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Nascer e Crescer

versão impressa ISSN 0872-0754

Nascer e Crescer vol.21 no.3 Porto set. 2012

 

Resumo das Comunicações Orais

 

Filhos de mãe aghbs positivo – estaremos a fazer a imunoprofilaxia adequada?

 

Ana Freitas¹, Cristina Godinho²

¹ S. Pediatria, CH Porto

² S. Neonatologia, CH Porto

 

Introdução:A transmissão vertical da infecção por vírus da hepatite B (HBV) está associada a um risco elevado de infecção crónica e consequente doença hepática crónica e hepatocarcino­ma. A imunoprofilaxia adequada realizada aos recém-nascidos filhos de mães com antigénio HBs positivo (AgHBs+) é a melhor arma no combate a esta infecção. As recomendações nacionais atuais advogam a realização de imunoglobulina até às 12 horas de vida e esquema vacinal acelerado (0, 1 e 6 meses; ou 0, 1, 2 e 6 meses se peso ao nascer inferior a 2000g), associado a pesquisa de serologias entre os 9 e 15 meses para determinar a eficácia da imunoprofilaxia.

Objectivo: Estudo descritivo para determinar se a imuno­profilaxia para a transmissão vertical da infecção por VHB foi realizada segundo as recomendações nacionais, numa amostra de crianças nascidas no Centro Hospitalar do Porto - unidade Maternidade Júlio Dinis (MJD).

Material e Métodos: Foram selecionados os recém­-nascidos filhos de mãe AgHBs+ nascidos na MJD entre Outubro/2009 e Março/2012. As variáveis analisadas foram ob­tidas pela consulta do processo hospitalar, contacto electrónico com as unidades de cuidados de saúde primários e contacto te­lefónico com as mães.

Resultados: A amostra foi constituída por 28 crianças com idades compreendidas entre os 3 e 31 meses (mediana de 19,5 meses). A 1ª dose da vacina e imunoglobulina foi administrada nas primeiras 12 horas de vida em 27 crianças, a 2ª dose de vacina foi administrada ao mês de idade em 7 crianças (29%, N=24) e a 3ª dose foi administrada aos 6 meses de idade em 17 crianças (89%, N=19). Uma das crianças tinha peso ao nascimento inferior a 2000g tendo realizado vacina aos 0, 1.5 e 6 meses de idade. Todas as crianças que mantinham segui­mento clínico na MJD aos 9 meses de idade realizaram sero­logias (N=6, todas com título elevado de anticorpo anti-HBs); das crianças seguidas em unidades de cuidados de saúde pri­mários e com mais de 15 meses de idade (N=10), apenas uma tinha realizado serologias.

As restantes 9 crianças (90%, N=10) serão convocadas para pesquisa de serologias na MJD.

Comentários: A amostra selecionada neste estudo é de reduzidas dimensões, o que dificulta a extrapolação destes re­sultados para a comunidade. No entanto, salienta-se que nesta amostra a imunoprofilaxia da transmissão vertical da infecção por VHB não foi adequada na grande maioria das crianças. Os autores sugerem a necessidade de reforçar a divulgação das re­comendações nacionais nesta área.

 

Aleitamento materno nos recém-nascidos de muito baixo peso

 

Ana Cristina Barros1, Vanda Van-Dúnen1, Mariana Martins1, Cláudia Ferraz1, Alexandrina Portela1, Rute Vaz1, Maria José Costa1

1S. Neonatologia, Dep. da Mulher, da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

 

Introdução: A alimentação dos recém-nascidos (RN) com peso inferior a 1500 gramas é essencial para garantir o atingi­mento do seu potencial máximo de crescimento e neurodesen­volvimento.

Material e métodos: Análise retrospetiva dos processos clínicos das crianças, com peso ao nascimento inferior a 1500 gramas, internadas no Serviço de Neonatologia do Hospital Pe­dro Hispano entre Janeiro de 2010 e Dezembro de 2011. Dados complementados por entrevista telefónica.

Resultados: Durante o período de estudo estiveram inter­nadas no Serviço de Neonatologia 59 RN. A idade média da mãe na altura do parto era de 31,2 anos e 54% das mães tinha como habilitações literárias o ensino superior. A idade gestacional mé­dia foi de 30 semanas e 3 dias, a média do peso ao nascimento foi 1198g e havia restrição de crescimento intra-uterino em 39% dos casos. A maioria dos RN iniciou alimentação entérica aos 3 dias de vida (82% fizeram leite materno, dos quais 50% em ex­clusivo). A duração média do internamento foi 43 dias e a idade corrigida na alta de 35 semanas e 3 dias. No momento da alta 68% dos RN fazia leite materno, dos quais 50% em exclusivo. Cerca de 60% das crianças era alimentada com leite materno ex­traído. A duração média do aleitamento materno exclusivo foi de 2,5 meses e do aleitamento materno, suplementado com leite de fórmula, de 7,5 meses. A retoma da atividade profissional da mãe ocorreu, em média, 5,7 meses após o parto. O peso aos 6, 12 e 18 meses era superior ao percentil 5 em 36%, 49% e 65%, res­petivamente. As crianças que não fizeram leite materno ou cuja duração foi inferior a 2 meses apresentaram percentis de peso e comprimento, aos 6, 12 e 18 meses, superiores em relação às que fizeram leite materno durante mais do que 2 meses.

Discussão: O leite materno é o melhor alimento para o RN, independentemente do peso e da idade gestacional. A necessidade de adicionar ao leite materno fortificantes ou suplementos explica a percentagem significativa de RN alimentados com leite materno extraído. Apesar de, nesta amostra, a evolução ponderal ter sido melhor nas crianças alimentadas com leite de fórmula, a literatu­ra mostra que os RN prematuros, a que se associa baixo peso, alimentados com leite materno, apresentam um neurodesenvolvimento melhor, relativamente aos alimentados com leite de fórmula (efeito paradoxal aparente do leite materno). Este conceito reforça a necessidade de seguimento a longo prazo destes recém-nascidos.

 

Hidronefrose: a propósito de 2 casos clínicos

 

Raquel Azevedo Alves¹, Liane Costa¹, Mariana Martins¹, Vânia Gonçalves¹, Carlos Ferreira², Maria Eduarda Cruz¹

¹ S. Pediatria, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

² S. Urologia, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

 

Introdução: A obstrução do tracto urinário pode ocorrer du­rante o desenvolvimento fetal, infância e idade adulta. A etiologia pode ser congénita ou adquirida. Em pediatria a maioria das le­sões obstrutivas são de origem congénita. A manifestação clínica mais comum é a cólica renal em contexto de hidronefrose.

Casos clínicos: Os autores apresentam duas adolescen­tes, 17 anos, com manifestações clínicas semelhantes mas etio­logias diferentes. Caso 1: Internada a 01.05.2012 por dor lombar e Murphy renal à dta, febre com 3 dias de evolução. Analitica­mente leucocitose com neutroflia, PCR positiva, leucocitúria e hematúria. Ecografia:“moderada dilatação pielocalicial à dta, aparentemente causada por um cálculo com 10mm no uréter proximal, após a junção pielo-ureteral; litíase renal à dta; inú­meros focos litiásicos em todos os grupos caliciais/medulas do rim esq, podendo representar uma nefrocalcinose medular; sem ectasia das cavidades excretoras. Internada 7 dias realizando antibioterapia por PNA a Proteus Mirabilis. Submetida em D3 a ureteropielografia retrógrada que revelou 2 imagens de subtra­ção e realizada remoção transureteral dos cálculos com deriva­ção urinária retrógrada cateter ureteral duplo J.

Caso 2: Seguida consulta de Pediatria em 2011 após episó­dio de abdominalgias, sem outros sintomas ou sinais. Ecografia e TAC abdominal “rim esq com dilatação pielocalicial de 25mm, compatível com provável síndrome de junção”. Cintigrafia renal MAG-3 “rim esq com redução ligeira da função renal diferen­cial (38%) marcado compromisso da drenagem (estase pielo­-calicial), sugerindo padrão obstrutivo”.

Internada a 02.05.2012 por dor lombar irradiando FIE e febre com 2 dias de evolução. Analiticamente leucocitose com neutrofilia, PCR positiva e leucocitúria. A ecografia “marcada hi­dronefrose à esq em relação com síndrome de junção; dilatação piélica atingindo 26mm no sentido antero-posterior; sem sinais ecográficos associados de hidronefrose ou de pielonefrite”. Inter­nada 6 dias, realizando antibioterapia por PNA E. coli. D2 sub­metida a ureteropielografia retrograda revelando ureter fi no sem tortuosidades, com aperto na junção pieloureteral e hidronefrose volumosa com dilatação infundibulo-calicial. Derivação urinária com cateter ureteral duplo J.

Discussão: Dois casos de síndrome de junção de etiologia diferente, focando a importância da forma de apresentação clíni­ca, assim como da necessidade de um diagnóstico e intervenção terapêutica precoce.

 

Meningite por enterovírus – a importância da identificação rápida

 

Joana Magalhães¹, Maria João Vieira², Paula Mota³. Armandina Silva², Ana Luísa Lobo²

¹ S. Pediatria, DCA, CH Porto

² S. Pediatria, CH Alto Ave ³ S. Microbiologia, CH Alto Ave

 

Introdução: Os enterovirus são a principal causa de me­ningite assética na criança, sendo importante diferencia-la dos agentes que exigem terapêutica adequada e precoce. No Centro Hospitalar do Alto Ave (CHAA) é feita identificação deste agente no líquor por RT-PCR desde 2010 sempre que estudo citoquí­mico compatível, com resultado em 24h, sendo anteriormente realizado fora do hospital, com resultado demorado.

Material e Métodos: Estudo retrospetivo, com consulta dos processos clínicos das crianças internadas em 2008 e entre Ju­lho de 2010 e Junho de 2011 às quais foi pedida pesquisa de enterovirus no liquor, com o objetivo de comparar a conduta pe­rante estes doentes antes e após a realização do teste no CHAA e as suas implicações.

Resultados: Foram realizados 61 testes em 2008, 30 po­sitivos e 10 (16%) desconhecidos. No período 2010/2011, foram realizados 57 testes, 32 positivos. Verificou-se um predomínio de meningite a enterovirus no sexo masculino, com média de idades de 5 anos e maior prevalência no verão.

O estudo analítico revelou leucócitos no líquor e proteína c reativa similares (p=0,687 e 0,436) mas menos leucócitos séri­cos e maior relação glicorráquia/glicemia nas meningites por en­terovirus relativamente aos outros casos de meningite (26, sem identificação de agente em 24).

Tiveram diagnóstico de meningite 48 crianças em 2008 (30 enterovírus), e iniciaram antibiótico (ATB) 12 (25%), 7 com resulta­do positivo. Em 2010/2011 foi diagnosticada meningite a 41 crian­ças (32 enterovírus) tendo iniciado ATB 17 (41.4%), 11 positivos.

Não houve diferença entre os anos na percentagem em que foi instituído ATB quer nas crianças com meningite quer nas crianças com resultado positivo (23% vs 34%, p=0,408). Porém, em 2008 as 7 crianças completaram o tratamento, e em 2011 a identificação do agente permitiu suspensão em 24h em 9 de 11.

A duração média do internamento foi respetivamente de 3,23 e 2,88 dias (p=0,69). Todos os doentes tiveram boa evolu­ção clínica.

Conclusões: A disponibilidade rápida do resultado de PCR para enterovirus no liquor não diminuiu o número de crianças que iniciaram ATB, provavelmente pela valorização da clínica, rastreio sético e estudo citoquímico do líquor. Permitiu porém suspensão precoce nos positivos, reduzindo custos inerentes á terapêutica.

A ausência de diferença significativa na duração do interna­mento pode dever-se à possibilidade de completar antibioticote­rapia em hospital de dia ou ao tamanho da amostra.

 

Conhecimentos e atitudes dos cuidadores acerca da exposição solar em idade pediátrica

 

Joana Leite¹, Sara Domingues², Joana Sampaio³, Raquel Braga3

1 S. Pediatria, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

2 S. Pediatria, CH Tâmega e Sousa

3 USF Lagoa

 

Introdução: A exposição solar excessiva em crianças pode contribuir para o aparecimento de cancro de pele na vida adulta, sendo este grupo etário particularmente vulnerável aos efeitos nocivos da radiação ultravioleta. Este estudo pretendeu carac­terizar os conhecimentos e atitudes dos cuidadores de crianças acerca da exposição solar.

Materiais e Métodos: Realizou-se um estudo observa­cional analítico entre Julho e Outubro de 2012, na Unidade de Saúde Familiar Lagoa, com a realização de um questionário diri­gido aos cuidadores das crianças frequentadoras da Consulta de Saúde Infantil, dos 0 aos 18 anos, tendo-lhes sido entregue um folheto informativo posteriormente. Os dados foram registados e analisados com o programa SPSS®.

Resultados: Obtiveram-se 104 questionários, apresentan­do os cuidadores uma idade média de 36 anos e as crianças de 14 anos. A maioria dos cuidadores (89.4% e 95.2%, respe­tivamente) tem conhecimento de que a exposição solar não é nociva apenas no Verão e na praia. Cerca de 30% acredita que o sol só tem efeitos nocivos na pele, 35% reconhece a exposição solar mais nociva das 11 às 16 horas e 5.7% definem esse período igual ou inferior a três horas. A maioria usa protetor, chapéu, sombras ou guarda-sol e evicção do sol nas horas de maior pico; 76% usa camisola de manga curta e 65.4% óculos de sol. Na praia, 95.2% dos cuidadores aplica sempre protetor solar, en­quanto noutras atividades ao ar livre apenas 28%. Quanto ao Fator de Proteção solar usado nas crianças, 89.4% usa fator 50, 2.9% igual ou inferior a 20 e 1.9% não usa. Constatou-se que 11.2% dos cuidadores que responderam não ser suficiente apli­car protetor uma vez por dia não repetem a aplicação; 33.7% dos que apontaram que o sol tem atingimento ocular não usam óculos; 47.5% dos que sabem que se deve usar protetor nas atividades ao ar livre não o aplicam sistematicamente.

Discussão: A maioria dos cuidadores demonstra conheci­mentos teóricos sobre os efeitos nocivos da radiação ultravio­leta, mas nem sempre os aplicam à prática. Salienta-se que só cerca de 35% saibam o horário de exposição solar mais nociva e cerca de 6% assinalem um período igual ou inferior a três horas, o que pode levar ao aumento do risco de queimaduras solares em idades precoces e subsequentemente de melanoma. Assim, é fundamental fomentar hábitos de fotoproteção adequados na infância e optimizar os conhecimentos dos pais, tendo sido essa a principal finalidade do estudo traduzida na entrega do folheto informativo.

 

Tuberculose em idade pediátrica: experiência de um hospital terciário de 2000-2012

 

Joana Correia1, Catarina Mendes1, Lurdes Morais1, Margarida Guedes1, Laura Marques1, Virgílio Senra1

1 S. Pediatria, CH Porto

 

Introdução: A tuberculose (TB) mantém-se um importante problema de saúde pública. Na idade pediátrica está associada a um maior risco de progressão para doença e manifestação de formas graves.

Objetivos: Caracterização clínica e epidemiológica dos ca­sos de tuberculose doença internados no serviço de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, entre janeiro de 2000 e setembro de 2012.

Métodos: Estudo observacional retrospetivo, baseado na análise dos processos clínicos dos doentes internados com o diagnóstico de tuberculose.

Resultados: No período estudado foram admitidos no inter­namento de pediatria 43 crianças com infeção por Mycobacterium tuberculosis, das quais 35 apresentavam tuberculose doença. A idade de diagnóstico variou entre os 6 meses e os 18 anos, com uma mediana de 3 anos e média de 5,79. Todos os casos tinham sido vacinados com BCG. Duas crianças (5,7%) tinham infecção VIH. O diagnóstico baseou-se na história de contacto (83%), pro­va tuberculínica positiva (80%) ou teste IGRA positivo (positivo em 7 de 8 doentes) e alterações imagiológicas. A radiografia do tórax foi realizada em 97% dos casos (sensibilidade de 88%) e a TAC torácica foi feita em 57% dos doentes, apresentando-se alterada em todos. O M. tuberculosis foi isolado no suco gástrico (positivo em 8 de 29 doentes) e na expetoração (2 de 4 doen­tes); identificou-se por técnica de PCR em 3 casos adicionais (2 no LBA e 1 no LCR). Foram diagnosticados 29 casos de TB pulmonar (um complicado com TB endobrônquica), 3 casos de TB osteoarticular, 1 caso de TB miliar, 1 caso de TB cutânea e 1 caso de TB meningea. Instituiu-se terapêutica tripla em 57% dos doentes e quadrupla em 34%; um dos doentes iniciou tratamen­to de TB multirresistente de acordo com antibiograma do caso index. Nos casos de TB meníngea, miliar e endobrônquica foi realizado tratamento adjuvante com corticoide.

Comentários: Os resultados encontrados estão de acor­do com a literatura, sendo o atingimento pulmonar a forma mais frequente da doença (82,9%). O diagnóstico da TB em idade pediátrica é essencialmente clínico, não sendo possível o isola­mento do agente na maioria dos casos. É de salientar a história de contacto com um doente bacilífero em 83% dos doentes, pelo que a progressão para doença poderia ter sido evitada por um correto rastreio dos conviventes e instituição de quimioprofilaxia ou tratamento de acordo com a situação clínica.

 

Traumatismo craniano em idade pediátrica – casuística de 1 ano do hospital de aveiro – CHBV

 

Ana Ratola1, Estefânia Maia1, Ângela Almeida1, Raquel Zenha1, Ana Nordeste1, Sílvia Almeida1

1 S. Pediatria, H Aveiro, CH Baixo Vouga

 

Introdução: Os traumatismos crânio-encefálicos (TCE) são um motivo frequente de recurso ao Serviço de Urgência Pediátrica (SUP) e exigem a avaliação do risco de lesão intra­-craniana (LIC). Os TCE classifi cam-se em ligeiros, moderados ou graves de acordo com a alteração do estado de consciência, avaliado pela Escala de Coma de Glasgow (ECG). A maioria das crianças sofre TCE ligeiros que corresponde a valores entre 13 e 15 na ECG.

Objectivos: Caracterizar as admissões por TCE num perí­odo de 12 meses para posterior elaboração de um protocolo de actuação no SUP.

Material e métodos: Análise retrospectiva dos episódios de urgência/internamentos por TCE do Serviço de Pediatria do CHBV, entre Janeiro e Dezembro de 2011. Analisaram-se as se­guintes variáveis: idade, sexo, antecedentes pessoais, manifes­tações clínicas, exames complementares e orientação.

Resultados: No período em estudo ocorreram 561 episó­dios de TCE no SUP (1,5% do total de admissões). A idade me­diana foi de 3,99 anos (28,9% <2 anos) e 62,7% eram do sexo masculino. Os principais mecanismos de traumatismo referidos foram queda da própria altura ou até 1 metro. As áreas crania­nas de impacto mais frequentes foram frontal (51,7%), occipital (25,5%) e parietal (14,4%). Os sintomas maioritariamente referi­dos foram vómitos (14,3%), sonolência (9,4%), cefaleias (6,4%) e perda de consciência (2,8%), permanecendo 66,3% dos casos assintomáticos. Todos apresentaram TCE ligeiro (ECG≥14). As principais lesões observadas ao exame objectivo foram hemato­mas epicranianos, feridas e escoriações.

Relativamente aos exames auxiliares de diagnóstico, 38,5% das crianças realizaram radiografia de crânio, suspeitando-se de fractura em 6 casos (2 não confirmados) e 5,8% foram submeti­das a tomografia computorizada crânio-encefálica (TC-CE), que revelou hematoma extra-dural num caso e fractura óssea em 5. Houve necessidade de vigilância/internamento em 57 crianças (tempo médio de 16,8 horas) e 3 foram transferidas para Hospital Nível 3.

Conclusão: Neste estudo todos os TCE foram ligeiros, 5 crianças apresentaram fractura de crânio e apenas 1 LIC (valor mais baixo do que obtido noutros estudos). Elevado número de crianças realizaram radiografia de crânio, exame pouco sensível e que necessita de treino na interpretação, sendo a TC-CE o exame de referência. Realça-se a necessidade da valorização clínica através da realização de protocolos de actuação, vigilân­cia e realização ponderada de exames de neuro imagem.

 

Uso das redes sociais online em adolescentes do ensino secundário

 

Inês Ferreira¹, Cláudia Aguiar², Vasco Lavrador¹, Juliana Oliveira², Rita Santos Silva², Fátima Pinto³

¹ S. Pediatria, CH Porto

² S. Pediatria, CH São João

³ URAP, ACeS Porto Ocidental

 

Introdução: Entre os adolescentes tem-se verificado um progressivo aumento do uso da internet como meio de comuni­cação e socialização. Pela menor capacidade de auto-regulação e maior susceptibilidade pelos pares levantam-se preocupações relativas a comportamentos impróprios online que possam pôr em causa a segurança e perda de privacidade. O presente traba­lho tem como objectivo caracterizar o comportamento dos ado­lescentes nas redes sociais online.

Material e Métodos: Estudo transversal desenvolvido numa Escola Secundária Pública do Porto, através da aplica­ção de um questionário a 94 adolescentes do ensino secun­dário. Resultados: Excluídos 7 questionários por não usarem redes sociais online. Dos restantes 87, 52,9% (N=46) eram do sexo feminino, com idade média de 16,56 B1 1,20 anos e 66,7% (N=58) frequentavam o 10B: ano. A totalidade tem computador com acesso à internet em casa, sendo que 56,3% (N=49) têm computador no quarto. A quase totalidade dos adolescentes (96,6%; N=84) utiliza as redes sociais sozinho e 29,9% (N=26) usam mais do que uma rede social. A idade média de início das redes sociais foi de 11,95 B1 2,12 anos. Cerca de metade (N=46; 52,9%) dedica pelo menos uma hora diária às redes sociais e 70,1% (N=61) mais de cinco dias por semana. A quase totalidade (97,7%; N=85) já recebeu pedidos de amizade de desconheci­dos, 57,5% (N=50) incluem desconhecidos nas suas delistas de amigos, 29,9% (N=26) entraram em contacto online com o des­conhecido, tendo um deles estabelecido um encontro presencial. Os adolescentes partilham informação pessoal como fotografia (88,5%, N=77), data de aniversário (86,2%, n=75) e escola que frequenta (86,2%, N=75). Verificou-se que as raparigas privam mais a informação no seu mural (P=0,004). Os adolescentes que aceitam pedidos de amizade de desconhecidos passam mais horas por dia nas redes sociais (p=0,014) e privam menos infor­mação (p=0,014). A maioria (58,6%; N=51) considera não correr risco ao divulgar informações pessoais online.

Conclusões: Apesar das dificuldades inerentes a este estudo, foi possível identificar um uso generalizado das redes sociais online entre os adolescentes do ensino secundário, com adopção de comportamentos de risco. Desta forma, é de salien­tar o papel do Pediatra no processo de consciencialização dos adolescentes e famílias acerca dos riscos e complexidades do mundo digital.

 

Muito baixo peso e leve para a idade gestacional – uma associação de mau prognóstico?

 

Joana Magalhães1, Catarina Resende1, Ana Cristina Braga1, Ana Margarida Alexandrino1 

1S. Neonatologia, DCA, CH Porto

 

Introdução: A restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) é descrita como fator de maior morbilidade nos recém-nascidos (RN) pretermo, no período neonatal e a longo prazo. Frequente­mente não há diagnóstico pré-natal, utilizando-se o conceito de leve para idade gestacional (LIG).

Material e Métodos: Pretende-se analisar morbilidade pre­coce, crescimento e desenvolvimento dos RN de muito baixo peso (MBP) LIG nascidos na Maternidade Júlio Dinis de 2004 a 2009, e comparar com RN nascidos no mesmo período, com a mesma idade gestacional e peso adequado (AIG), por consulta do processo clínico.

Resultados: Nasceram naquele período 95 RN MBP LIG, com mediana de 31 semanas de gestação e 1000g de peso, sendo a mediana de 1416g nos AIG. Houve 5 óbitos em LIG. Não houve diferença entre os grupos na prevalência de hipertensão e doença auto-imune materna, nas variáveis sociodemográficas, índice de Apgar e necessidade de reanimação.

Nos LIG houve maior incidência de enterocolite necrotizan­te, persistência do canal arterial e retinopatia com necessidade de cirurgia, assim como hemorragia cerebral e leucomalácia de maior gravidade. Não houve diferença na necessidade de ven­tilação invasiva, que teve maior duração nos LIG, que tiveram também maior incidência de trombocitopenia e anemia e interna­mentos mais longos.

A avaliação do crescimento e desenvolvimento após os dois anos foi possível em 75 RN LIG, sendo a duração do seguimento semelhante nos controlos.

1/3 dos LIG mantêm peso inferior ao percentil 10.

As alterações do neurodesenvolvimento sem paralisia cere­bral (PC) são mais prevalentes nos LIG, mas a PC é mais preva­lente nos AIG (6 para 1).

A avaliação de desenvolvimento segundo escala de Mary­-Sheridan está mais frequentemente alterada nos LIG, sobretudo áreas de linguagem e social, havendo mais LIG sob intervenção. Um nível socio-cultural mais baixo correlaciona-se com maior probabilidade do rastreio ter alterações.

Na avaliação com teste de Ruth Griffiths (40 LIG, 32 AIG), os LIG obtiveram resultados inferiores no quociente geral (p=0,053) e todos os subquocientes, com significância no raciocínio prático.

Comentários: A morbilidade neonatal foi maior nos LIG, comparativamente com AIG com a mesma idade gestacional. Apesar da maior prevalência de PC nos AIG, globalmente o de­senvolvimento psicomotor é pior nos LIG.

A RCIU agrava a morbilidade inerente à prematuridade. É essencial que estas crianças tenham seguimento regular que permita detetar alterações e orientar intervenção.

 

Avaliação dos conhecimentos e técnica no uso dos dispositivos inalatórios em crianças asmáticas

 

Eliana Oliveira1, Ana Cristina Barros1, Natacha Fontes1, Ana Paula Aguiar1, Cidrais Rodrigues1, Georgeta Oliveira1

1 Dep. da Mulher, da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

 

Introdução: A via inalatória constitui o método preferencial para a administração de fármacos no tratamento das doenças respiratórias, pelo que é imperativo a monitorização e ensino desta técnica por parte dos profissionais de saúde.

Métodos: Foi realizado um estudo observacional analí­tico transversal numa amostra de conveniência, que incluiu as crianças asmáticas seguidas na consulta de Imunoalergologia Pediátrica do HPH, durante o mês de Maio e Junho de 2012. A recolha da informação foi realizada através de um questionário autoaplicado ao acompanhante da criança, que inclui informação relativa a parâmetros sociodemográficos, conhecimentos sobre a terapêutica inalatória e compreensão das orientações clínicas recebidas. Efetuou-se o registo do desempenho do doente du­rante a demonstração da técnica inalatória.

Resultados: Durante o período de estudo obtiveram-se 64 questionários correspondentes a crianças com uma média de idades de 10,1 anos, dp4,1, das quais 64,1% eram do sexo masculino. Á data da avaliação, os doentes apresentavam um tempo médio de uso de dispositivos inalatórios de 5,3 anos, dp3,8 (mínimo-máximo: 0-17 anos); a média de idade de início de terapêutica inalatória foi de 4,9 anos, dp3,5. Aproximadamen­te 65% das famílias apresentavam um Índice de Graffar: %4. Em cerca de metade dos participantes havia história familiar de uso de dispositivos inalatórios. Na avaliação do ensino, 53,1% dos participantes reportou raramente ser necessário a correção da técnica inalatória pela equipa de enfermagem. No dia de apli­cação do questionário, 70,3% das crianças revelaram um bom desempenho na demonstração da sua técnica inalatória. Em apenas 6,5% dos casos, constatou-se uma discrepância entre a real necessidade de correção, avaliada pela equipa de enferma­gem, e a perceção dos inquiridos. As crianças em que foi referida a necessidade de correção de técnica inalatória eram, em média, mais novas e apresentavam menos anos de uso de dispositivos inalatórios comparativamente com as que raramente precisavam de correção, embora as diferenças não sejam estatisticamente significativas. As famílias com Graffar: %4 apresentaram 3 ve­zes mais probabilidade de necessitarem de correção na técnica inalatória, após ajuste para idade da criança e anos de uso de dispositivo (OR=3,22, IC95%: 1,06-9,80).

Conclusão: O facto de quase metade da amostra referir a necessidade de correção da técnica inalatória, reforça a im­portância de uma monitorização e reavaliação periódicas, proce­dimento sempre executado pela nossa equipa de enfermagem previamente.

 

Alergia alimentar - da suspeita ao diagnóstico

 

Ana Cristina Barros1, Natacha Fontes1, Eliana Oliveira1, Ana Paula Aguiar1, Georgeta Oliveira1

1 C. Imunoalergologia, Dep. da Mulher da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

Introdução: A alergia alimentar, com uma prevalência em pediatria de 6 a 8%, caracteriza-se por uma reação imunológica que pode ser, ou não, IgE mediada. As manifestações clínicas variam desde o ligeiro prurido até à anafilaxia.

Material e métodos: Análise retrospetiva e prospetiva dos casos de suspeita de alergia alimentar observados em consulta de Imunoalergologia Pediátrica entre Abril e Junho de 2012.

Resultados: Durante o período de estudo observou-se em consulta 52 casos de suspeita de alergia alimentar. A idade mé­dia na primeira consulta foi 3 anos e 5 meses (54% com menos de 12 meses) e a dermatite atópica foi a patologia concomitante mais frequente (52%). Existia história familiar de asma (33%), ri­nite (31%) e alergia alimentar (9,6%). Foram implicados em pos­síveis manifestações alérgicas 71 alimentos (12 casos referindo dois ou mais alimentos), sendo mais frequente o leite (38%), pei­xe ou mariscos (18%), frutos secos (10%) e ovo (7%). A primeira manifestação de reação adversa ao leite ocorreu em média aos 5 meses e aos outros alimentos aos 3 anos. Os sintomas cutâneos foram os mais frequentes (urticária 38%, eritema peribucal 27% e prurido 18%), seguido dos gastrointestinais (vómitos 14%) e respiratórios (dispneia 4%). Foi referido atingimento de dois ou mais sistemas com 13 alimentos. O teste Prick (realizado em 42 alimentos) foi positivo em 45% (n=19) e em 10 desses casos a IgE específica foi negativa. Identificou-se alergia alimentar IgE mediada (IgE específica com classe>2) em 28%. Realizou-se 20 provas de tolerância oral (leite, ovo e peixe) sem manifestações imediatas nem tardias de alergia em 17 casos.

Comentários: A alergia alimentar pode ter um impacto sig­nificativo na qualidade de vida, pelo que é essencial o correto diagnóstico. Na maioria das reações adversas a alimentos con­segue demonstrar-se a ausência de mecanismos imunológicos, excluindo-se assim o diagnóstico de alergia. Nos casos apre­sentados, as manifestações clínicas foram variadas e, apesar de muitos sintomas serem sugestivos de um mecanismo imu­nológico IgE mediado, apenas se comprovou a presença de IgE específica num quarto dos alimentos testados. No entanto, nos restantes alimentos não é possível excluir a presença de reação imune. A identificação dos casos de alergia alimentar e a realiza­ção de prova de tolerância oral evita dietas de exclusão restritas e previne reações graves causadas por reatividade cruzada.

 

Necessidades, dificuldades e preocupações de pais com bebé internado numa unidade de neonatologia: perspetiva dos profissionais de saúde

 

Zusana Diaz1, Susana Caires2, Susana Correia3

1 Instituto de Educação, Universidade do Minho

2 Universidade do Minho

3 Universidade de Évora

 

Resumo: De acordo com as investigações efetuadas no âmbito das dificuldades, preocupações e necessidades senti­das pelos pais que têm um bebé internado numa Unidade de Neonatologia (UN), o conhecimento das mesmas por parte dos profissionais de saúde, permite-lhes agir de forma a garantir me­lhor qualidade da assistência oferecida ao bebé e sua família, planeando uma assistência mais humanizada, ao considerar tais vivências. Este é o ponto de partida para uma intervenção que se pretende baseada nos cuidados centrados na família. Importa, todavia, ter sempre em consideração que as necessidades, pre­ocupações e dificuldades, são distintas de família para família, que variam consoante o tempo de internamento do bebé, e o mapeamento das mesmas revela-se de suma importância para compreender o comportamento dos diferentes membros da fa­mília. Assim, com o objetivo de conhecer as vivências dos pais com um bebé internado numa UN e de desenhar intervenções visando minorar e/ou satisfazer as vivências menos positivas, desenvolveu-se um estudo exploratório, centrado nas necessidades, dificuldades e preocupações destes pais, na sua própria perspetiva (n=20), e na dos profissionais de saúde (n=13). No presente trabalho são partilhados apenas resultados parciais do estudo: os que se reportam à perspetiva dos profissionais de saúde. De entre os resultados obtidos destacam-se as suas per­ceções relativamente às dificuldades financeiras dos pais; às di­ficuldades na separação do bebé; e, no assumir autonomamente os cuidados do bebé aquando da alta (sem a retaguarda dos profissionais e dos aparelhos que controlam os sinais vitais do bebé). Necessidades de informação acerca do estado de saúde atual do bebé; de estabilização do seu estado de saúde (para poderem retomar a vida “normal”); e de acompanhamento psi­cológico sobressaíram, também, no discurso destes profissionais. Quanto às preocupações dos pais, os participantes deram particular ênfase às que dizem respeito ao estado de saúde do bebé; seu futuro (em termos de desenvolvimento, saúde, prog­nóstico…); e, à autonomia “forçada” nos cuidados do bebé após o regresso a casa. No final, e em consonância, com a informa­ção recolhida, são deixadas algumas reflexões e linhas de in­tervenção, a implementar pelos próprios profissionais de saúde, no sentido de atenuar as vivências negativas associadas a este processo. Entre estas, as abordagens centradas na família me­recem particular destaque.

 

Intervenção no bullying: o antes, o depois e ainda os efeitos da comunicação social

 

Rosário Pinho1, Joana Monteiro2, Catarina Carvalho1, Virgínia Monteiro2

1 Divisão de Educação, Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis (CMOA)

2 S. Pediatria, CH Entre Douro e Vouga

 

Introdução: O Município de Oliveira de Azeméis (Divisão Municipal de Educação) desenvolveu em parceria com a Con­sulta de Desenvolvimento do CHEDV vários projetos no âmbito da saúde escolar. Assumindo a escola como espaço privilegiado para a aquisição de competências de relacionamento interpesso­al, a equipe pretendeu com este projeto dotar os agentes educa­tivos de habilitações para ajudar crianças e jovens a ultrapassar as situações de violência em contexto escolar - Bullying.

Materiais e métodos: Realizaram-se ações de formação para toda a comunidade educativa (professores, pais/encar­regados de educação, assistentes operacionais e alunos) das escolas da rede pública do concelho, do jardim-de-infância ao ensino secundário. Foram desenvolvidas por psicólogas, com o apoio de professores, alunos, associações de pais e agentes de autoridade (Escola Segura). Incidiram nos seguintes aspe­tos: definição e tipos de bullying, perfil da vítima e do agressor, identificação de situações em casa e na escola, formas de atua­ção e prevenção nos vários contextos. Posteriormente, a equipe disponibilizou-se a organizar um trabalho em regime de consul­tadoria ao nível escolar, para apoiar a implementação de medi­das práticas na deteção e orientação das situações existentes, e através da criação de regulamento anti abuso, criação de grupos de pares, etc.

Resultados: Esta atividade teve um impacto significativo na comunidade e provocou o reconhecimento de vários casos, principalmente entre os encarregados de educação. Observou­-se inicialmente algum interesse pelo tema por parte dos pro­fessores, apesar da relutância em aceitarem a sua existência. Com a divulgação na comunicação social de situações concretas de bullying, a atenção passou a ser crescente e os pedidos de formação multiplicaram-se. Notou-se, no entanto, que o envol­vimento da comunidade educativa nunca foi para além destas formações, não se concretizando o trabalho em regime de con­sultoria que proporcionaria continuidade ao projeto. Coincidente­mente ou não, ocorreu um “esquecimento” do assunto por parte dos meios de comunicação.

Conclusões: Embora o bullying persista um problema atu­al, não parece constituir uma prioridade para a rede escolar em causa, eventualmente por razões socioculturais. A comunicação social desempenha um papel determinante na forma como a co­munidade encara determinadas problemáticas e a recente me­diatização deste tema poderá servir para renovar o interesse e a procura de ajuda na sua abordagem.

 

PHDA e acidentes: será a realidade portuguesa diferente?

 

Joana Monteiro1, Hugo Rodrigues2, Fátima Nunes1, Virgínia Monteiro1

1 S. Pediatria, CH Entre Douro e Vouga

2 USF Vale do Vouga, S. João da Madeira

 

Introdução: As lesões acidentais são a principal causa de morbimortalidade em idade pediátrica e a sua incidência estima­-se aumentada em crianças com Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA). O objetivo do presente estudo foi analisar a prevalência de acidentes com necessidade de obser­vação médica hospitalar em crianças com PHDA, comparando-a com a da população de crianças saudáveis.

Métodos: Revisão de processo clínico electrónico com re­gisto de recorrências ao Serviço de Urgência do CHEDV, EPE de crianças e jovens com diagnóstico de PHDA seguidos na con­sulta externa de Neurodesenvolvimento (grupo 1) e crianças e jovens seguidos em Consulta de Saúde Infantil da USF de Vale do Vouga, sem patologia neurodesenvolvimental (grupo 2). Os grupos, divididos por género e faixas etárias, eram semelhantes em número de elementos. Análise estatística com SPSS v17.

Resultados: A amostra estudada era constituída por 734 indivíduos, dos quais 304 (41.4%) apresentavam critérios de diagnóstico para PHDA. Registou-se na população geral um pre­domínio do sexo masculino, sendo ligeiramente mais elevado no grupo com PHDA (76%).

A média de idades foi 12.8±3.1 anos e mediana de 14.

Comparando os dois grupos, salientou-se uma maior pre­valência de acidentes na amostra com PHDA (46.1% vs 43.5%, p=0.491), com um número ligeiramente mais elevado de recor­rências ao serviço de urgência (0.76±1.1 vs 0.67±1.04, p= 0.20), embora sem significado estatístico. Observou-se também, ao subdividir a amostra por faixas etárias, que os adolescentes com PHDA com idade superior a 18 anos apresentavam uma significativamente maior prevalência de acidentes em relação à amos­tra controlo (p=0.020).

No grupo com PHDA, destaca-se o facto de os rapazes apresentarem significativamente mais acidentes (49.4% vs 35.6%, p =0.040) e em maior número (0.84±1.2 vs 0.52±3.85, p= 0.038).

Discussão: Os resultados mostraram um elevado número de acidentes e ao contrário de múltiplos estudos publicados, no nosso não se verificou uma maior prevalência na população com PHDA, à exceção dos adolescentes mais velhos.

Este resultado surpreendente vem reforçar a noção de que a população infanto-juvenil portuguesa tem um alto nível de acidentalidade, o qual não está relacionado com a presença de patologias predisponentes, como é o caso da PHDA, mas sim com características socioculturais que dizem respeito à falta de medidas de prevenção, entre outras.

 

Envolvimento cardíaco na distrofia muscular de Becker

 

Joana Freitas1, Marília Loureiro3, Manuela Santos2, Sílvia Álvares3

1 S. Pediatria, CH Porto

2 S. Neurologia Pediátrica, CH Porto

3 S. Cardiologia Pediátrica, CH Porto

 

Introdução: A distrofia muscular de Becker (DMB) associa­-se a alterações cardíacas que são responsáveis por elevada morbilidade e mortalidade, podendo ser mais importantes que o atingimento do músculo esquelético. O envolvimento cardíaco é variável, podendo ser subclínico, ou manifestar-se sob forma de cardiomiopatia e insuficiência cardíaca congestiva. O objectivo deste estudo é avaliar as alterações cardíacas presentes nos doentes com DMB seguidos na consulta multidisciplinar de do­enças neuromusculares.

Material e métodos: Análise retrospectiva dos processos clínicos com registo da avaliação clinica, electrocardiograma e ecocardiograma.

Resultados: O estudo inclui 11 doentes, com idades en­tre os 12 meses e os 16 anos, à data da primeira consulta de Cardiologia Pediátrica, com um tempo médio de follow-up de 6,8+/-4,4 anos. A avaliação cardíaca foi anual ou mais frequente de acordo com a evolução clinica. Só um adolescente referia dispneia. A prevalência de doença cardíaca pré-clínica ou clínica foi de 55%. Alterações electrocardiograficas estiveram presentes em 9% dos casos. O ecocardiograma mostrou cardiomiopatia dilatada em 55%, tendo sido iniciado medicação com inibidores da enzima de conversão da angiotensina.

Conclusões: Salienta-se a importância da deteção pre­coce da disfunção miocárdica nos doentes com DMB, com o objetivo de instituir terapêutica apropriada, bem como a implementação das recomendações de seguimento em centros com experiência.

 

Síndroma de Turner e drenagem venosa pulmonar anómala parcial

 

Raquel Themudo1, Silvia Alvares2, Isabel Sá3, Jorge Moreira4

1 S. Radiologia, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

2 S. Cardiologia Pediátrica, CH Porto

3 S. Cardiologia, CH Porto

4 S. Cardiologia Pediátrica, CH São João

 

Introdução: A incidência de cardiopatia congénita na sín­droma de Turner é elevada, sendo recomendada uma avaliação e seguimento regular em cardiologia. Os novos meios de diag­nóstico de imagem têm permitido uma melhor deteção de mal-formações cardíacas, sobretudo na adolescência, uma vez que a ecocardiografia transtorácica pode não ser o exame ideal para diagnosticar as anomalias de retorno venoso pulmonar, uma pa­tologia rara que se associa a esta doença.

Caso clínico: Adolescente com Sindrome de Turner, de 14 anos de idade, sem sintomas cardiovasculares, referenciada aos 10 anos à Consulta de Cardiologia Pediátrica para rastreio de cardiopatia congénita. Apresentava sopro sistólico de ejeção no bordo esternal direito alto, bloqueio incompleto de ramo di­reito no electrocardiograma, dilatação das cavidades direitas com movimento paradoxal do septo interventricular, sobrecar­ga de volume do ventrículo direito, septo interventricular (SIV) e interauricular (SIA) intactos. Colocada a hipótese de drenagem venosa pulmonar anómala parcial, realizou cateterismo cardía­co e angiocardiografia, reportado como normal (Qp/Qs=1). No seguimento posterior na consulta de Cardiologia Pediátrica, es­teve sempre assintomática, mantendo dilatação das cavidades direitas no ecocardiograma. Efetuou RM cardíaca que demons­trou um shunt esquerdo-direito com Qp/Qs de 1.6; a angiografia pulmonar com o método “4D Track” permitiu detetar drenagem venosa pulmonar anómala parcial para a veia braquiocefálica, SIA intacto e dilatação das cavidades direitas. Repetiu cateteris­mo cardíaco que confirmou os achados na RM. Foi submetida a cirurgia cardíaca corretiva com bom resultado.

Conclusão: A RM cardíaca permitiu definir com exatidão a anatomia cardíaca e as anomalias vasculares extracardíacas, bem com calcular o Qp/Qs. É um meio de diagnóstico cada vez mais utilizado no seguimento dos doentes com Sindroma de Tur­ner, para melhor esclarecimento da cardiopatia.

 

Displasia broncopulmonar. Casuística da unidade de cuidados intensivos neonatais do Hospital Pedro Hispano, 2009-2011.

 

Eliana Oliveira1, Natacha Fontes1, Ana Cristina Barros1, Marta Nascimento1, Cláudia Ferraz1, Isabel Martins1

1 Dep. da Mulher, da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos

 

Introdução: A Displasia Broncopulmonar (DBP) constitui uma das principais causas de doença pulmonar crónica na infân­cia, com importante morbilidade e mortalidade associadas. Este trabalho tem como objetivo a caracterização dos recém-nascidos prétermo (RN PT) com o diagnóstico de DBP, internados na Uni­dade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN) do Hospital Pe­dro Hispano (HPH), entre 2009 e 2011.

Métodos: Foi realizado um estudo retrospetivo dos proces­sos clínicos de todos os RN com o diagnóstico de DBP (depen­dência de O2 suplementar por um período ≥ 28dias), interna­dos na UCIN do HPH entre 2009 e 2011. Foram recolhidos os seguintes parâmetros: idade gestacional, sexo, peso, corticoide pré-natal, tipo de parto, DMH, surfactante, sépsis, PCA, venti­lação assistida, O2 suplementar, diuréticos, broncodilatadores, corticoides pós-natais e tempo de internamento.

Resultados: Durante os 3 anos de período de estudo estiveram internados na UCIN do HPH 26 RN com o diagnós­tico de DBP, dos quais 43,9% eram do sexo masculino. A ida­de gestacional variou entre as 23S e as 32S (mediana 28S). O peso médio ao nascimento foi de 1070g (500-1720g), sendo que 85% tinham peso <1500g. Em 88,5% das gestações foi reali­zada corticoterapia profilática pré-natal. A DMH estava presen­te em 69,2% dos casos e 84,6% dos RN efetuaram surfactante nas primeiras horas de vida. Foi diagnosticada sépsis e PCA a 76,9% e 15,4% das crianças, respetivamente. O apoio ventilatório foi necessário em praticamente todos os RN (25), com 72% a reque­rerem um modo invasivo e 28% a precisarem apenas de CPAPn. Du­rante o tempo de internamento, a necessidade de O2 suplementar variou entre os 20 e os 136dias (mediana 42,5dias) e 40,9% dos RN mantinham esta necessidade às 36S. Dezasseis crianças realizaram tratamento com diuréticos durante uma média de 36dias, dp=31,5 (2-117dias), que foi iniciado entre o 16º e 51ºdias, e 3 fizeram bron­codilatadores. Os corticóides foram usados em 5 RN, mas apenas 3 efetuaram corticoterapia sistémica. Cinco RN foram transferidos para outras Unidades, tendo o tempo de hospitalização dos restan­tes oscilado entre os 36 e 136 dias, o que correspondeu a altas entre as 33S e os 2M de IC. Apenas 2 doentes mantiveram necessidade de O2 suplementar no domicílio.

Conclusão: A etiopatogenia da DBP não está completamente esclarecida, contudo a prematuridade, baixo peso ao nascimento, sexo masculino e DMH têm sido associadas a esta patologia, e tal como esperado, os resultados obtidos no nosso trabalho são concordantes com esta associação.

Na nossa amostra apenas 3 RN com evoluções menos favo­ráveis foram submetidos a corticoterapia sistémica, prática que se coaduna com as recomendações atuais que consideram o seu uso controverso, devendo ser limitado a situações excecionais. Apesar de quase metade dos RN necessitarem de O2 suplementar às 36S de IC, à data de alta apenas 2 mantinham esta necessidade.

 

Febre, dor abdominal e dor no ombro na adolescência? Dois casos clínicos ilustrativos.

 

Manuel Ferreira-Magalhães1, Marta Guimarães2, Ana Azevedo3, Conceição Costa4, Sónia Aires3, Cristina Rocha3

1 Hospital Pediátrico Integrado, CH São João

2 S. Cirurgia, CH Entre Douro e Vouga

3 S. Pediatria, CH Entre Douro e Vouga

4 S. Pediatria, CH Vila Nova de Gaia-Espinho

 

A abdominalgia, associada ou não a febre, é uma das queixas mais frequentes do SU. Um exame objetivo (EO) cuidadoso poderá ser crucial.

Caso 1-16 anos, masculino, admitido no SU por febre há 1 semana, astenia, recusa alimentar, cefaleias e tosse produtiva. EO: emagrecido (-6Kg), orofaringe ruborizada, adenomegalias cervicais (<1cm) e fígado palpável cerca de 2cm. Analiticamente apresenta­va hemograma normal, PCR 286 mg/L, AST/ALT sem alterações, aPTT 35,4 (N 28,7), INR 1,7 e urina normal. Radiografia do tórax com infiltrado intersticial. Internou-se para vigilância, tendo realizado Mantoux, serologias víricas e culturas bacterianas.

Em D7 iniciou dor no ombro direito, efetuou eco abdominal que revelou abcesso hepático de 56mm (confirmado por TC). Iniciou antibioticoterapia e foi proposto para drenagem após transfusão de plasma que rejeitou por argumentos religiosos. Por evolução desfa­vorável fez drenagem percutânea em D12 e laparoscópica em D14, mantendo dreno até D33, altura em que fi cou apirético. Alta em D35. Cultura de líquido do abcesso positivo para Staphyloccocus aureus.

Caso 2-12 anos, feminino, recorre ao SU por abdominalgia. EO com dor abdominal difusa à palpação. Urina II com leucocitúria. Eco abdominal sem alterações. Teve alta medicada com cefuroxima por ITU (não confirmada posteriormente). Três dias depois regressa por dor no flanco direito. EO com dor localizada nos quadrantes direitos e defesa. Análises: 21000 leucócitos e PCR de 170 mg/L. Submetida a apendicectomia, com diagnóstico intraoperatório de adenite mesen­térica (isolamento posterior de Brevibacterium no líquido peritoneal e histologia compatível com apendicite), sem antibioticoterapia pós-ci­rúrgica. Após alta hospitalar, 5º dia pós-operatório regressa ao SU por febre com 24 horas, dor no flanco, região escapular e ombro direito. EO: queixosa com dor à palpação profunda dos quadrantes direitos e à inspiração profunda. Análises: 21000 leucócitos (79% neutrófilos), PCR 119 mg/L e urina normal. Radiografia do tórax sem alterações. Eco abdominal sem alterações. TC abdominal revelou abcesso hepá­tico multilobulado (5,3cm). Iniciou antibioticoterapia e, um dia depois, fez drenagem percutânea. Em D5 ficou apirética, retirou dreno em D11 e teve alta em D12. Cumpriu total de 21 dias de antibióticos, com boa evolução. Culturas foram negativas.

Os dois casos ocorridos num espaço de 2 meses demonstram a importância diagnóstica precoce de uma patologia rara na pediatria e em países desenvolvidos.

 

Enterocolite necrotizante numa unidade de cuidados intensivos neonatais

 

Catarina Resende1, Andreia Dias1, Elisa Proença1, Alexandra Almeida1, Carmen Carvalho1

1 S. Neonatologia, Maternidade Júlio Dinis, CH Porto

 

Introdução: A enterocolite necrotizante (NEC) é uma das emer­gências gastrointestinais mais comum nos recém-nascidos (RN). Ocorre em 1-3 por 1000 nados-vivos. A incidência aumenta com di­minuição da idade gestacional (IG) ocorrendo em 6-7 % nos RN com muito baixo peso (RNMBP). A sua patogénese permanece desconhe­cida, tratando-se provavelmente de uma doença multifatorial.

Objetivo: Caracterizar a população de RN internados na UCIN com o diagnóstico de NEC.

Metodologia: Estudo retrospetivo, com base na análise dos processos clínicos dos doentes internados com o diagnóstico de NEC, entre janeiro 2005 e dezembro 2011. Parâmetros analisados: fatores de risco (IG, MBP, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), per­sistência do canal arterial (PCA), asfixia, instabilidade hemodinâmica, concentrado eritrócitário (CE), policitemia, leite de fórmula para pre­maturos, progressão alimentar rápida, cateterismo umbilical e antibio­ticoterapia prolongada prévia); diagnóstico; tratamento e evolução.

Resultados: Estabelecido o diagnóstico de NEC em 51 RN. Des­tes, 3 foram excluídos, resultando numa incidência global de 1,7 %, 2,7% nos pré-termos e 6,4% nos RNMBP. A IG mediana foi de 29 sema­nas (min:25; Max: 35). A idade média ao diagnóstico foi de 15,4 dias. O peso médio ao nascer foi de 1124g e 31% dos RN apresentaram RCIU. Em 21% dos RN documentou-se PCA com significado hemodinâmico. Na altura do diagnóstico 31% dos RN estava sob alimentação trófica e a maioria sob aleitamento materno (AM) exclusivo (65%). Tinham efe­tuado antibioticoterapia prolongada 64,6% dos RN e 7 RN fizeram CE. Foram submetidos a cateterismo umbilical 19 RN (39,6%). Os principais sinais à apresentação foram: distensão abdominal (95,8%) e resíduos gástricos significativos (93,7%). Ocorreu pneumatose intestinal em 35,4% e pneumoperitoneo em 5 casos. Predominou o diagnóstico de NEC grau I (20 casos; 41,7%). A NEC grau III foi descrita em 12 casos (25%). Obtiveram-se hemoculturas positivas em 13 crianças. Efetuado tratamento cirúrgico em 11 RN (22,9%). Constataram-se sequelas em 10 crianças. Verificaram-se 4 óbitos na sequência de NEC.

Discussão: Dos fatores de risco avaliados, os mais frequentes foram a prematuridade (100%) e MBP (83,3%), seguido de antibioti­coterapia prolongada e RCIU (64,6% e 31%, respetivamente). O AM, considerado fator de proteção, foi a alimentação predominante neste grupo. O tratamento da NEC depende da gravidade da doença, ten­do sido necessária intervenção cirúrgica em 25% dos RN.

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