SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.26 número1Tuberculose: Apresentação Incomum índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Arquivos de Medicina

versão On-line ISSN 2183-2447

Arq Med vol.26 no.1 Porto fev. 2012

 

INVESTIGAÇÃO ORIGINAL

Uso de Substâncias Psicoativas entre Estudantes Universitários em Cidade do Sul do Brasil

Psychoactive drugs use among college students in a southern brazilian city

Marcelo Carlos Bortoluzzi1, Diogo Lenzi Capella1, Jefferson Traebert2, Andréia Antoniuk Presta1

 

1Programa de Pós-Graduação em Biociências na Saúde, Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC)

2Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde. Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL)

 

Correspondência

 

RESUMO

Objetivo: O objetivo deste estudo foi conhecer a prevalência de consumo de substâncias psicoativas entre estudantes universitários.

Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, observacional de corte transversal. O instrumento de pesquisa foi elaborado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID).

Resultados: A amostra foi composta por 384 indivíduos selecionados de forma aleatória. O álcool lidera como a substância mais consumida correspondendo a 22,4% de uso freqüente seguido pelo tabaco e medicamentos como as anfetaminas e os calmantes (ansiolíticos). Para as drogas ilícitas observa-se que a maconha é a terceira em freqüência de consumo geral e a primeira entre as consideradas ilegais, tanto em uso na vida como em uso freqüente. Para o consumo no último ano, estudantes do sexo feminino estão mais propensas ao uso de anfetaminas enquanto que o uso da maconha associa-se ao sexo masculino. Existe associação entre um maior consumo de substâncias psicoativas e um relacionamento ruim com os pais.

Conclusões: Estudantes universitários do Meio-Oeste do Estado de Santa Catarina/Brasil mostraram uma alta prevalência de uso de substâncias psicoativas, evidenciado a necessidade de atenção especial a este grupo vulnerável.

Palavras-chave: substâncias psicoativas; estudantes universitários; drogas ilícitas; álcool

 

ABSTRACT

Aim: The aim of this study was to know the prevalence of psychoactive drugs consumption among college students.

Material and Methods: This is a cross-sectional, observational study. The questionnaire was first developed, tested and already published by CEBRID (Brazilian Surveillance Center for Psychoactive Drugs).

Results: The sample was composed by 384 subjects selected randomly. Alcohol was the most prevalent licit drug consumed with 22.4% of the students reporting a frequent use followed by tobacco and medicines like amphetamines and sedatives. Among the illicit drugs cannabis is the most consumed and it is the third in general use for both lifetime and frequent use. For the least year substance use, female students showed a higher prevalence of use of amphetamines while male were associated with cannabis consumption. There is a relation between the higher psychoactive substance consumption and a bad relationship with parents.

Conclusions: College students from the area of middle-west of the State of Santa Catarina/Brazil showed a high prevalence of use of psychoactive substance, highlighting the need for special attention to this vulnerable group.

Key-words: psychoactive drugs; illicit drugs; cannabis; alcohol; tobacco; college students

 

Introdução

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o uso de substâncias psicoativas traz consigo uma importante ameaça a saúde e a estrutura social e econômica da família, das comunidades e nações. A extensão de usuários destas substâncias está estimado em todo o mundo em 2 bilhões de usuários de álcool, 1,3 bilhões de fumantes e 185 milhões de usuários de drogas ilícitas. Para o ano de 2000 a OMS estimava que o álcool, o tabaco e as drogas ilícitas contribuíram, em conjunto, para 12,4% das mortes em todo o mundo.1-3

Para as duas principais substâncias psicoativas consumidas no mundo, o álcool e o tabaco, a OMS estima que atualmente 76,3 milhões de pessoas convivem com diagnóstico de desordens relacionadas ao consumo destas bebidas e, estima que o tabagismo poderá matar um bilhão de pessoas no mundo inteiro no século 21.4,5

Recentemente, as nações unidas (united nations Office on Drugs and Crime -unODC)6 publicou o relato de consumo global de drogas ilícitas e declara que os indicadores de consumo permanecem favoráveis em longo prazo e revela que menos de 5% da população adulta usou, no último ano, alguma substância psicoativa ilícita e, estima que 0,6% da população do planeta, ou 26 milhões de pessoas, são indivíduos considerados com dependência severa a algum tipo de droga ilícita. Estimativas da OMS mostram que o Brasil é o sétimo pais do mundo em consumo de tabaco e, a população brasileira encontra-se entre os maiores consumidores de álcool com ingesta anual de aproximadamente 9 litros (álcool absoluto) entre residentes maiores de 15 anos de idade.4,5 Conforme o primeiro levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras7, quase metade destes estudantes (48,7%) relataram já ter consumido alguma substância psicoativa (que não álcool ou produtos do tabaco) pelo menos uma vezna vida e cerca de um quarto (25,9%) já consumiu nos últimos 30 dias. O levantamento considera a situação entre universitários como preocupante e que requer atenção, principalmente devido ao se observar comportamentos de risco investigados nesta população7.

Pelo exposto acima, o consumo destas substâncias sejam elas lícitas ou ilícitas, traz consigo uma carga social e econômica considerável sob a perspectiva da saúde pública. O objetivo deste estudo é conhecer a prevalência de consumo de substâncias psicoativas entre estudantes universitários em uma universidade do interior do Brasil e distante dos grandes centros urbanos.

 

Material e métodos

Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa e aprovado sob parecer consubstanciado nú mero 004/2008. Trata-se de um estudo descritivo, observacional de corte transversal que utilizou uma técnica de amos tragem por conglomerados e aleatória, gerado por programa computacional (BioEstat versão 4.0; Belém/ Pará-Brasil), na qual se privilegiou estudantes universi- tários de todas as áreas do campus universitário. Para o cálculo foi levado em consideração os cursos supe riores, o número médio de fases (semestres) por curso e o número médio de alunos matriculados por fase de curso. Para o tamanho da amostra foi utilizado uma margem de erro alfa de 5% e intervalo de confiança de 95%, com uma população total de estudantes do campus estimada em 5.000 alunos e, considerando 50% para a distribuição de respostas desconhecidas, o que gerou um número mínimo de 357 alunos. A amostragem incluiu todos os cursos superiores e aleatoriamente sorteou as fases e alunos destas, indicando um número ideal entre 380 a 390 estudantes universitários, considerando 8% de perdas por preenchimento de questionário e recusas. Desta forma foi obtida uma amostra representativa do montante de estudantes de todas as áreas do campus universitário. Com a devida autorização para o fim, o instrumento de pesquisa utilizado foi elaborado, testado e publicado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), órgão este, vincula-do ao departamento de Psicobiologia da universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). O instrumento foi levemente adaptado em linguagem, porém sem modificação de conteúdo, devido ao fato de que este questionário foi originalmente desenvolvido para levantar informações sobre o uso de drogas entre estudantes de primeiro e segundo graus. Os dados foram coletados entre agosto e outubro de 2008. Em sala de aula foi feita uma explicação clara e detalhada aos alunos sobre os objetivos da pesquisa e, sem a presença do professor, duas cópias do termo de consentimento livre e esclarecido foram distribuídas àqueles indicados pelo número gerado pela técnica da amostragem aleatorizada e, o aluno foi identificado contando da direita para e esquerda, da frente para trás em relação à distribuição destes na sala. Somente àquele de idade superior ou igual á 18 anos e de acordo em participar foram incluídos na pesquisa. Caso o aluno sorteado declarasse seu desejo em não participar, o aluno subseqüente na ordem natural acima descrita foi convidado, em caso de não aceite foi considerado como perda. Em seguida, foi distribuído o questionário anônimo e auto-aplicável, os quais foram depositados em urna separada daquela do termo de consentimento, garantindo aos sujeitos da pesquisa o anonimato absoluto. A análise dos dados feita a partir da tabulação dos resultados e as variáveis analisadas de forma descritiva e analítica a um nível de significância de 95% (p <0,05) pelo programa estatístico (BioEstat, versão 4.0; Belém/Pará-Brasil). Testes inferenciais foram utilizados conforme apropiado (Teste do Qui-quadrado, Teste de Mann-Whitney e Teste de Kruskal Wallis).

 

Resultados

A amostra foi composta por 384 indivíduos com 229 (59,6%) sendo do sexo feminino. A idade variou entre 18 a 52 anos (média de 22,7 anos; ±4,9). As características sócio- demográficas da amostra podem ser observadas na Tabela 1. Destaca-se nesta o percentual de alunos universitários que trabalham (74,5%) e o percentual daqueles entrevistados que tem pais com nível de instrução com terceiro grau completo (18,2%).

 

 

O consumo de substâncias psicoativas na vida, no último ano, no último mês e o uso de seis ou mais dias no último mês (uso freqüente), estão descritas na Tabela 2. Ressalta-se que entre as drogas lícitas, o álcool lidera como a substância mais consumida correspondendo a 22,4% de uso freqüente e, 95,8% de uso na vida. O tabaco, e medicamentos como as anfetaminas e os calmantes (ansiolíticos) seguem o álcool entre as drogas lícitas mais freqüentemente consumidas entre universitários. Entre as drogas ilícitas observa-se que a maconha é a terceira em freqüência de consumo geral e a primeira entre as consideradas ilegais, tanto em uso na vida como em uso freqüente. A prevalência de consumo das substâncias psicoativas para o uso na vida e no último ano para estudantes universitários do meio-oeste catarinense e distribuída conforme o sexo podem ser observadas nas Tabelas 3 e 4. Considerando o uso de qualquer substância psicoativa no último mês e avaliados de forma conjunta, não foi observado diferença estatisticamente significante entre os sexos (Teste do Quiquadrado, P= 0,46) e também, em relação à quantidade total do tipo de substâncias utilizadas (Teste de Mann-Whitney u, P= 0,27).

 

 

 

 

 

 

A quantidade de tipos diferentes de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas utilizadas no último mês entre estudantes universitários pode ser observada na Tabela 5. Destaca-se que apenas 21,9% dos estudantes não utilizaram nenhuma substância enquanto que 5,7% da amostra utilizaram três ou mais substâncias. Ressalta-se aqui que todos aqueles que usaram substâncias ilícitas, também haviam usado ao menos uma lícita no mesmo período.

 

 

Quanto ás variáveis sócio-demográficas analisadas em relação ao uso e a freqüência de tipos diferentes de substâncias psicoativas consumidas no último mês (analisadas em conjunto, lícilas e ilícitas) indicou que o consumo e a quantidade de tipos diferentes de substâncias não foi influenciada pela idade, pela escolaridade do pai ou responsável, pelo fato de o estudante trabalhar ou não e com o relacionamento com a mãe, contudo, indicou uma maior quantidade de tipos diferentes de drogas consumidas no último mês quando o relacionamento com o pai foi considerado como regular ou ruim (Teste de Kruskal Wallis, P= 0,028).

 

Discussão

O uso abusivo de substâncias psicoativas constitui um problema relevante nas sociedades contemporâneas1-6 e, o objetivo principal deste estudo foi conhecer como é o perfil de consumo destas substâncias entre os estudantes universitários no âmbito regional. Como o consumo destas substâncias pode sofrer variação entre diferentes regiões do país7,8, é necessário explicar que a região do meio-oeste do estado de Santa Catarina está localizada no centro deste, onde se situam comunidades de pequeno e médio porte, colonizadas por imigrantes italianos, alemães, austríacos e japoneses. Sua atividade econômica está baseada, principalmente, na agroindústria. A universidade está localizada na área central do meio-oeste catarinense e atrai, principalmente, estudantes de toda a região em que se localiza, porém, também traz alunos da região norte do estado do Rio grande do Sul. O conhecimento acerca da prevalência e perfil do usuário do tabaco e outras substâncias psicoativas em pequenas cidades do Brasil é pouco conhecida.9-11 Recentemente, estudos de base populacional em cidade da região evidenciou-se a prevalência e o perfil de consumidores de álcool (consumo no mês: 45,5%)10 e de tabaco (consumo diário: 17,3%).11 Ao se comparar os resultados dos estudos regionais com o presente, se evidencia que o estudante universitário da região pode ser caracterizado como um grupo de risco em relação ao álcool, pois apresenta um índice de consumo no mês bastante superior (76,5%) comparado a da população de cidade da região do meio-oeste (45,5%).10 Os resultados do presente estudo, portanto, indicam que estudantes universitários representam uma população vulnerável em relação ao consumo de álcool, o que implica na necessidade de programas preventivos e esclarecedores direcionados a esta população.

O consumo de tabaco se estabelece, predominantemente, no adolescente e adulto jovem12 e, o que se verifica para essa população de estudantes é que, cerca de 50% destes jovens (média de 22,7 anos de idade) já experimentaram o tabaco e, destes, 7,6% tem consumo declarado em seis ou mais dias no mês, contudo, a percentagem de consumo de tabaco entre universitários, no último mês (14,9%), foi bastante parecida com aqueles que consomem o tabaco diariamente em cidade da região do meio-oeste (17,3%).11

Em um estudo de base populacional realizado no Brasil no ano de 200513, com 5.040 indivíduos, observou-se que 7,6% da população consumia álcool de seis vezes ou mais ao mês, proporção bastante inferior ao encontrado no presente estudo com universitários que foi de 22,4%. Os autores descreveram ainda que o uso de drogas na vida, que não o álcool ou tabaco, foi relatado por 8,9% dos entrevistados, enquanto que, entre os estudantes universitários, também considerando o uso na vida e somente de maconha o resultado foi duas vezes maior do que o uso de todas as outras drogas comparado com a população em geral. Já ao se analisar o uso freqüente, ou seja, ao menos seis vezes no último mês de maconha, cocaína, crack e substâncias voláteis, constatou-se que ele ocorreu em 4,2% dos acadêmicos. Os resultados do inquérito13 mostram que as principais drogas consumidas, exceto o álcool e tabaco, são a maconha a cocaína e os solventes, resultados semelhantes aos observados neste entre os estudantes deste estudo. Conforme o primeiro levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras7, e em relação ao uso na vida, as drogas relatadas com maior frequência foram: álcool (86,2%), tabaco (46,7%), maconha (26,1%), resultados semelhantes aos resultados encontrados entre universitários no interior do país, contudo em porcentagem (95,8%, 47,9%, 18,2%, respectivamente) observa-se maior consumo de álcool e tabaco no interior do país e menor consumo de maconha. Esses resultados denotam que o fenômeno do consumo destas substâncias na população em questão precisa ser melhor estudada, no intuito de promover o fortalecimento de ações que busquem minimizar os prejuízos associados. Logo após a finalização da pesquisa e tomado conhecimento dos resultados iniciou-se atividade de educação e prevenção na universidade onde foi realizada a pesquisa. Na campanha, um dos mecanismos utilizados foi o de mostrar o caráter degradante que o uso abusivo de substâncias psicoativas pode proporcionar, e na qual foram instalados em banheiros imagens conforme as Figuras 1 e 2 .

 

 

Estudantes universitários constituem um grupo vulnerável ao consumo de substâncias psicoativas.7,14 Esta foi a conclusão ao se analisar 200 estudantes universitários de uma universidade do estado de São Paulo/Brasil, no qual se verificou que 17,5% fumaram cigarros no último mês, 75% dos estudantes tomaram pelo menos uma dose de bebida alcoólica no mesmo período e, 30% usaram maconha. Com exceção da maconha, que no presente estudo apresentou índices de consumo, no último mês, bastante inferiores (4,7%) comparado ao estudo de São Paulo, o consumo de álcool e tabaco foram bastante parecidos, contudo, cautela é necessária ao avaliar os números apresentados no estudo realizado no ano de 2005,14 desde que, naquela amostra, foram investigados somente estudantes do primeiro ano, de cursos selecionados (biológicas, ciências e artes), e utilizando recursos de amostragem não probabilística. O levantamento da “American College health Association (AChA-nChA)”15 evidencia que, nos Estados unidos da América, 27,4% dos universitários não receberam nenhuma informação sobre álcool e outras drogas, enquanto que 62,9% declaram não ter recebido nenhuma informação sobre o uso de tabaco. A não presença de políticas institucionais públicas ou privadas tende a perpetuar e possivelmente agravar a situação de populações sob risco.

Um artigo de revisão de literatura publicado no ano de 2008,16 aponta que o uso de cocaína entre estudantes universitários para os últimos trinta dias, varia entre 0,2 a 5%, conforme estudos publicados entre 1992 e 1998. A revisão indica que a maioria dos usuários de cocaína são homens entre 20 a 24 anos de idade, que vivem com amigos ou sozinhos e que têm relacionamento difícil com seus pais, especialmente mãe. O presente estudo também indicou uma maior prevalência para o sexo masculino de envolvimento com cocaína e, também identificou um maior consumo de tipos diferentes de substâncias psicoativas e um relacionamento ruim com pais, porém, especialmente com o pai. Em outro estudo17 foram avaliados 175 jovens marginais de bandos juvenis do México e não universitários, entre outros motivos, implica o relacionamento inapropriado com os pais no consumo de drogas ilícitas. Quando tomados em conjunto, os estudos suportam a hipótese de que um relacionamento ruim entre pais e filhos pode influenciar o consumo de substâncias psicoativas.

Desde que o álcool é a substância psicoativa mais largamente usada, recentemente alguns estudos têm buscado entender a associação entre o consumo de álcool e outras drogas. Em estudo realizado na noruega18 foram entrevistados 16.813 indivíduos entre 14 a 20 anos de idade em 91 escolas e observou-se que a prevalência de uso de álcool na vida foi de 66%, enquanto que, o uso de maconha foi de 7,9%. Os autores verificaram que 82% dos usuários de maconha também fizeram o uso de álcool e concluíram que os adolescentes combinam a maconha com o álcool e a associação das drogas pode ter um efeito mais nocivo do que o assumido. Em 200819 foi avaliado a associação entre consumidores de álcool e o uso de drogas ilícitas entre estudantes universitários e concluiu-se que aqueles considerados de consumo pesado (10 ou mais doses ao dia) diferem dos demais quanto ao uso e a freqüência de uso de drogas ilícitas. O presente estudo também indica para a associação entre o uso de drogas lícitas e ilícitas, desde que, todos aqueles que consumiram drogas ilícitas já haviam usado alguma lícita no último mês (principalmente álcool), em conformidade com outros estudos.18,19 O presente estudo também mostra que 19,2% dos universitários usaram duas ou mais drogas psicoativas no último mês e, portanto, sugere que deve ser investigado efeito de associação e/ou interação de diferentes drogas.

Tem sido considerado um problema crescente o uso das bebidas energéticas ou cafeinadas e a associação destas com o álcool desde que a associação das substâncias pode levar aos usuários a não sentir os efeitos da intoxicação pelo álcool, enquanto que, o prejuízo sobre a coordenação motora pode estar ainda mais agravado.20 O presente estudo evidenciou que 38,3% dos estudantes universitários já usaram ao menos uma vez na vida a associação entre bebidas energéticas e álcool.

Por fim, comparando-se os resultados do consumo de substâncias psicoativas entre estudantes universitários do meio-oeste catarinense e dados do II levantamento Domiciliar sobre o uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil,8 promovido pela Secreta-ria nacional Antidrogas (SENAD) em 2005, em parceria com o CEBRID, e realizado as 108 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes, pode-se observar que os estudantes do meio-oeste catarinense apresentaram um consumo bastante superior destas substâncias do que a população em geral,8 tanto para o uso na vida, no último ano e no último mês para o álcool, para a maconha, para os estimulantes e para a cocaína. Para o uso na vida, os estudantes do meio-oeste catarinense usaram cerca cinco vezes mais alucinógenos do que a população em geral. Somente para o uso de tabaco é que os resultados foram semelhantes ou comparáveis ao da população brasileira.8 Comparando os resultados do presente estudo com universitários de capitais brasileiras, observou-se que o consumo de álcool foi mais prevalente na universidade do interior tanto para uso na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias, enquanto que para o tabaco, “crack” e anfetaminas os resultados foram bastante semelhantes. Já, para a maconha e cocaína, estudantes das capitais apresentaram consumo levemente maior.7 Estes dados demonstram que o estudante universitário do meio-oeste catarinense está vulnerável e que existe a necessidade explícita de programas de prevenção e esclarecimento quanto ao uso de substâncias psicoativas.

 

Conclusões

Conclui-se que o estudante universitário do meiooeste catarinense mostra uma prevalência elevada de consumo de substâncias psicoativas e que, com exceção do tabaco, este consumo é muito superior à prevalência de uso na população brasileira em geral, constituindo-se, portanto, em um grupo vulnerável e que necessita de atenção especial. O estudo evidenciou que estudantes do sexo masculino estão mais propensos ao uso destas substâncias na vida exceto para o uso de anfetaminas que é mais prevalente para o sexo feminino. Observou-se ainda que existe associação entre um maior consumo de substâncias psicoativas e um relacionamento ruim com os pais.

 

Referências

1.Humeniuk, R. The effectiveness of a brief intervention for illicit drugs linked to the alcohol, Smoking and substance involvement screening test (Assist) in primary health care settings: A technical report of phase III findings of the WHO ASSIST randomized controlled trial. Prepared by Rachel Humeniuk,Victoria Dennington & Robert Ali on behalf of the WHO ASSIST phaseIII study group. [Acess: 20 Jun 2011]; P. 15-101. Available From: http://Www.Who.Int/Substance_Abuse/Activities/Assist_Technicalreport_Phase3_Final.Pdf        [ Links ]

2.Humeniuk, R. Validation of the alcohol, Smoking And Substance involvement Screening Test (ASSIST) and pilot brief intervention: a technical report of phase II findings of the WhO ASSIST Project / prepared by Rachel humeniuk & Robert Ali, on behalf of the WhO ASSIST Phase II Study group. [Acess: 20 jun 2011]; p. 5-53. Available from: http://www.who.int/substance_abuse/activities/assist_technicalreport_phase2_final.pdf        [ Links ]

3. World health Organization (WhO), Mental health: Evidence and Research, Department of Mental health and Substance Abuse, Geneva. Disease control priorities related to mental, neurological, developmental and substance abuse disorders. WhO 2a ed., 2006. [Acess: 20 jun 2011]; p.1-103. Available from: http://whqlibdoc.who.int/publications/2006/924156332X_eng.pdf        [ Links ]

4.World Health Organization (WHO library Cataloguing-in-Publication Data). Global status report on alcohol 2004.[Acess: 20 jun 2011]; p.1-67. Available from: http://www.who.int/substance_abuse/publications/global_status_report_2004_overview.pdf        [ Links ]

5. WHO Report on the global Tobacco Epidemic, 2008: The MPOWER package. Geneva, World health Organization, 2008. [Acess: 23 abr 2011]; p. 42-59. Available from: http://www.who.int/tobacco/mpower/mpower_report_full_2008.pdf        [ Links ]

6. United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). 2008 World Drug Report. [Acess: 12 mai 2011]; p.25-153. Available from: http://www.unodc.org/documents/wdr/WDR_2008/ WDR_2008_eng_web.pdf        [ Links ]

7. Brasil. Presidência da República. Secretaria nacional de Políticas sobre Drogas. I levantamento nacional sobreo uso de álcool, Tabaco e Outras Drogas entre universitários das 27 Capitais Brasileiras / Secretaria nacional de Políticas sobre Drogas; GREA/IPQ-HCFMUSP; organizadores Arthur Guerra de Andrade, Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, Lúcio Garcia de Oliveira.– Brasília: SENAD, 2010. 284 p. Disponível em: http://www.grea.org.br/I_levantamento/I_levantamento_nacional.pdf        [ Links ]

8. Brasil, 2005. Segundo levantamento domiciliar sobre drogas psicotrópicas no Brasil: Estudo envolvendo as 108 maiores cidades do País. [acesso em 15 mai 2011]. Disponível em: http://www.unodc.org/pdf/brazil/IIlevantamentoDomiciliarDrElisaldoCarlini_alterado2.pdf        [ Links ]

9. Falcão TJO, Costa ICC. O tabagismo em um município de pequeno porte: um estudo etnográfico como base para geração de um programa de saúde pública. J Bras Pneumol. 2008;34(2):91-7.         [ Links ]

10. Bortoluzzi MC, Traebert J, loguercio A, Kehrig RT. Prevalência e perfil dos usuários de álcool de população adulta em cidade do sul do Brasil. Cien Saude Colet. 2010;15(3):679-85.         [ Links ]

11. Bortoluzzi MC, Kehrig RT, loguercio AD, Traebert Jl. Prevalência e perfil dos usuários de tabaco de população adulta em cidade do sul do Brasil (Joaçaba/SC). Cien Saude Colet. 2011; 16(3):1953-9.         [ Links ]

12. Vieira PC, Castro Aerts DRG, Freddo Sl, Bittencourt A, Monteiro L. Uso de álcool, tabaco e outras drogas por adolescentes escolares em município do Sul do Brasil. Cad Saúde Pública, 2008;24(11):2487-2498.         [ Links ]

13. Bastos FI, Bertoni N, Hacker MA, Grupo de Estudos em População, Sexualidade e Aids. Consumo de álcool e drogas: principais achados de pesquisa de âmbito nacional, Brasil 2005. Rev Saúde Pública [online]. 2008;42(suppl.1):109-117.         [ Links ]

14. Pillon SC, O’Brien B, Chavez KAP. The relationship between drugs use and risk behaviors in brazilian university students. Rev latino-Am Enfermagem. 2005;13(2):1169-1176.         [ Links ]

15. American College health Association. American College health Association-national College health Assessment II: Reference group Data Report Fall 2010. linthicum, MD American College health Association; 2011. Available from: http://www.achancha.org/docs/AChA-nChA-II_Referencegroup_DataReport_Fall2010.pdf        [ Links ]

16. Duailibi LB, Ribeiro M, Laranjeira R. Profile of cocaine and crack users in Brazil. Cad Saúde Pública; 2008;24(4):s545-s557.         [ Links ]

17. Facundo FRG, Pedrão LJ. Personal and interpersonal risk factors in the consumption of illicit drugs by marginal adolescents and young people from juvenile gangs. Rev Latino-Am Enfermagem. 2008;16(3):368-74.         [ Links ]

18. Pape H, Rossow I, Storvoll EE . Under double influence: Assessment of simultaneous alcohol and cannabis use in general youth populations Drug Alcohol Depend. 2009;101(1-2):69-73.         [ Links ]

19. O’grady KE, Arria AM, Fitzelle DM, Wish ED. Heavy Drinking and Polydrug use among College Students. J Drug Issues. 2008;38(2):445-466.         [ Links ]

20. Reissig CJ, Strain EC, Griffiths RR. Caffeinated energy drinks -A growing problem. Drug Alcohol Depend. 2009;99(1-3):1-10.         [ Links ]

 

Correspondencia:

Marcelo Carlos Bortoluzzi

Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) Faculdade de Odontologia Av. Getúlio Vargas, 2125 -Bairro Flor da Serra Joaçaba – Santa Catarina Brasil Cep 89600-000. Email: mbortoluzzi@gmail.com

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons