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Análise Psicológica

 ISSN 0870-8231

     

 

Nota de Abertura: Número de Homenagem a Carla Machado

Marlene Matos Rui Abrunhosa Gonçalves

 

Através deste número especial, pretendemos homenagear Carla Machado, uma autora de referência incontornável na sua área de conhecimento, a Psicologia da Justiça. Fortemente empenhada com a ciência nacional, a Carla marcou a agenda académica e científica dos últimos 20 anos e os seus contributos permanecerão no trabalho de todos aqueles que se dedicam a esta área do saber. É da sua autoria um conjunto de publicações nacionais pioneiras no domínio da Vitimologia (“Novas formas de vitimação criminal”) e na Psicologia Forense (“Manual de Psicologia Forense”).

Este número oferece um retrato do seu percurso científico mais recente, da diversidade dos objectos de que se ocupava e nos métodos em que se apoiava para “olhar” a realidade que tanto a inquietava, desde os métodos etnográficos aos quantitativos. Conferiu um olhar científico a realidades tão diferentes e complexas como a violência na intimidade, o abuso sexual ou o tráfico de seres humanos. A Carla problematizou os discursos sociais e culturais sobre o crime e as vítimas, ajudou a desocultar realidades “antigas” (ex., violência sexual, stalking), inaugurou em Portugal novos domínios de estudo (ex., violência de estado, crimes corporativos) e promoveu, ainda, a investigação aplicada no domínio da psicologia forense e da psicoterapia com vítimas de crime. Não raras vezes, dedicou-se a esclarecer e a procurar respostas científicas para quem trabalha “no terreno”. É igualmente notável o seu contributo ao nível da avaliação psicológica, traduzido num esforço de construção e validação de instrumentos numa área ainda tão deficitária como é a psicologia da justiça. Este número da Análise Psicológica reflecte todo o seu perfil enquanto profissional e investigadora: plural, inovadora, coerente e muito rigorosa. Constituíam, ainda, elementos característicos da sua identidade científica a busca da excelência, a exigência, a sofisticação e a inventividade.

Outra qualidade admirável era o seu estímulo ao trabalho em equipa, que ela sabiamente orquestrava e que este número também ilustra através dos inúmeros trabalhos em co-autoria.

Este número especial comporta um conjunto de trabalhos em que a Carla tanto investiu mas não teve oportunidade de terminar. Inscritos em teses de doutoramento ou em projectos institucionais, que orientou até ao fim, eram documentos em preparação, trabalhos desenvolvidos por ela e com ela, quando nos deixou.

Possuidora de múltiplos saberes e competências, os depoimentos de investigadores de renome internacional que quisemos também partilhar neste número, certificam que a Carla dava os primeiros passos numa trajectória internacional onde certamente viria a ocupar um lugar de destaque.

Autora de uma escrita científica elegante, a Carla ajudou a afirmar, de forma peremptória, o papel da psicologia da justiça junto da sociedade em geral.

Por tudo isto, encorajou e inspirou muitos dos que com ela trabalharam. Este número resulta pois da nossa imensa admiração e profunda gratidão que irão para sempre perdurar pela partilha de um trajecto tão distinto que a amizade cimentou. Muito obrigada Carla!

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