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Nascer e Crescer

versão impressa ISSN 0872-0754

Nascer e Crescer vol.20 no.3 Porto  2011

 

Caso endoscópico

 

Fernando Pereira1

1 Serviço de Gastroenterologia Hospital Maria Pia / CH Porto

 

ABSTRACT

We present the clinical case of an infant with four months that was observed in the Gastroenterology Department for the presence of mucus and small amount of blood in stool. The child was in breastfeeded and had normal development and physical examination. Blood and fecal analysis were normal. Rectosigmoidoscopic examination and find an erosive rectocolitis with eosinophils. The diagnosis of allergic proctocolitis was considered. Cow milk products were excluded from the diet and three weeks later the patient was well.

 

O João, com quatro meses de idade foi enviado à consulta de Gastroenterologia Pediátrica por ter sangue e muco nas fezes.

Tratava-se de criança filha de pais saudáveis não consanguíneos, fruto de primeira gravidez de termo sem intercorrências, que nasceu de parto eutócico. Iniciou amamentação no segundo dia de vida que manteve até à data da presente consulta. A sua evolução estaturo-ponderal foi normal no percentil 50 e não teve qualquer sintomatologia digestiva até aos 3,5 meses altura em que a mãe começou a notar a presença de pequena quantidade de sangue vivo e muco salpicando nas fezes que por sua vez se tornaram mais moles mas sem aumento de frequência das dejecções. Apesar destas alterações a criança continuou a mamar bem e a evoluir adequadamente. A mãe teve quadro de bronquite asmatiforme na infância que resolveu no inicio da adolescência.

O exame objectivo não evidenciou qualquer alteração, para além de discreto eritema perianal e pequena fissura na comis­sura anal posterior. Era portador de estudo analítico, incluindo hemograma com plaquetas, estudo da coagulação, proteínas to­tais e electroforese, função hepática e renal e bacteriológico de fezes, todos com valores normais.

Em face deste quadro, e considerando a ansiedade dos pais que não conseguimos fazer dissipar durante a consulta, de­cidimos efectuar uma rectosigmoidoscopia, durante a qual reco­lhemos a imagem que mostramos na figura anexa.

 

Figura 1

 

No contexto descrito qual lhe parece a mais correcta interpretação da imagem:

1 – Aspecto normal da mucosa rectal

2 – Colite ulcerosa

3 – Rectite alérgica

4 – Colite infecciosa

 

COMENTÁRIOS

A imagem que apresentamos permite ver edema acentuado, congestão e erosões da mucosa rectal com pequenas áreas hemorrágicas, aspecto que atingia o recto e a porção inicial do sigmoide. Foram efectuadas três biópsias em pontos diferentes, tendo o exame histológico revelado a presença de edema e congestão da mucosa e submucosa, infiltrado de predomínio linfoplasmocitário com importante componente eosinofílico. Decidimos aconselhar a mãe a retirar da sua alimentação todos os alimentos contendo proteínas do leite de vaca e continuar a amamentar a criança normalmente. Três semanas depois voltamos a observar a criança que continuava com óptimo desenvolvimento e tinha dejecções normais.

Tratava-se de rectosigmoidite alérgica induzida pelas proteínas alimentares, a causa mais frequente de rectorragia neste grupo etário, que surge nas primeiras semanas de vida e não interfere com o normal desenvolvimento da criança. A anemia e hipoproteinemia podem ocorrer raramente quando a situação se prolonga. Estas crianças são sensíveis às proteínas do leite de vaca e frequentemente de soja; no entanto, a maior parte fazem amamentação exclusiva e reagem às proteínas excretadas pelo leite materno. Quando iniciam a alimentação diversificada e posteriormente o leite de vaca comercial não desenvolvem qual­quer reacção. Têm sido descritos alguns casos semelhantes em crianças mais velhas, até à adolescência, que respondem bem à exclusão das proteínas do leite de vaca da alimentação.

Perante um quando clínico como o apresentado, sem qualquer perturbação do desenvolvimento, não há justificação para efectuar estudos analíticos nem exames endoscópicos ou histológicos. Devemos instituir o tratamento adequado e acompanhar atentamente a evolução dos acontecimentos, geralmente favorá­vel, poupando assim a criança a agressões, bem como ao erário público ou os pais a despesas desnecessárias.

 

BIBLIOGRAFIA

1. Ravelli A, Villanacci V, Chiappa S, Bolognini S, Manenti S, Fuoti M. Dietary protein induced proctocolitis in childhood. Am J Gastroenterol 2008; 103:2605-12.         [ Links ]

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