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Arquivos de Medicina

versão On-line ISSN 2183-2447

Arq Med vol.28 no.3 Porto jun. 2014

 

ARTIGO DE REVISÃO

Terapêutica multimodal do carcinoma da Junção esófago-gástrica

Multimodality Therapy for gastroesophageal junction carcinoma

André Tojal1, João Pinto-de-Sousa1

 

1 Departamento de Cirurgia, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

 

Correspondência

 

RESUMO

Nos países ocidentais tem-se observado um aumento alarmante da incidência do adenocarcinoma da junção esófago-gástrica. Com base em dados epidemiológicos e histopatológicos, estas neoplasias são classificadas em adenocarcinoma do esófago distal, adenocarcinoma juncional, ou verdadeiro carcinoma do cárdia, e adenocarcinoma subcárdico. Geralmente, a sua apresentação clínica ocorre em estádios avançados, logo, uma intervenção terapêutica precoce e ajustada apenas será possível através de um diagnóstico precoce, uma classificação uniformizada e um estadiamento rigoroso. A estratégia com intenção curativa deve ser multidisciplinar, mas a cirurgia permanece como tratamento de eleição, apesar da percentagem de resseção R0 estar longe da ideal. Estudos recentes parecem sugerir que um regime peri-operatório de quimioterapia, com ou sem radioterapia, diminui a recorrência loco-regional, melhorando a sobrevida dos doentes com carcinoma da junção esófago-gástrica ressecável. No entanto, perante adenocarcinomas irressecáveis ou com metástases à distância, a quimioterapia sistémica poderá ser a única opção terapêutica possível. Novos agentes quimioterapêuticos estão sob investigação com o intuito de aumentar a eficácia e reduzir a toxicidade destas combinações. Este trabalho de revisão tem como objetivo ajudar a clarificar algumas das controvérsias existentes na classificação, estadiamento e tratamento destes carcinomas, com especial destaque para as diferentes opções terapêuticas.

Palavras-chave: junção esófago-gástrica, adenocarcinoma, cárdia, cirurgia, quimioterapia, terapia multimodal

 

ABSTRACT

In Western countries there has been an alarming rise in the incidence of gastroesophageal junction adenocarcinoma. Based on epidemiological and histopathological data, these tumors are classified as adenocarcinoma of the distal esophagus, junctional adenocarcinoma, or true carcinoma of the cardia, and subcardial adenocarcinoma. Commonly, his clinical presentation occurs in advanced stages, thus, an early and adjusted therapeutic intervention is only possible through an early diagnosis, a standardized classification and an accurate staging. The strategy with curative intent is most often multidisciplinary, but surgical resection remains the treatment of choice, despite the percentage of R0 resection being far from ideal. Recent evidence suggests that a perioperative regimen with chemotherapy, with or without radiotherapy, can reduce locoregional recurrence, improving survival of patients with resectable gastroesophageal junction carcinoma. However, in unresectable adenocarcinomas or with distant metastases, systemic chemotherapy may be the only acceptable treatment option. New chemotherapeutic agents are under investigation in order to increase the efficacy and to reduce the toxicity of these combinations. This review paper aims to help clarify some of the controversies in the classification, staging and treatment of these carcinomas, with special emphasis on the different therapeutic options.

Key-words: gastroesophageal junction, adenocarcinoma, cardia, surgery, chemotherapy, multimodal therapy

 

Introdução

Nos países ocidentais tem-se observado um aumento alarmante da incidência e prevalência do carcinoma da junção esófago-gástrica (JEG), contrastando com a diminuição da prevalência do carcinoma gástrico.1,2 Pensa-se que a doença de refluxo gastro-esofágico, o esófago de Barrett, a obesidade e a diminuição da taxa de infeção por Helicobacter pylori nestes países sejam factores que possam estar relacionados com este aumento.2,3 Com um aumento anual da incidência de entre 5% a 10% desde 1970, a nível mundial, estima-se que a cada ano surjam 1,4 milhões de novos casos de carcinomas gástricos ou da JEG, resultando em 1,1 milhões de mortes atribuídas a esta patologia.4,5 O carcinoma da JEG é frequentemente diagnosticado em fases avançadas da sua evolução.6 Como consequência, o tratamento com intenção curativa já não é possível em mais de 50% dos doentes à data de diagnóstico e o prognóstico é bastante reservado, com uma taxa de sobrevida a 5 anos inferior a 30%.7,8

Na literatura ainda permanece muita controvérsia sobre a etiologia, classificação e abordagem terapêutica deste tipo de tumores: enquanto nuns os tumores que surgem na proximidade da transição esófago-gástrica são classificados como esofágicos, noutros são considerados gástricos, ou como uma entidade individual diferente dos anteriores.1 Por isso, uma classificação inequívoca e uniformizada para o adenocarcinoma da JEG, aliada a um estadiamento correto da doença, seria um passo fundamental para a escolha adequada do procedimento cirúrgico, permitindo também comparar os dados de diferentes instituições.9 Apesar da cirurgia ser o tratamento de eleição com intenção curativa, a percentagem de ressecções R0 é reduzida e as recorrências são frequentes, pelo que vários estudos têm procurado avaliar a influência dos tratamentos adjuvante e/ou neoadjuvante na melhoria do prognóstico.4,9 Não obstante a crescente atenção que tem sido dada a este tipo de tumores, várias questões permanecem ainda por esclarecer, especialmente no que diz respeito à sua classificação, estadiamento e tratamento. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo a revisão da mais recente bibliografia, com especial destaque para as diferentes e novas opções terapêuticas.

 

Métodos

Foi feita pesquisa online nas bases de dados pubmed/mEdliNE e sciencedirect, usando as seguintes palavras-chave: gastroesophageal junction; adenocarcinoma; cardia; surgery; chemotherapy; multimodal therapy.

Foram analisados títulos e/ou abstracts de artigos, com full text disponível, limitados ao período de janeiro de 2000 a dezembro de 2012 e às línguas inglesa e portuguesa. Para a escolha das referências para este trabalho foi dada prioridade aos estudos mais relevantes, recentes e importância relativa dos autores, na área considerada.

Posteriormente, foram também incluídos alguns artigos de relevo referenciados nos artigos da primeira pesquisa.

Classificação, etiologia e patologia

A designação carcinoma da JEG engloba todos os tumores cujo centro de crescimento se encontra 5cmproximalou distalmentedacárdiaanatómica,1 a qual é definida endoscopicamente como o limite proximal das pregas longitudinais gástricas.9

Siewert e colaboradores1,8,10 descreveram 3 tipos distintos de adenocarcinoma da JEG, de acordo com a localização anatómica do centro da massa principal do tumor:

    Tipo I: Adenocarcinoma do esófago distal, que surge frequentemente de uma área de metaplasia intestinal especializada do esófago e que pode invadir a junção esófago-gástrica vindo de cima.

    Tipo II: Carcinoma verdadeiro do cárdia, também designado de carcinoma juncional, proveniente do epitélio cárdico ou de pequenos segmentos de metaplasia intestinal na JEG.

    Tipo III: Carcinoma gástrico subcárdico que infiltra a junção esófago-gástrica e o esófago distal vindo de baixo.

Segundo a International Society for Diseases of the Esophagus ea International Gastric Cancer Association, estabeleceu-se que esta classificação seria a base para a definição e abordagem terapêutica/cirúrgica adequada para cada adenocarcinoma da JEG.1

Os adenocarcinomas de tipo I têm características epidemiológicas e histológicas muito semelhantes às dos adenocarcinomas esofágicos torácicos distais, incluindo a preponderância pelo género masculino, a associação com história crónica de refluxo gastro-esofágico e obesidade, e a predominância de carcinomas do tipo intestinal, provenientes de áreas de metaplasia intestinal especializada de Barrett (80%).1,2,8,10

Os carcinomas da JEG de tipos II e III assemelham-se mais com o carcinoma gástrico do que os de tipo I. Nestes carcinomas, parece haver uma forte associação entre a infeção por Helicobacter pylori e a metaplasia intestinal na cárdia anatómica e estômago proximal.1,9,10

 

Estadiamento clínico

O estádio da neoplasia consiste na avaliação do crescimento local e da disseminação sistémica (ganglionar e à distância), tendo em vista a escolha da terapêutica mais adequada.

A ecoendoscopia é a técnica imagiológica com maior acuidade na avaliação da profundidade de invasão tumoral da parede do órgão – categoria t da classificação TNM (Tumor, Node, Metastasis). Permite também avaliar o envolvimento dos gânglios regionais peri-gástricos e mediastínicos.9,11

A tomografia computorizada tóraco-abdominal permanece como o exame de eleição para a detecção de metástases nos locais mais comuns (fígado, pulmão), sendo também útil na identificação de tu-mores localmente avançados (t3/t4) e na avaliação do envolvimento ganglionar (N).9,11

A laparoscopia diagnóstica com lavado peritoneal para citologia é, segundo alguns estudos, uma técnica recomendada nos doentes com adenocarcinomas da JEG de tipos II e III, localmente avançados (t3/t4). Esta atitude permite excluir carcinomatose peritoneal ou metástases hepáticas ocultas.4

A tomografia de emissão de positrões com uso de 18-flúor-2-desoxi-D-glicose (PET-FDG) permite visualizar áreas de atividade metabólica aumentada nos tecidos, ajudando na exclusão de metástases à distância.4 Contudo, segundo alguns autores,12,13 a sua principal indicação consiste na avaliação da resposta nos doentes propostos para terapêutica multimodal.

A sétima edição da classificação TNM, desenvolvida pelo American joint Committee on Cancer (AjCC) e pela International Union Against Cancer (UICC), em vigor desde janeiro de 2010, considera que os carcinomas que surgem na JEG, ou no estômago a 5cm ou menos da transição esófago-gástrica e que a atravessam, são estadiados usando o sistema TNM para o carcinoma esofágico. o esquema de estadiamento revisto para o carcinoma gástrico aplica-se a tumores que surgem no estômago mais distal e àqueles situados nos 5cm proximais, mas que não invadem aquela transição.14 Nesta sétima edição, demonstrada na Tabela 1, a categoria N foi subclassificada de acordo com o número de gânglios regionais contendo metástases, tal como acontece no carcinoma gástrico. foram ainda criados grupos de estádios diferentes para o carcinoma epidermóide e adenocarcinoma do esófago, com inclusão do grau histológico como requisito para o estadiamento (Tabela 2).14,15

 

Abordagem terapêutica

Para o indispensável planeamento multidisciplinar do tratamento dos carcinomas da JEG, é essencial considerar fatores determinantes na decisão, tais como, o estádio do tumor, o estado geral do doente e o objetivo do tratamento.16

Tratamento do carcinoma da JEG em fase inicial

A resseção endoscópica da mucosa (REM) é uma técnica endoscópica de excisão do epitélio neoplásico, conferindo uma alternativa terapêutica, minimamente invasiva, para doentes com carcinoma da JEG superficial e displasia de alto grau em esófago de Barrett (estádio 0).17,18 Esta modalidade de tratamento apresenta uma mortalidade nula e baixa morbilidade (1%-3%), com consequente melhoria da qualidade de vida, principalmente pela preservação do órgão e pela ausência de complicações decorrentes da intervenção cirúrgica.19 Adicionalmente, esta técnica permite a obtenção do espécime para diagnóstico histológico definitivo, bem como para estadiamento, avaliando a profundidade de infiltração e o risco de metastização ganglionar regional.17,20

O risco de envolvimento ganglionar está forte-mente associado à progressão do tumor na parede, sendo muito reduzido quando o tumor está confinado à mucosa, ocorrendo em 1%-3% em tumores envolvendo o terço superior da submucosa, e sendo tão significativamente mais elevado, na ordem dos 10%-30%, quando a invasão da submucosa é mais profunda.18 Assim, esta técnica apenas pode ser utilizada em estádios iniciais circunscritos à mucosa se a lesão for bem diferenciada, sem ulceração, não deprimida e de diâmetro inferior a 2cm.18,21

A hemorragia pode ocorrer em 9% a 46% dos doenteseaperfuraçãoemmenosde1%.17 A incidência de estenose varia de 6% até cerca de 50%.22,23

Várias outras técnicas têm sido avaliadas no tratamento da displasia de alto grau e carcinoma em esófago de Barrett, tais como a terapia fotodinâmica (TFD), o laser e a ablação por radiofrequência.20 segundo alguns trabalhos, a TFD teria indicação no tratamento do carcinoma da JEG confinado à mucosa. No entanto, esta técnica acarreta a destruição dos tecidos, não permitindo a obtenção de material para estudo histológico e, por isso, não permite documentar a erradicação do tumor, nem o estadiamento da lesão, porque não permite a avaliação do risco de metastização ganglionar.16 paralelamente, a TFD raramente permite erradicação de todas as áreas de esófago de Barrett, colocando, por isso, os doentes em risco significativo de desenvolver displasia ou adenocarcinoma.16

 

Abordagem cirúrgica

A cirurgia ainda é o único tratamento capaz de conseguir a cura de alguns doentes com carcinoma da JEG. O principal objetivo do tratamento cirúrgico é a resseção completa (R0) do tumor primário e das áreas de drenagem linfática.1 A resseção R0 está associada a sobrevida prolongada e constitui o principal fator prognóstico independente na maioria dos estudos, com taxas de sobrevida a 5 anos de 43% a 49%.18,24 Numa revisão recente,18 esta taxa é de 0%-11% no caso de uma resseção R1 (microscopicamente incompleta) e 0%-4% na resseção R2 (macroscopicamente incompleta).

Adicionalmente, o envolvimento ganglionar (N) é reconhecido como fator prognóstico major neste tipo de carcinomas. Desta forma, uma linfadenectomia adequada é necessária para a optimização do estadiamento patológico tumoral, para a redução da recorrência loco-regional e para melhorar a sobrevida.16

Os procedimentos cirúrgicos indicados para os diferentes tipos de carcinomas da JEG, ainda estão envoltos em alguma controvérsia. As várias opções disponíveis são as seguintes: a esofagectomia subtotal com gastrectomia polar superior, por via abdominal e torácica direita (operação de Ivor-Lewis); a esófago-gastrectomia em bloco por tóraco-frenolaparotomia esquerda (operação de Lortat-Jacob); a gastrectomia total com resseção trans-hiatal do esófago distal; e a resseção limitada da JEG seguida de reconstrução com jejuno (operação de Merendino).1,9

De uma forma geral, os doentes com carcinoma da JEG tipo I são candidatos à denominada operação de Ivor-Lewis.24 O estudo randomizado holandês,25,26 que incluiu 220 doentes com carcinomas da JEG tipos I e II, aparentemente concluiu pela superioridade da esofagectomia trans-torácica sobre a esofagectomia trans-hiatal. Neste estudo, apenas a via trans-torácica permite a remoção em bloco do esófago e dos gânglios linfáticos adjacentes. Contudo, a via trans-hiatal parece associar-se a um número mais reduzido de complicações respiratórias e de fístulas quilosas pós-cirúrgicas,9,25 Curiosamente, os resultados a longo prazo demonstraram sobrevida global a 5 anos semelhante nas duas abordagens (36% na trans-torácica vs. 34% na trans-hiatal).26 Atualmente, a esofagectomia trans-torácica é recomendada para todos os doentes com disseminação linfática e com menor risco pré-operatório, reservando-se a esofagectomia trans-hiatal para doentes com contraindicação para toracotomia ou altorisco cirúrgico.9,18

Vários estudos têm concluído que a gastrectomia total com resseção trans-hiatal do esófago distal é a operação indicada nos carcinomas da JEG tipos II e III, emdetrimento da operaçãode Lortat-Jacob.1,9,18,27 Um estudo randomizado realizado no japão comparou a gastrectomia total por via trans-hiatal com a tóraco-freno-laparotomia esquerda, em carcinomas da JEG tipos II e III.27 As taxas de resseção R0 foram semelhantes (76% vs. 75%) e observou-se uma diferença não significativa na sobrevida a 5 anos (52,3% vs. 37,9%, respetivamente). No entanto, a taxa de complicações, nomeadamente as pulmonares, e a taxa de mortalidade intra-hospitalar foram significativamente superiores nos doentes submetidos a tóraco-freno-laparotomia. Segundo este estudo, não está recomendada a tóraco-frenolaparotomia esquerda nos carcinomas da JEG dos tipos II e III.

A qualidade de vida pós-operatória parece também ser influenciada pelo tipo de reconstrução efetuada.

Nos doentes com carcinomas do tipo I, o refluxo gástrico e duodenal pode ser evitado, ou minimizado, através da confecção da anastomose entre o esófago e o tubo gástrico acima da veia ázigos ou ao nível do pescoço.28 Nos carcinomas tipos II e III, podem ser obtidos resultados funcionais favoráveis, após gastrectomia total, com reconstrução em Y de Roux. Em estádios iniciais, a resseção trans-abdominal limitada da região esófago-gástrica, com linfadenectomia regional e com interposição de jejuno (operação de Merendino), pode ser uma alternativa aceitável, uma vez que, o segmento jejunal protege contra o refluxo, melhorando dessa forma a qualidade de vida.28

No momento do tratamento cirúrgico mais de 2/3 dos doentes com tumores do esófago e do estômago têm metástases ganglionares.29 Os carcinomas da JEG de tipo I apresentam uma disseminação para gânglios linfáticos de todo o mediastino e do tronco celíaco, enquanto que os de tipos II e III, apesar de envolverem habitualmente os gângliosdo mediastino inferior, têm predileção pelos gânglios do tronco celíaco, do hilo esplénico e para-aórticos.1,30 Com base na literatura existente, uma linfadenectomia de 2 campos, envolvendo os territórios ganglionares de todo o mediastino, até ao bordo superior do arco aórtico, e os abdominais superiores, deve ser realizada nos carcinomas da JEG de tipo I, podendo ser mais alargada com base no estadiamento intraoperatório.18,24

Nos carcinomas da JEG de tipos II e III consideram-se 3 níveis de linfadenectomia4:

    D1: remoção dos gânglios linfáticos peri-gástricos;

    D2: D1 + remoção dos gânglios linfáticos do tronco celíaco e seus ramos (artérias gástrica esquerda, hepática comum e esplénica);

    D3: D1 + D2 + remoção dos gânglios linfáticos para-aórticos (ao longo das artérias hepática comum, pré-pancreática, pancreaticoduodenal posterior e mesentérica superior).

Dada a controvérsia existente, vários estudos comparáramos vários níveis de linfadenectomia no carcinoma gástrico na tentativa de clarificar a situação. No estudo randomizado elaborado pelo Dutch Gastric Cancer Group,31 380 doentes com carcinoma gástrico foram submetidos a disseção D1 e 331 a disseção D2. A mortalidade pós-operatória (4% vs. 10%) e a morbilidade (25% vs. 43%) foram significativamente mais elevadas no grupo submetido a disseção D2. Aos 11 anos de follow-up, não se verificaram diferenças estatisticamente significativas na taxa de sobrevida (35% vs. 30%, respetivamente) entre a disseção D2 e D1. o estudo concluiu que a morbilidade e a mortalidade estão amplamente associadas à extensão da linfadenectomia, à realização de pancreatectomia e esplenectomia, e à idade avançada.

Num estudo randomizado, realizado pelo Japan Clinical Oncology Group,32 observou-se que a morbilidade da disseção D2+PAN (alargada aos gânglios para-aórticos) (28,1%) foi ligeiramente superior à da linfadenectomia D2 (20,9%), porém, não se verificou uma diferença significativa nas complicações cirúrgicas major e mortalidade intrahospitalar em ambos os grupos. Contudo, a disseção D2+PAN demorou em média mais 63 minutos, levou a perdas hemáticas superiores, e maior tempo de internamento hospitalar. A linfadenectomia alargada não trouxe benefício de sobrevida em relação à disseção D2, com sobrevida aos 5 anos de 70% e 69%, respetivamente.4 A linfadenectomia D2+PAN, ou seja, d3, deve ser considerada como terapêutica experimental integrada em ensaios clínicos.

Atualmente parece ser relativamente consensual que a abordagem cirúrgica dos carcinomas da JEG deve compreender uma linfadenectomia D2. A esplenectomia e pancreatectomia devem ser evitadas para diminuir as taxas de mortalidade e morbilidade.28,29,31

 

Abordagem multimodal

Apesar da resseção cirúrgica ser a modalidade terapêutica com maior potencial de cura dos carcinomas da JEG, os resultados a longo prazo reportados em vários estudos25-27 não são satisfatórios, mesmo após uma resseção R0. Cerca de 40% a 65% dos doentes desenvolvem recorrência loco-regional, o que nos aponta para as limitações da cirurgia como forma exclusiva de tratamento destes doentes.29

Nesse sentido, com o objetivo de melhorar o prognóstico nos doentes com tumores localmente avançados, outras estratégias têm sido avaliadas, em associação ao tratamento cirúrgico, de entre as quais se salientam a quimioterapia e a radioterapia, tanto no pré-operatório como no pós-operatório.

 

Quimioterapia neoadjuvante

Os objetivos da quimioterapia neoadjuvante no tratamento dos carcinomas da JEG localmente avançados (estádios II e III) são: a diminuição do estádio clínico do tumor, aumentando, deste modo, a taxa de resseção R0 e a erradicação de potenciais micrometástases; a melhoria dos sintomas relacionados com o tumor; a determinação da sensibilidade do tumor à quimioterapia; e desejavelmente, o aumento da sobrevida dos doentes.18

Na literatura têm sido reportados resultados de estudos randomizados com inclusão de doentes, maioritariamente com carcinomas da JEG, submetidos a esta estratégia terapêutica. Um estudo importante foi realizado pela Medical Research Council (MRC) no Reino unido,33 com inclusão de 802 doentes com carcinoma esofágico ressecável (66% adenocarcinoma), para serem submetidos a 2 ciclos de cisplatina/5-fluorouracilo (5-FU) seguido de cirurgia (n=400) versus apenas cirurgia (n=402). A sobrevida global foi superior no grupo submetido a quimioterapia pré-operatória (Risco Relativo (RR) 0,79; IC 95% de 0,67-0,93), tal como a sobrevida média (16,8 meses vs. 13,3 meses) e a taxa de sobrevida a 2 anos (43% vs. 34%). A taxa de complicações e o número de mortes foram semelhantes entre os grupos. Uma melhoria significativa de 6% na taxa de resseção R0 foi obtida nos doentes que receberam quimioterapia e os tumores presentes nos espécimes removidos eram de menores dimensões, tinham menor envolvimento linfático e apresentavam menor grau de extensão nos tecidos circundantes. Dados posteriores,34 após 6 anos de seguimento, confirmaram benefício mantido na sobrevida (RR 0,84;IC 95% de 0,72-0,98) e um aumento na taxa de sobrevida a 5 anos de 6% no grupo da quimioterapia. Perante estes resultados, os autores concordam que o tratamento neoadjuvante com cisplatina/5FU deve ser considerado para doentes com carcinomas ressecáveis da JEG localmente avançados. Resultados semelhantes foram descritos, num recente estudo francês randomizado,35 com 224 doentes com adenocarcinomas do esófago distal (11%), da JEG (64%) e do estômago (25%), potencialmente ressecáveis, randomizados para receber quimioterapia peri-operatória (cisplatina/5-FU) e cirurgia ou cirurgia isoladamente. A taxa de resseção R0 foi 10% superior nos doentes que receberam quimioterapia (84% vs. 74%). Após 5,7 anos de seguimento, a quimioterapia peri-operatória foi associada a uma significativa redução de 35% no risco de recorrência da doença, e a taxa de sobrevida global a 5 anos também superior em 14% neste grupo. Este estudo, em que a maioria dos carcinomas são da JEG, corrobora as conclusões do estudo MRC.33

O estudo MAGIC (36) testou a eficácia da cirurgia isolada e da quimioterapia peri-operatória (epirrubicina/cisplatina/5-FU) com cirurgia em 503 doentes com adenocarcinomas ressecáveis gástricos (74%), esofágicos distais (14,8%) e da JEG (11,2%). o grupo submetido a quimioterapia peri-operatória sofreu uma redução de 25% no risco relativo de morte (IC 95% de 0,60-0,93), que se traduziu num aumento absoluto de 13% na taxa de sobrevida a 5 anos. Adicionalmente à redução na taxa de metástases à distância de 37% para 24%, a combinação diminuiu as recorrências locais em 7%, comparativamente com a cirurgia isolada. Concluiu-se que, em carcinomas gástricos ou esofágicos inferiores, bem como da JEG, os regimes peri-operatórios com epirrubicina são eficazes.

Uma meta-análise de 2011,37 que incluiu 9 estudos randomizados comparando a quimioterapia neoadjuvante com a cirurgia isolada, em carcinomas esofágicos e da JEG, demonstrou forte evidência da vantagem na sobrevida conferida pela quimioterapia neoadjuvante.

 

Quimiorradioterapia neoadjuvante

Pensando no benefício das propriedades de radiossensibilização de vários agentes de quimioterapia, algunsensaiosclínicosincluíramaquimiorradioterapiapré-operatóriaparaoptimizarocontrololocoregional e das metástases à distância.16,21

Fiorica e colaboradores38 conduziram uma meta-análise com o objetivo de esclarecer o papel da terapêutica tripla (quimioterapia/radioterapia, seguidas de cirurgia) no carcinoma esofágico. A terapêutica tripla reduzia de modo significativo a taxa de mortalidade aos 3 anos comparada com a cirurgia isolada (RR 0,53; IC 95% de 0,31-0,93), nomeadamente nos adenocarcinomas. Ao exame histopatológico, observou-se uma diminuição substancial do estádio do tumor com o recurso a quimiorradioterapia neoadjuvante.

Mais recentemente, o estudo prospetivo randomizado dirigido pelo Cancer and Leukemia Group B39 comparou a resseção cirúrgica isolada com a terapia tripla (cisplatina/5-FU/50,4Gy de radiação, seguidos de cirurgia), em 475 doentes. Todavia, o estudo parou precocemente, incluindo apenas 56 doentes (42 com adenocarcinoma esofágico). Após cerca de 6 anos de seguimento, a taxa de sobrevida a 5 anos foi mais elevada nos doentes submetidos a terapia tripla (39%) do que nos tratados apenas por cirurgia (16%). Não se observou aumento da morbimortalidade peri-operatória com o uso da terapia tripla, alcançando uma resposta patológica completa de 40% neste grupo.

Na meta-análise de 2011,37 anteriormente referida, foram incluídos 12 estudos randomizados de doentes com carcinomas esofágicos e da JEG, comparando a quimiorradioterapia neoadjuvante seguida de cirurgia com a cirurgia isolada. O risco relativo de todas as causas de mortalidade para a quimiorradioterapia neoadjuvante foi 0,78 (IC 95% de 0,700,88), correspondendo a um beneficio na sobrevida a 2 anos de 8,7%. Um benefício semelhante verificou-se no grupo dos adenocarcinomas (RR 0,75; IC 95% de 0,59-0,95).

A referida meta-análise,37 ao incluir dois estudos,40,41 apresentados na Tabela 3, que pretenderam determinar as vantagens na sobrevida conferidas pela quimiorradioterapia neoadjuvante comparada com a quimioterapia pré-operatória, determinou uma vantagem não estatisticamente significativa a favor da quimiorradioterapia (RR 0,77; IC 95% de 0,53-1,12), que não é, no entanto, suficiente para garantir a superioridade da quimiorradioterapia neoadjuvante sobre a quimioterapia pré-operatória.

Em síntese, existe forte evidência de um beneficio na sobrevida conferido pela quimiorradioterapia ou quimioterapia neoadjuvante em relação à cirurgia isolada. Esta vantagem é principalmente relevante na abordagem terapêutica dos carcinomas da JEG ressecáveis localmente avançados.

 

Quimiorradioterapia adjuvante

Atendendo aos elevados índices de recidiva loco-regional, que podem atingir metade dos doentes submetidos a cirurgia, incluindo os de ressecção R0,29 e dada a sempre presente possibilidade de metastização à distância, o papel da quimioterapia pós-operatória tem sido avaliado no sentido de diminuir o número de recidivas. Uma meta-análise que incluiu 23 estudos randomizados controlados procurou avaliar a eficácia da quimioterapia adjuvante após resseção cirúrgica de carcinoma gástrico.42 Esta meta-análise demonstrou melhor taxa de sobrevida nos doentes que receberam terapia adjuvante (RR 0,85; IC 95% de 0,80-0,90), bem como menor taxa de recidiva (RR 0,78; IC 95% de 0,71-0,86). porém, no grupo submetido a quimioterapia observou-se um aumento da toxicidade hematológica (leucocitopenia e trombocitopenia) e gastrointestinal de graus 3 e 4.

Macdonald e colaboradores,43 num ensaio randomizado de 556 doentes com adenocarcinoma gástrico ou da JEG ressecável, observaram um significativo aumento na sobrevida média de 9 meses no grupo submetido a quimiorradioterapia adjuvante (5-FU/leucovirina/45Gy de radiação) após cirurgia, comparativamente à conseguida com cirurgia isolada, bem como uma vantagem na sobrevida a 3 anos de 9% (50% vs. 41%) e maior tempo de sobrevida sem recorrência. Porém, apenas 10% dos doentes foram submetidos a linfadenectomia D2, ou seja, a quimiorradioterapia poderá ter compensado a cirurgia subótima, sobrestimando o seu beneficio na sobrevida, o que não tem impedido o uso deste regime na prática clínica.

São escassos os estudos randomizados que avaliam as eventuais vantagens da quimioterapia adjuvante em doentes com adenocarcinoma esofágico ou da JEG. o benefício da quimioterapia adjuvante (cisplatina/paclitaxel) foi sugerido num estudo não controlado de fase II,44 que incluiu doentes com adenocarcinoma do esófago distal (n=9), da JEG (n=34) e do cárdia gástrico (n=12). os doentes elegíveis tinham adenocarcinomas com estadiamento patológico t2N+ a t3-t4N0-3, com margens negativas. A toxicidade de graus 3 ou 4, nomeadamente hematológica e gastrointestinal, ocorreu em 56% dos doentes. A taxa de sobrevida aos 2 anos foi de 60% (p=0,0008). As metástases à distancia foram a forma predominante de recorrência. A ausência de um grupo de controlo com cirurgia isolada impede a interpretação definitiva destes dados.

 

Quimiorradioterapia definitiva

Os resultados positivos da quimiorradioterapia neoadjuvante motivaram alguns autores a avaliar os resultados da quimiorradioterapia como único meio de tratamento dos carcinomas esofágicos e gástricos. Num estudo randomizado, realizado pela Fédération Francophone de Cancérologie Digestive,45 dos 444 elegíveis, apenas os doentes com carcinomas esofágicos ressecáveis que responderam à terapia inicial (cisplatina/5-FU/46GY de radiação) (n=259), foram aleatoriamente submetidos a cirurgia (n=129) ou a continuação da quimiorradioterapia (n=130). De referir que, apenas 11,2% tinham adenocarcinoma. A taxa de sobrevida aos 2 anos foi de 34% no grupo que recebeu cirurgia e 40% no da quimiorradioterapia isolada. A quimiorradioterapia associou-se a menor mortalidade precoce e a menor tempo de permanência no hospital (52 vs. 68 dias). Porém, a resseção cirúrgica proporcionou menos recorrências loco-regionais (33,6% vs. 43,0%) e foi superior na melhoria do grau de disfagia, com menor necessidade de colocação de stents (5% vs. 32%). Apesar de parecer haver benefício na continuação da quimiorradioterapia, a quimiorradioterapia definitiva não deve ser considerada no tratamento do carcinoma esofágico ressecável, com exceção dos casos de doentes com comorbilidades que contraindicam a cirurgia.18

 

Quimioterapia paliativa

O tratamento paliativo, incluindo quimioterapia sistémica e tratamento de suporte, é a base da abordagem dos doentes com carcinomas irressecáveis ou metastizados à distância (estádio IV). A quimioterapia paliativa mais frequentemente aceite consiste na combinação dos derivados do 5-FU com cisplatina.19

Uma meta-análise comparou vários estudos randomizados de fase II e III,46 com o intuito de avaliar a eficácia e tolerabilidade da quimioterapia de primeira linha no adenocarcinoma gástrico metastático. Nesta meta-análise observaram-se taxas de resposta mais elevadas e melhor sobrevida nos doentes submetidos a um regime combinado de trêsfármacos composto por 5-FU, cisplatina, e uma antraciclicna (ex. epirrubicina).

A adição de novos fármacos anti-tumorais, tais como taxanos (paclitaxel; docetaxel), oxaliplatina, irinotecano e fluoropirimidinas, ao regime de cisplatina/5-FU, revelou-se eficaz no tratamento paliativo de carcinomas esofágicos, gástricos e da JEG.4,19

O estudo V-325 (47), um dos ensaios clínicos randomizados de fase III importantes realizados no carcinoma gástrico metastizado, pretendeu avaliar a eficácia e a tolerabilidade do docetaxel associado a cisplatina/5-FU(n=221) comparando como regime padrão de cisplatina/5-FU (n=224). Com a adição de docetaxel, a sobrevida global foi superior, apresentando melhores taxas de resposta e de sobrevida a 2 anos (18% vs. 9%). No entanto, o regime docetaxel/cisplatina/5-FU associou-se a maior toxicidade comparado como decisplatina/5-FU,especialmenteno que se refere à ocorrência de neutropenia (82% vs. 57%) e diarreia (19% vs. 8%).

Algumas modificações ao regime padrão têm sido investigadas, numa tentativa de manter ou aumentar a eficácia e reduzir a toxicidade destas combinações. Num estudo de Cunningham e colaboradores,48 a capecitabina e a oxaliplatina mostraram ser tãoeficazescomo5-fuecisplatina,respetivamente, em doentes com carcinoma da JEG avançado. Acapecitabina, uma fluoropirimidina oral, permitiu diminuir o incómodo da infusão de 5-FU via cateter venoso central, não raramente associada a infeção e trombose. Comparada com a cisplatina, a oxaliplatina associou-se amenorincidência deneutropenia, alopécia e toxicidade renal, mas com ligeiramente maior incidência de diarreia e neuropatia.

Um estudo randomizado de fase III49 procurou avaliar as vantagens da combinação irinotecano/5FU/ácido fólico sobre o regime cisplatina/5-FU, em 333 doentes com adenocarcinoma gástrico ou da JEG metastático. Esta combinação não demonstrou superioridade significativa na sobrevida global comparativamente ao regime padrão, no entanto, foi ligeiramente melhor tolerada pelos doentes. Assim, apesar desta associação poder conferir uma razoável alternativa, estas e outras opções terapêuticas devem ser rigorosamente ponderadas em cada doente, perante as toxicidades substanciais de cada regime.

 

Terapêutica dirigida

Um alvo bem definido é o recetor tirosina cinase HER2, ou c-erb B-2, envolvido no crescimento celular, e que, quando mutado, pode levar a tumorigénese e metastização,50,51 Num estudo retrospetivo de pinto-de-sousa e colaboradores,51 os espécimes de carcinoma gástrico ressecado de 157 doentes foram avaliados quanto à expressão de c-erb B-2. Este oncogene estava amplificado em 15,3% dos carcinomas gástricos, nomeadamente nos carcinomas mais proximais, ao nível do cárdia (23,8%) e do fundo/corpo (25,0%). A sobre-expressão de c-erb B-2 foi ainda significativamente associada a carcinomas com invasão venosa, contribuindo ambos os fatores para uma maior diminuição da sobrevida destes doentes.

O trastuzumab, um anticorpo monoclonal, inibea via de sinalização do recetor HER2.52 Esta constatação levou, recentemente, à realização de um estudo internacional randomizado de fase III,50 com o objetivo de avaliar a eficácia e segurança da combinação trastuzumab/quimioterapia, para tratamento de primeira linha de doentes com carcinomagástrico ou da JEG metastático, com sobre-expressão de HER2. A adição de trastuzumab à quimioterapia (capecitabina ou 5-FU, com cisplatina) melhorou significativamente a sobrevida destes doentes comparado com a quimioterapia isolada (RR 0,74; IC 95% de 0,60-0,91), correspondendo a uma redução de 26% na taxa de mortalidade. O trastuzumab não aumentou os efeitos tóxicos associados à quimioterapia utilizada, demonstrando não afetar o perfil global de segurança.

 

Conclusão

A classificação do adenocarcinoma da JEG em tipos I, II e III, inicialmente definida por siewert e colaboradores tem sido aceite como a base para a escolha da intervenção cirúrgica. Os carcinomas de tipo I parecem comportar-se biologicamente como adenocarcinomas esofágicos, enquanto que os de tipos II e III se assemelham mais com o adenocarcinoma gástrico. Nos doentes com carcinomas da JEG ressecáveis, sem evidência de metástases à distância e aptos para cirurgia, a resseção cirúrgica com linfadenectomia D2 é a opção terapêutica considerada. Vários estudos comprovaram que a quimiorradioterapia neoadjuvante aumenta a taxa de resposta patológica, conferindo melhor sobrevida pós-operatória e melhor controlo local da doença. um esquema de quimioterapia peri-operatória, após demonstrar ótimos resultados na sobrevida, é considerado de acordo com estes resultados, esta combinação (fluoropirimidina/cisplatina/trastuzumab) tornouse uma opção de tratamento de primeira linha, em doentes com carcinoma da JEG, HER2 positivo, metastizado à altura do diagnóstico. No entanto, muitos destes doentes apresentam resistência primária ao trastuzumab e os restantes poderão vir a adquirir resistência ao anticorpo.52

Uma referência nos carcinomas da JEG localmente avançados (estádios II e III). Em relação à eficácia da quimiorradioterapia adjuvante na diminuição da recorrência loco-regional, os resultados são ainda inconclusivos, necessitando de mais estudos. Para tumores em estádio iV, as opções terapêuticas limitam-se a quimioterapia sistémica, que inclui frequentemente os derivados do 5-FU e cisplatina, ou tratamento paliativo. Estudos recentes suportam a incorporação de novos agentes, tais como epirrubicina, docetaxel, oxaliplatina e irinotecano, numa tentativa de aumentar a eficácia e reduzir a toxicidade dos regimes de quimioterapia. A grande limitação à aplicação dos resultados dos estudos realizados relaciona-se com a inclusão de um muito reduzido número de doentes com carcinomas da JEG. Novos estudos especificamente dirigidos a esta entidade são necessários para melhor definir respostas e padrões de falência terapêuticas, melhorar o controlo loco-regional e a sobrevida a longo prazo.

 

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Correspondencia:

André Filipe Silva Tojal

Departamento de Cirurgia Faculdade de Medicina da Universidade do Porto Alameda Prof. Hernâni Monteiro, 4200-319 Porto. E-mai: andre.tojal@gmail.com

 

Data de recepção / reception date: 21/03/2013

Data de aprovação / approval date: 26/07/2013

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