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Revista de Ciências Agrárias

versão impressa ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias vol.42 no.3 Lisboa set. 2019

https://doi.org/10.19084/rca.17521 

ARTIGO

Caracterização física e química de gabiroba e murici

Physical and chemical characterization of gabiroba and murici

Jaqueline Lima da Conceição Souza1,*, Luciana Borges e Silva2, Nívea Patrícia Ribeiro Reges2, Elias Emanuel Silva Mota3 e Rafael Lucas Leonídio4

1 Escola de Agronomia/ Universidade Federal de Goiás, Goiânia,Goiás, Brasil

2 Instituto Federal Goiano, Campus Ceres, Goiás, Brasil

3 Faculdade Evangélica de Goianésia, Goianésia, Goiás, Brasil

4 Associação Educativa Unievangélica, Ceres, Goiás, Brasil.

(*E-mail: jaquelinelima.745@gmail.com)


RESUMO

O conhecimento das características físicas e químicas dos frutos do Cerrado é importante, do ponto de vista comercial, para agregar valor e qualidade ao produto final. Assim, objetivou-se avaliar as características físicas e químicas de frutos de gabiroba (Campomanesia adamantium (Cambess.) O. Berg) e murici (Byrsonima verbascifolia (L.) Rich). Foram coletados em 12 matrizes, 25 frutos por matriz para ambas as espécies. As características físicas avaliadas em frutos e sementes foram:  diâmetro longitudinal e transversal, e massa. As características químicas estudadas foram: pH, sólidos solúveis, acidez em ácido cítrico, umidade e cinzas. Frutos de gabiroba apresentaram valores médios de: diâmetro longitudinal (13,99 mm); transversal (14,40 mm); massa do fruto (2,359 g); pH (3,767); sólidos solúveis (11,78°Brix); acidez em ácido cítrico (11,20 mg g-1), umidade (78,24%); e cinzas (21,40%). Observou-se que as variáveis físicas avaliadas em frutos de murici obtiveram os respectivos valores para diâmetro longitudinal (14,53 mm); transversal (15,36 mm); e massa do fruto (2,61 g). Os frutos produzidos pelas matrizes de gabiroba e murici demonstraram que há variação intrapopulacional entre as variáveis físicas e químicas avaliadas, existindo plantas com características agronômicas superiores e promissoras ao melhoramento genético por meio da prática de seleção.

Palavras-chave: biometria, Cerrado, fruteiras nativas, variação fenotípica.


ABSTRACT

The knowledge of the physical and chemical characteristics of the fruits of the Cerrado is important, from the commercial point of view, to add value and quality to the final product. The objective of this study was to evaluate the physical and chemical characteristics of gabiroba fruits (Campomanesia adamantium (Cambess.) O. Berg) and murici (Byrsonima verbascifolia (L.) Rich). Twelve fruits per matrix were collected in 12 matrices for both species. The physical characteristics evaluated in fruits and seeds were: longitudinal and transverse diameter, and mass. The chemical characteristics studied were: pH, soluble solids, acidity in citric acid, humidity and ashes. Fruits of gabiroba had average values ​​of: longitudinal diameter (13.99 mm); transverse (14.40 mm); mass of the fruit (2.359 g); pH (3.767); soluble solids (11.78°Brix); acidity in citric acid (11.20 mg g-1), humidity (78.24%); and ashes (21.40%). It was observed that the physical variables evaluated in fruits of murici obtained the respective values ​​for longitudinal diameter (14.53 mm); transverse (15.36 mm); and mass of the fruit (2.61 g). The fruits produced by gabiroba and murici matrices showed that there is intrapopulational variation among the physical and chemical variables evaluated, existing plants with superior agronomic characteristics and promising to genetic improvement through selection practice.

Keywords: biometry, Cerrado, native fruit trees, phenotypic variation.


INTRODUÇÃO

A heterogeneidade ambiental encontrada no Cerrado permitiu a diversificação das espécies de animais e vegetais (Pereira et al., 2011). A variedade de habitats e nichos disponíveis representam pressões seletivas diferenciadas, o que contribui para a ramificação de diversos táxons ao longo do tempo (Myers et al., 2000). Atualmente, a flora do Cerrado vem sendo estudadas por apresentar múltiplas utilidades à sociedade, como: uso medicinal, recuperação de solos degradados, ornamentação de parques e fonte alimentícia.

As frutíferas do Cerrado são espécies de diversos gêneros e famílias que constituem importante fonte de alimento para os animais, produzindo, também, frutos de interesse tanto para a alimentação “in natura” quanto para a industrialização (Mota, 2013). O interesse pelas fruteiras nativas vem atingindo diversos segmentos da sociedade. Dentre os quais se destacam agricultores, indústrias, donas-de-casa, comerciantes, instituições de pesquisa, assistência técnica, cooperativas, universidades, órgãos de saúde e alimentação (Rezende et al., 2011).

Existe uma grande variedade de frutas nativas e exóticas que são convencionalmente chamados de “potenciais” (Silva et al., 2012). A gabiroba (Campomanesia adamantium (Cambess.) O. Berg) e o murici (Byrsonima verbascifolia (L.) Rich) estão em meio às frutíferas do Cerrado que apresentam potencialidades econômicas. Estas podem ser uma alternativa para o enriquecimento da dieta da população, por serem ricas em fontes de nutrientes e vitaminas (Morzelle et al., 2015). Seus frutos são consumidos tanto in natura, ou na forma de doces, sorvetes, picolés, licores e sucos.

A obtenção de informações por meio de pesquisa científica sobre o Cerrado torna-se fundamental, pois podem contribuir para preservá-lo. Além disso, promove o conhecimento da disponibilização de alternativas de renda pela utilização dos recursos naturais disponíveis através do manejo econômico sustentável das suas áreas e na demonstração dos benefícios nutricionais dos frutos. Deste modo, justifica-se o melhoramento genético das espécies e posteriores cultivos econômicos (Vera et al., 2009).

A caracterização física e físico-química dos frutos é importante para o conhecimento do valor nutricional, e do ponto de vista comercial, para agregar valor e qualidade ao produto final (Canuto et al., 2010). A biometria é um método importante de detectar a variabilidade genética entre e dentro das subpopulações de uma mesma espécie e das relações entre esta variabilidade com os fatores do ambiente, por isso é utilizada em programas de melhoramento genético (Gonçalves et al., 2013). Nesse contexto, objetivou-se avaliar as características físicas e químicas de frutos de gabiroba (Campomanesia adamantium) e murici (Byrsonima verbascifolia) a fim de contribuir na elaboração de estratégias eficientes para uso dos mesmos por agricultores e extrativistas e sua conservação genética.

MATERIAL E MÉTODOS

Os frutos de gabiroba foram coletados em áreas de sua ocorrência natural, no município Vila Propício, GO (latitude 15°18’14,89” Sul, longitude 48°59’23,89” Oeste e 601 m de altitude), em dezembro de 2015. Os frutos de murici foram coletados em plantas oriundas da coleção ex situ e in vivo de frutíferas nativas do Cerrado, localizadas no Instituto Federal Goiano - Campus Ceres, Ceres-GO (latitude 15°20’53,29” Sul, longitude 49°36’07,03” Oeste e 565,61 m de altitude), durante o mês de janeiro de 2016.

O clima da região segundo a classificação de Köeppen é do tipo Aw quente e semi-úmido com estação bem definida durante o ano: um período chuvoso e outro seco. A temperatura média anual é 25,4°C e 31,5°C, respectivamente. A precipitação pluvial média anual é 1689 mm (Brasil, 1992).

Em cada local, foram selecionadas, ao acaso, doze plantas matrizes, das quais, foram colhidos manualmente 25 frutos de cada matriz, considerando os seus aspectos externos, inteiros e maduros, e com bom estado fitossanitário. Posteriormente, os frutos foram armazenados em sacos plásticos, mantendo-se a identificação das matrizes, colocados em caixa de isopor com gelo e transportados para o Laboratório Instrumental e Química do Instituto Federal Goiano – Campus Ceres, para que fossem realizadas as caracterizações físicas e químicas.

As variáveis físicas avaliadas foram: massa, diâmetro longitudinal (DL) e diâmetro transversal (DT) realizadas em 20 frutos e 20 sementes de murici e em 20 frutos de gabiroba. A massa dos frutos e sementes foram determinadas em gramas (g) e obtida por pesagem individual, em balança semi-analítica com precisão de 1 mg. Os diâmetros, longitudinais e transversais, foram avaliados com o auxílio de um paquímetro digital, ambos em milímetros (mm).

Os extratos de polpa dos frutos de gabiroba e murici foram obtidos a partir de 30 g de massa fresca de polpa suspendido em 150 mL de H2O osmolizada, obtendo-se extrato de 200 g L-1 de acordo com metodologia recomendada por Lutz (2008). Obteve-se uma amostra composta para cada fruto e, em seguida, foi realizada as triplicatas para posterior avaliação.

As análises químicas avaliadas foram: pH, Sólidos Solúveis (SS), Acidez em Ácido Cítrico (ACC), Umidade (UMI) e teores de Cinzas (CIN).  As determinações do pH dos extratos vegetais foram realizadas utilizando pHmetro de bancada. Os sólidos solúveis foram realizados através de leitura refratométrica direta em refratômetro digital portátil (faixa de uso: 1,3306-1,5884) (Lutz, 2008) e transformados em % de sacarose em ºBrix.

As análises físicas e químicas foram submetidas à análise de variância, seguido pelo teste de média Scott-Knott (p<0,05) com auxílio do software R. Foram realizadas as Correlações de Pearson entre as variáveis avaliadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os frutos de gabiroba apresentaram valores médios de diâmetro longitudinal (DLF), diâmetro transversal (DTF) e massa do fruto (MF), respectivamente, de: 13,99 mm; 14,40 mm e 2,359 g (Quadro 1). As amplitudes de variação, mínima e máxima, apresentadas pela gabiroba para as variáveis de fruto avaliadas (Quadro 1) corroboram com os valores encontrados por Dresh et al. (2013), que obtiveram valores de diâmetro longitudinal variando de 12,71 mm a 22,74 mm e diâmetro transversal variando de 12,46 mm a 21,36 mm, em estudo com subpopulação em Ponta Porã-MS. Melchior et al. (2006), também encontraram valores próximos ao do presente trabalho, com comprimento longitudinal dos frutos de 14,00 mm a 22,00 mm. As matrizes que apresentaram maiores diâmetro longitudinal e transversal do fruto foram 1, 3, 4, 6 e 10.

 

 

A massa do fruto variou de 0,620 g a 4,750 g, sendo a variável que apresentou o maior CV (33,72%) (Quadro 1). A matriz 12 apresentou valor de massa de fruto média (de 3,493 g) superior às demais. Resultado este retratado dentro dos intervalos de variação, mínimo e máximo, encontrados por Melchior et al. (2006) que foi de 2,45 g a 5,6 g. Morzelle et al. (2015) avaliando frutos da espécie Campomanesia cambessedeana, provenientes de pastagem nativa da cidade de Barra do Garças, observaram frutos com massa média igual a 4,00 g, superior a do presente estudo.

A heterogeneidade nas características físicas dos frutos de gabiroba ocorrida entre as matrizes avaliadas no município de Vila Propício comparada com outros trabalhos, como os citados acima, foi uma variação prevista, pois tratam-se de espécies que ainda não foram domesticadas.  A variação fenotípica encontrada em plantas nativas do Cerrado é muito influenciada por fatores ambientais, dos quais não podem ser controlados, como exemplos: clima, solo, idade das plantas, condição de antropização e também pelas diferenças genéticas entre os indivíduos (Moura et al., 2013).

O pH dos frutos de gabiroba (Quadro 2) apresentou valor médio (3,767) inferior ao encontrado por Vallilo et al. (2006), em estudo com frutos de gabiroba coletados em diferentes estádios de amadurecimento na Floresta Estadual de Assis-SP, que foi 4,300. A matriz 9 apresentou valor de pH médio superior (3,940) e a matriz 11 valor inferior (3,630) às demais matrizes. O pH é importante na determinação do potencial de crescimento de microrganismos patogênicos capazes de provocar deterioração nos alimentos.

 

 

O teor de sólidos solúveis apresentou alta heterogeneidade entre as plantas para os valores de ºBrix, variando de 7,62ºBrix a 15,45ºBrix, denotando o maior CV (%) entre as variáveis químicas da gabiroba. Estes valores estão dentro do intervalo de variação (mínimo e máximo) encontrados por Melchior et al. (2006), que observaram em frutos de gabiroba, de uma subpopulação em Rancharia - SP, valores de sólidos solúveis variando entre 13,83 a 22,12°Brix.

O valor médio de sólidos solúveis (11,78°Brix) encontrado corroborou com o trabalho de Lima et al. (2016), que obtiveram valor médio de sólidos solúveis de 11,55°Brix. No entanto, Campos et al. (2012), em estudo com o mesmo gênero Campomanesia, encontraram valor de sólidos solúveis superior ao deste estudo. A matriz 4 destacou-se por produzir frutos com maior teor de sólidos solúveis, cujo o valor foi 15,33ºBrix (Quadro 2).

O teor médio de sólido solúvel encontrado neste estudo em frutos de gabiroba assemelha-se ao de espécies frutíferas da mesma família (Myrtaceae), como a goiaba, que é cultivada comercialmente, e apresenta valor médio de 11,73°Brix (Motta et al., 2015). Portanto, a gabiroba pode apresentar potencial para ser comercializada, considerando os teores de açúcares de seus frutos, característica desejada pelos consumidores.

De acordo com Faria et al. (2013) o teor de sólidos solúveis é de grande importância nos frutos, tanto para consumo in natura quanto para o processamento industrial, visto que a identificação de elevados teores desses constituintes na matéria-prima implica em menor adição de açúcar, tempo de evaporação da água e gasto de energia e maior rendimento do produto, resultando em melhor economia no processamento.

O valor médio para acidez em ácido cítrico (ACC) e umidade (UMI) apresentado pelos frutos de gabiroba foi, 11,20 mg g-1 e 78,24%, respectivamente. O CV (%) registrado para a acidez em ácido cítrico foi o segundo maior entre as variáveis químicas avaliadas (Quadro 2). A matriz 12 apresentou o maior valor médio (15,68 mg g-1) para ACC.

Os frutos provenientes das matrizes 1, 4, 10 e 12 apresentaram maiores valores de UMI. Os valores de UMI encontrados no presente estudo estão de acordo com os relatados em estudos com o gênero Campomanesia (Silva et al., 2008; Alves et al., 2013). Não houve diferença entre as matrizes para o teor de cinzas, que apresentou valor médio de 21,40%.

As variáveis, diâmetro longitudinal do fruto, diâmetro transversal do fruto e massa do fruto apresentaram valores de correlação significativos e altos entre si (Quadro 3), o que demonstra que há uma dependência de uma variável em função de outra. Para os caracteres químicos, houve correlação significativa e inversamente proporcional entre sólidos solúveis e acidez em ácido cítrico (-0,339) e entre umidade e teor de cinzas (-0,582), no entanto, estes valores são de baixo a médio, denotando uma fraca correlação (Quadro 4).

 

 

 

A espécie B. verbascifolia (Quadro 5) apresentou uma alta variação fenotípica intrapopulacional, visualizada por meio das características físicas avaliadas em frutos e sementes, o que provavelmente pode estar relacionado à variabilidade genética existente entre as plantas da subpopulação avaliada. A variação entre matrizes dentro de subpopulação tem sido observada em trabalhos com frutíferas nativas do Cerrado (Ganga et al., 2009). Os valores médios de diâmetro longitudinal, transversal e massa de frutos de murici foram, respectivamente, 14,53 mm, 15,36 mm e 2,613 g. Estes valores assemelham-se aos encontrados por Gusmão et al. (2006), que também avaliaram frutos desta espécie na região de Montes Claros-MG.

 

 

Hamacek (2012) obteve resultados semelhantes ao observado neste estudo ao avaliar frutos de murici, em área de vegetação nativa com formação típica do Cerrado localizada na região Norte e Central de Minas Gerais, quanto ao diâmetro; e massa de frutos.

A matriz 2 apresentou valor médio superior entre as matrizes para três dos seis caracteres de fruto avaliados (Quadro 5). Com isso, destaca-se como uma planta que pode ser utilizada em programas de melhoramento genético visando à seleção de genótipos superiores para serem utilizados futuramente na formação de pomares comerciais. Assim como a mangabeira, o muricizeiro trata-se de uma espécie ainda selvagem, portanto, Ganga et al. (2009), sugerem que qualquer programa de melhoramento com espécies que estão no início do processo de domesticação deve ter como base o aproveitamento dessa variabilidade natural, por meio de seleção.

Os frutos maiores geralmente apresentam maior rendimento de polpa, sendo mais atrativos para consumo in natura. Também proporcionam um melhor aproveitamento tecnológico (Hamacek, 2012), visando desenvolvimento de produtos na indústria alimentícia, como por exemplo, sucos, doces, geleias, picolés e sorvetes.

O diâmetro longitudinal, transversal e a massa da semente apresentaram valores médios, respectivamente, de 9,329 mm, 7,949 mm e 0,517 g. O maior CV (%) (27,14%) foi para a massa da semente.  A matriz 5 teve um melhor desempenho para as três variáveis avaliadas em sementes do murici (Quadro 5).

Sementes com maior massa, geralmente apresentam melhor desempenho se comparadas as leves. Isso ocorre pelo fato de possuírem maior quantidade de reserva nutricional (Souza et al., 2017). O estudo biométrico das sementes permite classificá-las por tamanho ou massa, o que serve como uma estratégia para uniformizar a emergência das plântulas e também a obtenção de mudas de tamanho e vigor semelhantes (Silva et al., 2010).

O pH médio apresentado pelos frutos de murici foi de 3,229 (Quadro 6). Este valor foi aproximado ao obtido por Monteiro et al. (2015), que avaliando frutos do mesmo gênero Byrsonima encontraram valor médio de 3,200. Porém, tal valor médio foi inferior ao encontrado por Hamacek (2012) que foi de 3,930; Canuto et al. (2010), que obteve pH igual a 3,700 e Guimarães e Silva (2008), que encontraram um pH de 3,420.

 

 

Os frutos mais ácidos podem ser empregados na fabricação de doces, sucos, sorvetes e tortas. Em relação ao mercado de mesa, pelo sabor diferenciado e quanto ao processamento, por implicar em menores custos à empresa, justificado pela não necessidade da adição de acidulantes para reduzir o pH (Aguiar et al., 2008).

A diferença entre os valores do pH encontrado no presente estudo e o relatado na literatura pode ser justificada por alguns fatores, como, grau de maturação, época, local da colheita e manuseio pós-colheita.

O valor médio de sólidos solúveis encontrado nesse estudo (10,57 °Brix) foi superior ao encontrado por Araújo et al. (2009) (9,750 °Brix), e inferior ao observado por Monteiro et al. (2015) (11,10 ºBrix). As matrizes 3, 6, 8, e 12 destacaram-se apresentando maiores valores médios de ºBrix (Quadro 6).

Os frutos oriundos da matriz 9 obtiveram maior umidade (80,29%). O valor médio de teor de umidade (UMI) e teor de cinzas foram 75,34% e 24,65%, respectivamente (Quadro 6). Hamacek (2012) encontrou valor de umidade médio de 71,58%, inferior ao do presente trabalho, no entanto, registrou valor médio para teor de cinzas superior, de 28,42%.

O valor médio de UMI foi próximo ao relatado por Guimarães e Silva (2008) que encontraram UMI de 75,87%, e inferior ao observado por Silva et al. (2008), ao qual foi 80,64%. O alto teor de umidade na polpa de murici e a fragilidade da sua casca faz com que o fruto seja susceptível à deterioração enzimática e microbiana, dificultando sua conservação (Hamacek, 2012).

Houve correlação significativa de média a alta magnitude entre as variáveis: diâmetro longitudinal do fruto e diâmetro transversal do fruto (0,600); diâmetro longitudinal do fruto e massa do fruto (0,707); diâmetro longitudinal do fruto e diâmetro longitudinal da semente (0,704); diâmetro transversal do fruto e massa do fruto (0,877); e diâmetro longitudinal da semente e massa da semente (0,642) (Quadro 7).

 

 

As variáveis químicas do murici, umidade e teor de cinzas, apresentaram correlação significativa e de alta magnitude (-1) (Quadro 8). Isso indica que, quanto maior a umidade nos frutos menor será o teor de cinzas e vice-versa.

 

 

CONCLUSÕES

Os frutos produzidos pelas matrizes de gabiroba e murici demonstraram que há variação intrapopulacional entre as variáveis físicas e químicas avaliadas, existindo plantas com características agronômicas superiores e promissoras ao melhoramento genético por meio da prática de seleção.

Para consumo industrial e in natura a matriz 4 de gabiroba é indicada por apresentar frutos com maiores teores de sólidos solúveis.

A matriz 2 de murici apresenta potencial genético para estudos de melhoramento por produzir frutos com tamanho superior.

 

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Agradecimentos

Ao Instituto Federal Goiano - Campus Ceres por toda infraestrutura para realização deste trabalho.

 

Recebido/received: 2018.06.24

Aceite/accepted: 2019.03.19

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