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Revista Portuguesa de Imunoalergologia

versão impressa ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.28 no.4 Lisboa dez. 2020

https://doi.org/10.32932/rpia.2020.12.043 

EDITORIAL

 

“Winter is coming”…

 

Mariana Couto

Centro de Alergia, Hospital CUF Descobertas, Lisboa

 

Winter is coming”…, a frase popularizada pela famosa série de televisão Game of Thrones ganha um significado especial este ano, não pela chegada dos “caminhantes brancos”, mas pela crise sanitária em que vivemos e que se prevê agravar nos meses da próxima estação.

As infeções víricas do trato respiratório são reconhecidamente o desencadeador mais frequente de episódios de sibilância, em crianças pequenas e de crises de asma, geralmente por rinovírus e vírus sincicial respiratório (RSV)1. Ambos se disseminam mais facilmente no inverno, juntamente com o vírus influenza, e vários tipos de coronavírus.

Neste ano de pandemia, porém, com as medidas de confinamento e de distanciamento físico, com a utilização de máscaras e higienização frequente das mãos, é possível que a epidemiologia de algumas destas doenças infeciosas respiratórias se venha a alterar, à semelhança do que ocorreu em países do outro hemisfério, como a Austrália e a Nova Zelândia, em que ocorreu uma redução importante de infeções víricas sazonais2.

Não significa, no entanto, que não se devam ter cuidados acrescidos este ano. E por vários motivos: sinais e sintomas comuns da COVID‑19 (como febre, tosse e dispneia) também podem ocorrer na infeção por outros vírus respiratórios, dificultando o diagnóstico; não se conhecem os efeitos da circulação concomitante do vírus influenza e do SARS‑CoV‑2, nomeadamente a gravidade das manifestações clínicas, se ocorrer coinfeção, e qual será o impacto de ambas nos serviços de saúde e na sociedade; a procura de cuidados médicos devido a sintomas respiratórios poderá aumentar o risco de exposição ao SARS‑CoV‑2.

Evitar a sobrecarga do sistema de saúde, já tão subjugado pelos efeitos da pandemia, é a principal prioridade este inverno e para isso é fundamental atender ao tratamento e controlo das doenças respiratórias já conhecidas, como é o caso da sibilância recorrente, asma ou alergias.

O artigo recente de Stokes e Bacharier3, corroborado nesta edição da revista pelo artigo de Ferreira C4, aborda a prevenção e o tratamento da sibilância recorrente induzida por vírus em crianças em idade pre‑escolar, de fulcral importância em idade pediátrica nesta fase do ano. Destaca‑se a importância da educação, bem como o fornecimento de planos escritos que possibilitem um tratamento precoce e eficaz no domicílio, evitando sempre que possível o recurso a serviços de saúde.

Já no que diz respeito a doenças crónicas em crianças, as alergias e a asma estão entre as patologias crónicas não transmissíveis mais prevalentes, muitas vezes com exacerbações nos meses mais frios do ano. Estes doentes carecem este inverno de atenção especial e, se necessário, de adaptação do seu plano de tratamento regular, pelo que a Secção de Pediatria da EAACI emitiu recomendações para a abordagem de alergias e imunodeficiências durante pandemias de vírus respiratórios, com base em seis factos e respetivas evidências existentes5 que importa ter em mente.

Nos adolescentes e adultos, a asma não deixa de ser uma patologia prevalente, embora com desafios diferentes.

De realçar o artigo nesta edição de Jácome e colaboradores6, onde se evidencia que o controlo da asma poderá ter relação com algumas características próprias dos doentes. Se em relação ao SARS‑CoV‑2 já percebemos que as crianças são relativamente poupadas e não são o principal veículo do contágio da doença, em relação à gripe sazonal a realidade é oposta. Não só as crianças têm taxas de incidência mais elevadas (afeta anualmente entre 5 a 10% dos adultos e 20 a 30% das crianças7) quando comparadas com a restante comunidade, como têm um papel extremamente importante no contágio do agregado familiar e outros contactos próximos. O risco de hospitalização é baixo, mas o consumo de recursos de saúde é muito elevado. Na idade pediátrica, o risco de complicações é maior também em crianças com doença respiratória crónica (incluindo asma), entre outras comorbilidades.

Reduzir o risco de gripe na criança através da vacinação reduzirá a doença, a disrupção escolar, familiar, social e a necessidade de procura dos serviços de saúde. Reduzir a carga sobre o sistema de saúde, permitirá dirigir mais recursos para o atendimento de doentes com COVID‑19.

Neste contexto, é prioritário vacinar os grupos de risco para infeção por influenza e por SARS‑CoV‑2, sendo importante uma boa gestão das vacinas disponíveis, potencialmente limitadas, num período de expectável maior procura8.

 

REFERÊNCIAS

1. Beigelman A, Bacharier LB. Infection-induced wheezing in young children. J Allergy Clin Immunol 2014;133:603-4.         [ Links ]

2. Balakrishnan VS. In preparation for a COVID-19-influenza double epidemic. Lancet 2020;1(5):E199.         [ Links ]

3. Stokes JR, Bacharier LB. Prevention and treatment of recurrent viral-induced wheezing in the preschool child. Ann Allergy Asthma Immunol 2020;125(2):156-62.         [ Links ]

4. Ferreira C, Guilherme MA. Sibilância recorrente em idade pré-escolar: Abordagem terapêutica. Rev Port Imunoalergologia 2020;28(4):217-29.         [ Links ]

5. Brough HA, Kalayci O, Sediva A, Untersmayr E, Munblit D, Rodriguez Del Rio P et al. Managing childhood allergies and immunodeficiencies during respiratory virus epidemics – The 2020 COVID-19 pandemic: A statement from the EAACI-section on pediatrics. Pediatr Allergy Immunol 2020;31(5):442-8.

6. Jácome C, Amaral R, Almeida R, Pereira AM, Couto M, Araújo L, et al. Identification of clusters of asthma control: A preliminary analysis of the Inspirers studies. Rev Port Imunoalergologia 2020;28(4):231-40.         [ Links ]

7. Vaccines against influenza WHO position paper – November 2012. Wkly Epidemiol Rec 2012;87:461-76.

8. Recomendações sobre Vacinas Extra Programa Nacional de Vacinação. Comissão de Vacinas da Sociedade de Infeciologia Pediátrica e Sociedade Portuguesa de Pediatria. Available online: https://www.spp.pt/UserFiles/file/Seccao_Infecciologia/recomendacoes%20vacinas_sip_final_28set_2.pdf        [ Links ]

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