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Revista de Ciências Agrárias

Print version ISSN 0871-018X

Rev. de Ciências Agrárias vol.35 no.2 Lisboa July 2012

 

Avaliação da eficácia do isco com lufenurão a 3% no combate a Ceratilis Capitata Wied., na ilha Terceira, Açores

Evaluation of eficacity of a bait with lufenurom 3% to control Ceratilis Capitata Wied., in Terceira island, Azores

David Horta Lopes[1], Reinaldo Pimentel[1], Jorge Azevedo[1] e António Mexia[2]

 

[1] Universidade dos Açores, Dep. Ciências Agrárias, CITA-A, Grupo de Biodiversidade dos Açores, São Pedro, 9700-042 Angra do Heroísmo, Terceira, Açores, Portugal. E-mail: dlopes@uac.pt.

[2] Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Agronomia, Departamento de Ciências e Engenharia de Biosistemas, Tapada da Ajuda. E-mail: amexia@isa.utl.pt

 

RESUMO

O objetivo deste ensaio foi a avaliação da eficácia de novos métodos de combate à mosca-do-Mediterrâneo, Ceratitis capitata Wied. (Diptera:Tephritidae), que poderão ser menos agressivos para a saúde humana e o ambiente, como os iscos de lufenurão a 3%. Neste ensaio, foram usados 1056 iscos em 44 ha, na região Norte da Ilha Terceira, Açores. O ensaio, iniciado em 2009, teve a duração de 3 anos. Os resultados são contraditórios quanto: á eficácia, com redução das populações de machos de C. capitata,entre 2009 e 2010 e elevado aumento, entre 2010 e 2011, ultrapassando os valores de 2009; à diferente influência na intensidade de ataque dos machos nas zonas com isco e nas zonas sem isco. O nº de machos foi muito superior ao das fêmeas.

Palavras-chave: Combate, infestação, monitorização, mosca-do-Mediterrâneo.

 

ABSTRACT

The main goal of this survey was to evaluate the effectiveness of a new method to control Mediterranean fruit fly, Ceratitis capitata Wied. (Diptera: Tephritidae), which could be less hazard for the human health and for the environment. This method uses baits with 3% of lufenuron. For this survey, 1056 of baits were installed covering an area of 44 ha in the North Island of Terceira. The experiment has started in 2009 and lasted for 3 years. The results are contradictory about its effectiveness. Between 2009 and 2010, there was a decrease of C. capitata male populations, while between 2010 and 2011 there was a high increase of C. capitata male populations, overcoming 2009 capture values. There are differences of the attack influence of males in areas with baits and without them. The number of captured males was much higher than of the females.

Keywords: Control, infestation, Mediterranean fruit fly, monitoring.

 

INTRODUÇÃO

A mosca-do-Mediterrâneo, Ceratitis capitata Wiedemann (Diptera: Tephritidae) é nativa do Norte de África e terá sido referenciada pela 1ª vez nas ilhas Atlânticas, em 1829 (Bodenheimer, 1951). Graças à elevada plasticidade ecológica, C. capitata invadiu com facilidade novos habitats, principalmente através do transporte pelo homem de alguns frutos infestados. Isso permitiu a sua rápida expansão em áreas continentais e insulares, como os Açores e a Madeira, e uma distribuição geográfica mundial (Leonardo, 2002). A Direção Regional de Desenvolvimento Agrário, para ensaiar outros métodos de combate, sem a aplicação massiva de inseticidas, aprovou a proposta de ensaio, no campo, do isco de lufenurão a 3%, no combate a C. capitata, com a participação e colaboração da FRUTER e o apoio de técnicos da Empresa Syngenta.

 

MATERIAL E MÉTODOS

A área do ensaio, o número e o uso de iscos de lufenurão a 3%

O levantamento cartográfico da área de produção frutícola e vitícola dos Biscoitos, a Norte da Ilha Terceira foi realizado através dos Sistemas de Informação Geográfica,. Na seleção das parcelas deste ensaio teve-se em conta o tipo de cultura e as condições de acessibilidade (Figura 1, 2).

 

 

 

 

Este ensaio abrangeu inicialmente, em 2009,a instalação, no campo, de 960 iscos de lufenurão a 3%, ADRESS® (Figura 3A) em 40 ha e depois, em 2010 e 2011, mais 96 iscos em 4 ha, no total de 1056 iscos em 44 ha (Figuras 2), como consequência da deteção de 2 focos de elevada densidade populacional de adultos de Ceratitis capitata, em 2009. Este nº de iscos resulta da dose de 24 iscos/ha (Syngenta, 2007).

 

 

Os iscos de lufenurão a 3%, referidos, pela 1ª vez no Guia “Amarelo” da DGADR em 2008, em coincidência com a inovação (!) das frases de risco, são constituídos por um prato com um gel alimentar com 3% do inseticida lufenurão e com 4 atrativos específicos para atrair e“esterilizar” pelo lufenurão os adultos de C. capitata. O lufenurão provoca a inviabilidade dos ovos e a consequente não eclosão das larvas, após a ingestão pelas fêmeas. Quando do acasalamento, os machos, que se alimentam do gel, transmitem esse efeito às fêmeas (Syngenta, 2007, 2012).

A persistência de acção dos iscos e atractivos é de cerca de 12 meses. Os iscos devem estar colocados antes do aparecimento da C. capitata,normalmente mês e meio antes da mudança de cor dos frutos, devendo-se colocar os iscos a uma distância regular de 20 m, em losangos e do lado mais sombreado das árvores (Syngenta, 2012)

O uso do isco ”deverá ser complementado com tratamentos por pulverização com um insecticida homologado para esta finalidade (ex: lambda-cialotrina)sempre que o nº de moscas por armadilha e por dia ultrapassar 0,5 MACHOS (Syngenta, 2012). Contudo, neste ensaio, nunca foram realizados estes tratamentos.

Considerando a área total envolvida, a tipologia da área estudada e os ensaios de Costa et al. (2009), decidiu-se efectuar, em 2009, 2010 e 2011, a captura de fêmeas e de machos de C. capitata, nas armadilhas de monitorização, nas duas zonas (com e sem iscos), no total de 40 armadilhas: 20 armadilhas Jackson® (Figura 3B) com feromona sexual (trimedlure), que atrai os machos de C. capitata e20armadilhas Easytrap® (Figura 3C) com atrativo alimentar (3CLure) das fêmeas, distribuindo 10 de cada, nos pomares com iscos e outras 10 de cada em parcelas contíguas sem iscos.

 

 

 

 

Quinzenalmente (13-15 dias, com 2 excepções – 16 e 20 dias), procedeu-se ao registo das capturas dos adultos de C. capitata nas armadilhas de monitorização e à substituição dos atrativos de 6 em 6 semanas (Quadros 1, 2, 3).

 

 

 

 

 

 

Características toxicológicas e ecotoxicológicas do lufenurão e dos iscos a 3%

O lufenurão é um regulador de crescimento de insetos, irritante (Xi), pode causar sensibilização em contacto com a pele (R43), tóxico para o ambiente (N), muito tóxico para os organismos aquáticos (R50) e pode causar efeitos nefastos a longo prazo no ambiente aquático (R53) (Oliveira e Henriques, 2011, Syngenta, 2011, 2012). A European Food Safety Authority (EFSA) adoptou medidas de segurança, para defesa das abelhas, evitando a aplicação quando há plantas (culturas ou infestantes) em floração (Amaro, 2010, EFSA, 2008); e, para o isco Adress, referindo a necessidade dos Estados Membros darem “particular atenção à proteção de aves, mamíferos, organismos não alvo do solo, abelhas, artrópodes não alvo, superfícies de água e organismos aquáticos” (EFSA, 2011).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Captura de adultos de C.capitata nas armadilhas de monitorização, em zonas com (CI) ou sem (SI) iscos

O nº de machos e de fêmeas de C. capitata capturados nas armadilhas, em 2009, 2010 e 2011, nas zonas designadas “com iscos”(CI) e “sem iscos” (SI), foi escasso, entre início de Janeiro e princípios de Agosto, dispondo-se de dados significativos comparáveis dos 3 anos, entre 13-17 de Agosto e 20-22 de Dezembro (Quadros 1, 2,3). A comparação da intensidade de ataque da praga, nos 3 anos, na base do indicador nº de machos/armadilha/dia, adoptado pela Syngenta na decisão de recurso “complementar” ao uso de outros pesticidas, além do isco, justifica a conversão dos dados das capturas “quinzenais” de machos. Estes valores foram divididos pelo nº 10 de armadilhas e, depois, pelo nº de dias (variando entre 13 e 20) (Quadros 1, 2,3). Recorda-se que a Syngenta determina ser necessário “complementar” os iscos com a aplicação de um pesticida, em pulverização, quando ocorre a intensidade de ataque de 0,5 machos/armadilha/dia (Syngenta,2012).

Em 2009, a intensidade de ataque foi sempre superior a 0,5, excepto em 22/12, em zona com isco (CI), com 0,46. Em 60% das 20 amostras, os valores variaram entre 2,3 e 6,6, com máximos de 9,9 (CI) e 10,2(SI), entre 29/9 e 15/10 (Quadro 1, Figura 1).

Em 2010, registaram-se, em zonas sem isco (SI), 4 capturas, além de 3 CI, com valores inferiores a 0,5, mas, nas restantes 13 capturas (65%), ocorreram valores entre 1,1 e 4,6 nas zonas com isco e entre 0,9 e 5,1 (máximo) em zonas sem isco (Quadro 2, Figura 2).

Em 2011, só uma vez e nas 2 zonas, entre 8 e 22/11 (10%), se registaram valores inferiores a 0,5 (0,3 e 0,4). Os 4 valores mais elevados foram observados em 11/10 - 12,0 e 12,4 e em 8/11 – 8,4 e 8,9, com valores maiores nas zonas sem isco (Quadro 3, Figura 3)

É bem evidenteque o nº de machos de C. capitata foi muito superior ao das fêmeas nos 3 anos, sendo 4,7 vezes em 2010, 6,5 vezes em 2011 e 10,5 vezes em 2009, o que se admite ser consequência da maior capacidade de atracção das armadilhas Jackson (Quadro 4).

 

 

No conjunto dos 3 anos, verifica-se que, a captura de machos, nas armadilhas Jackson, nas zonas sem isco, em relação às zonas com isco, foi mais elevada 5% em 2009 e 13% em 2010, e inferior 16% em 2011. Quanto à captura de fêmeas, nas armadilhas Easytrap, foram sempre inferiores nas zonas com isco em 6% em 2009, 71% em 2010 e 36% em 2011 (Quadro 4). Os valores totais de SI-CI, relativos a 1armadilha/1dia, evidenciam maiores capturas de machos de 5,5% em 2009 e de 13,6 % em 2010 nas zonas sem isco, em contraste com maiores valores de 15,6% em 2011, nas zonas com isco (Quadro 5). Com estas diferenças (maiores capturas de 5,5 e 13,6% nas zonas sem isco em 2009 e 2010)e um comportamento não uniforme, com mais elevadas capturas (15,6%) nas zonas com isco em 2011 é evidente não haver fundamento para se admitir, na área de 44ha com 1056 iscos, distribuídos segundo a orientação da Syngenta (“distância de 20 m, em losango”) a existência, além de zonas com isco, de “parcelas contíguas sem iscos”.A capacidade de atracção das armadilhas e a tensão de vapor do lufenurão anulam a pretensa teoria da existência de zonas sem isco. Aliás, também, assim, se confirma o acerto da orientação da Syngenta no modelo de localização dos iscos no terreno.

 

 

O total de machos capturados por 1 armadilha e 1 dia, no conjunto das 10 amostragens, entre 13-17 de Agosto e 20-22 de Dezembro, em cada um dos 3 anos, variou entre: 17,53 (CI), 19,91 (SI), em 2010; 34,96 (CI), 36,90 (SI), em 2009; e 51,20 (CI), 43,20 (SI), em 2011 (Quadro 5, Figura 4). Verifica-se, assim, que a população de machos de C. capitata diminuiu 34,42 unidades de 2009 para 2010, mas recuperou em 2011, atingindo valores superiores aos de 2009 em 24,54 unidades.

 

 

 

 

 

Com os dados deste ensaio de 3 anos, na área de 44 ha e a presença anual de 1056 iscos de lufenurão a 3%, não se verificou a prevista permanente e progressiva redução da população de C.capitata. Aliás, a Syngenta recomenda o recurso ao “complemento” de pulverização com outro pesticida, como lambda-cialotrina, quando seja ultrapassado o nº de moscas por dia de 0,5 machos por armadilha. De facto, este limite foi ultrapassado, nas 30 datas de amostragem, durante os 3 anos, em: 95% dos casos em 2009; em 65% em 2010 e em 90% em 2011 (Quadros 1, 2,3).

 

CONCLUSÕES

I – A evolução da população de machos de C.capitata, em 2009, 2010 e 2011, em consequência do uso de iscos de lufenurão a 3%, em 44 ha, segundo as regras adoptadas pela Syngenta para o Adress®, evidenciou resultados contraditórios, com: a redução de 34,42 unidades (nº de machos capturados em 1 armadilha Jackson/1dia), entre 2009 e 2010 e a recuperação e posterior aumento para 22,54 unidades, em 2011, em relação ao valor de 2009 (Quadro 5, Figura 4).

II – A influência, entre zonas com iscos (CI) e zonas sem iscos (SI), nas capturas de machos de C. capitata, foi contraditória, expressa nas unidades, antes referidas, com valores SI-CI positivos (5% em 2009 e 13% em 2010) e negativos (-16% em 2011). Já a captura de fêmeas, em armadilhas Easytrap, foi sempre mais elevada nas zonas sem isco: 6% em 2009, 71% em 2010 e 36%em 2011 (Quadro 4).

III – A necessidade de “complementaridade”, com outro pesticida (lambda-cialotrina), quando “o número de moscas por dia ultrapasse 0,5 machos por armadilha”, proposta pela Syngenta, ocorreu com muita frequência, nas 30 datas de amostragem, nos 3 anos: em 95% em 2009, em 65% em 2010 e em 90% em 2011. Mas nunca se procedeu a tratamentos complementares (Quadros 1, 2,3, Figuras 1,2,3).

IV – O nº de machos de C. capitatafoi sempre muito superior ao nº de fêmeas: x 4,7 em 2010, x 6,5 em 2011 e x 10,5 em 2009 (Quadro 4), o que se admite ser justificado pela diferença de atracção das 2 armadilhas (Jackson e Easytrap).

 

AGRADECIMENTOS

À FRUTER pelo seu apoio no estabelecimento de contactos com os produtores.

Aos produtores que permitiram a instalação deste ensaio.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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