SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.24 número2Anafilaxia perioperatória: A experiência brasileiraHipersensibilidade a fármacos - Tratar, documentar e dessensibilizar índice de autoresíndice de assuntosPesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Indicadores

Links relacionados

  • Não possue artigos similaresSimilares em SciELO

Compartilhar


Revista Portuguesa de Imunoalergologia

versão impressa ISSN 0871-9721

Rev Port Imunoalergologia vol.24 no.2 Lisboa jun. 2016

 

RESUMO DE ATUALIZAÇÃO

Hipersensibilidade a fármacos – Aspetos epidemiológicos e fatores de risco

 

Pedro Carreiro Martins

Serviço de Imunoalergologia, Hospital de Dona Estefânia

Centro de Estudo de Doenças Crónicas (CEDOC), Nova Medical School

 

Contacto

 

INCIDÊNCIA E PREVALÊNCIA

As reações adversas a medicamentos (RAM) constituem um grave problema de saúde pública, estimando-se que representem 3 a 7 % das causas de deslocação ao serviço de urgência e ocorram em 10 a 20 % dos doentes hospitalizados1. Têm também sido apontadas como uma importante causa de morte em doentes internados.

A Organização Mundial de Saúde define RAM como qualquer resposta prejudicial, não intencional e indesejável, a um fármaco administrado em doses normalmente usadas em seres humanos para a profilaxia, diagnóstico ou terapia2-4.

As RAM podem ser classificadas em vários subtipos5. As RAM de tipo B (cerca de 20 % do total da reações)3, que atingem somente indivíduos suscetíveis e são independentes da dose, incluem também as reações de hipersensibilidade.

As reações de hipersensibilidade alérgicas definem-se como reações adversas com um mecanismo imunológico subjacente que surgem na sequência da administração de um medicamente6 . Estima-se que até 1/3 das RAM em doentes hospitalizados possa ser de etiologia alérgica3.

A generalidade dos estudos epidemiológicos de alergia a fármacos enquadra-se num dos seguintes subtipos: estudos em doentes hospitalizados, estudos em doentes que se deslocam ao serviço de urgência, estudos em amostras provenientes de consulta externa7,8, análise de sistemas de notificação de reações9,10 e estudos com base em amostras populacionais1,11,12.

A prevalência de alergia a fármacos na população geral não se encontra devidamente caracterizada. Estudos transversais referem que cerca de 7 % da população reporta alergia a medicamentos1,13. Quando estes doentes são devidamente avaliados em consulta de imunoalergologia, a alergia ao medicamento em questão é confirmada numa pequena proporção dos casos, que dependendo do fármaco e da reação oscilará entre 6 e 20 %8,14,15.

FATORES DE RISCO

Relativamente a fatores de risco3, estes subdividem-se em fatores relacionados com o fármaco e fatores relacionados com o indivíduo. De entre os relacionados com o fármaco têm sido apontados o peso molecular (risco aumentado se > 1KDa), a via de administração (tópica e intravenosa associam-se a maior risco) e a forma de administração (tratamentos frequentes ou prolongados).

No que concerne a fatores de risco associados com o hospedeiro16, temos: a idade (jovens adultos com maior risco, que as crianças e idosos), o sexo feminino (que tem maior incidência de reações cutâneas e de anafilaxia), os estados de doença (como a fibrose quística e as infecções a HIV, EBV e vírus herpes), a atopia e a presença de determinados haplótipos HLA.

Relativamente à atopia, não é ainda claro que constitua um fator de risco para a generalidade dos fármacos, mas existe evidência de que se associa com reações de maior gravidade, designadamente imediatas. Por outro lado, existem trabalhos17 que concluem existir associação entre atopia e doença respiratória exacerbada pela aspirina e atopia e urticária / angioedema induzidos por anti-inflamatórios não esteroides (AINEs).

Em termos genéticos, têm sido apontadas associações entre alguns haplótipos HLA e reações de maior gravidade3, como: HLA B1502 (síndroma de Stevens Johnson induzido por carbamazepina e fenitoína), HLA B1502 (síndroma de Stevens Johnson induzida por carbamazepina e fenitoína), HLA B 5701 (hipersensibilidade ao abacavir) e HLA B 5801 (síndroma de Stevens Johnson e necrólise epidérmica tóxica induzidas por alopurinol).

Recentemente, uma revisão sistemática18 concluiu que as reações de hipersensibilidade a fármacos imediatas a betalactâmicos se associavam com os genes HLA-DRA, ILR4, NOD2, and LGALS3. Relativamente às reações de hipersensibilidade imediatas a AINEs, os genes envolvidos associavam‑se com vias do metabolismo do ácido araquidónico e vias de processamento antigénico HLA (ALOX5, HLADRB, HLAB44).

 

REFERÊNCIAS

1. Gomes ER, Demoly P. Epidemiology of hypersensitivity drug reactions. Curr Opin Allergy Clin Immunol 2005;5:309-16.         [ Links ]

2. Lazarou J, Pomeranz BH, Corey PN. Incidence of adverse drug reactions in hospitalized patients: a meta-analysis of prospective studies. Jama 1998;279:1200-5.         [ Links ]

3. Thong BY, Tan TC. Epidemiology and risk factors for drug allergy. Br J Clin Pharmacol 2011;71(5):684-700.         [ Links ]

4. Drug allergy: an updated practice parameter. Ann Allergy Asthma Immunol;105:259-73.         [ Links ]

5. Edwards IR, Aronson JK. Adverse drug reactions: definitions, diagnosis, and management. Lancet 2000;356:1255-9.         [ Links ]

6. Johansson SG, Bieber T, Dahl R, Friedmann PS, Lanier BQ, Lockey RF, et al. Revised nomenclature for allergy for global use: Report of the Nomenclature Review Committee of the World Allergy Organization, October 2003. J Allergy Clin Immunol 2004;113:832-6.         [ Links ]

7. Gamboa PM. The epidemiology of drug allergy-related consultations in Spanish allergology services: Alergologica-2005. J Investig Allergol Clin Immunol 2009;19 (Suppl 2):45-50.         [ Links ]

8. Chambel M, Martins P, Silva I, Palma-Carlos S, Romeira AM, Leiria Pinto P. Drug provocation tests to betalactam antibiotics: Experience in a paediatric setting. Allergol Immunopathol (Madr) 2010;38:300-6.         [ Links ]

9. Faria E, Rodrigues-Cernadas J, Gaspar A, Botelho C, Castro E, Lopes A, et al. Drug-induced anaphylaxis survey in Portuguese allergy departments. J Investig Allergol Clin Immunol 2014;24:40-8.         [ Links ]

10. Mota I, Pereira AM, Pereira C, Tomaz E, Ferreira MB, Sabino F, et al. [Approach and Registry of Anaphylaxis in Portugal]. Acta Med Port 2015;28:786-96.         [ Links ]

11. Gomes E, Cardoso MF, Praca F, Gomes L, Marino E, Demoly P. Self-reported drug allergy in a general adult Portuguese population. Clin Exp Allergy 2004;34:1597-601.         [ Links ]

12. Martins P, Belo J, Marques J, Papoila AL, Caires I, Araujo-Martins J, et al. [Reported drug allergy among children attending day care centers]. Acta Med Port 2014;27:444-9.         [ Links ]

13. Falcao H, Lunet N, Gomes E, Cunha L, Barros H. Drug allergy in university students from Porto, Portugal. Allergy 2003;58:1210.         [ Links ]

14. Rebelo Gomes E, Fonseca J, Araujo L, Demoly P. Drug allergy claims in children: from self-reporting to confirmed diagnosis. Clin Exp Allergy 2008;38:191-8.         [ Links ]

15. Messaad D, Sahla H, Benahmed S, Godard P, Bousquet J, Demoly P. Drug provocation tests in patients with a history suggesting an immediate drug hypersensitivity reaction. Ann Intern Med 2004;140:1001-6.         [ Links ]

16. Mirakian R, Ewan PW, Durham SR, Youlten LJ, Dugue P, Friedmann PS, et al. BSACI guidelines for the management of drug allergy. Clin Exp Allergy 2009;39:43-61.         [ Links ]

17. Blanca-Lopez N, Cornejo-Garcia JA, Perez-Alzate D, Perez-Sanchez N, Plaza-Seron MC, Dona I, et al. Hypersensitivity reactions to nonsteroidal anti-inflammatory drugs in children and adolescents: Selective Reactions. J Investig Allergol Clin Immunol 2015;25:385-95.         [ Links ]

18. Oussalah A, Mayorga C, Blanca M, Barbaud A, Nakonechna A, Cernadas J, et al. Genetic variants associated with drugs-induced immediate hypersensitivity reactions: a PRISMA-compliant systematic review. Allergy 2016;71:443-62.         [ Links ]

 

Contacto:

Pedro Carreiro Martins

Serviço de Imunoalergologia, Hospital de Dona Estefânia

R. Jacinta Marto,

1169-045 Lisboa

Creative Commons License Todo o conteúdo deste periódico, exceto onde está identificado, está licenciado sob uma Licença Creative Commons