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Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica vol.33 no.4 Lisboa dez. 2015

https://doi.org/10.14417/ap.995 

O impacto das memórias de vergonha na adolescência: A escala de Centralidade do Acontecimento (CES)

Marina Cunha1, Ana Xavier2, Marcela Matos2, Daniela Faria3

1Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra / Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC), Universidade de Coimbra

2Centro de Investigação do Núcleo de Estudos e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC), Universidade de Coimbra

3Instituto Superior Miguel Torga, Coimbra

Correspondência

 

RESUMO

Experiências adversas, particularmente, experiências precoces de vergonha podem funcionar como memórias traumáticas e ser centrais na formação da autoidentidade. O objetivo da presente pesquisa é analisar a estrutura dimensional e qualidades psicométricas da versão portuguesa para adolescentes da Centrality of Event Scale (CES). Participaram 397 adolescentes com idades entre os 12 e os 18 anos a frequentarem escolas públicas de ensino regular. Em conjunto com a CES, os jovens preencheram outros questionários que avaliavam a sintomatologia psicopatológica e a perceção de sentimentos de vergonha externa e interna. Os resultados revelam que a CES possui uma boa consistência interna, uma adequada estabilidade temporal e uma estrutura unidimensional. A centralidade das experiências de vergonha mostrou uma correlação positiva com os sintomas de psicopatologia e com os sentimentos atuais de vergonha. Estes dados sugerem que a CES-A é um instrumento robusto e útil na avaliação da centralidade das memórias de vergonha na adolescência.

Palavras-chave: Escala de centralidade do evento, Escala de avaliação, Adolescentes, Propriedades psicométricas, Experiências de vergonha.

 

ABSTRACT

Early adverse experiences, particularly shaming experiences may function as traumatic memories and be central to formation of self-identity. This paper aims to analyse the dimensional structure and psychometric properties of the Portuguese version of the Centrality of Event Scale (CES) for adolescents. Participants were 397 adolescents with ages ranging between 12 and 18 years old, attending public schools. These adolescents filled out the CES and other self-report measures which assess psychopathology symptoms and perception of current feelings of internal and external shame. Results revealed that the CES has a good internal reliability, an adequate temporal stability and a one-dimensional structure. The centrality of shame experiences was positively correlated with psychopathological symptoms and with current feelings of shame. These findings suggest that the CES in its version for adolescents is a useful and robust tool to the assessment of centrality of shame memories in adolescence.

Key words: Centrality event scale, Assessment scale, Adolescents, Psychometric properties, Shame experiences.

 

Introdução

As experiências adversas, em particular, as experiências precoces de vergonha podem funcionar como memórias traumáticas e tornarem-se centrais na autoidentidade, podendo ter consequências mais tarde na vida do indivíduo, ao nível da vulnerabilidade à psicopatologia (Gilbert, 1998, 2000; Schore, 2001; Tangney, Burggraf, & Wagner, 1995).

Diversos estudos têm mostrado que as memórias pessoais vívidas e altamente acessíveis de um indivíduo podem ter um papel relevante na atribuição de significado e na estruturação das suas narrativas de vida, modelando a sua autoconceção (Berntsen & Rubin, 2006, 2007; Pillemer, 2003). A este propósito Berntsen, Willert e Rubin (2003) chamam a atenção para o facto do impacto destas memórias poder ser negativo caso as memórias de traumas ou acontecimentos de vida negativos se transformem em pontos de referência cognitivos para a organização de conhecimento autobiográfico. Este impacto pode estender-se à interpretação de experiências não traumáticas e às expectativas em relação ao futuro.

Nesta linha de pensamento, focada essencialmente na integração da memória traumática na história de vida e autoconceção do indivíduo, surge a Escala da Centralidade do Acontecimento (Centrality of Event Scale, CES) desenvolvida por Berntsen e Rubin (2006). Este instrumento procura avaliar até que ponto a memória de um acontecimento stressor (evento emocional marcante/traumático) representa um ponto de referência central para a identidade pessoal e atribuição de significado a outros acontecimentos de vida.

A escala de Centralidade do Acontecimento (CES) assenta nos pressupostos fundamentais da teoria da Centralidade do Acontecimento desenvolvida por Berntsen e Rubin (2006, 2007), segundo a qual a recordação de uma memória emocional altamente acessível pode funcionar como um ponto de referência para a organização mnésica de outras experiências de vida. Diversos estudos mostraram que os indivíduos diferem entre si quanto à extensão em que um forte evento emocional negativo se torna central para a sua identidade, história de vida e perspetiva do mundo, estando estas diferenças relacionadas com a gravidade da sintomatologia associada ao stress pós-traumático (Berntsen & Rubin, 2006, 2007; Bernstsen et al., 2003; Thomsen & Berntsen, 2009). Com base neste racional teórico, a CES propõe-se medir três funções sobrepostas e interdependentes das memórias pessoais que se constituem como componentes da centralidade de uma memória. Nomeadamente, em que medida a memória traumática se torna (1) um ponto de referência para as inferências no dia-a-dia; (2) um ponto de viragem na história de vida do indivíduo; (3) um componente central na identidade do indivíduo (Berntsen & Rubin, 2006, 2007). Segundo estes autores, e com base na literatura sobre as memórias autobiográficas e heurísticas de disponibilidade, estas são as três formas responsáveis pela elevada conexão entre a memória de um acontecimento traumático ou stressor e outros tipos de informação autobiográfica nas redes cognitivas do indivíduo. De acordo com Tversky e Kahneman (1973), as heurísticas de disponibilidade referem-se à forma como julgamos a frequência e a probabilidade de ocorrência de conjuntos específicos de acontecimentos, sendo influenciada pela facilidade com que somos capazes de os recordar. Outras características de um determinado acontecimento, como a raridade, a surpresa e a intensidade emocional, para além da frequência, influenciam a sua elevada acessibilidade (Rubin & Kozin, 1984). Assim, uma vez que as memórias traumáticas são altamente acessíveis, o indivíduo terá tendência a sobrestimar a probabilidade de ocorrência desses acontecimentos no futuro (Berntsen & Rubin, 2006).

Estudos das características psicométricas deste instrumento revelaram uma boa fidelidade (α=.94) e a análise da sua estrutura fatorial sugere um modelo unidimensional, concluindo que as três funções avaliadas pela CES não correspondem a fatores independentes da escala (Berntsen & Rubin, 2006).

A versão portuguesa de Matos, Pinto-Gouveia e Gomes (2010) revelou igualmente uma boa consistência interna (α=.96) e foi também confirmada a sua estrutura unidimensional.

Os resultados da aplicação deste instrumento a uma amostra da população geral e a indivíduos expostos a situações traumáticas evidenciaram que as memórias traumáticas parecem ter uma maior integração na autoconceção, emergindo como pontos de referência cognitivos para a organização de outras memórias e estabelecendo expectativas para o futuro (Berntsen & Rubin, 2006, 2007, 2008; Thomsen & Berntsen, 2009). Também a investigação de Pinto-Gouveia e Matos (2010) realizada numa amostra portuguesa de adultos mostrou que os indivíduos cujas experiências de vergonha tinham sido marcantes em determinada altura das suas vidas, tinham-se tornado pontos de referência para a história de vida e identidade dos próprios, tendiam a evidenciar maiores níveis de vergonha interna e externa na idade adulta. Paralelamente, os resultados indicaram ainda que a extensão na qual uma memória emocional negativa era central na identidade e história de vida, estava positivamente relacionada com a depressão, ansiedade e a gravidade do stress pós-traumático (Pinto-Gouveia & Matos, 2010).

Não obstante a crescente investigação sobre as experiências e as memórias de vergonha (Tangney & Dearing, 2002), esta tem sido focada maioritariamente em adultos, sendo importante alargar os estudos a adolescentes e procurar compreender as implicações destas memórias neste período de vida específico.

A transição para a adolescência é marcada por uma maior vulnerabilidade a problemas emocionais explicada, em parte, pela grande diversidade de mudanças fisiológicas, psicológicas, relacionais e ambientais que ocorrem neste período. Estas mudanças envolvem modelos complexos do eu e dos outros, a formação de uma nova e autónoma identidade, preocupações com as relações entre os pares, a estruturação de novas identidades entre os pares e diminuição da influência dos pais acompanhada por uma crescente importância dos pares enquanto fontes de suporte (Allen & Land, 1999; Gilbert & Irons, 2009; McLean, 2005; Steinberg, 2002; Wolfe & Mash, 2006).

Este conjunto de tarefas desenvolvimentais pode tornar a adolescência um período de especial vulnerabilidade ao impacto das experiências adversas. Por outro lado, é também nesta altura que os jovens se envolvem em processos de raciocínios autobiográficos e começam a fazer conexões entre o eu e eventos passados. De facto, pesquisas recentes têm mostrado que é na adolescência que as memórias pessoais tornam-se integradas na própria narrativa de vida e autoidentidade (McLean, 2005, 2008; McLean, Breen, & Fournier, 2010; McLean & Thorne, 2003; Thorne, McLean, & Lawrence, 2004).

O presente estudo procura contribuir ao nível da avaliação das memórias de vergonha através da adaptação e análise das propriedades psicométricas da Escala de Centralidade do Acontecimento, na versão para adolescentes (CES-A). Paralelamente, pretende examinar o impacto das experiências de vergonha, verificando se estas podem funcionar como acontecimentos determinantes e centrais na formação da identidade do adolescente, bem como explorar a relação entre as experiências de vergonha e sintomas de desajustamento psicológico (sintomas de ansiedade, stress e depressão).

 

Método

 

Participantes

Participaram neste estudo 365 adolescentes, 167 rapazes (45.8%) e 198 raparigas (54.2%) com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos (M=14.99, DP=1.77) a frequentar o 3º ciclo do ensino básico e o ensino secundário de escolas públicas da zona centro do País (M=9.25, DP=1.61). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas no que diz respeito à idade, t(363)=0.23, p=.817, embora se distingam significativamente em relação aos anos de escolaridade, t(363)=-2.208, p=.028, com as raparigas a apresentarem uma média mais elevada (M=9.42, DP=1.58) que os rapazes (M=9.05, DP=1.61).

 

Instrumentos

 

Escala de Centralidade do Acontecimento (CES – Centrality of Event Scale; Berntsen & Rubin, 2006; versão portuguesa para adolescentes de Matos, Pinto-Gouveia, & Cunha, 2011) pretende avaliar em que medida a memória de um acontecimento stressor representa um ponto de referência central para a identidade pessoal e atribuição de significado a outras experiências de vida. É constituído por 20 itens, cotados numa escala de 5 pontos (1 – Discordo totalmente; 5 – Concordo totalmente). Quanto maior a pontuação, mais o acontecimento stressor é percecionada como central para a identidade pessoal. No presente estudo utilizámos a versão portuguesa (idêntica à de adultos) com as instruções ligeiramente modificadas da versão original. Enquanto na versão original é pedido que o respondente se recorde de um acontecimento de vida stressante ou traumático, na versão Portuguesa especificámos o acontecimento de cariz stressante ou traumático a uma experiência de vergonha. Inicialmente é dada uma breve descrição do que é uma experiência ou emoção de vergonha, sendo posteriormente pedido aos participantes que recordem uma dessas experiências mais marcantes da sua infância ou adolescência e respondam ao conjunto de itens que se segue. Os dados psicométricos desta escala serão apresentados mais à frente, uma vez que este é o objetivo central do presente estudo.

Uma vez que foi pedido aos participantes para responderem à CES-A com base numa experiência de vergonha, optou-se por utilizar a avaliação da vergonha interna (ISS) e externa (OAS) para efeitos de validade convergente da CES-A. Para a realização de estudos de validade discriminante, foram administradas as escalas de depressão, ansiedade e stress (DASS-21).

 

Escala de Vergonha provocada pelos Outros (OAS; Goss, Gilbert, & Allan, 1994; versão portuguesa para adolescentes de Figueira & Salvador, 2010) é composta por 18 itens que avaliam a vergonha externa, i.e., aquilo que os sujeitos pensam acerca da forma como os outros os veem. Apresentou, neste estudo, um valor alfa de Cronbach de .95, tradutor de uma boa consistência interna.

 

Escala de Vergonha Internalizada (ISS; Cook, 1994/2001; versão portuguesa para adolescentes de Januário & Salvador, 2011) engloba 24 itens assentes em descrições fenomenológicas da experiência de vergonha que procuram avaliar a vergonha interna e 6 itens que avaliam a auto-estima. No presente estudo, apenas a subescala de vergonha foi utilizada, apresentando uma boa consistência interna (α=.95).

 

Escalas de Depressão, Ansiedade e Stress (DASS-21; Lovibond & Lovibond, 1995; versão portuguesa de Pais-Ribeiro, Honrado, & Leal, 2004) são compostas por 21 itens que avaliam três dimensões de sintomas psicopatológicos: depressão, ansiedade e stress. No nosso estudo verificaram-se também bons índices de consistência interna (Depressão: α=.89, Ansiedade: α=.88 e Stress: α=.90).

 

Procedimentos

Uma vez que a Escala da Centralidade do Acontecimento apenas tinha sido aplicada em adultos, foi necessário proceder a algumas alterações para a sua administração em adolescentes. Conceptualmente trata-se do mesmo instrumento dispondo presentemente de duas versões, para adultos (CES) e para adolescentes (CES-A).

Inicialmente as instruções do instrumento foram modificadas da terceira para a segunda pessoa do singular. Posteriormente, foi realizado um pré teste constituído por 20 jovens com idades compreendidas entre os 12 e os 18, onde se pretendeu verificar dúvidas ou dificuldades de compreensibilidade dos itens. Uma vez que não surgiram dúvidas acerca da formulação dos itens, estes foram mantidos sem qualquer alteração, tendo apenas sido realizados pequenos ajustamentos na linguagem das instruções, formato de apresentação da escala no sentido de tornar mais acessível e atraente a sua utilização. Assumimos uma perspetiva conservadora que se propunha respeitar a perspetiva teórica subjacente ao desenvolvimento desta escala, pelo que mantivemos a sua estrutura original. Assim, inspecionámos as relações entre itens e dimensões, reproduzindo os procedimentos dos estudos anteriores (versão original e versão portuguesa).

Após a autorização dos diretores das escolas para a realização do estudo, foi solicitada a permissão dos pais e consentimento informado dos adolescentes. Os jovens foram previamente informados acerca dos objetivos do estudo, do seu carácter voluntário, anónimo e confidencial, bem como do direito de desistência de participação em qualquer momento. O preenchimento dos instrumentos decorreu em grupo na sala de aula, demorando cerca de 20 minutos, e supervisionado por um dos investigadores.

 

Procedimento estatístico

Na análise dos dados recorreu-se ao software PASW Statistics versão 19.0 (IBM SPSS Statistics).

Testámos um modelo de Análise Fatorial Confirmatória da estrutura unidimensional da Escala da Centralidade do Acontecimento para Adolescentes (CES-A) com recurso ao software Amos (v.19, SPSS Inc. IBM). A análise da consistência interna dos vários instrumentos de autorresposta foi calculada através do alfa de Cronbach. A qualidade dos itens da CES-A foi analisada mediante o cálculo da correlação do item com o total da escala excluindo o próprio item (Field, 2013; Howell, 2008). No estudo da estabilidade temporal foi utilizado o coeficiente de correlação de Spearman, dado o tamanho reduzido da amostra e o Teste t para amostras emparelhadas na comparação das médias da mesma amostra em dois momentos diferentes. Para comparação de grupos de indivíduos, rapazes e raparigas, recorreu-se ao Teste t de Student para amostras independentes (Howell, 2006). Finalmente para o estudo da relação entre as variáveis em estudo, recorremos à determinação do coeficiente de Pearson.

 

Resultados

 

Análise preliminar dos dados

A validação do pressuposto da normalidade multivariada das variáveis foi avaliada pelos coeficientes de assimetria (Sk) e curtose (Ku), tendo-se verificado que nenhuma variável apresentou indicadores de violações severas à distribuição normal (Sk<|3| e Ku<|10|) (Kline, 2005). A existência de outliers foi avaliada pela distância quadrada de Mahalanobis (D2), que indicou a presença de alguns valores extremos (Maroco, 2010), mas optou-se pela manutenção dos mesmos para não diminuir a variabilidade associada ao fator em estudo e não limitar uma interpretação relevante nesta análise.

 

Análise Fatorial Confirmatória

No presente estudo realizou-se uma Análise Fatorial Confirmatória (AFC) como método confirmatório da estrutura unifatorial da Escala da Centralidade do Acontecimento numa amostra de adolescentes (CES-A). Esta metodologia, inserida no âmbito dos modelos de equações estruturais, serve essencialmente para confirmar padrões estruturais, ou seja, se os factores latentes são responsáveis pelo comportamento de determinados indicadores (i.e., variáveis manifestas) de acordo com um modelo teórico (Maroco, 2010). Seguiu-se esta opção para testar o modelo, uma vez que em trabalhos anteriores os resultados indicavam a solução unidimensional da CES quer numa amostra de adultos (Matos, Pinto-Gouveia, & Gomes, 2010) quer numa população de adolescentes (Cunha, Matos, Xavier, & Faria, 2013). O método de estimação do modelo utilizado foi o Método de Máxima Verosimilhança (ML; Maximum Likelihood).

Para analisar a qualidade global da AFC observou-se o teste de qui-quadrado (χ2), que mede a discrepância entre o modelo e os dados (Byrne, 2010) e cujo valor se pretende que seja o mais pequeno possível. Contudo, este teste estatístico é muito sensível ao tamanho da amostra e a desvios à normalidade e linearidade (Schermelleh-Engel, Moosbrugger, & Müller, 2003) pelo que foram utilizados, em simultâneo, outros indicadores. Assim, utilizaram-se os seguintes índices de qualidade de ajustamento: qui-quadrado normalizado (χ2/gl); Goodness of Fit Index (GFI); Root Mean Square Residual (RMR); Comparative Fit Index (CFI); Tucker-Lewis Index (TLI); Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA). Considerou-se que valores do qui-quadrado normalizado (χ2/gl) inferiores a 5 são aceitáveis, valores de GFI, CFI e TLI iguais ou superiores a .90 correspondem a um bom ajustamento dos dados (Kline, 2005; Maroco, 2010). Usou-se como referência um valor de RMR inferior a .08 como indicador de um bom ajustamento, com RMR=0 a indicar um ajustamento perfeito (Brown, 2006; Joreskog & Sorbom, 1996; Maroco, 2010). Quanto aos valores de RMSEA foram considerados os seguintes indicadores: inferiores a .05 (excelente ajustamento), iguais ou inferiores a .08 (bom ajustamento) e iguais ou inferiores a .10 (ajustamento marginal) (Arbuckle, 2009; Brown, 2006; Maroco, 2010).

A reespecificação do modelo foi feita a partir dos índices de modificação (superiores a 11; p<0,001) produzidos pelo software Amos e com base em considerações teóricas (i.e., conteúdo dos itens). Para efeitos de comparação dos modelos recorreu-se ao MECVI, indicando que o modelo com menor valor de MECVI é o modelo melhor e mais estável na população (Maroco, 2010).

A qualidade do ajustamento local foi avaliada pelos pesos factoriais estandardizados (λ≥.50) e pela fiabilidade individual dos itens (R2≥.25) (Maroco, 2010). A Fiabilidade Compósita (FC) indica a consistência interna dos itens que refletem o fator, considerando-se valores de FC≥.70 indicadores de uma adequada fiabilidade de constructo (Maroco, 2010).

Os resultados da AFC com base nos índices de ajustamento mostram que o modelo unifactorial da CES-A apresentou uma qualidade de ajustamento global sofrível: χ2(170)=615.673, p<.001; χ2/df=3.622; GFI=.833; RMR=.086; CFI=.897; TLI=.885; RMSEA=.085, P[rmsea≤.05]=p≤.001; MECVI=1.925.

De seguida, recorremos à análise dos índices de modificação com o objetivo de melhorar o ajustamento do modelo. Com base nos valores mais elevados dos índices de modificação, procedemos então à correlação dos erros de medida dos seguintes itens: do item 7 (e7) e do item 11 (e11); do item 16 (e16) e do item 17 (e17); do item 1 (e1) e do item 2 (e2); do item 14 (e14) e item 15 (e15); do item 2 (e2) e do item 9 (e9); do item 1 (e1) e do item 6 (e6); do item 15 (e15) e do item 18 (e18). Estas correlações também se justificam de um ponto de vista teórico pela semelhança do conteúdo dos itens (cf. Figura 1).

 

 

O modelo simplificado (Figura 1) mostrou uma boa validade fatorial e um melhor ajustamento aos dados. Apesar do valor significativo do Qui-quadrado, ML χ2(163)=399,083, p<.001 (valor possivelmente enviesado devido à elevada sensibilidade deste índice ao tamanho da amostra; Schermelleh-Engel et al., 2003), os índices de qualidade de ajustamento revelam, de um modo geral, uma adequação boa da estrutura unidimensional da CES-A à amostra em estudo: χ2/df=2.448; GFI=.897; RMR=.069; CFI=.945; TLI=.936; RMSEA=.063, P [rmsea≤.05]=p≤.003; MECVI=1.370. Em relação aos índices absolutos (χ2/df, GFI, RMR), verifica-se que, apesar dos valores de χ2/dfe GFI serem sofríveis, o valor do RMR é abaixo do ponto de corte (<.08) (Brown, 2006; Joreskog & Sorbom, 1996). Quanto aos índices relativos (CFI, TLI) os resultados são acima dos valores recomendados (.90) (Byrne, 2001, 2010; Kline, 2005). No que concerne ao índice de discrepância populacional dado pelo RMSEA verifica-se que o ajustamento dos dados é considerado bom para o intervalo [0.05; 0.08] (Arbuckle, 2009). Adicionalmente, através do teste de diferenças de Qui-quadrado verifica-se que o modelo simplificado apresenta uma qualidade de ajustamento significativamente superior à do modelo original na amostra em estudo (χ2(7)=216.59>χ20.95;(7)=14.067), bem como um MECVI consideravelmente menor (1.925 versus 1.370).

Relativamente à qualidade de ajustamento local do modelo (Figura 1) verifica-se que todos os itens apresentam pesos fatoriais elevados, que variam entre .52 (item 7) e .80 (item 10), e fiabilidades individuais igualmente elevadas que vão desde .28 (item 7 e item 1) até .64 (item 10). A fiabilidade compósita do modelo simplificado revelou-se elevada, sendo de .97 para o total da escala (20 itens).

 

Análise dos itens e consistência interna

O estudo da qualidade dos itens revela que existem correlações moderadas a elevadas entre todos os itens, que oscilam entre (.53 e .78), o que indica que não é necessário remover nenhum dos itens da escala. A leitura do indicador de alfa de Cronbach caso o item seja retirado não revela qualquer alteração no valor da consistência interna (.95) (Tabela 1).

 

 

O total da escala apresenta uma média de 52.03 (DP=18.03) e um valor alfa de Cronbach de .95 o que atesta uma excelente fidelidade.

Os resultados obtidos na CES-A não se mostraram associados à idade (r=-.07, p=243) e aos anos de escolaridade (r=-.08, p=.643). Não se verificaram diferenças significativas nos valores médios obtidos entre rapazes e raparigas, t (363)=-1.77, p=.078.

 

Fidelidade teste-reteste

A CES-A foi de novo administrada, 1 mês mais tarde, a um grupo de jovens adolescentes (n=18), obtendo-se um coeficiente de correlação de Spearman de .46 que sugere uma modesta estabilidade temporal. Contudo, quando comparados os valores médios da escala obtidos nos dois momentos, através da utilização do Test t para amostras dependentes, verifica-se que não existe uma diferença significativa nestes dois tempos de medida, t=-0.75, p=.462, o que abona em favor da sua estabilidade. A fidelidade do reteste apresentou uma excelente consistência interna (α=.96).

 

Estudo da relação entre as experiências de vergonha, centralidade do acontecimento e psicopatologia

A Tabela 2 apresenta a matriz de correlações de Pearson realizadas entre a subescala da vergonha interna (ISS), a vergonha externa (OAS), a centralidade das memórias de vergonha (CES) e as três escalas de depressão, ansiedade e stress (DASS-21).

 

 

Os resultados (Tabela 2) mostraram que a centralidade do acontecimento está positivamente correlacionada com a vergonha externa (r=.54; p<.001), e com a vergonha interna (r=.52; p<.001) nos adolescentes. Assim, podemos considerar que adolescentes cujas memórias de vergonha se tornaram pontos de referência na sua identidade e história de vida, tendem a apresentar valores mais elevados de vergonha externa e interna.

A centralidade das memórias de vergonha está positiva e moderadamente correlacionada com a depressão (r=.49; p<.001), com a ansiedade (r=.48; p<.001) e com o stress (r=.45; p<.001). Por último, como seria expectável, verificou-se que a vergonha externa e a vergonha interna apresentavam correlações moderadas a elevadas (Field, 2013), com a sintomatologia psicopatológica.

 

Validade discriminante

De modo a analisar se os jovens com maiores índices de centralidade de memórias se distinguiam de indivíduos com pontuações mais baixas na CES-A, relativamente aos sintomas de depressão, ansiedade e stress, procedemos à formação de dois grupos (CES-Alto e CES-Baixo) recorrendo ao valor da mediana (Tabela 3).

 

 

Os resultados mostram que os grupos se distinguem significativamente relativamente aos sintomas de ansiedade, de depressão e de stress. Deste modo, adolescentes cujas memórias de experiências de vergonha se constituem como pontos de referência centrais para a atribuição de significados, na história de vida e na identidade pessoal, tendem a manifestar mais sintomatologia depressiva, ansiógena e de stress, quando comparados a indivíduos com menor centralidade das memórias de vergonha.

 

Discussão

À luz da teoria da centralidade do acontecimento, a CES pretende avaliar o impacto de um determinado evento na história de vida do indivíduo, nomeadamente em que medida um acontecimento foi central na construção da sua identidade ou teve um significado fundamental. No presente estudo foi solicitado aos participantes que respondessem aos itens com base na recordação de uma experiência de vergonha, considerada marcante e significativa, ocorrida durante a infância e/ou adolescência, permitindo analisar o impacto de memórias de vergonha. O objetivo fundamental desta investigação foi adaptar este instrumento para adolescentes, analisar as suas características psicométricas e confirmar a sua estrutura fatorial.

Assim, num primeiro momento, a versão portuguesa foi sujeita a ligeiras adaptações de linguagem nas instruções e sujeita a um pré-teste com adolescentes no sentido de verificar a compreensibilidade dos itens. A versão final obtida para adolescentes (CES-A) foi posteriormente administrada a uma amostra de jovens entre os doze e os dezoito anos.

Seguindo de perto os procedimentos utilizados nos estudos com adultos (Matos, Pinto-Gouveia, & Gomes, 2010), verificou-se a estrutura fatorial deste instrumento através de uma AFC. Os índices de ajustamento obtidos permitem concluir tratar-se de uma estrutura unidimensional, o que abona em favor da existência de um único padrão interpretável que remete para a centralidade de um acontecimento, englobando as inferências no dia-a-dia, história de vida e identidade pessoal. Estes resultados estão em consonância com as conclusões de Berntsen e Rubin (2006) e com os dados obtidos numa população portuguesa de adultos (Matos, Pinto-Gouveia, & Gomes, 2010).

A análise da consistência interna dos itens confirma igualmente uma boa fidelidade deste instrumento e a análise teste-reteste indica uma estabilidade temporal aceitável. Estes valores são semelhantes aos encontrados em estudos conduzidos em adultos, quer com a versão americana (Berntsen & Rubin, 2006), quer com a versão portuguesa (Matos, Pinto-Gouveia, & Gomes, 2010).

O sexo e a idade não revelaram qualquer efeito significativo nos resultados da CES-A, o mesmo acontecendo com estudos em adultos (Matos, Pinto-Gouveia, & Gomes, 2010). A homogeneidade da amostra em termos de idade (M=14.99, DP=1.77) poderá explicar a ausência de efeito desta variável.

No que respeita aos estudos de validade, as memórias de vergonha ou a centralidade do evento (CES-A) encontram-se associadas aos sentimentos atuais de vergonha externa e interna, mostrando que quanto maior é o impacto destas experiências (maior a centralidade), maior é a crença de que os outros o vêm de forma negativa (vergonha externa) e maior a perceção de si próprio como fraco, sem valor e indesejável (vergonha interna).

Por último, relativamente à validade discriminante verifica-se que os adolescentes com valores mais elevados de centralidade do acontecimento reportam significativamente mais sintomas de depressão, ansiedade e stress, comparativamente aos adolescentes com valores baixos na CES-A. Estes resultados vão de encontro aos dados obtidos na população adulta (Matos, Pinto-Gouveia, & Gomes, 2010), bem como estão em consonância com estudos anteriores que defendem que experiências precoces hostis, e em particular as experiências de vergonha, podem influenciar a maturação psicobiológica (Schore, 1998, 2001) e aumentar a vulnerabilidade para a psicopatologia (Gilbert, Allan, & Goss, 1996; Gilbert & Perris, 2000).

O presente estudo apresenta algumas limitações. A utilização de uma amostra da comunidade impede a generalização destes dados à população clínica, sendo assim uma recomendação para futuros estudos, nomeadamente a sua aplicação a indivíduos com o diagnóstico de Perturbação de Stress Pós-traumático. O tamanho reduzido da amostra no estudo da estabilidade temporal limita a robustez das conclusões, pelo que se torna importante replicar este estudo. O facto de nas instruções do questionário ter sido solicitado expressamente a memória de uma experiência de vergonha (de acordo com os nossos interesses), condiciona a interpretação dos dados a este tipo de experiência. Porém, modificando as instruções da CES-A, não as focando unicamente em experiências de vergonha, esta medida poderá ser utilizada para avaliar a centralidade de outros acontecimentos stressantes ou traumáticos, tal como a versão original.

Não obstante as limitações apontadas, este estudo tem o mérito de disponibilizar um novo instrumento para a adolescência permitindo alargar a investigação sobre o impacto das memórias de vergonha a esta faixa etária. Como foi referido anteriormente, trata-se de um período desenvolvimental onde a construção da identidade, o desenvolvimento do raciocínio autobiográfico, da autoestima e da autonomia assumem um papel relevante. Os resultados obtidos sugerem que as memórias de experiências de vergonha na infância e adolescência podem assumir características de centralidade de memória na organização cognitiva. O mesmo é dizer que estas memórias de vergonha podem constituir-se como pontos de referência centrais para a atribuição de significados, como pontos de viragem na narrativa pessoal e como componentes centrais no desenvolvimento da identidade pessoal. Neste sentido, a identificação precoce deste tipo de memórias poderá constituir um passo importante em termos de intervenção psicológica junto dos adolescentes.

 

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CORRESPONDÊNCIA

A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Marina Cunha, Instituto Superior Miguel Torga, Largo da Cruz de Celas, 1, 3000-132 Coimbra, Portugal. E-mail: marina_cunha@ismt.pt

 

Submissão: 18/12/2014 Aceitação: 23/03/2015

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