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Revista Portuguesa de Educação

versión impresa ISSN 0871-9187

Rev. Port. de Educação vol.24 no.2 Braga  2011

 

Editorial

 

Maria de Lourdes Dionísio

 

O número de textos que integra este volume da Revista Portuguesa de Educação espelha a intensidade da sua atividade editorial. No quadro de uma gestão não profissional, tal intensidade, apesar de reflexo do estatuto consolidado da Revista na comunidade académica, pode também vir a ser fator de interpelação da sua existência. Não é apenas a alteração das práticas tradicionais de edição suscitadas pelas ferramentas da edição electrónica que parece exigir a interpelação, pelo menos, de procedimentos editoriais. Esta revisão começa a ser também exigida pela distinta relação entre a publicação científica e os sujeitos envolvidos nos seus processos de produção e recepção. Na verdade, se até há relativamente pouco tempo, o vínculo primeiro das revistas académicas podia ser visto como mantido, em muito, com os seus Leitores, no atual paradigma de comunicação (e avaliação) científica não é absurdo dizer que tal vínculo é prioritariamente com os Autores que as revistas publicam, dadas as funções que os artigos científicos têm vindo a assumir na vida académica e com todas as implicações que isso tem na rede social em que a revista se produz.

É pois no cumprimento desse "pacto" com os Autores, que alimentam legítimas expectativas sobre o tempo e o modo de visibilização da sua contribuição para o conhecimento científico, que a RPE dá hoje à estampa um número que, por comparação a números anteriores, é excecional.

No primeiro, Leopoldo Mesquita, no âmbito do que considera ser um novo campo de investigação em educação, reflete sobre as mudanças da atividade educativa, num sentido que corresponderá aos "processos clássicos de transição capitalista cujo ponto nodal reside na transformação do trabalho escolar". Segundo o Autor, "impõe-se neste contexto um estudo detalhado das formas de valorização dos capitais investidos na indústria educativa".

No segundo texto, Maria João Carvalho aborda a escola, de forma multifocada, com o objetivo de distinguir entre várias formas de racionalidade, no quadro de recusa de "uma concepção monista e absoluta". Neste sentido, constrói um dispositivo conceptual que, nas palavras da Autora, "se articule com a proposta de estudo das multirracionalidades que incorporam as decisões que revelam diferentes formas de poder".

A equipa constituída por Susana Caires, Maria Alfredo Moreira, Carla Esteves e Diana Vieira apresenta os resultados de um estudo sobre as vivências dos supervisores cooperantes no contexto do estágio pedagógico de cursos de quatro universidades portuguesas. O recurso ao Inventário de Vivências e Percepções do Supervisor permitiu avaliar o impacto de algumas variáveis, nomeadamente a Formação Específica em Supervisão que se concluiu ser a que mais influência tem nas vivências e percepções dos cooperantes.

Instituindo também a supervisão de estágio, agora em Enfermagem, como objeto de estudo, o quarto texto de Ana Paula Macedo reflete sobre este processo, especificamente quanto aos fenómenos de articulação interorganizacional Escola de Enfermagem e Hospital.

Adotando uma perspectiva social sobre a literacia, Maria da Conceição Fonseca e Fernanda Simões apresentam os resultados de um estudo sobre como "adultos em processo de escolarização básica analisam as suas práticas de leitura e escrita, percebem as experiências de letramento vivenciadas na instituição escola e avaliam seus possíveis impactos naquelas práticas". Das entrevistas realizadas a quatro alunos de um curso de Educação de Jovens e Adultos, concluem as Autoras que o papel da escola na promoção de práticas letradas de uso social é relativizado, configurando-se as práticas do quotidiano e as escolares como algo independentes, apesar da identificação, por parte dos adultos, do alargamento e sofisticação das suas práticas de leitura e de escrita devido à vivência escolar.

No sexto texto, Carlos Ribeiro, Rute Monteiro e José Carrillo, no âmbito do ensino da Matemática no 1º ciclo do Ensino Básico, discutem o processo de construção de um modelo que, tomando a prática dos professores, permite analisar as cognições em jogo na sala de aula, de que modo elas se relacionam e qual o seu papel no processo de ensino. O texto conclui com a discussão das implicações do uso do modelo na formação inicial e contínua de professores.

Também sobre o ensino da Matemática na escola básica, agora no 3º ciclo, Catarina Ribeiro e Leonor Santos apresentam um estudo sobre o modo como duas professoras de uma mesma escola, a leccionar o mesmo ano de escolaridade e os mesmos conteúdos programáticos, concretizam o currículo. A discussão institui as diferenças entre as duas professoras para reforçar a tese de que a cada professor corresponde um currículo.

Josimeire Julio e Arnaldo Vaz caracterizam, no oitavo texto, aspetos de masculinidade que têm implicações na aprendizagem da Física. Na investigação de tipo etnográfico que deu origem ao artigo, os Autores analisaram as interações entre rapazes, tendo concluído que predominaram, por exemplo, situações desafiadoras e de competição. Discutem ainda as circunstâncias em que tais manifestações podem pôr em causa a aprendizagem e o funcionamento dos grupos.

Angelica Di Maio e Alberto Setzer relatam o estado de coisas no ensino da Geografia quanto ao uso de novas tecnologias. Apesar do desenvolvimento neste domínio, os Autores concluem que a informática ainda é uma ferramenta pouco usada na escola, sendo necessário criar melhores condições para que professores e alunos possam usar a tecnologia em benefício do ensino e da aprendizagem.

O décimo e último texto apresenta um estudo sobre o aproveitamento escolar de alunos de Engenharia Civil sujeitos ao método Aprendizagem Baseada em Problemas. Adriana Casale, Nidia Kuri e Antônio Silva avaliam e comparam os resultados de aprendizagem destes alunos com os de outros que não estiveram envolvidos na aprendizagem por recurso àquele método. Para a análise dos dados, os Autores recorreram a mapas cognitivos que lhes permitiu concluir que o aproveitamento escolar é significativamente melhor com aquele desenho didático.

Fecha este número uma nota de leitura, da responsabilidade de Ana Silva, de duas obras de referência nos estudos sobre a literacia, a primeira delas constituindo, inclusivamente, papel pioneiro dos New Literacy Studies, perspectiva que se opõe à concepção dominante da literacia: a da avaliação e da medida.