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Análise Psicológica

Print version ISSN 0870-8231On-line version ISSN 1646-6020

Aná. Psicológica vol.36 no.2 Lisboa June 2018

https://doi.org/10.14417/ap.1218 

Avaliação do bem-estar subjetivo em adolescentes: Relações com sexo e faixa etária

Subjective well-being evalution in adolescents: Relationships with sex and age

Doralúcia Gil da Silva1, Débora Dalbosco Dell’Aglio2

1Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil / Universidade LaSalle, Canoas, RS, Brasil

2Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil / Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil

Correspondência

 

RESUMO

O estudo do bem-estar subjetivo com adolescentes justifica-se pela importância da identificação e promoção de aspectos positivos nesse período do desenvolvimento. O sexo e a faixa etária têm sido associados à variação da satisfação de vida e afetos positivos e negativos. Assim, este trabalho teve por objetivo avaliar o nível de BES de adolescentes, a partir de um índice que engloba a avaliação de afetos positivos e negativos e a satisfação dos adolescentes com relação aos domínios específicos de suas vidas, observando a associação com sexo e faixa etária. Foram aplicadas a Escala Multidimensional de Satisfação de Vida e a Escala de Afetos Positivos e Negativos para Adolescentes em 426 estudantes (média de idade 14.91 anos; DP=1.65) de escolas públicas de Porto Alegre. Foram observadas médias mais altas entre os meninos nas dimensões satisfação com a família, autoeficácia e bem-estar. As meninas apresentaram maior satisfação com as amizades, maiores níveis de afetos negativos e menor satisfação com a vida. Tais dados indicam a necessidade de intervenções que promovam aspectos positivos entre as adolescentes.

Palavras-chave: Bem-estar subjetivo, Adolescência, Sexo, Faixa etária.

 

ABSTRACT

Adolescents wellbeing study is justified by the importance of promotion of positive aspects in this period of development. Gender and age are associated to variation in life satisfaction and positive and negative affects. This work has the objective to evaluate the level of adolescents’ wellbeing, from a index which agrupate positive and negative affects and life satisfaction, observing gender and age group. A Multidimensional Scale of Life Satisfaction and a Positive and Negative Affect Scale were applied collectively in 426 adolescents (M=14.91 years old; SD=1.65) from public schools of Porto Alegre. Results pointed highest average between boys in family satisfaction, self-efficacy and well-being. Girls presented more friendship satisfaction, more negative affect and less life satisfaction. These data indicate the need of interventions that promote positive aspects between girls.

Key words: Subjective wellbeing, Adolescence, Gender, Age group.

 

Introdução

O bem-estar subjetivo (BES), entendido a partir da perspectiva hedônica, é entendido como uma avaliação cognitiva e emocional a respeito da própria vida. O componente cognitivo corresponde ao conceito de satisfação de vida (SV) (Diener, 1984). A avaliação pode ser feita a respeito da vida de forma global, ou seja, a percepção que a pessoa tem de sua vida como um todo, ou considerando os diferentes domínios dela, de forma que o indivíduo informa o quanto está satisfeito com a vida que leva (Diener, 2006). A avaliação pode referir-se ainda a aspectos mais específicos, como relacionamentos, família, trabalho, escola (Diener, Suh, Lucas, & Smith, 1999). Assim, os determinantes para a satisfação de vida podem ser provenientes de condições externas e de fatores internos. Diener (1984) considera mais adequado avaliar a satisfação de vida a partir dos parâmetros ou domínios selecionados pelos próprios indivíduos como importantes para afetar o seu bem-estar. O fator afetivo abrange os afetos positivos (AP) e negativos (AN) (Diener, 1984). O afeto positivo é definido como o quanto um indivíduo se sente ativo e entusiasmado, enquanto o afeto negativo corresponde ao quanto uma pessoa sente estados de humor aversivos como culpa ou raiva (Diener, 1984).

Priorizar o estudo de elementos positivos do ser humano está de acordo com a tendência de pesquisas atrelada à Psicologia Positiva. Seligman e Csikszentmihalyi (2000) no artigo de revisão que oficialmente inaugurou essa nova perspectiva dentro da psicologia, colocam que o novo enfoque deveria ser identificar aspectos intrapsíquicos e sociais das pessoas que possibilitam um desenvolvimento saudável, ou ainda verificar como as pessoas “sobrevivem” apesar de situações estressantes pelas quais passam. Essa abordagem também mantém interesse em conhecer quais os elementos estão implicados no fortalecimento e na construção de competências dos indivíduos (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000). Tal área tem como temas investigados alguns eixos norteadores como emoções e afetos positivos, forças, instituições positivas (Passareli & Silva, 2007). Dessa forma, a ênfase dos estudos deixa de ser sobre questões de sofrimento psíquico e psicopatologias e passa a avançar no sentido de uma perspectiva sobre o ser humano mais integrada. Nela são considerados os aspectos de compreensão, diagnóstico e técnicas de intervenções para situações de pessoas em sofrimento aliados à visão dos aspectos positivos delas, de forma a desenvolver condições e capacidades associadas ao desenvolvimento saudável.

Com efeito, estudos que investigam o bem-estar enfocam um aspecto positivo do desenvolvimento (Segabinazi, Giacomoni, Dias, Teixeira, & Moraes, 2010; Suldo & Huebner, 2006), o que configura o construto como inserido na área de prevenção e promoção de saúde (Diener, 2000). Considerando essa inserção, justifica-se entender e descrever quais variáveis estão implicadas nos níveis de BES e, por conseguinte, promovê-lo já em períodos iniciais do desenvolvimento, especialmente, em uma das etapas cruciais como a adolescência.

Na adolescência ocorrem concomitantes transformações biológicas, psicológicas e sociais. O jovem começa a vislumbrar a possibilidade de controle e poder sobre sua vida através das várias transformações pelas quais está passando, buscando exercer sua autonomia livremente voltando-se para o meio social (Pessalacia, Menezes, & Massuia, 2010). Nesse sentido, altos níveis de bem-estar na adolescência facilitam o desenvolvimento frente a intensas transformações do período, fazendo com que perceba sua vida de maneira mais positiva. Com isso, torna-se importante definir o bem-estar para os adolescentes e suas dimensões.

Ao tentar responder tal questão, os estudos brasileiros e internacionais mostram algumas características que parecem se aproximar do que é considerado bem-estar pelos jovens. Uma das variáveis consideradas como importante para a sua definição é o sexo, sobre o qual ainda não há consenso. De maneira geral, parece que as meninas consideram aspectos diferentes para avaliar e relatar seu bem-estar em relação aos aspectos que os meninos consideram. Um estudo europeu com uma amostra de 2400 adolescentes encontrou diferenças relevantes de satisfação de vida entre os sexos. Os meninos apresentaram mais autoestima e satisfação de vida, que se mantiveram ao longo da adolescência enquanto nas meninas foi observado um declínio dessas variáveis conforme o aumento da idade (Reina, Oliva, & Parra, 2010). Porém, estudos latinoamericanos não encontraram tais diferenças (Benatuil, 2004; Sarriera et al., 2012). Em outro estudo realizado com 271 adolescentes argentinos não foram encontradas diferenças significativas por sexo e idade. No entanto, outras variáveis como os vínculos pessoais e a aceitação de si mesmo foram capazes de diferenciar jovens com maiores ou menores níveis de bem-estar (Benatuil, 2004).

No contexto do sul do Brasil, em amostra com 188 alunos de escolas públicas, a diferença dos níveis de bem-estar entre os sexos também não foi identificada (Strelhow, Bueno, & Câmara, 2010). No entanto, no estudo de Serafini e Bandeira (2011), realizado com 502 adolescentes de escolas públicas de Porto Alegre, foi observado que as meninas se mostraram mais satisfeitas com a relação com os amigos, com as atividades escolares e com a relação com os colegas e professores do que os meninos. Para os meninos, a satisfação na relação com o pai e intimidade com ele foi significativamente maior em relação às meninas.

Em um estudo qualitativo, diferenças sobre o bem-estar entre os sexos também apareceram. Para investigar o que é felicidade sob a perspectiva dos jovens, Camargo, Abaid e Giacomoni (2011) realizaram estudo com entrevista semiestruturada do qual participaram 95 adolescentes. Os resultados demonstraram que sentir-se bem consigo e com os outros são fatores relevantes para a felicidade. A família apareceu como um componente importante, tendo em vista que, apesar do distanciamento que ocorre entre os jovens e as figuras parentais durante a adolescência, ainda pode ser considerada a primeira rede de apoio dos jovens. Outras categorias foram amizade e relacionamentos, reforçando a ideia de a adolescência ser um período em que o jovem se volta para o seu meio social em busca de autonomia e novas relações. Em relação a diferenças por sexo, a categoria família apareceu como mais importante para as meninas. As autoras compreendem que o comportamento de conversar e dividir experiências e sentimentos é mais comum entre meninas. Ao mesmo tempo, a categoria mais citada pelos meninos foi sentimentos, mostrando que eles também se preocupam com questões emocionais próprias e dos outros e as consideram importantes para a felicidade. Em contrapartida, não foi observada diferença entre os sexos em relação ao que é estar feliz. Ainda no estudo de Camargo, Abaid e Giacomoni (2011), outra categoria que ganhou destaque entre os meninos foi a satisfação de necessidades e desejos, associando felicidade à obtenção de bens materiais, segurança, morar bem, boas condições de vida.

Em relação aos afetos, as diferenças por sexo oscilam. Alguns estudos mostram que os meninos experienciam menos afetos negativos e mais afetos positivos do que as meninas (Segabinazi et al., 2012; Vera et al., 2008) e outros demonstram a associação inversa (Nolen-Hoeksema & Girgus,1994). Alguns autores sugerem que na verdade as diferenças nos afetos se devem mais a papeis diferentes esperados socialmente e desempenhados por meninos e meninas. Às meninas caberia expressar e falar mais sobre sentimentos, tanto os positivos como os negativos, enquanto os meninos não são tão estimulados nesse sentido (Fujita, Diener, & Sandvik, 1991). Ou ainda há a possibilidade de que a experimentação dos afetos esteja relacionada com as atividades desempenhadas e tipos de interesses profissionais. Em pesquisa realizada com 529 estudantes brasileiros de ensino médio, atividades burocráticas mostraram relação tanto com afetos agradáveis como desagradáveis. Atividades relacionadas com interesses por ciências exatas mostraram associação com afetos negativos (Noronha & Mansão, 2012).

Outros elementos relativos a aspectos sociais e de interação também vêm sendo relacionados ao bem-estar. A satisfação com atividades de tempo livre relacionadas à interação social (convivência com a família e amigos), com a prática de esportes e de atividades intelectuais se mostrou associada com o bem-estar (Sarriera et al., 2013). No mesmo estudo, realizado no sul do Brasil, foi observado que a organização do tempo e a percepção de seu aproveitamento influenciam o bem-estar, tendo em vista a importância da autonomia para os jovens em relação à escolha das atividades e do gerenciamento delas.

O estudo de Segabinazi et al. (2010) identificou dimensões condizentes com a satisfação de vida em adolescentes brasileiros, a saber: Família, Self, Escola, Self comparado, Não-violência, Autoeficácia e Amizade. Foi destacado o papel da dimensão Self comparado, que indica as avaliações comparativas que os adolescentes fazem em relação a seus pares. A autoeficácia demonstrou a importância da percepção de sucesso em tarefas ou habilidades dos adolescentes para avaliarem sua satisfação de vida, enquanto que a dimensão família demonstrou relevância, especialmente ao servir como fonte de apoio social. A amizade também foi destacada, indicando que o relacionamento com outros adolescentes é igualmente um componente para a satisfação de vida. Com efeito, conviver com amigos tem se mostrado um preditor de bem-estar na adolescência, não havendo diferenças nesse aspecto entre sexos e idades (Sarriera et al., 2013; Serafini & Bandeira, 2011).

À semelhança do estudo de Segabinazi et al. (2010), Huebner, Drane e Valois (2000) em pesquisa feita com 5545 estudantes de Ensino Médio estadunidenses, apontaram que a satisfação de vida em adolescentes poderia ser avaliada de forma global e também em cinco dimensões: família, amigos, escola, Self e ambiente onde vivem. Nesse estudo não encontraram diferenças significativas para sexo, raça, série e idade na avaliação da satisfação de vida global. Porém, encontraram que as meninas tiveram mais satisfação com as experiências escolares e com as amizades entre os pares.

Como pode ser observado nos resultados das pesquisas, a idade é outra variável que parece estar associada a um maior ou menor bem-estar nos adolescentes. Um estudo realizado em cinco países de diferentes continentes revelou uma redução dos níveis de bem-estar com o avanço da adolescência (Coenders, Casas, Figuer, & González, 2005). No mesmo sentido, a pesquisa de Sarriera et al. (2012), com 640 adolescentes argentinos e brasileiros apontou que dos 13 aos 16 anos há uma diminuição progressiva do bem-estar. Alguns estudos não encontram diferenças entre faixas etárias (Segabinazi et al., 2012). No entanto, há discussão de que pode haver uma diminuição do afeto positivo em si e do aspecto positivo do bem-estar com o avanço da adolescência, em razão de nesse período o jovem deparar-se com situações potencialmente estressantes, como o ingresso na universidade ou no mercado de trabalho (Sarriera et al., 2012; Segabinazi et al., 2012).

Contudo, ainda que não haja consenso a respeito da associação entre sexo e idade e afetos positivos e negativos, estudos indicam que os afetos e o bem-estar podem favorecer ou desfavorecer a maneira como uma pessoa percebe a si, aos outros e exerce influência nas relações com os pares (Passareli & Silva, 2007). Tais relações, por sua vez, têm se mostrado como um fator importante para melhores níveis de bem-estar (Diener & Seligman, 2004).

A partir da revisão de estudos que investigam o BES, pode-se observar que, em geral, os afetos positivos, negativos e satisfação de vida têm sido avaliados e discutidos de forma isolada. Contudo, ressalta-se que, a fim de haver um melhor entendimento do fenômeno, é importante avaliar o BES como um todo, considerando seus componentes de forma integrada, em consonância com o modelo teórico proposto (Diener, 1984).

Dessa forma, frente às contribuições das pesquisas apresentadas, este estudo teve por objetivo avaliar o nível de BES de adolescentes, a partir de um índice integrado que engloba a avaliação de afetos positivos e negativos e a satisfação dos adolescentes com relação aos domínios específicos de suas vidas, observando a associação com sexo e faixa etária.

 

Método

 

Participantes

Participaram deste estudo 426 adolescentes com idades entre 12 e 18 anos (M=14,91; DP=1,65) (faixa etária 1: 12 a 15 anos, n=255; faixa etária 2: 16 a 18 anos, n=170), de ambos os sexos (sendo 62% do sexo feminino). Os participantes estudavam desde o sexto ano do Ensino Fundamental ao terceiro ano do Ensino Médio de escolas da rede pública de Porto Alegre/ RS, Brasil, sendo que uma parte deles (9,9%) também relatou que trabalha. A maioria era solteiro (98,8%) e apenas 1,1% referiu viver com companheiro.

 

Instrumentos

 

Ficha de Dados Sociodemográficos: investiga dados como idade, sexo, série escolar, informações sobre trabalho, configuração familiar, repetência escolar, entre outros.

 

Escala Multidimensional de Satisfação de Vida para Adolescentes (EMSVA) (Segabinazi et al., 2010): escala composta por 52 itens que avaliam sete dimensões da satisfação de vida de adolescentes: família, self, escola, self comparado, não violência, autoeficácia, e amizade. As respostas são em escala Likert de cinco pontos, variando de 1 (nem um pouco) a 5 (muitíssimo). No estudo original (Segabinazi et al., 2010) foi encontrada uma adequada consistência interna da escala (α=0.93).

 

Escala de Afetos Positivos e Negativos para Adolescentes (EAPNA) (Segabinazi et al., 2012): a escala constitui-se de 32 adjetivos descritores de estados afetivos subjetivos, com opções de resposta em escala Likert de cinco pontos, variando de “nem um pouco” a “muitíssimo”. O estudo (Segabinazi et al., 2012) demonstrou índices de consistência interna adequados avaliados por meio do alfa de Cronbach (0.88 para AP e para AN).

 

Procedimentos e considerações éticas

Quanto aos aspectos éticos, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da UFRGS, sob protocolo nº 557.202. Foi realizado contato com a direção das escolas selecionadas por conveniência de diferentes regiões da cidade, as quais assinaram o Termo de Concordância da Instituição. Aos pais dos adolescentes participantes da pesquisa foi solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assim como a assinatura de Termo de Assentimento por parte dos jovens. A aplicação dos questionários se deu forma coletiva nas escolas, com duração de aproximadamente 45 minutos.

 

Resultados

Para identificar os níveis de AP, AN, SV total e das dimensões de SV, foram somados os itens de AP e AN em separado. Para SV total foram somados os itens da escala, invertendo-se aqueles que pesam negativamente para a satisfação de vida, a exemplo do item 11 “Brigo muito com meus amigos” e do item 20 “É difícil conseguir o que quero”. Da mesma forma, para identificar os níveis de cada dimensão da escala, os itens das dimensões foram somados.

Para verificar os níveis de bem-estar foi construído um Índice de Bem-estar (IBE), utilizando os escores padronizados da Escala Multidimensional de Satisfação de Vida para Adolescentes (EMSVA) somados aos escores padronizados da Escala de Afetos Positivos e Negativos para Adolescentes (EAPNA), sendo os itens de afetos negativos invertidos para o cálculo. Para construir o IBE foi feita uma Análise dos Componentes Principais, pois esta permite criar um índice a partir das valências empíricas de seus componentes, ou seja, provenientes dos próprios dados (Field, 2009). Os componentes usados para criar o IBE são provenientes do modelo teórico proposto por Diener (1984) e Diener et al. (1999), no qual entram a satisfação de vida, afetos positivos e afetos negativos. Além disso, utilizar a EAPNA e a EMSVA em conjunto, as quais foram construídas para adolescentes, representa um avanço na avaliação do bem-estar subjetivo (Segabinazi et al., 2012). A Tabela 1 mostra os escores brutos e padronizados mínimo e máximo do IBE, assim como a consistência interna observada em cada uma das escalas.

 

 

Foi realizada uma análise multivariada de variância (MANOVA), com correção de Bonferroni, para verificar diferenças de AP, AN, SV total, as dimensões de SV e IBE por sexo e faixa etária (faixa 1=12 a 15 anos; faixa 2=16 a 18 anos). A análise demonstrou a presença de efeitos significativos em relação ao sexo [Lambda de Wilks=0.91; F(9,413)=4.51; p<0.001], mas não para a faixa etária [Lambda de Wilks=0.97; F(9,413)=4.51; p=0.33] e igualmente não demonstrou diferença para a interação entre as variáveis [Lambda de Wilks=0.97; F(9,413)=4.51; p=0.40].

Tendo sido procedida a análise multivariada, foram realizados testes t de Student para verificar diferenças de médias de AP, AN, SV total, das dimensões de SV e IBE pelas faixas etárias e sexo. Foi calculado o tamanho do efeito através do cálculo de d de Cohen. A análise por faixas etárias não revelou diferenças estatisticamente significativas. A Tabela 2 apresenta as médias e desvios-padrão de cada variável e os resultados do teste t em relação ao sexo, além do cálculo de d de Cohen.

 

 

 

Discussão

O primeiro ponto que merece destaque neste trabalho diz respeito à forma como o bem-estar subjetivo foi avaliado. É importante ressaltar que foi utilizada uma medida integrada de bem-estar (Índice de Bem-estar) na qual foram incluídas a satisfação de vida e os afetos, segundo o modelo teórico do bem-estar subjetivo (Diener, 1984; Diener et al., 1999), e não as variáveis avaliadas de forma isolada. Dessa forma, indica-se que o entendimento a avaliação do construto dessa maneira representa um avanço nos estudos dessa área (Segabinazi et al., 2012). De modo que, a partir dessa forma de avaliação do bem-estar e seus componentes, serão discutidos os principais resultados encontrados.

Com relação às análises de diferenças por faixas etárias, os resultados não revelaram diferenças estatisticamente significativas. Esse dado está de acordo com os de outro estudo (Segabinazi et al., 2012). Porém alguns autores discutem que o declínio do bem-estar ao longo da adolescência pode estar associado a desafios próprios da adolescência final, como entrar no mercado de trabalho ou na universidade (Coenders et al., 2005; Sarriera et al., 2012). Tal dado pode não ter sido encontrado nesse estudo em razão de que a média de idade da amostra foi de 14,91 anos, de maneira que a maioria ainda não se encontrava nesse período estressor de transição.

As análises realizadas para verificar diferenças nas variáveis entre os sexos mostraram resultados importantes, com diferenças significativas, embora com tamanho de efeito baixos. Os meninos tiveram médias mais altas nos escores em satisfação de vida total, satisfação com a família, e nas dimensões autoeficácia, não violência e bem-estar. Com relação à maior satisfação de vida entre os meninos, esse resultado está de acordo com estudo que também encontrou maiores níveis de satisfação de vida e de autoeficácia entre o sexo masculino (Reina et al., 2010). A satisfação com a autoeficácia reforça a importância de o adolescente perceber que consegue realizar tarefas ou habilidades relevantes para sentir-se satisfeito com sua vida (Segabinazi et al., 2012).

A maior satisfação com a família, que foi observada entre os meninos em relação às meninas, mostrou-se como um dado interessante. As pesquisas vêm discutindo a ideia de que para as meninas os relacionamentos interpessoais próximos, como os familiares, são mais importantes do que para os meninos. Essa diferença pode estar relacionada ao fato de que as meninas são socialmente mais estimuladas para o convívio social e para compartilhar experiências afetivas (Camargo et al., 2011). Porém, o resultado de maior valorização da família pode estar indicando que, independentemente do sexo, a família aparece como relevante para os adolescentes, o que salienta o seu papel como primeira fonte de apoio social na adolescência (Camargo et al., 2011; Segabinazi, 2012). Além disso, as meninas relataram sentirem-se satisfeitas com as amizades, o que vai ao encontro da ideia de que elas valorizam mais os relacionamentos interpessoais. A questão das amizades também pode ser relacionada à valorização do grupo de pares na adolescência, aspecto característico dessa etapa do ciclo vital (Huebner et al., 2000; Sarriera et al., 2013; Serafini & Bandeira, 2011).

A menor satisfação com a família, observada entre as meninas, pode estar associada ao maior nível de afetos negativos, também identificado neste estudo. Isso porque a sobreposição dos afetos negativos em relação aos positivos, no qual o adolescente experimenta mais sentimentos aversivos, pode enviesar a avaliação de satisfação de vida, conforme Diener e Seligman (2004). Dessa forma, a maior experimentação de afetos negativos pelas meninas pode estar inversamente relacionada às médias mais baixas na percepção de autoeficácia, satisfação com a família e bem-estar.

Maiores índices de afetos negativos entre as meninas também foram observados em estudos anteriores (Segabinazi et al., 2012; Vera et al., 2008). No entanto, não há consenso na literatura sobre diferenças de expressão de afetos entre os sexos, pois algumas pesquisas (como em NolenHoeksema & Girgus, 1994) também mostram que as meninas apresentam maiores níveis de afetos positivos do que os meninos, contrariando resultados deste estudo. Esses resultados encontrados podem indicar, conforme outros autores vêm discutindo (Fujita et al., 1991; Poletto & Koller, 2011), que, da mesma forma como as meninas experienciam afetos negativos de modo intenso, o fazem em relação aos sentimentos positivos, tendo em vista que, em geral, pessoas que vivem emoções positivas fortemente são as mesmas que experienciam emoções negativas fortes. Ainda deve-se considerar que meninas tendem a ser mais criteriosas e darem mais atenção a estados internos – ainda mais se forem negativos – do que os meninos (Fujita et al., 1991; Poletto & Koller, 2011), além do maior incentivo culturalmente dado a elas no sentido de se preocuparem e falarem sobre sentimentos.

Por sua vez, os adolescentes do sexo masculino apresentaram médias mais altas na dimensão não-violência em relação às meninas, com um tamanho do efeito considerado moderado (0.42). Tal constatação surpreende na medida em que os levantamentos mostram que os meninos são os mais envolvidos em situações violentas, especialmente no contexto comunitário (Ministério da Saúde, Brasil, 2010). Além disso, estudos indicam que jovens do sexo masculino apresentam mais comportamentos agressivos do que as meninas (Benetti, Pizetta, Schwartz, Hass, & Melo, 2010). No entanto, a média mais alta na dimensão não-violência entre os adolescentes do sexo masculino pode estar relacionada ao fato de eles também terem relatado maiores níveis de bem-estar, o que os favorece no sentido de perceberem sua vida de maneira mais positiva e preferirem ambientes harmônicos e sem brigas (Diener & Seligman, 2004) e assim não considerarem situações estressoras como as de violência ao avaliar seu bem-estar.

Por outro lado, devido aos meninos serem mais expostos à violência fora de casa, atualmente tem sido dada atenção a essa questão através de estudos que apontam no sentido de conscientização e prevenção contra a violência, principalmente no contexto escolar (Freire & Aires, 2012; Lima & Ardigó, 2011). Assim, justamente em razão dessa orientação contrária à violência, os adolescentes meninos podem ter respondido aos instrumentos deste estudo dizendo que não gostam ou que não envolvem-se em tais episódios, levando em consideração a desejabilidade social do comportamento não violento.

 

Considerações finais

Este estudo teve por objetivo avaliar o nível de BES de adolescentes, a partir de um índice que engloba a avaliação de afetos positivos e negativos e a satisfação dos adolescentes com relação aos domínios específicos de suas vidas, observando a associação com sexo e faixa etária. As análises realizadas não revelaram diferenças significativas entre as faixas etárias. Por outro lado, os resultados quanto ao sexo apontaram maiores níveis de satisfação de vida total, satisfação com a família, e nas dimensões autoeficácia e de bem-estar entre os meninos. As meninas relataram maior satisfação com as amizades, assim como maiores níveis de afetos negativos. Tais dados apontam para uma maior fragilização das meninas quanto ao modo como avaliam seu bem-estar.

Destaca-se que altos níveis de bem-estar na adolescência facilitam a passagem do jovem em meio a um período de intensas transformações, sendo que neste estudo a satisfação com a família, com as amizades, com a autoeficácia e com a não violência foram identificados como fatores mais importantes do bem-estar para os adolescentes da amostra. Assim, entende-se que a promoção desses aspectos contribui para o incremento do bem-estar nessa população. Dessa forma, intervenções com jovens, tanto no âmbito da saúde como da educação, devem enfatizar os relacionamentos familiares e entre o grupo de pares com o intuito de melhorar a satisfação dos jovens nessas relações, as quais estão relacionadas com a satisfação com a vida. Ainda se faz importante a implementação de ações direcionadas a comportamentos de não-violência, bem como de intervenções individuais que auxiliem a percepção da autoeficácia. Nesse sentido podem ser priorizados aspectos intrapsíquicos e sociais favoráveis ao desenvolvimento e relacionados ao bem-estar (Seligman & Csikszentmihalyi, 2000).

Tendo em vista os achados deste estudo, observa-se que pode ser identificada uma maior fragilização dos aspectos positivos nas meninas, tendo em vista que elas experimentam mais afetos negativos, menos afetos positivos e estão menos satisfeitas com suas vidas, especialmente nas suas relações com a família. Por conseguinte, esse trabalho sinaliza a necessidade de intervenções na promoção de aspectos positivos entre as meninas, retomando, portanto, a importância da contribuição dos estudos sobre bem-estar na área de promoção de saúde (Diener, 2000). De acordo com os dados encontrados, os fatores alvo de intervenção seriam o fortalecimento das relações com as amizades, as quais podem incrementar a satisfação de vida das meninas; o investimento em técnicas que desenvolvam a satisfação com as outras dimensões que não foram relatadas como importantes para a satisfação de vida por elas, como a satisfação com a família e com a autoeficácia; e ainda estratégias que promovam a experimentação de mais afetos positivos em detrimento da experiência de afetos negativos.

Com relação às limitações deste estudo, cabe ressaltar que é importante que novos estudos sobre o tema do BES sejam realizados com a mesma forma integrada de avaliação, a fim de que sejam obtidas mais evidências de sua consistência e fidedignidade. Salienta-se que neste trabalho de delineamento transversal, o BES foi medido uma única vez no tempo. Assim, a fim de compreender melhor a estabilidade do fenômeno, estudos longitudinais, que possibilitem a observação sistemática das variações do bem-estar na adolescência, podem trazer contribuições importantes para a compreensão desse construto. Esta estratégia metodológica, aliada a avaliações quantitativas integradas, como a apresentada neste trabalho, e avaliações qualitativas que captem sutilezas do construto poderiam auxiliar a compreender quais fatores impactam em aumento ou declínio do BES no desenvolvimento dos adolescentes.

 

Referências

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CORRESPONDÊNCIA

A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Doralúcia Gil da Silva, Instituto de Psicologia, Programa de Pós Graduação em Psicologia, UFRGS, Rua Ramiro Barcelos, 2600, Sala 124, 90035-003 Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: doralu.gil@gmail.com

 

Submissão: 19/01/2016 Aceitação: 16/04/2017

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