras formas de organização social e familiar, elaboração de projeções futuras, práticas de abstração, bem como dinâmicas de questionamento, de comparação e de posicionamento face aos outros, que são em si mesmos exercícios reflexivos. O facto de estes estímulos terem sido precoces, intensos, prolongados no tempo e de terem encontrado condições favoráveis de reforço e atualização ao longo do percurso biográfico tornam o exercício destas competências em traços pessoais particularmente vincados.

O papel dos conflitos familiares

Face ao cariz involuntário do posicionamento num determinado contexto familiar ou socioeconómico, as experiências no seio da família não têm necessariamente de ser vivenciadas com satisfação, como sendo capacitadoras e estimulantes, e ainda reforçadas por enquadramentos externos, como se verificou no caso dos sujeitos com uma reflexividade auto-referencial. Noutras circunstâncias, as vivências familiares na infância e adolescência podem ser percecionadas como constrangimento. Mas isso não significa que o efeito na reflexividade individual seja também o oposto. Na realidade, vivências menos positivas com os pais podem igualmente ter um efeito de reforço das competências reflexivas, embora num sentido distinto, quer por via da existência de conflitos no seio da família, quer como resultado de contextos de carência.
No primeiro caso encontram-se os entrevistados que integram o perfil funcional. Diversificado do ponto de vista socioeconómico, é exclusivamente constituído por entrevistados do sexo masculino e define uma forma de pensar sobre si no mundo orientada para fins bem definidos, geralmente associados à necessidade de tomada de decisão. Ou seja, estes indivíduos ativam as suas competências reflexivas apenas quando têm de ponderar acerca de um determinado problema ou opção a tomar. A ativação da reflexividade não é tão abrangente e transversal como a do perfil auto-referencial.
Problemas relacionados com discussões familiares, com o desacordo face a princípios e práticas dos pais, com obstáculos económicos, com a toxicodependência de um irmão, com uma situação de divórcio dos pais ou com problemas na partilha de vida com um irmão gémeo estão na origem de dificuldades de relacionamento interpessoal no seio da família de origem, que resultaram na procura de autonomização por parte dos sujeitos deste grupo. O investimento numa estratégia de emancipação (mas não de rutura) face à família ocorreu do ponto de vista económico, residencial e de monitorização das suas condutas, e resultou da ativação de competências reflexivas.
O desconforto que sentiam no seio da família teve, no fundo, um efeito de reforço da sua reflexividade pela comparação que estabeleciam com outras formas de convivência familiar e interindividual, e pela definição de um projeto de vida que implicava afastamento desse contexto. Um pressuposto deste processo assenta, mais uma vez, no contacto com alguma diversidade social e cultural, que permitiu o desenvolvimento de uma perspetiva mais abrangente na forma como se entendem a si mesmos e se posicionam face aos outros. O descontentamento é, precisamente, resultado deste exercício reflexivo. Se no caso dos entrevistados com um perfil auto-referencial o estímulo da reflexividade se faz sobretudo pelo reforço mútuo de contextos sociais, por outro lado, relativamente aos sujeitos que integram o modo funcional, o incentivo de competências reflexivas é o produto do confronto entre esferas de vida.

O confronto entre o contexto familiar e outros modos de vida

O modo de reflexividade resistente caracteriza modos de pensar focados sobretudo na manutenção da posição social alcançada, que se encontra em risco pelo surgimento de novas dificuldades financeiras decorrentes da conjuntura socioeconómica do país. Este grupo é constituído por mulheres com baixos níveis de escolaridade, que conseguiram melhorar a sua qualidade de vida, face àquele que era o cenário de pobreza das suas origens sociais, e que lutam atualmente para manter o que conseguiram alcançar (do ponto de vista financeiro, laboral e residencial), sendo esse o foco central das suas preocupações e que define o modo como se veem a si mesmas e aos outros no mundo.
Nestes casos o confronto entre esferas de vida resulta de situações de carência, tanto material como afetiva. Numa primeira fase, as suas competências reflexivas foram desenvolvidas em contextos marcados por graves dificuldades económicas, agravadas ainda por problemas associados ao alcoolismo e à violência doméstica. Face à insatisfação e tristeza que sentiam relativamente às suas vivências familiares, ainda na infância e adolescência, questionavam-se acerca do comportamento dos pais e das razões que explicavam o ambiente em que viviam. Tendo por objetivo afastarem-se dos contextos de origem e construírem uma nova vida familiar, definiram no casamento uma estratégia de concretização dos seus planos de melhoria das condições emocionais e materiais de existência.
Numa segunda fase, já depois de casadas, nalguns casos após deslocação residencial para outro local, e tendo concretizado uma melhoria relativa dos seus contextos de vida, passaram a ter contacto com outros meios de existência e com um grupo mais diversificado de pessoas do ponto de vista económico e cultural, que tiveram um impacto determinante no desenvolvimento e na configuração atual das suas competências reflexivas. No fundo, tomaram consciência da existência de outras formas de organização familiar e económica, passaram a comparar-se com outros grupos sociais, criaram novos grupos de referência, direcionaram um novo olhar para o passado e começaram a questionar aspetos das suas vidas sobre os quais nunca tinham pensado anteriormente.
Por exemplo, aquilo que foi vivido com angústia e que tinha gerado ressentimento face aos pais, nomeadamente no período da infância, passou a ser racionalizado e enquadrado naquilo que eram os padrões da época, o que permitiu aliviar sentimentos de tormento direcionados ao passado. As relações de género passaram também a ser objeto de reflexão, o que as levou a procurarem padrões de relacionamento conjugal mais igualitários. No fundo, apenas depois de atingirem um determinado patamar de condições materiais e emocionais de vida e de, assim, tomarem consciência do contraste existente entre os seus contextos de origem e a sua situação presente (ou mesmo a que gostariam ainda de alcançar), se criaram condições para que orientassem as suas preocupações e reflexões para outro tipo de questões, que não exclusivamente as que dizem respeito a privações materiais e emocionais.

O impacto dos contextos de carência

Os contextos de carência podem, contudo, não ter o mesmo efeito de estímulo da reflexividade se não se verificar, precisamente, esse confronto entre contextos de vida. O caso dos entrevistados com um perfil pragmático é disso exemplo. Integram este grupo os entrevistados menos qualificados e mais desprovidos de recursos em termos gerais, que se inserem em contextos sociais de fraca exigência e estímulo da reflexividade individual. Viveram a infância e adolescência em enquadramentos de extrema pobreza e privação afetiva e mesmo quando conseguiram melhorar relativamente os seus contextos de vida mantiveram-se sempre nos mesmos meios sociais, com os mesmos grupos de referência. As carências materiais sobrepuseram-se permanentemente a outro tipo de preocupações e orientaram a sua reflexividade para questões de ordem prática do quotidiano, nomeadamente as que dizem respeito à organização doméstica e às tarefas laborais. Esta configuração dos modos de se pensarem a si mesmos no mundo nunca se alterou porque os seus contextos de vida se mantiveram também inalteráveis, não exigindo a ativação frequente ou intensiva de competências reflexivas. Viveram sempre em meios (espaciais e sociais) similares, estão inseridos em redes de relacionamento com quem partilham alguma proximidade social e tiveram pouco ou nenhum contacto mais próximo com formas culturais e normativas distintas das suas. A estruturação dos seus enquadramentos de vida não tem sido, no fundo, favorável à constituição de uma relação distanciada consigo mesmos. Não se trata aqui de afirmar que não são pessoas reflexivas, ou que o são em menor grau. A questão é que quando comparados, por exemplo, com outros entrevistados, como os que têm uma reflexividade auto-referencial, direcionam preferencialmente os seus pensamentos para questões de outra ordem, a reflexividade assume um menor peso na orientação das suas condutas e têm menos recursos ao seu alcance para agirem criticamente sobre as suas circunstâncias.

Considerações finais

A reflexividade é constituída e desenvolvida ao longo do percurso biográfico, inscrevendo-se nos múltiplos processos de socialização de cada pessoa. A família, a escola, o trabalho, as sociabilidades e os lazeres, bem como contingências que afetam estas esferas de vida, combinam-se de forma variável na definição de um determinado perfil reflexivo. O que fica claro nesta análise é que a reflexividade é uma competência fortemente associada a outras competências, o que ajuda a perceber as suas diferentes formas de constituição, exercício e efeitos. Enquanto capacidade intelectual que pode ser exercida mentalmente, mas também por via do discurso oral e escrito, é indissociável das aprendizagens subjacentes a outras competências sociais que têm lugar, ao longo do percurso biográfico, nos diferentes domínios de vida. Os processos de socialização que ocorrem na família, sobretudo nos primeiros anos de vida, assumem, neste âmbito, um papel estruturante. O seu impacto na formação dos modos de reflexividade explica-se, em grande medida, pelo facto de preceder outras etapas socializadoras, ser prolongado no tempo e influenciar o investimento e, assim, o efeito da participação noutras dimensões de vida. É um contexto social privilegiado na formação das primeiras grelhas de interpretação do mundo e na construção de um olhar distanciado do real, por via da incorporação de hábitos de auto-observação e de análise das condições familiares, bem como de práticas, nomeadamente culturais, que estimulam um olhar reflexivo sobre o mundo.
Outros contextos socializadores desempenham também um papel central no desenvolvimento da reflexividade individual. É o caso da escola, sobretudo quando reforça os estímulos já existentes no seio familiar, ou cria hábitos que as crianças não tiveram a possibilidade de adquirir na família. A escola encoraja os alunos a realizarem exercícios de abstração, sobretudo com a linguagem, e a desenvolverem uma relação distanciada com o mundo, bem como uma perspetiva crítica acerca do que os rodeia. A eficácia destes processos de aprendizagem está, no entanto, amplamente conectada aos contextos e vivências familiares.

No fundo, as competências reflexivas adquiridas em diferentes enquadramentos, que nem sempre coincidem, são, ao longo do trajeto de vida dos sujeitos, reforçadas, contrariadas ou reajustadas pelas suas múltiplas experiências na escola, na esfera do trabalho, nos relacionamentos de amizade e relações amorosas, nas vivências familiares próprias e nas atividades de lazer. Sendo uma competência, a reflexividade vai evoluindo em consonância com aprendizagens, socializações e experiências de vida ao longo da biografia pessoal. Pode sofrer reajustes, reforços ou ser transformada por determinado tipo de eventos ou vivências, ou ainda de acordo com mudanças nas circunstâncias e contextos de vida dos sujeitos. Sendo constituída e requerida socialmente, muda em consonância com as dinâmicas sociais que estão na sua origem. O que não significa, por outro lado, que não tenha também um cariz duradouro. Apenas em casos mais extremos, de mudança profunda das trajetórias de vida, as transformações se fazem sentir de forma mais vincada. Na maior parte das situações, o modo de cada pessoa se pensar a si mesma vai sofrendo pequenas alterações e reajustes, sem que se alterem substancialmente os seus fundamentos, em grande medida com origem na família.

 

Referências bibliográficas

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Artigo recebido a 16 de março de 2016. Publicação aprovada a 12 de julho de 2016.

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