27 4Resolution of ruptures in therapeuticalliance: Its role on change processes according to a relational approach 
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Análise Psicológica

 ISSN 0870-8231

     

 

“PApi – Pais por Inteiro” Programa de intervenção em grupo para o ajustamento pessoal e a promoção da

coparentalidade positiva em pais divorciados

 

Diogo Lamela (*)

Maria Castro (*)

Tiago Gonçalves (*)

Bárbara Figueiredo (*)

 

RESUMO

O presente artigo apresenta o programa de intervenção em grupo para pais divorciados, Pais por Inteiro (PApi). Fundamentados na revisão da literatura com a qual o artigo se inicia, os objectivos gerais do programa – promover a coparentalidade positiva, a construção de um projecto de binuclearidade familiar e a reflexão e aprofundamento das trajectórias individuais de cada pai – são descritos, assim como as três macrocomponentes psicoterapêuticas ao longo das quais estes objectivos se desenvolvem – exposição dos processos de divórcio, partilha experiencial e treino de competências e mudança desenvolvimental. O artigo oferece ainda, no final, uma mais detalhada clarificação dos objectivos, materiais e actividades planeadas para cada das dez sessões que compõem o PApi.

Palavras chave: Ajustamento, Coparentalidade, Divórcio, Intervenção em grupo, Trajectórias desenvolvimentais.

 

ABSTRACT

This article presents the intervention program for divorced parents, Pais por Inteiro (PApi). The main goals of this intervention program, which are supported by the revisited literature in which the article begins, are to promote a positive coparenting style, to help creating a binuclear family project and to help reflect about the interpersonal pathways of each divorced parent. These objectives are described as the three major psycho-therapeutic phases, from which these objectives evolve – exposure of the divorce processes, experience sharing and skills training and developmental change. In the end, the present article also offers a detailed clarification of the objectives, materials and activities which were planned for each one of the ten sessions that PApi involves.

Key words: Adjustment, Coparenting, Developmental pathways, Divorce, Group intervention.

 

 

INTRODUÇÃO

O divórcio é um processo dinâmico, complexo, que obriga a múltiplas mudanças individuais e familiares, sendo por isso geralmente descrito como um período de elevado stress psicossocial para toda a família (Hetherington, 1993). Para além das questões legais, os pais têm de adaptar-se a um novo estilo de vida, reorganizar-se financeiramente, cuidar e auxiliar os filhos, bem como proceder, no período imediato ao divórcio, ao luto da relação conjugal (Rogge, Bradbury, Hahlweg, Engl, & Thurmaier, 2006; Whiteside & Becker, 2000).

No entanto, a separação conjugal não anuncia o fim da família. Como qualquer sistema humano auto-organizado e dinâmico, a família é constituída por vários subsistemas e não é por o subsistema conjugal se ter dissolvido que também ela se veja obrigada a diluir-se (Hetherington & Kelly, 2002). As relações familiares mantêm-se, embora com uma nova configuração estrutural, comunicacional e interaccional. É uma certeza empírica que, para que uma família com pais divorciados responda às necessidades desenvolvimentais dos seus elementos, é fundamental serem delimitadas novas regras, novos papéis, novos hábitos que, em conjunto, irão contribuir para um funcionamento saudável e ajustado da família (Emery, 1999; Rogers, 2004). Aliás, a competência do ex-casal em criar novos limites relacionais, novas dinâmicas comunicacionais e novos códigos de regulação comportamental, está fortemente associada, em vários estudos, ao melhor ajustamento psicossocial quer dos filhos quer dos próprios pais (Ahrons, 1981; Amato, 1993; Amato & Keith, 1991; Hetherington, 1993).

A investigação indica ainda que é igualmente crucial demarcar o passado conjugal da parentalidade presente, para ser exequível construir uma outra variação positiva da família. Os pais divorciaram-se da sua relação conjugal, mas não da sua relação parental (Ferrante, 2005; Macie, 2002). Os estudos empíricos mostram todavia que, para a maioria dos pais, é muito difícil diferenciar o papel conjugal do papel parental com o ex-cônjuge (Macie, 2002). Quando a ex-relação marital se emaranha com a relação coparental, o estabelecimento de uma aliança parental reforçada, central no ajustamento dos filhos depois do divórcio, está mais dificultada (Camara & Resnick, 1989; Dreman, 2000; Emery, 1982). Desta forma, a adaptação das crianças ao divórcio dos pais é o resultado de uma equação que congrega pelo menos três factores: (1) um padrão coparental cooperante (Adamsons & Pasley, 2006; Maccoby, Depner, & Mnookin, 1990; Maccoby, Buchanan, Mnookin, & Dornbusch, 1993), caracterizado por baixos níveis de conflito interparental (Afifi & Hamrick, 2006; Goodman, Bonds, Sandler, & Braver, 2004); (2) a criação de uma binucleari-dade familiar efectiva (Macie, 2002); e (3) renovadas trajectórias pessoais dos pais, carac-terizadas pela representação de novos papéis familiares, pela obtenção de segurança financeira, pelo desenvolvimento de novas redes de suporte e de um novo projecto pessoal que seja satisfatório (Goodman et al., 2004; Sayer, 2006; Spanier & Castro, 1979; Sweeper, 2004).

Embora com apenas algumas décadas de existência, a intervenção psicológica no domínio do divórcio é susceptível de poder ser classificada em seis diferentes modalidades, como descrevemos a seguir.

1) A terapia individual do divórcio centrada na reorganização psicológica pós-divórcio. Vários modelos e paradigmas teóricos foram adaptados à terapia individual do divórcio (Kressel, 1980; Kressel & Deutsch, 1977), mas é possível identificar alguns pontos em comuns. Num primeiro momento, é geralmente dado espaço para a intervenção em crise, em que trabalhar o processo de luto da relação conjugal é prioridade terapêutica. De seguida, a intervenção é dirigida à dissolução adaptativa de possíveis sentimentos de culpa causados pela ruptura relacional, através da validação e qualificação emocional dos sentimentos e do reenquadramento das emoções negativas. Para, finalmente, se lançar os alicerces de novos projectos pessoais, num terceiro momento (Storm & Sprenkle, 1982).

2) A terapia familiar do divórcio que tem por finalidade contribuir para que a família desenvolva novos padrões interactivos e comunicativos, mais funcionais e ajustados à sua nova realidade (Byng-Hall, 2000; Oz, 1994; Sommers-Flanagan & Barr, 2005). A terapia familiar pode ser de grande utilidade para diluir e transformar padrões relacionais desconstrutivos (muitas vezes responsáveis pelo divórcio) e contribuir para a definição de novas fronteiras, limites, regras e potencialidades na família (Kruk, 1993; Moreland, Schwebel, Fine, & Vess, 1982; Nock, 2000).

3) A regulação do poder parental que se caracteriza pela peritagem das competências psicológicas e sociais dos progenitores para o exercício do poder parental (Antunes, Caridade, & Pereira, 2005; Orenstein, 2006).

4) A intervenção em grupo com crianças com a finalidade principal de providenciar aos filhos de pais divorciados um espaço de protecção emocional, que permita a partilha dos sentimentos e medos inerentes a esta exigente mudança nas suas vidas (Gilman, Schneider, & Shulak, 2005; Pedro-Carroll, & Cowen, 1985). Embora todos estes programas adoptem uma esfera de partilha e suporte emocionais, são muito diversificados os conteúdos sobre os quais incidem: dirigindo-se uns à prevenção de pertur-bações psicopatológicas, enquanto outros versam auxiliar a adaptação instrumental da criança, intervindo, por exemplo, na manutenção do rendimento académico (Dent, 2001; Geelhoed, Blaisure, & Geasler, 2001).

5) Os grupos de auto-ajuda que visam a partilha de emoções e a aceitação experiencial entre indivíduos divorciados e são, na maioria das vezes, mediados por um terapeuta (Dygard, Thuen, & Solvang, 2000).

6) A intervenção em grupo com pais, bastante difundida na cultura anglo-saxónica, que pretende informar os pais acerca do impacto psicológico do processo pré, durante e pós divórcio e dotá-los de técnicas de gestão do comportamento dos filhos. As características, finalidades e modalidades deste tipo de intervenção serão sucintamente descritas de seguida (para revisão, cf. Blaisure & Geasler, 2006).

Dado que o divórcio pode implicar desestabilização emocional e vulnerabilidade psicopatológica nos diferentes membros da família (Jonhson & Wu, 2002), várias acções foram desenvolvidas com pais em processo de divórcio. A intervenção em grupo para pais divorciados tem backgrounds teóricos distintos e assume uma diversidade de modalidades de acção, procurando dar respostas às necessidades dos pais e das crianças na sua adaptação à nova realidade familiar. Importa, pois, conhecer as intervenções possíveis, a forma como actuam, como se articulam, que potencialidades oferecem, quais as suas lacunas e que teorias as suportam. Seguindo esta preocupação, é cada vez mais visível na literatura a publicação de resultados de ensaios clínicos, na avaliação da eficácia de programas de intervenção em grupo com pais divorciados (Stewart, 2001).

A maior parte das acções de intervenção com pais divorciados, cuja avaliação de eficácia foi publicada, insere-se em programas judiciais norte-americanos de regulação do poder parental (Gilmour, 2004; Vera, 1993). A linha definidora destes programas é uma vertente psicoeducativa dirigida à aprendizagem de estratégias comportamentais de controlo do conflito, disputa e litigância parentais. A generalidade da intervenção em grupo com pais divorciados tem vindo a centrar-se num modelo psicoeducacional de aprendizagem de competências parentais, propondo a aquisição de conhecimentos supostamente úteis à interacção de cada um dos pais com o(s) filho(s) (Goodman et al., 2004).

Poucos são os programas que se destinam a trabalhar e a reforçar a aliança coparental entre pais divorciados, dado que a maior parte não enfatiza a relação entre os pais como fundamental no desempenho do papel parental de cada um (Garber, 2004). Há contudo alguma diversidade nas matrizes terapêuticas dos programas de intervenção com pais divorciados, pelo que é necessário fazer-se a distinção entre: programas de intervenção em grupo com pais divorciados, centrados nos pais e programas de intervenção em grupo com pais divorciados, centrados nos filhos.

Os programas de intervenção em grupo com pais divorciados, centrados nos filhos perfazem a maioria dos programas publicados. Têm como foco de intervenção auxiliar os pais nas tarefas educativas essenciais para o adequado desenvolvimento dos filhos e assisti-los nesta transição familiar. Este tipo de programas especializou-se em melhorar a adaptação das crianças à disrupção conjugal, através da intervenção com os pais; não tendo por conseguinte como finalidade principal contribuir para o ajustamento dos pais ao divórcio (Wolchik et al., 2000).

Os programas de intervenção em grupo com pais divorciados, centrados nos pais, são conceptualmente mais ricos, uma vez que apostam no fortalecimento da adaptação dos pais ao divórcio, contribuem para criar grupos de suporte, fomentam a partilha experencial e dotam os pais de competências para melhorar as suas relações interpessoais, principalmente com o ex-cônjuge, empenhando-se ainda na melhoria das suas competências coparentais. O foco de intervenção directo é portanto a díade parental e não as crianças.

Gilmour (2004) realizou uma aprofundada análise e avaliação dos programas de intervenção dedicados a pais divorciados. Na sua pesquisa, concluiu que a maior parte dos programas focaliza-se apenas na transmissão de informação sobre o processo de divórcio, como gerir e litigar no processo judicial e na explicação teórica do impacto do conflito no desenvolvimento dos filhos. Afirma que é, por conseguinte, errado considerarem-se programas de intervenção psicológica muitos dos programas destinados a pais divorciados, visto que não se preocupam com a mudança e reflexão terapêuticas dos participantes. A autora aconselha alguma prudência nas expectativas quanto à melhoria da relação coparental entre pais divorciados. A sua extensa revisão aponta alguns caminhos sobre o que é que funciona do ponto de vista terapêutico, como é possível alcançar determinados objectivos terapêuticos e, principalmente, como avaliar o impacto da intervenção em grupo com pais divorciados.

Num estudo desenvolvido por Arbuthnot, Poole, e Gordon (1996) sobre 3.658 famílias, cujos pais tinham participado num grupo de intervenção – que incidia na adaptação ao divórcio e fortalecimento da aliança coparental – concluiu-se que os participantes, logo após o término do programa, apresentavam melhorias no ajustamento ao divórcio, mas não no controlo do conflito interparental. Contudo, na avaliação de follow-up um ano após, foram encontradas melhorias quer na comunicação entre os pais participantes, quer no envolvimento dos pais que não residiam com a criança na vida e educação dos seus filhos, em comparação com os pais do grupo de controlo. Dessa forma, os programas que planificam e integram na sua metodologia de avaliação da eficácia momentos de follow-up fornecem indicações mais claras acerca dos efeitos da participação dos pais nestes programas.

Os desenhos terapêuticos para intervenção com pais divorciados são diversos. No entanto, a literatura vem evidenciando que os seminários psicológicos são os que menor sucesso e eficácia terapêutica apresentam (Gilmour, 2004), uma vez que dotam os pais de conhecimentos teóricos sobre o impacto do divórcio nas crianças e adolescentes (Frieman, Garon, & Garon, 2000), mas não os capacitam de meios e estratégias para assegurar um desenvolvimento ajustado dos filhos (Goodman et al., 2004). Segundo Stewart (2001), os programas em grupo deverão ter por intenção provocar a mudança nos participantes e ser muito mais do que ensinamento de técnicas behavioristas no controlo do comportamento dos filhos. Os estudos evidenciam que grupos de intervenção orientados para a componente experiencial dos pais, ou centrados na valorização das suas competências, contribuem mais eficazmente para a mudança do comportamento coparental do que métodos passivos como os seminários, acções de formação e grupos de suporte (Gleasler & Blaisure, 1998).

Stone, McKenry, e Clark (1999) empreenderam uma avaliação qualitativa das apreciações e percepções de pais do sexo masculino, participantes de grupos de intervenção no divórcio. Os mesmos indicaram como extremamente útil: a informação sobre como o conflito interparental e o divórcio podem afectar a vida dos filhos e a discussão e aprendizagem de técnicas de comunicação e de coparentalidade. Num outro estudo, os três factores que mais contribuíram para a mudança terapêutica nos participantes foram, em primeiro lugar, o sentimento de participar num grupo em que todos os membros estão a passar pelo mesmo processo, em segundo, sentirem-se aceites e, em terceiro, a oportunidade de expressar sentimentos difíceis (Dygard et al., 2000). Na sua avaliação do programa, os autores sustentaram que poderia ser relevante, em futuras reformulações, dar ainda mais ênfase ao processo experiencial.

Os programas de intervenção em grupo com pais divorciados para serem eficazes devem, por conseguinte, assegurar o treino de competências quer no controlo de conflito inter-parental, quer na criação de um compromisso coparental, através, por exemplo da produção de um plano parental (Arbuthnot & Gordon, 1996; Garber, 2004; Gleasler & Blaisur, 1998; Gilmour, 2004). De uma forma global, a investigação tem evidenciado a eficácia destes programas na melhoria da parentalidade, da coparentalidade e do controlo dos conflitos interparentais (Dent, 2001; Ferrante, 2005; Gleasler & Blaisur, 1998; Gilmour, 2004).

O programa de intervenção em grupo Pais por Inteiro pode caracterizar-se por se direccionar à coparentalidade e às trajectórias individuais dos pais divorciados, por incluir uma componente informacional e uma dimensão experiencial e por fomentar o treino de competências, promovendo uma mudança desenvolvimental. A finalidade primordial do programa é contribuir para que os pais se sintam mais confiantes, positivos e adaptados no seu novo papel. No entanto, para isso é fundamental focar parte da atenção do programa nas trajectórias desenvolvimentais dos participantes. Partimos da premissa que pais com trajectórias individuais seguras, bem adaptados ao período posterior ao divórcio, que partilham uma relação cooperativa com o ex-cônjuge, conseguirão ser melhores pais e estar mais vocacionados para as necessidades psicológicas dos filhos (Amato, 1993; Macie, 2002). O mote do programa é, por inerência, descentrar da parentalidade para centrar o programa nos pais e na coparentalidade. Dessa forma, não estamos apenas a propor trabalhar o “Eu, pai/mãe”, mas também “Eu, como pessoa” e “Eu e o meu futuro”. Não há muitos programas conhecidos que avancem sobre estes pressupostos (Gilmour, 2004).

O PApi não poderá ser identificado como um programa psicoeducacional tradicional, uma vez que pretende proporcionar a discussão, doseada por alguma partilha de conhecimento psicológico, que deve ser introduzido como um suplemento às conclusões e conversações grupais.

Na nossa opinião, é ainda importante sublinhar a dimensão ecológica do desenvolvimento humano, considerando que o comportamento é, ao mesmo tempo, reflexo e produto de um conjunto de transacções interactivas entre os pais, os filhos, a família alargada, o emprego e os papéis sociais e cívicos. Por outras palavras, ao tentar fazer intervenção na díade coparental, não podemos abandonar a premissa que os comportamentos não acontecem num vazio contextual. Desta forma, este programa pretende dar respostas a algumas orientações conceptuais que apontam para que a intervenção em grupo com pais divorciados responda com eficácia às necessidades reais das famílias, tendo por base as evoluções conceptuais da psicologia e da psicopatologia do desenvolvimento.

A nosso ver, será relevante desenvolver um programa de carácter desenvolvimental, contribuindo com este projecto para um maior conhecimento dos pais sobre si próprios, sobre como desempenhar de forma mais eficaz as funções coparentais e qual o impacto das suas práticas no desenvolvimento dos seus filhos. Fará, pois, todo o sentido trabalhar esta dimensão dos cuidados emocionais e psicológicos e, desta forma, contribuir para a melhoria das práticas parentais já existentes e, em alguns casos, quebrar possíveis ciclos de cuidados (co)parentais coercivos ou inadequados, potencializando uma vivência da (co)parentalidade mais saudável e satisfatória, quer para pais quer para as crianças.

OBJECTIVOS

Objectivos distais

Adoptando uma perspectiva cognitivo-desenvolvimental, o PApi tem por objectivo distal a promoção do desenvolvimento de três grandes áreas, junto dos pais divorciados: a coparenta-lidade positiva e cooperante, um projecto de binuclearidade familiar e as trajectórias individuais de cada pai – promoção do “Eu, como pessoa”.

O programa destina-se a pais cuja relação com o ex-cônjuge não permite ou permite com dificuldade uma aliança parental cooperativa. Foi desenhado a pensar em auxiliar pais com histórias passadas e presentes de conflito interparental, não olhando à sua intensidade, modelação, tipo, processo ou causas. A finalidade é, então, contribuir para uma mudança psicológica que evite ou, pelo menos, atenue a frequência, duração e intensidade de métodos e processos coparentais desajustados e incompatíveis com o desenvolvimento adaptado de todos os elementos da família.

Objectivos proximais

1) Dar oportunidade aos pais de partilhar com outros pais que experienciam o divórcio, os seus atritos conjugais e interparentais, bem como as suas dificuldades no exercício da coparentalidade.

Compilando as ideias base da investigação empírica, é facilmente perceptível que, para que os objectivos distais sejam alcançados, isto é para que os pais sejam capazes de promover uma aliança coparental coesa, é vital fornecer ferramentas e oportunidades de reflexão sobre as práticas coparentais presentes. Justifica-se assim este primeiro objectivo proximal.

É também dado adquirido que a possibilidade de privar com outros com histórias de vida similares contribui para a diminuição do sentimento de isolamento experiencial (Dygard et al., 2001). A constatação que não se é o único a passar por certas adversidades promove uma postura mais positiva e optimista. Por outro lado, uma atmosfera de segurança, confidencialidade e pertença, encoraja os pais a partilhar sentimentos, condutas e crenças sobre o seu divórcio, as suas relações interparentais, as potencialidades e dificuldades na adaptação ao divórcio e as suas visões acerca da (co)parentalidade.

O grupo terapêutico pode funcionar como uma base segura enquanto os participantes estão a proceder à reorganização das suas vinculações emocionais (Lamela & Figueiredo, em preparação; Todorski, 1995). A exploração dos processos de vinculação em setting psicoterapêutico é excelentemente descrita por Byng-Hall (1991): “After a shift in the pattern of relationships no one should feel left out, or end up withless, or no, access to an attachment figure. If that happens he or she may escalate attachment behavior and pull the whole system back to the status quo. Therapeutic moves that are successful in altering the whole pattern of relationships are often those that make sure that everyone... benefits from the changes” (p. 202).

2) Gerir as emoções envolvidas na desvinculação ao ex-cônjuge

O processo de divórcio obriga os pais a adaptar-se a um conjunto de alterações nas suas rotinas emocionais e comportamentais (Amato & Keith, 1991). A dissolução conjugal não é apenas um processo legal, uma vez que obriga a uma desvinculação afectiva ao ex-cônjuge, para uma evolução pessoal mais positiva. Este processo de desvinculação emocional, é na maior parte das vezes, temperado por sentimentos de raiva, frustração e impotência (Ceglian & Gardner, 1999). Um dos objectivos do programa é levar os pais a reflectir sobre como esses sentimentos, por um lado, têm impacto na sua vida íntima e pessoal e, por outro, distorcem a imagem parental que construíram do ex-cônjuge. Reflexões sobre o processo de desvinculação à ex-relação, no sentido de resolver as emoções envolvidas, são, por conseguinte, empreendidas no PApi.

3) Ajudar os pais na gestão do conflito interparental

O segundo passo na construção de uma aliança coparental é o compromisso de evitar conflitos e disputas entre os ex-cônjuges. Todavia, romper com padrões de interacção disfuncionais que se instalaram na forma como os pais vivem a sua relação, pode ser um exercício de acentuada dificuldade (Macie, 2002). Para ajudar a diluir o conflito interparental, seja qual for a sua intensidade ou tonalidade, é necessário, num primeiro momento, levar os pais a perceber o impacto do conflito no desenvolvimento dos filhos e dos próprios e, num segundo momento, dotá-los de estratégias eficazes e de fácil aplicação para curto-circuitar o início e a escalada do conflito.

4) Envolver os pais num projecto de binuclearidade familiar

Macie (2002) observou que jovens adultos cujos pais divorciados apostaram num projecto de binuclearidade familiar apresentavam menos problemas de adaptação psicológica do que jovens adultos cujos pais divorciados desenvolveram uma coparentalidade paralela, com pouca intencionalidade na construção em comum de um projecto de educação para os filhos. Criar dois núcleos familiares pode ser tarefa difícil, pois os pais têm de encontrar um equilíbrio apurado entre a privacidade individual e o acordo de regras básicas na educação e interacção com os filhos. Um dos objectivos proximais do PApi é, por consequência, proporcionar aos pais estratégias para criar dois lares, estabelecer regras para os filhos comuns ao núcleo materno e paterno, sem contudo pôr em causa a privacidade e o novo estilo de vida do ex-cônjuge. A literatura mostra que uma das formas mais eficazes de auxiliar os pais a iniciarem um compromisso para a binuclearidade é através da criação de um plano parental, onde estão estipulados as regras essenciais que devem ser implementadas por ambos os pais (Whiteside, 1998).

O PApi convida os participantes no programa a criar, ajustar e gerir um plano parental. Este plano parental, para ser efectivo e eficaz, deve abranger e regulamentar seis domínios comuns à parentalidade: a alimentação, rotinas de sono, higiene, trabalhos de casa e expectativas similares sobre a disciplina e regulação comportamental dos filhos (Covell, 1999; Tompkins, 1995; Trombetta, 1989). Esta actividade, desenvolvida em role-playing, é um excelente ensaio dos ajustamentos coparentais que os participantes deverão estar capazes de realizar no futuro.

5) Reflectir e aprofundar as trajectórias individuais de cada pai – promoção do “Eu, como pessoa”

Um dos objectivos do PApi é ajudar os participantes a reflectir sobre as suas opções de futuro (Sweeper, 2004). Aprofundar a reflexão acerca das trajectórias individuais permite que os pais definam novos objectivos para si enquanto pessoa e enquanto pais.

6) Criar uma nova rede social de suporte

Richmond e Christensen (2001) sustentam que a criação e a recuperação de redes sociais são um excelente indicador da qualidade do ajustamento ao divórcio. Por consequência, o PApi pretende contribuir para o surgimento de novas teias relacionais e sociais, bem como para o fortalecimento das existentes.

DESCRIÇÃO-SÍNTESE DAS SESSÕES

De seguida, propomos um breve sumário das sessões do PApi, baseado no manual do dinamizador de grupo (Lamela, Gonçalves, Castro & Figueiredo, 2007a), que apresenta a fundamentação teórica e descreve em pormenor a planificação, objectivos, actividades e tempo proposto para cada uma das sessões. No manual poderá ainda encontrar algumas recomendações e precauções na aplicação das sessões. No final do manual, estão prototificadas as fichas informativas que, em qualquer caso, devem ser ajustadas ao grupo presente. Será relevante referir que todas as sessões se iniciam com uma actividade de ambientação à sessão, denominada de “quebra-gelo”.

SESSÃO 1: APRESENTAÇÃO E REPRESENTAÇÃO

Objectivos

A primeira sessão é destinada à apresentação do programa. O objectivo é também começar a criar um ambiente de grupo, propenso à partilha e cooperação. Nesta sessão, os participantes são ainda inquiridas a respeito de dimensões de importância para avaliar os possíveis efeitos da intervenção em grupo.

Materiais

Bateria de instrumentos de avaliação pré-intervenção; Materiais para actividades de quebra-gelo; Ficha informacional sobre as orientações do programa e conteúdos que serão explorados.

Actividades

É feita a apresentação do grupo e dos dinamizadores. Cada participante preenche individualmente os instrumentos necessários à avaliação da eficácia do programa. Introduzem-se os objectivos, temas e tarefas que serão propostos durante a sessão. Segue-se a exposição e discussão (perguntas-respostas) dos conceitos-chave (Coparentalidade, Binuclearidade e Trajectórias) e da filosofia de intervenção em grupo PApi. O grupo é depois convidado a formar regras para o seu funcionamento.

SESSÃO 2: UM ACORDO PARA O CUIDADO: MISSÃO (IM)POSSÍVEL?

(PARTE I – OS COMPORTAMENTOS)

Objectivos

A finalidade desta sessão é conduzir os participantes a reconhecer pistas e sinais de raiva, hostilidade e conflito interparental na relação com o ex-cônjuge. Os pais são conduzidos a discutir sobre as razões que os levam a entrar em conflito com o ex-cônjuge. É também relevante propor que reflictam acerca de como a hostilidade e o conflito interparental tem impacto no desenvolvimento dos seus filhos. Discutir e reflectir acerca das estratégias que costumam ser utilizadas no controlo do conflito é um propósito principal desta sessão.

Materiais

Material para actividade quebra-gelo inicial; Q-Sort para o Conflito Interparental (Lamela et al., 2007a); Folhas para as Soluções do conflito interparental; Ficha informacional sobre o tema da sessão.

Actividades

Depois da actividade quebra-gelo inicial, o tema da sessão é introduzido, com uma breve definição de conflito interparental e de possíveis estratégias para o resolver. De seguida, é pedido aos participantes que escrevam as perguntas que gostariam ver respondidas sobre o tema da sessão, em 3 a 5 pequenos cartões em branco que lhe são entregues para o efeito (as perguntas são respondidas na sessão seguinte). Os pais são posteriormente conduzidos a discutir e reflectir acerca das situações de conflito interparental e das estratégias que costumam utilizar no controlo do conflito.

SESSÃO 3: UM ACORDO PARA O CUIDADO:MISSÃO (IM)POSSÍVEL?

(PARTE II – AS EMOÇÕES)

Objectivos

Responder às perguntas postas pelos pais na sessão anterior, oferecendo um referencial psico-educacional para o conflito interparental (temas, tipologias, causas e consequências para os pais e crianças), é um primeiro objectivo da sessão. Depois de terem sido trabalhadas as componentes comportamental e cognitiva-emocional envolvidas nos processos de conflito, o propósito é reflectir com os participantes acerca do impacto desse conflito nos diversos membros da família. Um segundo objectivo da sessão é pois considerar as consequências emocionais do conflito nos pais e em especial nas crianças.

Materiais

Fichas informativas sobre a definição do conflito, as consequências da exposição ao conflito e orientações de como identificar pistas indicadoras de conflito; Papel de Carta para todos os participantes; Ficha informatiza sobre o tema da sessão.

Actividades

A primeira actividade é dar resposta às perguntas e dúvidas que os pais levantaram na sessão anterior. A exposição teórica, que deverá ser interactiva e a mais sucinta possível, versando o conflito parental e as suas consequências, resume e dá consistência científica a todas as reflexões e actividades desenvolvidas. Num segundo momento, é lido um excerto de um diário de uma jovem mulher que relata a sua experiência como filha de pais divorciados. O excerto é um excelente mote para introduzir as mudanças emocionais que o divórcio e o conflito litigante e disruptivo dos pais podem transportar para os filhos. Depois de uma breve discussão, os participantes são convidados, na sua qualidade de pais separados, a responder por carta aos sentimentos, medos e esperanças descritas no excerto apresentado.

SESSÃO 4: ADEUS, ATÉ SEMPRE! UM MAPA PRECISA-SE: FAZENDO OPÇÕES...

Objectivos

A finalidade da sessão é proporcionar um espaço de partilha experiencial condicional, no qual os participantes têm oportunidade de compartilhar dúvidas, mágoas, ressentimentos e emoções sobre o divórcio e o período de adaptação que se sucedeu. Desta forma, o programa dá espaço aos pais para discutir as várias facetas do divórcio, reflectindo se já fizeram o divórcio emocional do casamento.

Materiais

Material para actividade de acolhimento inicial; Ficha informativa sobre o tema da sessão.

Actividades

A sessão é essencialmente destinada ao debate e à discussão. É proposto aos participantes que, num primeiro momento, partilhem a sua visão sobre o divórcio e o modo como alterou, positiva e negativamente, as suas vidas. Num segundo momento, o debate é orientado para os pais reflectirem sobre a seguinte questão: “Será que estou divorciado/a do meu casamento?”

SESSÃO 5: TRABALHANDO OS VÍNCULOS

Objectivos

É proposto auxiliar os participantes a iniciar um equilíbrio da vinculação depois do divórcio (Lamela et al., em preparação; Todorski, 1995), através da reflexão de expressões menos adaptativas de comportamentos de vinculação que podem interferir com a resolução do divórcio, causando dificuldades na futura co-parentilidade e no funcionamento familiar.

Materiais

Cartões do Q-set Comportamentos de care-seeking antes e após o divórcio (Lamela et al., 2007a); Cópias da actividade Tricotando as minhas redes sociais (Lamela et al., 2007a); Ficha informativa sobre o tema da sessão.

Actividades

Com a finalidade de sensibilizar os participantes para a ideia de que a adaptação ao divórcio está associada ao redireccionar da procura de cuidados emocionais e instrumentais (diminuindo o relevo do ex-cônjuge como figura de vinculação e prestador preferencial de cuidados), a sessão inicia-se com uma breve exposição interactiva seguida de debate sobre o tema relações conjugais enquanto relações de vinculação. Posteriormente, é proposto aos participantes, através dos cartões do Q-set, que mencionem quais eram os cuidados providenciados pelo ex-cônjuge antes do casamento e como é que os participantes satisfazem ou pensam satisfazer esses cuidados após o divórcio, uma vez que a disponibilidade do ex-cônjuge não existe ou está mais limitada. Por fim, os pais são convidados a reflectirem individualmente sobre o número de elementos da sua rede social, bem como sobre a frequência, intensidade, finalidade e grau de satisfação desses contactos sociais.

SESSÃO 6: GERINDO EMOÇÕES...

Objectivos

Os participantes exploram as emoções negativas, como a raiva e ressentimento; a finalidade é reflectir sobre a adaptabilidade destas emoções. Um outro objectivo da sessão é colocar os pais a reconhecer e compreender os seus pensamentos distorcidos sobre o outro pai, reflectindo sobre como a dissolução emocional do casamento pode influenciar a relação coparental e os processos de identidade individual (Willén & Montgomery, 2006).

Materiais

Papéis e lápis de cor; Cópias dos enunciados das actividades da sessão; Ficha informacional sobre o tema da sessão.

Actividades

A primeira actividade convida os pais a racionalizar as perdas e os ganhos do divórcio. De seguida, é apresentada a Árvore do Futuro. Esta actividade foi baseada no modelo em árvore para as trajectórias desenvolvimentais, teorizado por Sroufe (1997). A reflexão pessoal centra-se nas perguntas: “Eu daqui a 5 anos, como quero ser? O que é preciso para atingi-lo? e “Daqui a 5 anos, que tipo de relação terei com o meu ex-cônjuge?” O que é preciso para atingi-lo? Estas actividades deverão permitir descentrar os participantes do presente e das características das relações no presente e centrá-los no que poderá e deverá ser melhor no futuro, orientando-os para a busca de soluções e alternativas que possibilitarão o alcance dos objectivos.

SESSÃO 7: OPERAÇÃO STOP AO CONFLITO

Objectivos

É apresentado aos participantes o ciclo de conflito. São mostradas formas de evitar ou resolver o conflito. Os participantes são convidados a desenvolver competências efectivas de comunicação e de escuta e a discutir as vantagens de uma verdadeira comunicação entre pais na educação dos filhos.

Materiais

Papel e cópias do enunciado da actividade inicial de acolhimento; Ficha informacional sobre o tema da sessão.

Actividades

A sessão inicia-se com a exposição interactiva das técnicas de gestão e controlo do conflito interparental. Desenvolve-se em volta de um role play em pequeno grupo, em que os pais são convidados a simular uma conversa em que um dos intervenientes está motivado e empenhado em provocar uma discussão e o outro terá que utilizar as técnicas que foram apresentadas. De seguida, os papéis invertem-se. Escutar a opinião dos participantes após esta actividade traz grandes benefícios no aperfeiçoamento das técnicas de gestão e controlo do conflito interparental.

SESSÃO 8: OPERACIONALIZANDO O STOP AO CONFLITO

Objectivos

A principal finalidade desta sessão é dar continuidade prática à sessão anterior, através da validação e do empowerment das estratégias já utilizadas pelos pais para o controlo e evitamento da hostilidade e conflito interparental. O segundo objectivo é apresentar e treinar algumas estratégias eficazes na gestão do conflito na díade parental.

Materiais

Cartões do Q-set Estratégias activas de gestão do conflito e promotoras de soluções positivas de comunicação parental; Ficha informacional sobre o tema da sessão.

Actividades

Os participantes são convidados a debater as estratégias que foram trabalhadas na sessão anterior. A finalidade é colocar os pais a reflectir sobre a viabilidade e eficácia de tais estratégias. De seguida, são apresentados 20 cartões, em cada um dos cartões figura uma possível estratégia de gestão do conflito. Em pequenos grupos, os pais são conduzidos a debater sobre a fiabilidade e eficácia das estratégias propostas. Por fim, os participantes são desafiados, através de um role-play, a pôr em prática supervisionada as estratégias que consideraram como mais válidas e promotoras de uma relação parental positiva.

SESSÃO 9: PALAVRA-CHAVE: NEGOCIAR E NEGOCIAR E NEGOCIAR A BEM DOS NOSSOS FILHOS

Objectivos

O objectivo primordial desta sessão é levar os pais a compreender os benefícios, tanto para eles próprios como para os filhos, da aliança e das estratégias de negociação de conflitos coparentais. Técnicas de resolução de problemas e competências de gestão da relação são debatidas e apresentadas aos elementos do grupo.

Materiais

Materiais para a actividade quebra-gelo inicial; Ficha informacional sobre técnicas de negociação interparental; Ficha informacional sobre o tema da sessão.

Actividades

Os participantes são convidados a debater os benefícios para todos os membros da família, em especial para os filhos, da utilização da negociação entre os pais. De seguida, e após ter sido apresentado o conceito, as estratégias de construção e implementação de um plano parental, é proposto a cada pai que construa um plano parental ajustado às necessidades da própria família.

SESSÃO 10: SERMOS PAIS EM CONJUNTO – UMA EQUAÇÃO PARA TODA A VIDA

Objectivos

O objectivo primordial é debater com os pais as consequências que a participação no PApi teve na sua parentalidade e relação coparental. Escutar os participantes sobre a condução do programa é importante.

Materiais

Cópias dos instrumentos utilizados na avaliação do programa.

Actividades

A actividade principal desta sessão a materializar os passos que os pais poderão dar para melhorar a sua relação coparental com o ex-cônjuge. O debate final é destinado à compreensão das opiniões dos participantes quanto ao programa em si. Posteriormente, procede-se à reaplicação dos instrumentos de avaliação já administrados no início do programa.

 

QUADRO 1

 

CONCLUSÃO

Pais por Inteiro é um programa de intervenção que foi concebido e desenvolvido no Serviço de Consulta Psicológica e Desenvolvimento Humano da Universidade do Minho. Actualmente, está a decorrer a sua validação no âmbito do Projecto de Estudo Longitudinal dos Processos e Trajectórias de Adaptação Familiar ao Divórcio.

O programa PApi prevê três momentos de avaliação da eficácia psicoterapêutica: um momento de pré-intervenção, um momento pós-intervenção e um momento follow-up, 12 meses após a sua finalização. O processo de validação contará com a participação de 100 díades parentais no grupo experimental – ou seja, 200 participantes, divididos em grupos de 10 elementos – e 100 díades parentais no grupo de controlo, sendo que estes participantes não serão integrados em nenhuma modalidade de intervenção psicoterapêutica.

A eficácia do PApi será avaliada através da comparação dos resultados dos pais (participantes versus em lista de espera): (1) Questionário de Levantamento Sócio-Demográfico (QLSD, Lamela, Pereira, Castro, Gonçalves, & Figueiredo, 2007) para reunir informação sobre os domínios da vida dos participantes que têm relevo para a validação; (2) Questionário das Razões do Divórcio (QRaD, Lamela, Pereira, Castro, Gonçalves, & Figueiredo, 2008); (3) Brief Sympton Inventory (BSI, Derogatis & Melisaratos, 1983; versão portuguesa Canavarro, 1999) para medir os índices de psicopatologia geral; (4) Divorce Adjustment Inventory – Revised (DAI-R; Portes, Smith, & Brown, 2000; versão portuguesa em validação por Gonçalves, Lamela, Castro & Figueiredo, 2006) para avaliar o ajustamento ao divórcio dos participantes; (5) Revised Conflict Tactics Scales (CTS2, Straus, Hamby, Boney-McCoy, & Sugarman, 1996; versão portuguesa de Paiva & Figueiredo, 2006) para medir as técnicas de resolução, gestão e negociação de conflitos; (6) Parenting Alliance Measure (PAM, Abidin & Konold, 1999; versão portuguesa em validação por Lamela, Gonçalves, Castro, & Figueiredo, 2006).

Dessa feita, Pais por Inteiro é um contributo para a intervenção em grupo com pais divorciados em Portugal. Na avaliação-piloto da aplicação da primeira versão do programa, melhorias significativas foram registadas, no ajustamento ao divórcio e na aliança coparental nos pais participantes, em comparação o grupo de controlo (Lamela, Gonçalves, Castro, & Figueiredo, 2007b). Estes resultados preliminares dão conta que o PApi – Pais por Inteiro é um programa que promove o ajustamento ao divórcio dos pais, sublinhando a coparentalidade, a binuclearidade e as trajectórias individuais como nuclear à adaptação a esta nova configuração familiar.

 

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(*) Escola de Psicologia, Universidade do Minho, Braga.

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