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Arquivos de Medicina

On-line version ISSN 2183-2447

Arq Med vol.26 no.2 Porto Mar. 2012

 

Adenomas hepáticos: do genótipo à clínica

Hepatic adenomas: from genotype to the clinic

 

Pedro Pinto1

1 Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

 

Endereço para Correspondência

 

RESUMO

Os adenomas hepatocelulares (AHC) são tumores hepáticos benignos relativamente raros, cuja ocorrência se associa à utilização de anticonceptivos orais sendo mais frequentes em mulheres. Nos últimos anos tem-se acumulado evidência científica que conduziu à proposta de classificação dos adenomas hepáticos com base nas suas características genotípicas e fenotípicas: (1) AHC com inactivação do factor HNF1a (somática ou germinativa), podendo os tumores com mutação germinativa associar-se a diabetes do tipo MODY3; neste contexto, é frequente o aparecimento de adenomatose, os tumores apresentam esteatose e o risco de transformação maligna é pequeno; (2) AHC com activação da ß-catenina, mais frequentes em homens, associados a factores específicos (utilização de androgénios exógenos e glicogenoses); o risco de transformação maligna é maior que nos outros AHC; (3) AHC inflamatórios, cujas lesões se caracterizam pela presença de infiltrado inflamatório abundante, vasos distróficos, dilatação sinusoidal e reacção ductular; um sub-grupo destes tumores associa-se a mutação do gene que codifica a ß-catenina, com o inerente risco de progressão neoplásica; (4) AHC não classificável. Neste trabalho são revistas as bases morfológicas e genético/moleculares da classificação apresentada, são analisadas as características de cada entidade, o risco de transformação maligna e as implicações práticas para o diagnóstico, avaliação prognóstica e seguimento dos doentes.

Palavras-chave Adenoma Hepatocelular, Carcinoma Hepatocelular, Genótipo, Fenótipo, gene HNF1A, ß-catenina

 

ABSTRACT

Hepatocellular adenomas (HCA) are relatively rare benign liver tumors, whose occurrence is associated with the use of oral contraceptives, being more frequent in women. In recent years there is an increasing amount of scientific evidence leading to the proposed classification of hepatic adenomas based on their genotypic and phenotypic characteristics: (1) HCA with HNF1a inactivation (somatic or germline); tumors with germline mutation are associated with MODY3 diabetes; in this context, it is frequent the appearance of adenomatosis, tumors display steatosis and the risk of malignant transformation is small; (2) AHC with activation of the gene encoding ß-catenin, most frequent in men, associated with specific risk factors (use of exogenous androgens and glycogenosis); the risk of malignant transformation is higher than in other AHC; (3) Inflammatory HCA, characterized by abundant inflammatory infiltration, dystrophic vessels, sinusoidal dilatation and ductular reaction; a subset of these tumors is associated with mutations of the gene encoding ß-catenin, with the inherent risk of neoplastic progression, (4) Unclassified AHC. In this paper we review the morphological and genetic/molecular basis of the classification presented, the characteristics of each entity, the risk of malignant transformation and the practical implications for diagnosis, prognostic evaluation and management of patients.

Key-words: Hepatocellular Adenoma, Hepatocellular Carcinoma, Genotype, Phenotype, HNF1A gene, ß-catenin.

 

INTRODUÇÃO

Os adenomas hepatocelulares (AHC) são tumores hepáticos benignos que afectam, na maioria dos casos, mulheres que tomam anti-conceptivos orais (ACO) 1. O conceito de adenoma hepático tem sofrido frequentes alterações ao longo dos anos, tendo mesmo sido considerado sinónimo de hiperplasia nodular focal (HNF) 2. O AHC é relativamente raro, mas a prevalência tem vindo a aumentar nas últimas décadas. Numa revisão de 50000 autópsias realizadas ao longo de 36 anos (antes de 1954), só 2 casos de AHC foram detectados 3. Desde o início dos anos 70 notou-se um aumento no número de casos diagnosticados 2. Baum e colaboradores 4, avançaram a hipótese destes tumores serem secundários ao uso de ACO, o que veio a comprovar-se ao longo dos anos. Contudo, mais recentemente, verificou-se que a incidência do AHC na Europa e América do Norte (3-4/100000) 5, tem vindo a diminuir, provavelmente pelo uso mais frequente de ACO com baixas doses de estrogénios 6.

O principal diagnóstico diferencial a ter em conta é o de hiperplasia nodular focal (HNF). Esta entidade constitui o segundo tumor hepático benigno mais comum, a seguir ao hemangioma, está relacionada com alterações vasculares focais hepáticas (com aumento do fluxo sanguíneo causando obstrução venosa) que condicionam uma cascata sequencial de lesões que culminam com o aparecimento de uma lesão sólida, não capsulada, com fibrose abundante e geralmente com cicatriz fibrosa central de onde emanam septos que delimitam nódulos 7. A HNF é uma lesão policlonal, resultando de uma resposta hiperplásica do hepatócito ao aumento do fluxo sanguíneo e geralmente não sofre transformação maligna 8.

Em contrapartida, o AHC é uma lesão caracterizada pela proliferação benigna, monoclonal, de hepatócitos 7. Pode ser único, múltiplo ou aparecer no contexto de adenomatose (quando mais de 10 adenomas estão presentes simultaneamente) 9. Surge maioritariamente em mulheres em idade fértil e, em menor escala, em homens num contexto associado a factores de risco muito específicos: toma de ACO (a incidência é 10 vezes maior nas mulheres que tomam ACO por 2 ou mais anos), utilização de androgénios (com fins terapêuticos ou como anabolizantes) e glicogenoses (principalmente na glicogenose tipo I – doença de von Gierke – mas também na de tipo III – doença de Forbes) 7. Outros factores de risco a considerar são a tirosinemia, a polipose adenomatosa familiar (PAF) e, recentemente, foi identificada também uma associação com obesidade e consumo de álcool 10. Contudo, é de realçar que o mecanismo de acção das hormonas exógenas na patogénese do AHC está ainda por identificar, tendo-lhes sido atribuído um papel de agente causal ou simplesmente de promotor do desenvolvimento neoplásico 11. O AHC é composto por hepatócitos organizados de forma irregular, sendo o parênquima tumoral nutrido por numerosas artérias não acompanhadas por ductos biliares. Os hepatócitos tumorais são de tamanho normal ou ligeiramente aumentado, com citoplasma clarificado (rico em glicogénio) ou esteatósico, de acordo com o subtipo tumoral. Atipia nuclear e mitoses são achados infrequentes. Pelo contrário, são frequentes as alterações vasculares e suas complicações como dilatação sinusoidal, peliose, enfartes e hemorragias 10. As hemorragias geralmente ocorrem em tumores maiores do que 4/5cm e podem ser de dois tipos: (i) hemorragias no interior do nódulo ou (ii) ruptura espontânea com hemorragia que pode causar hematoma subcapsular ou hemoperitoneu.

Recentemente foram detectadas alterações genéticas nos adenomas hepáticos e foi possível identificar associações genotípicas-fenotípicas assim como alterações relacionáveis com o potencial de progressão neoplásica destes tumores. Com base neste conhecimento, a classificação actual dos adenomas hepáticos reconhece 4 tipos principais: (i) adenomas com inactivação do factor nuclear dos hepatócitos 1a (HNF1a) (ii) adenomas com activação da ß-catenina (iii) adenomas inflamatórios e (iv) adenomas não classificáveis (sem características de qualquer dos outros subtipos) 10. O potencial de transformação maligna dos adenomas hepáticos em carcinoma hepatocelular (CHC) foi sugerido há cerca de 35 anos, quando da identificação de um tumor composto por tecido tumoral de adenoma e de CHC, numa mulher de 21 anos que tomava ACO há 2 anos 12. A confirmação do potencial de progressão foi obtida também por estudos moleculares, que permitiram demonstrar a monoclonalidade dos adenomas e identificar, numa proporção dos mesmos, a presença da mutação activante do gene da ß-catenina que é também comum em CHC 13.

Com este trabalho pretende-se rever os avanços recentes na compreensão da biopatologia do AHC, avaliar a classificação dos mesmos (com base no genótipo/fenótipo), discutir novas perspectivas no diagnóstico e analisar os factores com relevância para o “follow-up” e na avaliação do prognóstico dos doentes com AHC.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Pesquisa bibliográfica

A pesquisa bibliográfica foi levada a cabo recorrendo à base de dados online da PubMed/MEDLINE http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/, tendo sido empregues os seguintes descritores: “hepatocellular adenoma”, “hepatocellular adenoma AND hepatocellular carcinoma” e “hepatocellular adenoma AND image diagnoses”, tendo a pesquisa devolvido 3527 artigos até 31 de Março de 2011.

Utilizaram-se alguns livros de texto referenciados oportunamente ao longo deste trabalho.

Critérios de elegibilidade para esta revisão

Com o objectivo de compilar uma grande parte da informação publicada, procuraram-se estudos que examinassem particularmente a classificação dos adenomas hepatocelulares de acordo com a sua classificação baseada no genótipo/fenótipo, bem como a associação destas classificações com o potencial de progressão neoplásica destas neoplasias.

Para esse efeito adoptaram-se os seguintes critérios de inclusão: (1) artigos publicados até 31 de Março de 2011, redigidos em língua inglesa, francesa, portuguesa ou espanhola; (2) todos os estudos com dados apropriados, referentes a adenomas hepatocelulares e sua classificação de acordo com o genótipo/fenótipo; (3) todos os artigos de autores/grupos de investigação com várias publicações neste domínio, foram incluídos. Foram excluídos os artigos com as seguintes características: (1) sem acesso a texto integral; (2) informação clínico-patológica inapropriada ou omissa; (3) conteúdo fora do âmbito temático desta revisão.

Resultados da revisão sistemática

Subgrupos de adenomas hepatocelulares de acordo com o genótipo/fenótipo

Grupo 1: AHC com inactivação do HNF1a

A inactivação bialélica do gene HNF1A (HNF1 homeobox A gene) está presente em cerca de 35-40% dos adenomas hepatocelulares 14. Surge, assim, um grupo de AHC cuja característica é a presença da inactivação deste gene, independentemente da possível associação com outras alterações (como a seguir será explicado), o que confere determinadas características fenotípicas a este grupo. Este gene supressor tumoral codifica o HNF1a e está envolvido na patogénese de tumores hepáticos, entre outros. É necessária a inactivação dos dois alelos do gene, podendo as mutações ser germinativas ou somáticas (sendo estas responsáveis por mais de 90% dos casos) 15. Os doentes que herdam uma mutação germinativa num alelo do gene HNF1A são mais jovens, têm frequentemente uma história familiar de adenomatose hepática e podem, também, desenvolver um subtipo de diabetes conhecido por MODY3 (maturity onset diabetes of the young) 16. A inactivação do 2º alelo nos hepatócitos pode ser causada por mutação ou delecção 17. Numa série de casos foram detectadas mutações “nonsense”, “frameshift” ou de “splicing” em 50% destes AHC, mutações missense em 35% dos casos e delecção de genes nos restantes 15%. Foram identificados dois “hotspots” de mutações: codão 291 (substituição num domínio Poli-C associada a MODY3) e codão 206, específico de AHC (tabela 1) 15.

 

 

Recentemente foram identificadas mutações germinativas inactivantes noutros genes, por exemplo no gene CYP1B1 (Cytochrome P450, family 1, subfamily B, polypeptide 1) que ocorrem concomitantemente com a mutação do gene HNF1A em 15% das mulheres com AHC. Os dados da literatura sugerem que a mutação germinativa do gene CYP1B1 confere susceptibilidade para o desenvolvimento de AHC deste grupo 18.

O produto do gene HNF1A controla a expressão de genes específicos do fígado, como os que codificam o fibrinogénio-ß, antitripsina-a1 e albumina, tendo já sido documentado, em modelos experimentais, o seu papel no normal funcionamento hepático, pancreático e renal 8. Os tumores com supressão da actividade do gene HNF1A apresentam características fenotípicas bem definidas compreendendo esteatose marcada, sem inflamação e sem atipia citológica (Figura 1) 8. A esteatose é explicada pela ocorrência, nestes tumores, de repressão da gliconeogénese, activação da glicólise, do ciclo dos citratos e da síntese de ácidos gordos, com activação da lipogénese 19. Estes tumores também se caracterizam pelo silenciamento da L-FABP (liver fatty acid binding protein), codificada pelo gene FABP1, sugerindo que a alteração na circulação dos ácidos gordos também contribui para o desenvolvimento da esteatose. Esta inactivação é específica deste subtipo de AHC 1. A esteatose torna mais fácil a detecção deste subtipo de adenomas por métodos de imagem. O contraste abrupto entre o tumor e o fígado adjacente, em termos de esteatose e de expressão da L-FABP, permite delinear facilmente os bordos do tumor, que são irregulares, com pequenos focos de adenoma presentes no parênquima hepático normal imediatamente adjacente à lesão 10.

 

 

Grupo 2: AHC com activação da ß-catenina

Aproximadamente 10-15% dos adenomas hepáticos apresentam mutações activantes no gene CTNNB1 (Cateninbeta 1 gene) que codifica a ß-catenina, o que lhes confere um conjunto de características comuns 10,14. De acordo com uma série de casos, as mutações detectadas compreendem: delecção do exão 3, a mais comum, muitas vezes associada a delecção do exão 4 em 50% dos adenomas; mutações do tipo missense foram detectadas nos restantes casos (tabela 1). A via do Wnt/ß-catenina desempenha um papel chave em fenómenos fisiológicos hepáticos, como na proliferação e diferenciação, renovação de células estaminais, transição epitélio-mesenquimatosa e adesão celular 8. O gene CTNNB1 é o oncogene mais frequentemente activado no CHC, ocorrendo mutações activantes deste gene em 20-34% destas neoplasias malignas 20. Nos AHC esporádicos não foram identificadas mutações de outros genes envolvidos na via do Wnt/ß-catenina, tais como o gene APC (gene da polipose adenomatosa cólica) ou do gene que codifica a Axina 8. São identificados como factores de risco para o desenvolvimento destes adenomas a toma de androgénios exógenos, glicogenoses, PAF, entre outros, sendo este o grupo em que há maior frequência de doentes do sexo masculino 10. Estes AHC apresentam atipia citológica e arquitectura pseudo-acinar (características que os tornam mais difíceis de distinguir do CHC bem diferenciado), assim como ausência de esteatose ou de infiltrado inflamatório 8. Os AHC deste grupo são os que têm maior risco de transformação maligna 21.

A mutação é facilmente pesquisada por imunohistoquímica, que demonstra uma sobre-expressão de ß-catenina e da sintetase da glutamina (enzima codificada pelo gene GLUL - Glutamate-ammonia ligase - , gene este cuja actividade é controlada pela ß-catenina 1). Na presença de mutação do gene CTNNB1, o estudo imunohistoquímico permite identificar expressão aberrante da ß-catenina no citoplasma e no núcleo (no fígado normal a expressão é membranar). Observa-se também expressão acentuada e difusa da sintetase da glutamina (GS) 21. Na literatura não há referência a AHC com mutações simultâneas do gene CTNNB1 e do gene HNF1A, o que sugere que estes dois processos são mutuamente exclusivos8.

Em alguns casos é difícil a destrinça entre adenoma hepatocelular com atipia citológica marcada (a grande maioria destes, se não todos, com mutações da ß-catenina) e CHC bem diferenciado. A presença de arquitectura trabecular, perda do padrão de reticulina normal, características citológicas de malignidade como relação núcleo/citoplasmática elevada, atipia citológica e mitoses aberrantes, entre outras, poderão orientar mais o diagnóstico na direcção do CHC. Sinusóides arterialisados (CD34+) e ausência de células de Kupffer favorecem também a hipótese de CHC. Foi estudada a expressão do Glipicano 3 (GPC3) como marcador de diferenciação. Foi comprovado que a maior expressão do GPC3 em CHC de pequenas dimensões que em fígados cirróticos e noutras lesões hepáticas benignas, incluindo nódulos displásicos de alto grau e AHC, o que poderá indicar que a transição de uma lesão pré-maligna para maligna estará associada, na maioria dos casos, a um aumento na expressão de GPC3 1. Contudo, há que ter em conta que apenas 64% dos CHC se mostram positivos para GPC3 1,14,22,23.

Grupo 3: AHC inflamatórios

Este grupo de adenomas corresponde aproximadamente a 45-60% de todos os AHC 10,14 e associa-se a um alto índice de massa corporal (IMC) e ao alcoolismo (tabela 1) 1. Estes adenomas caracterizam-se pela presença de dilatação sinusoidal, reacção ductular, vasos distróficos e atipia citológica (figura 2). O processo inflamatório é mais acentuado na vizinhança das artérias, compreendendo diferentes tipos de células inflamatórias, nomeadamente linfócitos T (CD3) e B (CD20), assim como histiócitos 1. Este grupo inclui a maior parte dos tumores anteriormente classificados como “hiperplasia nodular focal telangiectásica” 24. Nestes adenomas pode também observar-se esteatose, peliose e hemorragia, cuja extensão varia de caso para caso. A presença de esteatose pode gerar alguma dificuldade na classificação dos AHC (como anteriormente referido, a esteatose é uma das características dos adenomas com inactivação HNF1a). Nos AHC inflamatórios a esteatose é menos acentuada que nos AHC com inactivação HNF1a, distribui-se irregularmente e, no caso de haver múltiplos adenomas, a extensão da esteatose varia entre as diferentes lesões 10. Tendo em conta a proeminência da inflamação nestes adenomas procurou-se identificar genes de proteínas de fase aguda da resposta inflamatória que estivessem sobre-expressos e assim permitir uma melhor identificação destes tumores. Neste contexto foi identificada a sobre-expressão da proteína sérica amilóide A2 (SAA) e da proteína C-reactiva (PCR) 1. Estes AHC exprimem SAA nas células neoplásicas, expressão que não se observa nas células não hepatocitárias (células de Kupffer e células inflamatórias) do interior dos tumores. A sobre-expressão de SAA não é mais acentuada nos locais com maior resposta inflamatória, sugerindo que as alterações iniciais surgem nos hepatócitos, sendo a resposta inflamatória um processo secundário 1. A PCR também se exprime nos AHC deste grupo, podendo estar aumentada no soro, no contexto de uma síndrome inflamatória sistémica que desaparece depois da tumorectomia/hepatectomia, sugerindo que as proteínas com acção inflamatória periférica são secretadas pelas células neoplásicas 25. Outra dificuldade na classificação surge em alguns AHC inflamatórios típicos quando a expressão de SAA ou PCR é discreta, ou quando o fígado normal exprime SAA ou PCR após hemorragia maciça ou embolização portal 26. Nesta situação não se observa uma transição abrupta de expressão destas proteínas entre o AHC e o fígado adjacente. Recentemente, foram identificadas pequenas delecções somáticas no gene IL6ST (Interleukin 6 signal transducer) que codifica a gp130 (glicoproteína 130). Esta proteína localiza-se na superfície celular e participa na transdução de sinal associada ao receptor da interleucina 6 (IL-6), em 60% dos adenomas inflamatórios. Estas mutações levam à expressão da proteína gp130 constitucionalmente activa que, por sua vez, estimula o transdutor de sinal e activador de transcrição 3 (STAT3) na ausência da IL-6, permitindo assim a perpetuação do processo inflamatório 27. É importante realçar que neste grupo de AHC pode ocorrer mutação do gene da ß-catenina, mutação esta que surge em 10% destes tumores, tendo estes AHC um risco aumentado de transformação maligna 21.

 

 

Grupo 4: AHC não classificáveis

Actualmente este grupo representa menos 10% dos AHCs. Neste grupo incluem-se os tumores não identificáveis por hemorragia ou necrose maciça do tumor e que não apresentam os marcadores genéticos e moleculares dos restantes grupos10.

Adenomatose hepática

A adenomatose hepática foi descrita pela primeira vez por Flejou et al em 1985, caracterizada por múltiplos adenomas hepáticos em fígado de estrutura normal 28. Nessa altura foi considerado, arbitrariamente, um número mínimo de 10 adenomas para se considerar a existência de adenomatose. Entretanto, conhecendo-se mais profundamente a etiopatogenia dos AHC e tendo em conta que só muito raramente se encontram mais de 4 lesões, alguns autores propuseram um “cut-off” de 4/5 adenomas. Contudo, a maior parte dos autores continua a utilizar o “cutt-off” de 10 adenomas para o diagnóstico de adenomatose hepática (figura 3). É de realçar que o número de AHC detectados poderá ser inferior ao número real, tendo em conta que os microadenomas não são detectados pelas técnicas de imagem convencional 10. Ao contrário dos AHC isolados, na adenomatose hepática não há associação com esteróides exógenos e, por definição, deve ser excluída a existência de glicogenose 28. Contudo, numa série de casos da literatura, Chiche et al apontam para uma associação de ACO e adenomatose em doentes do sexo feminino (46% dos casos) 29. A suspensão dos ACO não resulta em regressão ou diminuição do crescimento dos tumores na adenomatose hepática 30. Assim, permanece por esclarecer o papel exacto dos esteróides exógenos na patogénese da adenomatose hepática 9. A adenomatose surge principalmente na quarta década de vida (idade média: 32 anos) 29. O diagnóstico pode ser incidental 17 ou, na maioria dos casos, como resultado de complicações dos adenomas, tais como dor abdominal aguda ou crónica (consequência de hemorragia intra-tumoral e necrose) e hepatomegalia. Geralmente há alteração das enzimas hepáticas, com elevação predominante da fosfatase alcalina e da ?-glutamil transpeptidase, em consequência das múltiplas lesões com ocupação de espaço no fígado 31.

 

 

No exame macroscópico o fígado apresenta-se com numerosos nódulos circunscritos (tipicamente sem cápsula), de tamanhos variáveis, desde alguns milímetros até mais de 10 cm de diâmetro. O fígado que circunda as lesões é tipicamente não cirrótico 9. Ao corte, a superfície dos nódulos apresenta um leque vasto de tonalidades, desde castanho-escuro a amarelo, sendo importante, no último caso, a presença de esteatose. Hemorragia intra-tumoral e calcificação focal podem também ser encontradas 9. Do ponto de vista microscópico, os nódulos são constituídos por células do tipo hepatocitário, sem atipia e com vários graus de esteatose, e vasos sanguíneos ectasiados. Há, geralmente, ausência de espaços porta nos adenomas.

É importante salientar a possibilidade de ocorrência de adenomatose hepática em contexto familiar 32. Recentemente, Bacq et al 32 e Reznik et al 17 demonstraram a presença de mutações germinativas do gene HNF1A em membros de 4 famílias. Nestes casos verificou-se coexistência de adenomatose hepática e da síndrome de diabetes de tipo MODY3. Mais recentemente foram identificadas mutações simultâneas dos genes HNF1A e CYP1B1 18.

Papel da imagiologia no diagnóstico dos AHC

A ecografia hepática é geralmente o primeiro exame de imagem a ser usado para caracterizar as lesões hepáticas. O aspecto do AHC pode ser homogéneo na ausência de necrose, hemorragia ou transformação maligna, com padrões variáveis de ecogenecidade (de acordo com as características do adenoma e do fígado adjacente) 3. Nas lesões grandes com hemorragia, necrose, fibrose e/ou transformação maligna o aspecto imagiológico é heterogéneo 3.

O aparecimento dos produtos de contraste com microbolhas gasosas permitiu uma maior acuidade da ecografia na detecção e caracterização de lesões hepáticas, com sensibilidade e especificidade capazes de rivalizarem com as da Ressonância Magnética (RM) 33. Contudo, o padrão de preenchimento arterial é bastante semelhante ao do CHC, dificultando o diagnóstico diferencial destas duas entidades com recurso apenas a este método de imagem, mesmo com utilização de técnicas de contraste. Importa também referir as dificuldades de diagnóstico diferencial com a ecografia hepática entre AHC e HNF (considerados indistinguíveis) e metástases hipervasculares 3,33.

A TAC (Tomografia axial computarizada) é também importante para o diagnóstico de adenomas hepáticos: surgem como lesões isodensas na TAC sem produto de contraste, com preenchimento homogéneo de contraste na fase arterial e revelando-se isodensos na fase portal ou na fase tardia 3. Contudo, a TAC utiliza radiações ionizantes, o que na clínica deverá fazer ponderar criteriosamente a sua utilização em mulheres jovens e saudáveis. Por outro lado, com a TAC também não se consegue alterar o contraste intrínseco dos tecidos moles, dificultando a distinção entre lesões difusas versus focais 3. Estas limitações retiram alguma relevância ao papel da TAC em comparação com a RM.

A RM é considerada o método não invasivo mais sensível e adequado para o diagnóstico de adenomas hepáticos 3, permitindo identificar lesões com componentes esteatósicos, necróticos e hemorrágicos, assim como um padrão hipervascular homogéneo. Laumonier et al 34, demonstraram que os adenomas hepáticos com inactivação do gene HNF1A podem ser identificados com segurança pela RM, apresentando as seguintes características: perda difusa e homogénea de sinal na sequência em oposição de fase (compatível com a esteatose associada a este subtipo de neoplasias) e preenchimento arterial moderado, sem preenchimento persistente na fase tardia de contraste revelando-se assim isodensos ou hipodensos nas sequências mais tardias. Neste estudo, a sensibilidade e a especificidade foram de 86,7% e 100%, respectivamente. 34. No mesmo estudo, foi também possível identificar as principais características dos adenomas inflamatórios: hipersinal marcado nas imagens ponderadas em T2, assim como preenchimento arterial acentuado e relativamente persistente na fase tardia de contraste (sensibilidade e especificidade de 85,2% e 87,5%, respectivamente). Estas características estão associadas às características histológicas (dilatação sinusoidal, reacção ductular, presença de numerosos vasos distróficos), podendo a dilatação sinusoidal na periferia das zonas inflamatórias causar o sinal hiperintenso nas sequências ponderadas em T2 e na fase final de acumulação de contraste por diminuir a velocidade de fluxo sanguíneo. A identificação de esteatose focal não deve pôr em causa o diagnóstico de adenoma inflamatório, tendo em conta a documentada presença desta alteração em alguns adenomas deste grupo. Por outro lado, é de salientar que através da RM não é possível distinguir os adenomas inflamatórios com activação da ß-catenina dos que não apresentam esta mutação 35. É ainda de realçar que, relativamente ao grupo de adenomas com activação da ß-catenina ainda há um longo caminho para percorrer, já que não é possível o diagnóstico imagiológico deste tipo particular de AHC através de RM 34. Vários estudos tentaram utilizar a RM com imagens ponderadas por difusão para distinguir lesões hepáticas sólidas benignas e malignas, mas os resultados têm sido desapontadores 35.

AHCs e sua relação com CHC

A transformação maligna do AHC em CHC é rara 36 mas está bem documentada na literatura através da existência de casos em que, no mesmo tumor, coexistem áreas de AHC e CHC 12. Com base em dados da literatura a transformação maligna dos AHC ocorre em cerca de 5-7% dos casos 26 14. Este valor é provavelmente sub-estimado tendo em conta que nem todos os doentes com AHC são sujeitos a cirurgia e nem todos os AHCs são diagnosticados (aproximadamente metade dos doentes são assintomáticos e só acidentalmente é diagnosticado o adenoma) 26. Por outro lado, ficam por diagnosticar os doentes cujo AHC foi completamente substituído por CHC. Os resultados da literatura são controversos relativamente aos factores de risco de transformação maligna. No estudo realizado por Nagorney 36, o número de adenomas, a utilização de ACO e os níveis de AFP revelaram-se factores preditivos de transformação maligna 36. Contudo, actualmente, o papel dos ACO tem sido mais discutido, tendo a International Agency for Research on Cancer (IARC) considerado que já há evidência suficiente para associar os ACO à carcinogénese hepática em populações com baixo risco de infecção pelo vírus da hepatite B e de doença hepática crónica 37. A suspensão dos ACO pode acompanhar-se de diminuição do diâmetro do AHC sem diminuição do risco de transformação maligna. Um estudo considera que poderão ser necessários 5 anos de toma contínua de ACO para se desenvolver um adenoma, 8 anos para que surja displasia nesse adenoma e 10 anos para o desenvolvimento de CHC 38. Estes dados coadunam-se com a verificação de que em mulheres que tomam ACO, o CHC secundário a AHC surge entre os 30 e 40 anos 13. De realçar, ainda, que a toma de ACO não predispõe apenas para o desenvolvimento de CHC, mas também para o desenvolvimento de outros tumores primários do fígado, como o colangiocarcinoma 13. Os estudos moleculares forneceram evidência adicional relativamente a este tópico, nomeadamente no que se refere às mutações do gene CTNNB1 que ocorrem em alguns sub-tipos de AHC e são comuns no CHC. Focos de CHC que se enxertam em AHC podem apresentar-se como áreas microscópicas de transformação maligna no interior do AHC ou mesmo como nódulos identificáveis macroscopicamente, de um a vários centímetros, que se desenvolvem em qualquer local no AHC (podendo ocupar grande parte do mesmo) 39.

A suplementação de androgénios em indivíduos com anemia de Fanconi ou com disfunção endócrina constitui também um factor de risco de transformação maligna de AHC 40. Este risco relaciona-se com a dose e a duração do tratamento e, tal como com os ACO, os androgénios também predispõem ao aparecimento de outros tumores primários do fígado, como o colangiocarcinoma 40. Desconhece-se ainda a verdadeira incidência de hepatomas associado ao tratamento com androgénios, sendo os homens mais afectados que as mulheres (o que é relativamente bem explicado em situações de disfunção endócrina, mas mais difícil de interpretar noutros contextos, por exemplo na anemia de Fanconi) 13. Na anemia de Fanconi o desenvolvimento de CHC ocorre em idades jovens (mediana - 14 anos), o que está muito provavelmente relacionado com o início precoce de tratamento da doença com androgénios 41. Tal como acontece com os ACO há regressão do AHC com a suspensão do tratamento, mantendo-se a necessidade de monitorização contínua dos doentes, já que pode surgir um CHC mais de 20 anos após o fim do tratamento com androgénios 13.

Como anteriormente referido, as doenças de armazenamento de glicogénio são um factor de risco “clássico” para o desenvolvimento de AHC não tendo sido descritos casos de CHC na ausência de AHC simultâneo ou pré-existente 42. Contudo, o risco de transformação maligna do AHC neste subgrupo específico de doentes é baixo, com idade média de identificação de CHC entre os 40 e os 50 anos de idade, surgindo mais frequentemente em doentes do sexo masculino (a incidência de CHC neste contexto poderá aumentar dada a melhoria do suporte nutricional destes doentes, com prolongamento da esperança média de vida) 13. Não está provado que o controlo metabólico diminua o risco de transformação maligna, apesar de recentemente ter sido sugerido que a maioria dos CHC surgem em doentes com má adesão à terapêutica 42. De acordo com recomendações recentes está indicado seguimento apertado dos doentes com AHC que, trimestralmente, devem fazer ecografia hepática e doseamento de AFP (Alfa-fetoproteína) 13. No caso de se documentar crescimento ou alteração das características do AHC deverá ser realizada TAC ou RM 13.

Outros aspectos importantes a considerar na prática clínica, tendo em conta o risco de transformação maligna dos AHC, são o tamanho do tumor, a presença de adenomatose e o genótipo do tumor. O tamanho do AHC é um factor de risco de transformação maligna, independentemente da etiologia do tumor. De acordo com um estudo recente, todos os AHC com transformação maligna tinham mais do que 6 cm (com a excepção de um único tumor), com uma mediana de 12 cm11,39. No contexto de adenomatose hepática o risco de transformação maligna não é diferente do risco dos adenomas isolados 43. Por último, há claramente que destacar os tumores cujo genótipo se caracteriza pela presença de activação da ß-catenina e que estão englobados nos grupos 2 (adenomas com activação da ß-catenina) e 3 (adenomas inflamatórios). O risco de transformação é maior nos tumores com esta activação que, por sua vez, está fortemente associada a condições específicas como as glicogenoses, utilização de androgénios e a polipose adenomatosa familiar, sendo a mutação mais frequentemente encontrada nos AHC em indivíduos do sexo masculino 10.

 

DISCUSSÃO

A classificação dos AHC com base nas suas características genotípicas e fenotípicas revolucionou o conhecimento deste tipo de tumores hepáticos benignos. A identificação de AHC com inactivação do factor HNF1a dá alguma segurança quanto ao potencial de transformação maligna (risco de 7%) 23. A possibilidade de detecção fiável destes AHC por RM permite uma abordagem mais expectante e menos interventiva (o tamanho do AHC também é factor de risco para hemorragia tumoral, a outra complicação major do AHC e poderá alterar a conduta a tomar perante um AHC com inactivação do HNF1a – a abordagem deste tema sai do âmbito desta revisão). Contudo, nos casos de um AHC com inactivação do HNF1a por mutação germinativa deve-se considerar a possibilidade de aparecimento de diabetes do tipo MODY3 e de adenomatose hepática, ambas as situações possivelmente associadas a esta mutação.

O grupo de AHC inflamatórios constitui um desafio particular. Embora na sua grande maioria sejam neoplasias com comportamento benigno, numa pequena percentagem destes tumores surge a activação da ß-catenina, com o risco de transformação maligna que tal activação acarreta, justificando a pesquisa de mutações neste grupo de adenomas. Este grupo de tumores está associado a um aumento da expressão de proteínas de fase aguda da resposta inflamatória (SAA e PCR) quer no tumor quer no soro. Consequentemente, o aumento da PCR numa jovem com um nódulo hepático benigno, se não tiver outra explicação plausível, deverá levantar a hipótese de AHC inflamatório 1.

Apesar do conhecimento acumulado relativamente ao comportamento dos AHC, persistem muitos aspectos por esclarecer. O risco de transformação maligna é seguro (aproximadamente 5%) e está associado ao genótipo do adenoma. A identificação de possíveis factores de risco de transformação maligna, desempenha um papel relevante para a detecção precoce da activação da ß-catenina, tendo em conta a sua forte associação com CHC. Como explicitado anteriormente, poderá ser difícil o diagnóstico diferencial entre AHC com activação da ß-catenina e CHC bem diferenciado. Reveste-se, assim, de particular importância a detecção imunohistoquímica da expressão de ß-catenina e de GS para a melhor identificação deste grupo de AHC. Apesar da expressão do GPC3 auxiliar no diagnóstico diferencial entre estes dois tipos de tumores, o facto da sua expressão só surgir aumentada em 64 % dos CHC torna-o um marcador pouco sensível 1,44.

 

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Agradecimentos

À Profa Doutora Fátima Carneiro, orientadora desta monografia, agradeço o apoio concedido, a partilha do saber e as valiosas contribuições e sugestões para o trabalho.

Aos meus pais por todo o suporte, apoio e carinho.

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