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Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.27 n.2 Lisboa jun. 2009

 

Congruência de humor em memórias autobiográficas de infância de indivíduos com depressão

 

João Garcez Autélio (*)

Victor Cláudio (**)

 

RESUMO

O presente trabalho consiste de um estudo experimental confirmatório realizado com o objectivo de avaliar se existem efeitos de congruência de humor na evocação de memórias autobiográficas de infância, por parte dos sujeitos deprimidos. Procurámos igualmente comparar, a partir dos dados obtidos, indivíduos com diagnóstico de depressão e indivíduos sem história recente ou passada de alterações psicopatológicas, no que concerne os tempos de latência associados à evocação mnésica e o tipo de memórias preferencialmente evocadas. Para este efeito, recorremos a uma amostra constituída por um total de 30 indivíduos (n=15 indivíduos com diagnóstico de depressão e n=15 indivíduos sem história recente ou passada de alterações psicopatológicas), aos quais foi aplicada uma bateria de escalas clínicas e uma Tarefa de Memória Autobiográfica. Os resultados obtidos sugerem a inexistência de um efeito de congruência de humor nas memórias autobiográficas de infância, que pode ser devida a uma maior recapitulação destas ao longo da vida dos indivíduos, por comparação a memórias mais recentes, apesar de muitas dúvidas persistirem a este respeito. Constatou-se igualmente que os indivíduos deprimidos evidenciaram maiores dificuldades em evocar memórias específicas, sem que existissem diferenças significativas entre ambos os grupos de sujeitos quanto ao tipo de memórias preferencialmente evocadas.

Palavras chave: Depressão, Efeito de congruência do humor, Emoção, Infância, Memórias autobiográficas.

 

ABSTRACT

This is a confirmatory experimental study performed with the objective of evaluating whether there are mood congruency effects in depressed subject’s recall of childhood autobiographical memories. In this study we also sought to compare depressed subjects and subjects without a recent or past history of psychological disturbances, concerning the latency times exhibited when recalling these memories and the type of memories recalled. To achieve these objectives, we used a sample of 30 individuals (15 with a diagnostic of depression and 15 without recent or past history of psychological disturbances), to whom we applied a set of clinical scales and an Autobiographical Memory Task. The results suggest the nonexistence of a mood congruency effect in depressed subjects childhood autobiographical memories, that can be due to the fact that these memories have been more frequently remembered throughout the life span, when compared to their recent memories. However, several questions remain regarding this issue. We also realized that the depressed subjects showed more difficulties remembering specific memories, without there being significant differences between both groups of subjects, in what concerns the type of memory preferentially recalled.

Key words: Autobiographical memories, Childhood, Depression, Emotion, Mood congruency effect.

 

INTRODUÇÃO

A relação entre depressão e memórias autobiográficas tem sido alvo de vários estudos, cujo objectivo tem sido analisar os vários factores envolvidos sem descurar a complexidade de ambas as temáticas.

Ao abordar a temática da memória importa ter em conta que sem esta não existiria um self, na medida em que o sujeito não se reconheceria a si mesmo. Todo o espectro da experiência seria “virgem”, envolvendo o indivíduo num ciclo interminável, onde uma aprendizagem sem fim seria igualmente uma aprendizagem sem proveito.

Todo o acto de recordar envolve três processos distintos: A codificação da informação aquando da sua aquisição, o seu armazenamento e, por fim, a sua recuperação (evocação), que pode ocorrer por intermédio da recordação ou do reconhecimento (Gleitman, 1990). O grau de elaboração com que a informação é codificada é fulcral para a formação das memórias a longo prazo, na medida em que a profundidade do processamento da informação – o facto de ser ou não processada tendo em conta o seu significado – influencia, em grande medida, as probabilidades desta vir ou não a ser evocada. Por outro lado, a forma como a informação é armazenada e organizada também é importante para a sua memorização e subsequente recordação. Por fim, no que concerne o processo de recuperação da informação, há que ter em conta o próprio nível de activação de uma memória, que é definido pelo quão recente esta é e pela frequência com que a mesma é evocada (Anderson, 2000).

A memória autobiográfica, cerne do trabalho em questão, é altamente organizada e tende a preservar o essencial da generalidade dos eventos ou séries de eventos, mas raramente os detalhes (Mathews, 2006; Reisberg & Heuer, 2004). É relativa a toda uma vida, pelo que as memórias de eventos que a constituem podem ser distorcidas e reconstruídas ao longo de um largo período de tempo.

Existem várias teorias relativas à estrutura e funcionamento das memórias autobiográficas, sendo que praticamente todas elas abordam um aspecto fundamental – a emoção. Um dos mais importantes autores na investigação da importância da emoção nas memórias autobiográficas foi Rubin (1986), que referiu que o facto do afecto estar intimamente relacionado com as memórias autobiográficas leva a que estas assumam um papel de destaque ao nível da organização do self, e a que o afecto assuma igual destaque nos processos de estruturação, codificação e evocação das memórias autobiográficas. Desde este estudo, vários autores têm referido a importância das emoções nas memórias autobiográficas (Christianson & Engelberg, 2006; Levine & Pizarro, 2006; Uttl & Graf, 2006).

É um facto aceite que nem todas as memórias autobiográficas se encontram igualmente disponíveis. Quando procuramos recordar um qualquer acontecimento do passado, há períodos que parecem mais obscuros e relativamente aos quais há uma maior dificuldade em recordar o que quer que seja (Wang, 2006). Verifica-se que há uma maior evocação de memórias de acontecimentos recentes, sendo que à medida que estas estão mais distantes no tempo é mais difícil evocá-las.

Memórias autobiográficas de infância

Existem várias questões por resolver no que concerne as memorias autobiográficas de infância. Uma delas prende-se com o conhecimento acerca de qual o período da vida do sujeito em que se forma um sistema autobiográfico capaz de reter memórias por um período indefinido de tempo. Ao passo que alguns constatam que a memória infantil mais precoce de que um adulto se recorda é relativa aos 3 anos e meio de idade (Pillemer, 1998), outros indicam que os sujeitos adultos são capazes de recordar memórias relativas ao seu primeiro ano de vida (Rubin, 2000). No entanto, independentemente da idade a que corresponde a primeira memória dos sujeitos, é inegável a existência de uma amnésia infantil, que leva a que a quantidade de memórias evocadas até aos primeiros 3 anos de vida seja muito inferior à de anos subsequentes (Peterson, Grant, & Boland, 2005).

Várias teorias têm sido avançadas com o intuito de explicar este fenómeno. Presentemente há duas teorias explicativas da amnésia infantil que se perfilam como aquelas que menos lacunas apresentam. Uma caracteriza-se pela adopção de uma perspectiva mais desenvolvimental, que considera que os adultos não se recordam de memórias muito precoces na medida em que, aquando da ocorrência dessas memórias, determinadas capacidades cognitivas não estão suficientemente desenvolvidas para permitir uma compreensão dos eventos através de uma narrativa de vida esquemática que possibilite a sua inter-relação (Usher & Neisser, 1993). A outra, privilegia um modelo de interacção social, postulando que, a memória autobiográfica surge após a emergência da linguagem, que é utilizada pelos adultos para modelar a criança e ensinar-lhe o que é a memória autobiográfica e para que serve (Penélope, 1999).

A importância do estudo das memórias autobiográficas infantis não se restringe à compreensão do fenómeno da amnésia infantil, traduzse também em outras áreas de grande interesse, como a prática clínica. Alguns autores (Arntz & Weertman, 1999; Last, 1997) têm defendido a importância de uma melhor compreensão das memórias infantis enquanto meio fundamental para o restabelecimento dos padrões de saúde mental normativos dos sujeitos. Segundo Arntz e Weertman (1999), as memórias infantis ao serem reinterpretadas podem levar à modificação de esquemas nucleares no sujeito, sendo que o fundamental não é o carácter verídico das memórias – que na maioria das vezes é confirmado (Nelson, 1993) – mas sim a representação mnésica que a criança tem do que ocorreu, a ressonância emocional e cognitiva resultante da experiência percepcionada (Arntz & Weertman, 1999).

Memórias autobiográficas e depressão

As memórias autobiográficas são de grande importância para a depressão pelas mais variadas razões. Segundo Kuyken e Dalgleish (1995), nos sujeitos deprimidos existe um enviesamento negativo das memórias autobiográficas que é fundamental para a génese da depressão e sua manutenção, na medida em que reforça o ciclo depressivo. A depressão está assim associada a um enviesamento da memória, em que a quantidade de memórias de situações negativas é superior à de situações positivas (Brewin, Reynolds, & Tata, 1999; Williams, Watts, Macleod, & Mathews, 2000).

Um importante exemplo da relação entre memórias autobiográficas e depressão é o efeito de congruência do humor, que segundo Clark, Beck, e Alford (1999) se deve ao facto de, nos sujeitos deprimidos, existir uma maior acessibilidade relativamente aos esquemas negativos auto-referentes relacionados com o modo de perda, o que leva a que haja a evocação de informação preferencialmente negativa. O efeito de congruência de humor seria tão mais forte quanto maior a severidade da depressão, perspectiva esta corroborada por Claudio (2004), que defende que este efeito se relaciona com o estado e não com o traço depressão.

A maior acessibilidade a esquemas negativos auto-referentes por parte de sujeitos deprimidos foi designada por Clark, Beck, e Alford (1999) como a hipótese de activação esquemática, e reúne grande parte do seu suporte científico através das memórias autobiográficas (Clark et al., 1999). Claudio (2004), partindo desta hipótese de activação esquemática, considera que o self, nos sujeitos deprimidos, não assume o papel regulador que deveria assumir ao nível do processamento e evocação de informação.

Várias explicações têm sido avançadas ao longo do tempo para tentar explicar este viés na memória dos sujeitos deprimidos. Moore, Watts, e Williams (1988) e consideravam que a dificuldade em aceder a memórias positivas por parte dos sujeitos deprimidos poderia estar relacionada com um uso inapropriado de estratégias de evocação da memória, em que quando os sujeitos deprimidos procurassem aceder a recordações mais específicas do seu passado, as suas cognições ver-se-iam dominadas não pelos episódios específicos pretendidos, mas sim por representações abstractas passadas. Estas representações abstractas, se fossem negativas, facilmente seriam reforçadas em termos do seu realismo para o próprio, devido à facilidade de evocação de acontecimentos negativos específicos que as consubstanciassem, ao passo que se fossem positivas, pareceriam irreais e incaracterísticas do próprio, por ser difícil corroborá-las com episódios positivos específicos. Constatava-se assim que, nos sujeitos deprimidos, ocorria uma falha ao nível da evocação de memórias autobiográficas específicas, o que levava a que o processo de evocação não se desenvolvesse de forma adequada – primeiro deveria haver um acesso a uma descrição geral da memória (contexto) e depois, a partir desta, passar-se-ia para uma memória particular (Williams, Barnhofer, Crane, Hermans, Raes, Watkins, & Dalgleish, 2007).

Para que melhor se compreenda esta dificuldade de evocação de memórias específicas é importante primeiro compreender os dois tipos de memórias gerais relevantes para esta questão, nomeadamente: As memórias categóricas, que dizem respeito a uma série de repetições de um evento, tratando-se de uma descrição de nível intermédio na qual há uma menor discriminação do material mnésico; e as memórias alargadas, que se referem a um acontecimento que tenha durado mais de um dia, com um princípio e um fim definidos, correspondendo a uma procura mais diferenciada do material mnésico (Goddard, Dritschel, & Burton, 1996). Os sujeitos deprimidos evocariam predominantemente memórias categóricas (Williams et al., 2007).

Williams (1992; Williams et al., 2007) considera que esta generalização na evocação de memórias autobiográficas resulta de falhas nos processos de codificação e evocação da informação. Segundo este, ao nível da codificação, os sujeitos com perturbações emocionais, como é o caso dos sujeitos deprimidos, tendem a focar-se nos aspectos afectivos das situações e subsequentemente codificam preferencialmente estes aspectos das experiências. Como a codificação ao nível dos afectos é a mais geral possível, na medida em que avalia os comportamentos através de uma comparação a longo prazo, possibilitando a integração de episódios específicos num conjunto geral de episódios semelhantes a nível afectivo, após um determinado período de tempo, os sujeitos acabam por desenvolver um funcionamento mnésico que privilegia informação geral e relevante para o self, subvalorizando e enviesando a procura mnésica de episódios específicos. Esta forma de codificação da informação pode assim levar a que o sujeito deprimido tenha grandes dificuldades na evocação de episódios específicos, dificuldades essas que se tornariam maiores caso não existissem “pistas” contextuais, positivas ou negativas, que ajudassem os sujeitos deprimidos a recordar esses episódios (Williams, 1992).

Esta grande importância atribuída aos processos de codificação na manutenção do fenómeno de generalização das memórias autobiográficas foi corroborada por Claudio (2004), que considera que estes processos assumem uma grande quota parte na manutenção deste fenómeno de generalização das memórias e subsequentemente da depressão. No entanto, segundo o próprio Williams (1992; Williams et al., 2007), as falhas ao nível dos processos de evocação e codificação, não serão as únicas responsáveis pelo fenómeno de generalização das memórias. Outra das situações que poderia ser responsável por este fenómeno seria a existência, nos sujeitos deprimidos, de um foco ruminante sobre o self. Este foco ruminante mais não seria do que um enfoque crónico por parte do sujeito no seu self, numa tendência neurótica para deambular passivamente sobre os seus aspectos indesejáveis, e seria responsável por uma redução da capacidade da memória de trabalho e por encorajar a que os eventos fossem codificados em descrições demasiado inclusivas, negativas e referentes ao próprio, formando-se assim um laço mnemónico (mnemonic interlock) que levava a que os sujeitos deprimidos evocassem sobretudo memórias gerais (Williams et al., 2007).

Curiosamente, constatou-se que não seria só o “foco ruminante” sobre o self que encorajaria à produção de memórias gerais e congruentes com o humor, também a própria evocação de memórias gerais encorajaria o “foco ruminante” sobre o self (Kleim & Ehlers, 2008).

MÉTODO

O presente estudo é um estudo experimental confirmatório, constituído por uma amostra total de 30 sujeitos, divididos por dois grupos: Um grupo constituído por 15 sujeitos com diagnóstico de depressão, elaborado por um psiquiatra tendo em conta os critérios de diagnóstico do DSM-IV, que foram contactados por intermédio da Consulta de Psicologia do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, S.A. Barreiro (um sujeito foi contactado através de uma consulta particular de Psicoterapia); Um grupo constituído por 15 sujeitos, no qual o principal critério de inclusão foi o da inexistência de qualquer história recente ou passada de alteração psicopatológicas, tendo estes sido contactados através do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, S.A. Barreiro e do Centro de Saúde do Vale da Amoreira.

Para a integração dos sujeitos no estudo era igualmente necessário que estes soubessem ler e escrever, e não possuíssem alterações marcadas da acuidade visual. Procurou-se que aquando recolha da amostra, os sujeitos de ambos os grupos estivessem emparelhados entre si, no que diz respeito à sua idade, género e grau de escolaridade. Como tal, após um processo de amostragem não aleatória por conveniência, relativo ao grupo de sujeitos com diagnóstico de depressão, procedeu-se a um processo de amostragem emparelhada e objectiva para o grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica.

Instrumentos

Para a realização do presente estudo foi necessária a aplicação dos seguintes instrumentos, de acordo com a seguinte ordem: Tarefa de Memória Autobiográfica, elaborada por Claudio (2004) e constituída por trinta substantivos, dez com valência positiva, dez com valência negativa e dez com valência neutra, dispostos de modo a que não surjam, de forma consecutiva mais de dois substantivos com uma mesma valência; Inventário da Depressão de Beck (BDI); Inventário de Ansiedade Estado-Traço (Forma Y); Questionário de Esquemas; Escala de Atitudes Disfuncionais (DAS); e Sub-teste Verbal da Escala de Wechsler para Adultos.

Para a realização deste estudo experimental foi necessário seguir um conjunto de trâmites: Numa fase inicial, foi obtida a autorização para a realização do estudo no Departamento de Psicologia do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, S.A. Barreiro. Após esta, a aplicação do protocolo de investigação compreendeu uma ou duas sessões, tendo esta última opção sido privilegiada por força do grande número de horas necessárias para que alguns sujeitos terminassem as tarefas propostas.

Para que as diferenças entre o número de sessões utilizadas para a recolha da amostra não constituíssem uma fonte de enviesamento dos resultados, foi necessário aplicar as tarefas BDI e Ansiedade estado-traço (Forma Y) na mesma sessão em que era aplicada a Tarefa de Memória Autobiográfica, pois era importante que os parâmetros avaliados por estas escalas clínicas pudessem ser atribuídos ao sujeito no momento da execução da Tarefa de Memória Autobiográfica.

Para o registo dos tempos de latência, contabilizámos, através do recurso ao gravador, o tempo que os participantes demoravam a evocar uma memória após terem sido expostos à palavra estímulo. Quando os participantes não forneceram memórias de infância a uma determinada palavra estímulo, não contabilizámos qualquer tempo de latência para essa palavra.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

No que concerne o tratamento estatístico utilizado neste estudo, a avaliação da normalidade da distribuição esteve sempre pendente da realização do teste Kolmogorov-Smirnov com aplicação da correcção de Lilliefors. Quando as variáveis dependentes possuíam uma distribuição normal, utilizámos o Teste de Levene para testar a homogeneidade de variâncias. Sempre que estas provaram ser homogéneas, recorremos à utilização de testes paramétricos, nomeadamente ao teste t de Student para 2 amostras independentes, para comparação dos resultados obtidos nas variáveis dependentes pelo grupo dos sujeitos deprimidos e pelo grupo dos sujeitos sem alteração psicopatológica. Quando um ou os dois grupos em comparação não seguiam uma distribuição normal, ou quando ambos seguiam uma distribuição normal mas não havia uma homogeneidade de variâncias, recorremos a testes não paramétricos, nomeadamente o teste de Mann-Whitney, para a comparação dos resultados obtidos nas diferentes variáveis dependentes pelos dois grupos de sujeitos.

A dada altura do tratamento estatístico, tornou-se necessária a comparação dos resultados obtidos em duas ou mais variáveis por um mesmo grupo de sujeitos. Sempre que as variáveis em comparação apresentaram uma distribuição normal e variâncias homogéneas, utilizámos o teste t de student para as comparar através de comparações duais. Como a grande maioria das categorias não seguiu uma distribuição normal, recorremos ao teste de Mann-Whitney para fazer as comparações supracitadas.

Por uma questão de homogeneidade ao nível dos testes utilizados, preferimos utilizar sempre o teste paramétrico t de student para comparar duas e três variáveis, mesmo sabendo que poderíamos ter utilizado o teste de Tukey para comparar os resultados obtidos em três variáveis por um mesmo grupo de sujeitos.

Para a análise estatística foram consideradas como memórias de infância todas as memórias compreendidas entre os 0 e os 11 anos de idade. As memórias relativas a acontecimentos vividos depois dos 11 anos de idade, não foram contabilizadas.

Relativamente à valência das memórias, foram consideradas como memórias positivas todas as memórias que criaram uma ressonância emocional positiva nos sujeitos, ressonância essa que tinha que estar claramente demonstrada no conteúdo da memória evocada. Quanto às memórias negativas, foram integradas nesta categoria todas as memórias que criaram uma ressonância emocional negativa nos sujeitos, demonstrada através do conteúdo da memória evocada ou através de reacções indicadoras da existência de um sentimento negativo associado à memória (como o choro).

As memórias integradas no período dos 0 aos 11 anos mas que não satisfizeram os critérios necessários para que lhes fosse atribuída uma determinada valência, só não foram utilizadas na análise estatística das categorias que implicavam a existência de uma valência.

Para a classificação das memórias enquanto memórias alargadas, categóricas ou específicas, recorremos aos critérios de Goddard, Dritschel, e Burton (1996), segundo os quais uma memória alargada é aquela que se refere a um acontecimento que dura mais de um dia e que tem um início e um fim definidos, podendo esta ser mais geral (“quando eu era criança”) ou mais específica (“quando fiz aquele curso de artes”). As memórias categóricas seriam aquelas que se referem a uma série de eventos repetidos (“quando jogava ténis aos domingos”), e as memórias específicas aquelas que se referem a acontecimentos que duraram só um dia.

Análise dos resultados obtidos nas escalas clínicas

Conforme é possível constatar através do Quadro 1, existiram diferenças significativas em todas as escalas clínicas ao nível dos resultados obtidos pelos sujeitos deprimidos, por comparação aos sujeitos sem alteração psicopatológica.

QUADRO 1

Médias, Desvio-Padrão e significância da diferença das médias obtidas pelos sujeitos deprimidos e pelos sujeitos sem alteração psicopatológica, no Inventário daDepressão de Beck (BDI), STAI Traço, STAI Estado, DAS e Questionário de Esquemas

Nota: * = Diferença significativa (p<0,05) no teste de Mann-Whitney para as médias obtidas pelos dois grupos da amostra; ** = Diferença significativa (p<0,05) no teste de t de student para as médias obtidas pelos dois grupos da amostra.

 

Análise dos resultados da tarefa de memória autobiográfica

Análise da relação entre o tempo de latência e as palavras estímulo. Para a realização desta análise foram utilizadas as médias dos tempos de latência registados em cada uma das palavras estímulo pelos dois grupos de sujeitos. Foi feita uma divisão das médias dos tempos de latência em médias altas e em médias baixas. Tratando-se este estudo de um estudo experimental confirmatório, decidimos recorrer, aos critérios de Claudio (2004) para a definição do que constituem médias do tempo de latência elevadas e baixas para os diferentes grupos. Assim sendo, para os sujeitos deprimidos, as médias de tempo de latência consideradas elevadas seriam todas aquelas ≥a 6,0 segundos, enquanto que para os sujeitos sem alteração psicopatológica seriam todas aquelas ≥a 4,0 segundos. Já no que diz respeito às médias do tempo de latência consideradas mais baixas, estas seriam, para os sujeitos deprimidos, aquelas que registassem valores ≤a 4,0 segundos, e ≤a 2,0 segundos para os sujeitos sem alteração psicopatológica. Nos sujeitos deprimidos as palavras com tempos de latência mais elevados foram: Tempo, Lealdade e Parede e as palavras com tempos de latência mais baixos foram Solidão, Tristeza, Cadeira, Sinceridade, Honestidade, Inveja,Água, Doença, Caneta, Sapato, Amor, Mesa, Cinismo, Amizade, Janela.

No grupo dos sujeitos sem alteração psico-patológica, as palavras com tempos de latência mais elevados foram: Chão, Incolor, Honestidade, Tempo e Mentira e a única palavra com um tempo de latência considerado baixo (ver Quadro 5) foi a palavra Amizade (DP.=0,76).

Em termos inter-grupais constatou-se que apenas na palavra Lealdade existiu uma diferença significativa (p-value<0,05) entre a média dos tempos de latências fornecidos pelo grupo de sujeitos deprimidos (significativamente superior) e aquela fornecida pelo grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica.

Análise do total de memórias de infância evocadas. No Quadro 2 é possível observar múltiplas comparações entre o grupo de sujeitos deprimidos e o grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica, no que à Tarefa de Memória Autobiográfica diz respeito. Uma dessas comparações envolve a média do total de memórias de infância evocadas por ambos os grupos de sujeitos, e conforme constatamos no Quadro 2, os sujeitos deprimidos apresentaram uma média relativa ao total de memórias de infância evocadas (X=30,67; DP.=20,37) superior à apresentada pelos sujeitos sem alteração psico-patológica (X=22,93; DP.=8,77), não sendo, no entanto, esta diferença significativa (p-value = 0,539>0,05).

Análise das valências das memórias de infância evocadas. Ao nível intra-grupal, conforme se pode observar no Quadro 2, constatou-se que, apesar dos sujeitos deprimidos evocarem mais memórias de infância de valência negativa do que de valência positiva, a diferença não era significativa, pois p-value = 0,17>0,05.

QUADRO 2

Médias, Desvio-Padrão e significância dos factores de análise da tarefa de memória autobiográfica nos sujeitos deprimidos e nos sujeitos sem alteração psicopatológica

Nota: (1) As diferenças entre as médias relativas ao total de memórias de infância de valência positiva e negativa evocados pelos sujeitos deprimidos não são significativas; (2) As diferenças entre as médias relativas ao total de memórias de infância de valência positiva e negativa evocados pelos sujeitos sem alteração psicopatológica (Normais) não são significativas; (3) As diferenças entre as médias relativas ao total de memórias de infância evocadas em palavras de valência positiva, negativa e neutra, não são significativas; (4) As diferenças entre as médias relativas ao total de memórias de infância evocadas em palavras de valência positiva e neutra são significativas, não tendo as restantes médias diferenças significativas entre si; (5) As diferenças entre as médias dos tempos de latência totais dados às palavras de diferentes valências, não são significativas; (6) A diferença entre a média do tempo de latência total dado às palavras positivas e às palavras neutras é significativamente diferente, não tendo as restantes médias diferenças significativas entre si.

 

Quanto aos sujeitos sem alteração psicopatológica, estes também registaram uma média de memórias de infância negativas superior à média de memórias de infância positivas, mas as diferenças não foram significativas, pois p-value = 0,32>0,05.

Ao compararmos, em termos inter-grupais, os resultados obtidos por ambos os grupos, verificamos que o grupo de sujeitos deprimidos, em relação ao grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica, evocou mais memórias de infância positivas (X=7,93; DP.=6,16 por oposição a X=6,07; DP.=3,06) e negativas (X=10,93; DP.=7,20 por oposição a X=8,67; DP.=5,70), mas as diferenças não foram significativas (p-value = 0,74>0,05 para memorias de infância positivas e p-value = 0,35>0,05 para memórias de infância negativas.

Análise das memórias de infância evocadas por agrupamento de palavras em valências. Por forma a realizar esta análise, as palavras estímulo foram agrupadas de acordo com a sua valência – positiva, negativa e neutra. Posteriormente, foi analisada a valência das memórias evocadas em palavras de diferentes valências, e compararam-se os tempos de latência registados por ambos os grupos de sujeitos nas palavras de diferentes valências.

Para o grupo de sujeitos deprimidos, não existiram diferenças significativas entre as médias de evocação de memórias de infância nas palavras positivas e negativas (p-value = 0,68>0,05), entre as médias de evocação de memórias de infância nas palavras positivas e neutras (p-value = 0,65>0,05) e entre as médias de evocação de memórias de infância nas palavras negativas e neutras (p-value=0,90>0,05) – ver Quadro 2.

Já no grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica, constatou-se que existiam diferenças significativas, pois a média de memórias de infância evocadas nas palavras neutras era significativamente superior à média de memórias de infância evocadas nas palavras positivas (t=-2,396, p-value=0,02<0,05). Entre as restantes variáveis, não existiam diferenças significativas.

Através da análise das diferenças, num mesmo grupo, entre as médias dos tempos de latência totais, registadas nas palavras positivas, negativas e neutras, verificou-se que, nos sujeitos deprimidos, não existiam diferenças significativas (pvalue> 0,05) entre as médias dos tempos de latência totais fornecidos às palavras de diferentes valências.

Nos sujeitos sem alteração psicopatológica, verificaram-se diferenças significativas entre a média dos tempos de latência totais fornecidas às palavras positivas e às palavras neutras (p-value = 0,04<0,05), com o tempo de latência registado nas palavras neutras a ser significativamente superior ao registado nas palavras positivas. As médias das restantes variáveis não possuíam diferenças significativas entre si.

No grupo de sujeitos deprimidos, a média dos tempos de latência totais registados face às palavras estímulo positivas (X=25,33; DP.=22,16) foi significativamente superior (p-value = 0,01<0,05) à registada pelos sujeitos sem alteração psicopatológica (X=9,73; DP.=5,19).

Análise dos diferentes tipos de memórias de infância evocadas. Foi realizada uma comparação intra-grupal, para ambos os grupos de sujeitos, relativa às médias do total de memórias alargadas, categóricas e específicas evocadas. O que se constata através do Quadro 3 é que, no grupo de sujeitos deprimidos, existiram diferenças significativas entre as médias de evocação dos três tipos de memórias. Deste modo, a média do total de memórias alargadas evocadas foi significativamente superior à média do total de memórias categóricas evocadas (p-value = 0,02<0,05), que por sua vez foi significativamente superior à média do total de memórias específicas evocadas (p-value = 0,00<0,05). A média do total de memórias alargadas evocadas também foi, neste sentido, significativamente superior à média do total de memórias específicas evocadas (p-value = 0,00<0,05).

No grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica, constatou-se que a média do total de memórias alargadas evocadas foi significativamente superior à média do total de memórias categóricas evocadas (p-value = 0,00<0,05) e que a média do total de memórias alargadas evocadas foi significativamente superior à média do total de memórias específicas evocadas (p-value = 0,00<0,05). Já no que concerne a relação entre a média do total de memórias categóricas evocadas e a média do total de memórias de infância evocadas, ao contrário do que havia ocorrido no grupo de sujeitos deprimidos, as diferenças não foram significativas (p-value = 0,17>0,05).

 

QUADRO 3

Médias, Desvio-Padrão e significância dos factores de análise dos diferentes tipos de memórias de infância evocadas na tarefa de memória autobiográfica pelos sujeitos deprimidos e pelos sujeitos sem alteração psicopatológica

Nota: (1) As diferenças entre as médias do total de memórias de infância alargadas, categóricas e específicas evocadas, são significativas; (2) A diferença entre a média do total de memórias de infância alargadas evocadas e a média do total de memórias de infância categóricas evocadas, são significativas. As diferenças entre a média do total de memórias de infância alargadas evocadas e a média do total de memórias de infância específicas evocadas são significativas; A diferença entre a média do total de memórias de infância categóricas evocadas e a média do total de memórias de infância específicas evocadas não é significativa; Não existem diferenças significativas entre as médias do total de memórias de infância alargadas positivas e negativas evocadas; (4) Não existem diferenças significativas entre as médias do total de memórias de infância alargadas positivas e negativas evocadas; (5) Não existem diferenças significativas entre as médias do total de memórias de infância categóricas positivas e negativas evocadas; (6) Não existem diferenças significativas entre as médias do total de memórias de infância categóricas positivas e negativas evocadas; (7) As diferenças entre as médias do total de memórias de infância específicas positivas e negativas evocadas são significativas; (8) Não existem diferenças entre as médias do total de memórias de infância específicas positivas e negativas evocadas.

 

Ao nível inter-grupal, as memórias alargadas foram as mais evocadas pelo grupo de sujeitos deprimidos (X=20,13; DP.=17,14) e pelo grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica (X=13,33; DP.=8,32). Conforme se pode verificar através do Quadro 7, os sujeitos deprimidos evocaram mais memórias alargadas que os sujeitos sem alteração psicopatológica, não sendo esta diferença significativa (p-value = 0,49>0,05).

Para a comparação das médias do total de memórias alargadas evocadas por ambos os grupos de sujeitos, recorremos ao teste de Mann-Whitney, pois apesar da variável seguir uma distribuição normal em ambos os grupos, as variâncias não eram homogéneas.

No grupo de sujeitos deprimidos registou-se uma média de evocação de memórias categóricas (X=7,53; DP.=4,19) superior à registada no grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica (X=5,47; DP.=5,88). Esta diferença não foi significativa, pois p-value = 0,06>0,05.

No que concerne as memórias específicas, os sujeitos sem alteração psicopatológica evocaram mais memórias específicas (X=4,06; DP.=5,39) que os sujeitos deprimidos (X=3,13; DP.=4,22), diferença essa que não foi significativa (p-value = 0,84>0,05).

Análise da valência dos diferentes tipos de memórias de infância evocadas. Através de uma análise intra-grupal executada em ambos os grupos, foi possível comparar as médias de evocação de memórias alargadas positivas e negativas, de memórias categóricas positivas e negativas e de memórias específicas positivas e negativas.

Ao nível das memórias alargadas, registou-se a inexistência de diferenças significativas, em ambos os grupos, entre as médias de evocação de memórias alargadas positivas e negativas (t=-0,148 e p-value = 0,88>0,05 para o grupo de sujeitos deprimidos, e t=-0,641 e p-value = 0,53>0,05 para o grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica).

Relativamente às memórias categóricas, constatou-se que os sujeitos deprimidos e os sujeitos sem alteração psicopatológica evocaram mais memórias categóricas negativas do que positivas. Procurámos então saber se existiriam diferenças significativas no grupo de sujeitos deprimidos e no grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica, entre as médias de evocação de memórias categóricas positivas e negativas.

O que se verificou foi que, tanto para o grupo de sujeitos deprimidos (t=-1,603 e p-value = 0,12>0,05) como para o grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica (p-value = 0,37>0,05) não existiam diferenças significativas entre as médias de evocação de memórias categóricas positivas e negativas.

Por fim, foram comparadas as médias de evocação de acontecimentos específicos positivos e negativos no seio de ambos os grupos de sujeitos. Através desta comparação, verificámos que existiram diferenças significativas entre as médias de evocação no grupo de sujeitos deprimidos (p-value = 0,02<0,05), ou seja, no grupo de sujeitos deprimidos, a média de evocação de memórias específicas de valência negativa foi significativamente superior à média de evocação de memórias específicas de valência positiva.

Nos sujeitos sem alteração psicopatológica, não existiram diferenças significativas entre as médias das duas variáveis (p-value = 0,06>0,05).

 

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Através da análise dos resultados constata-se que a hipótese testada neste estudo se confirmou.

A hipótese em causa preconizava que o grupo de sujeitos deprimidos evocaria, comparativamente ao grupo de sujeitos sem alteração psico-patológica, um número semelhante de memórias autobiográficas infantis de valência negativa, não existindo assim diferenças significativas entre o número de memórias autobiográficas infantis de valência negativa evocadas por ambos os grupos. O que os resultados demonstraram foi que os sujeitos deprimidos evocaram mais memórias infantis de valência negativa do que os sujeitos sem alteração psicopatológica, não tendo, no entanto, estas diferenças sido significativas. Como tal, conclui-se que não existiu um efeito de congruência do humor que pudesse ser considerado estatisticamente significativo.

Uma possível explicação para esta situação, elaborada por Brewin, Andrews, e Gotlib (1993), e corroborada por Williams e colegas (2000) refere que, pelo facto das memórias autobiográficas de infância serem excessivamente recapituladas e processadas ao longo da vida por parte dos sujeitos, isso leva a que os vieses causados pelos efeitos de congruência de humor em memórias autobiográficas não infantis, não se manifestem. Outra possibilidade, desenvolvida por Miranda e Kihlstom (2005), refere que a inexistência de um efeito de congruência de humor pode dever-se a uma diminuição espontânea, ao longo do tempo, na intensidade afectiva das memorias negativas, por comparação às positivas, o que limitaria a evocação de memórias negativas. Para alem deste factor, estes autores referem que quer as estratégias de regulação de humor podem ter exercido o seu efeito de forma mais premente nas memorias de infância, pelo facto das mesmas terem um período de retenção muito superior ao das memórias recentes (Miranda & Kihlstrom, 2005). Tendo por base estas diferentes hipóteses explicativas, urge perceber que mecanismos estão, de facto, associados a esta inexistência de um efeito de congruência de humor nas memórias de infância.

Prosseguindo com a discussão dos resultados obtidos, os sujeitos deprimidos evocaram mais memórias positivas do que os sujeitos sem alteração psicopatológica, não tendo, no entanto, esta diferença sido significativa. Apesar da relevância dos resultados estar limitada pelo facto dos sujeitos deprimidos não terem evocado significativamente mais memórias positivas do que negativas, estes demonstram que, ao contrário do que havia ocorrido no estudo de Claudio (2004), a diferença entre os sujeitos deprimidos e sem alteração psicopatológica manifestou-se não só ao nível da informação negativa como também ao nível da informação positiva, visto que os sujeitos deprimidos evocaram mais memórias de ambas as valências.

Ao analisarmos a valência das memórias de infância evocadas pelos sujeitos sem alteração psicopatológica, verificamos que o facto de terem evocado mais memórias de infância negativas que positivas, pode ter sido decisivo para que estes tenham evocado menos memórias positivas que os sujeitos deprimidos. Em virtude deste resultado, podemos afirmar que também não se registou um efeito de congruência de humor no grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica.

De acordo com alguns autores (Clark et al., 1999; Claudio, 2004), seria de esperar que os sujeitos sem alteração psicopatológica evocassem mais memórias positivas que negativas, o que não ocorreu. Existem duas interpretações possíveis para o facto dos sujeitos sem alteração psicopatológica não terem manifestado um efeito de congruência de humor: Em primeiro lugar, é possível que a inexistência deste efeito de congruência de humor nos sujeitos sem alteração psicopatológica se deva ao limitado número da amostra. Assumindo como viável esta hipótese, há que extrapolá-la igualmente para os resultados obtidos pelos sujeitos deprimidos. Assim sendo, também é possível que a inexistência de um efeito de congruência de humor nos sujeitos deprimidos se deva a esta limitação do número da amostra, o que infirmaria as teses explicativas previamente elaboradas, relativas à excessiva recapitulação de memórias de infância (Brewin, Andrews, & Gotlib, 1993).

Por outro lado, considerando viável a explicação avançada por Brewin, Andrews, e Gotlib (1993), de que o efeito de congruência de humor não se manifesta na evocação de memórias de infância por parte dos sujeitos deprimidos, por estas terem sido excessivamente recapituladas, parece-nos possível que, também nos sujeitos sem alteração psicopatológica, não exista um efeito de congruência de humor pela mesma razão – a excessiva recapitulação das memórias de infância. No entanto, este resultado não corrobora as hipóteses explicativas avançadas por Miranda e Kihlstrom (2005).

No que concerne a evocação mnésica de ambos os grupos de sujeitos em palavras de diferentes valência, observámos que os sujeitos deprimidos evocaram mais memórias de infância nas palavras negativas, enquanto que os sujeitos sem alteração psicopatológica evocaram mais memórias de infância nas palavras neutras. Apesar dos sujeitos deprimidos terem evocado mais memórias de infância nas palavras negativas, a diferença não foi significativa face à média de evocação de memórias de infância nas palavras positivas e neutras. Uma possível explicação para esta situação é a que já foi avançada para justificar a inexistência de um efeito de congruência de humor – excessiva recapitulação das memórias. Pelo facto das memórias de infância serem excessivamente recapituladas, não existiria um efeito de congruência de humor nos sujeitos deprimidos, e estes, à semelhança dos sujeitos sem alteração psico-patológica, não privilegiariam o processamento de informação negativa. Esta situação levaria a que os sujeitos deprimidos não evocassem mais memórias de infância negativas e, segundo nos parece, poderia igualmente levar a que não evocassem mais memórias de infância em palavras negativas, pois ao não estarem sob a influência de um efeito de congruência de humor, não teriam motivos para evocar mais memórias de infância em palavras negativas, do que em palavras neutras ou positivas.

Esta possível explicação parece esclarecer não só os resultados obtidos neste estudo, como a discrepância destes face aos resultados obtidos no estudo de Claudio (2004), pois poder-se-ia supor que, por os sujeitos deprimidos nesse estudo não evocarem somente memórias autobiográficas de infância, isso levaria a que o seu processo de evocação mnésica estivesse mais vulnerável a um efeito de congruência de humor e à influência de informação afectivamente marcada e congruente com humor negativo – palavras negativas.

Ao nível das diferenças entre os dois grupos quanto ao total de memórias de infância evocadas em palavras de diferentes valências, o que se verificou foi que os sujeitos deprimidos evocaram mais memórias de infância nas palavras de diferentes valências do que os sujeitos sem alteração psicopatológica, não existindo, no entanto, diferenças significativas entre as médias de evocação dos dois grupos. Este resultado também parece ser emblemático da diferença entre memórias autobiográficas de infância e memórias autobiográficas mais recentes, pois para estas últimas seria de esperar que os sujeitos deprimidos evocassem mais memórias autobiográficas que os sujeitos sem alteração psicopatológica, quando a palavra estímulo fosse negativa (Claudio, 2004). Mais uma vez, os argumentos já avançados enquanto possível explicação para o facto dos sujeitos deprimidos não evocarem mais memórias de infância nas palavras negativas do que nas palavras positivas e para o facto de evocarem um semelhante número de memórias de valência negativa em comparação com os sujeitos sem alteração psicopatológica, poderiam aqui ser aplicados.

Relativamente aos tempos de latência registados pelos dois grupos de sujeitos, estes foram superiores nas palavras neutras, com os sujeitos sem alteração psicopatológica a registarem tempos de latência significativamente superiores nas palavras neutras comparativamente às palavras positivas, um pouco à semelhança do que ocorreu com as médias de evocação de acontecimentos nestas palavras. O facto dos sujeitos sem alteração psicopatológica terem registado menores tempos de latência para as palavras positivas, parece dever-se à maior facilidade destes em responder a estimulação positiva (Claudio, 2004).

Quanto à comparação inter-grupal dos tempos de latência fornecidos às palavras de diferentes valências, observou-se que os sujeitos deprimidos registaram tempos de latência significativamente superiores aos dos sujeitos sem alteração psicopatológica, nas palavras positivas, negativas e neutras. No entanto, a diferença entre os resultados obtidos por ambos os grupos apenas foi significativa relativamente às palavras positivas, nas quais os sujeitos deprimidos evocaram significativamente mais memórias que os sujeitos sem alteração psicopatológica.

O facto dos sujeitos deprimidos terem registado tempos de latência superiores aos dos sujeitos sem alteração psicopatológica, pode dever-se à lentificação cognitiva que estes sofrem ao nível do processamento de informação (Claudio, 2004; Croll & Bryant, 2000). Já no que concerne o motivo pelo qual apenas nas palavras positivas a diferença entre ambos os grupos foi significativa, este pode estar relacionado com a maior facilidade dos sujeitos sem alteração psicopatológica em responder a estimulação positiva, que conjuntamente com a lentificação cognitiva dos sujeitos deprimidos, pode ter possibilitado a existência de diferenças significativas.

Os resultados obtidos no que respeita ao tipo de memórias autobiográficas preferencialmente evocadas, demonstram que os sujeitos deprimidos evocaram mais memórias alargadas e mais memórias categóricas que os sujeitos sem alteração psicopatológica, e que em contrapartida, os sujeitos sem alteração psicopatológica evocaram mais memórias específicas que os sujeitos deprimidos, sem que no entanto as diferenças entre os grupos fossem significativas.

Estes resultados são, em parte, incongruentes com a literatura existente acerca do tipo de memórias predominantemente evocadas pelos sujeitos deprimidos. Nesta, é defendido que os sujeitos deprimidos possuem um estilo de evocação geral (Williams et al., 2007), pois quando um estímulo de memória activa descrições categoriais intermédias que “ameaçam” recuperar os fragmentos de um episódio de cariz emocional, a pesquisa mnésica é abortada (Williams, 1996; Williams et al., 2000).

Uma possível explicação para os sujeitos deprimidos do nosso estudo terem evocado mais memórias alargadas que categóricas, comparativamente ao estudo de Goddard, Dritschel, e Burton (1996), prende-se com as diferentes instruções fornecidas aos sujeitos deprimidos em ambos os trabalhos. Enquanto que Goddard, Dritschel, e Burton (1996) pediam aos sujeitos para recordarem memórias específicas em função de palavras estímulo de valências diferentes, no presente trabalho era pedido aos sujeitos que recordassem memórias de um período temporal específico, a infância. Assim sendo, os sujeitos eram instruídos para evocarem memórias integradas num período de tempo definido, o que terá enviesado a sua evocação mnésica a favor de memórias alargadas gerais concentradas num período de tempo específico, a infância.

A possibilidade de existir um viés associado à instrução explicaria o facto de ambos os grupos de sujeitos terem evocado significativamente mais memórias alargadas que memórias categóricas.

A superioridade manifestada pelos sujeitos deprimidos ao nível da evocação de memórias alargadas e categóricas, não se manifestou nas memórias específicas. O que se constatou foi que, apesar de não existirem diferenças significativas entre os sujeitos deprimidos e os sujeitos sem alteração psicopatológica, estes últimos evocaram mais memórias específicas no geral, e mais memórias específicas nas palavras de diferentes valências.

Uma possível explicação para esta situação prende-se com aquilo que alguns autores defendem ser um estilo de evocação geral característico dos sujeitos deprimidos (Williams et al., 2007) e que já foi referido neste estudo.

Já tendo sido explorados os resultados obtidos neste trabalho, importa referir as limitações do mesmo. Em primeiro lugar, o facto de as amostras de ambos os grupos serem constituídas por apenas quinze sujeitos parecenos ser uma limitação muito importante. Este número de quinze participantes é o mínimo exigível para que os resultados obtidos possam ser extrapolados para as populações representadas na amostra. Como tal, tem que existir, forçosamente, algum cuidado na aplicação dos resultados e conclusões obtidas, às populações em geral. Com apenas quinze sujeitos a caracterizarem a população de sujeitos deprimidos e sem alteração psicopatológica, não foi surpreendente que muitas das variáveis dependentes estudadas seguissem distribuições não normais, pois é sabido que quanto menor a amostra, maior a influência da variabilidade individual. Neste sentido, é de todo impossível saber se, no caso da amostra ser maior, os resultados obtidos teriam sido diferentes, sendo que todos os resultados obtidos estão, naturalmente, sujeitos a esta limitação. Por este motivo, parece-nos de grande importância que, no futuro, possam ser efectuados estudos semelhantes ao nosso, que explorem as relações entre os processos mnésicos e a patologia depressiva, mas com amostras bastante mais representativas das populações estudadas. Seria interessante que a integração de um grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica nestes futuros estudos, não se limitasse à sua utilização enquanto “objecto” de comparação para os resultados obtidos pelo grupo de sujeitos deprimidos, mas também tivesse o propósito de analisar se, nos sujeitos sem alteração psicopatológica, existe um efeito de congruência do humor face às memórias de infância.

Consideramos que o nosso trabalho possui ainda três outras limitações. A primeira prende-se por, ao contrário do que ocorreu com Claudio (2004), os sujeitos com diagnóstico de depressão não possuírem todos eles depressão major, existindo desta forma diferentes níveis de severidade da depressão. A nossa amostra foi constituída por sujeitos com diagnósticos de depressão reactiva, depressão major e um sujeito com depressão bipolar, em fase depressiva. Estes diferentes níveis de severidade da depressão, de acordo com alguns autores, podem ter influência sobre os resultados obtidos numa tarefa de memória autobiográfica (Clark et al., 1999), pois quanto maior a severidade da depressão, maior a probabilidade da evocação mnésica ser influenciada no sentido de um viés negativo.

A segunda está relacionada com as idades dos participantes. Pelo facto dos participantes terem idades que oscilam entre os 23 e os 59 anos, há alguns participantes cujos resultados na Tarefa de Memória Autobiográfica poderão ter sofrido a influência do fenómeno da reminiscência infantil. Este fenómeno, que segundo Rubin, Wetzler, e Nebes (1986) surge entre os 35 e os 40 anos, traduz um aumento inesperado da evocação de memórias mais antigas, em relação ao padrão “normal” de evocação mnésica da maioria dos sujeitos. Tendo este fenómeno em consideração, cremos ser possível a existência de um viés relacionado com a idade dos sujeitos, quanto ao número total de memórias evocadas. Apesar da idade em ambos os grupos ter sido alvo de controlo, o que possibilitou a limitação das diferenças entre os dois grupos a este nível, pensamos que, no futuro, seria importante a realização de um trabalho que estabelecesse uma comparação entre a evocação de memórias de infância feita por sujeitos que não tivessem sob a influência deste período de reminiscência, e aquela feita por sujeitos que se encontrem no período etário em que este fenómeno geralmente ocorre. Cremos que seria interessante verificar de que forma este fenómeno influência a evocação de memórias autobiográficas, quer ao nível da sua quantidade, quer ao nível da sua qualidade.

Por fim, pensamos que o critério utilizado no nosso estudo para a definição de memórias autobiográficas alargadas e categóricas é um critério que não nos permite ter uma verdadeira noção da quantidade de memórias alargadas e categóricas que seriam evocadas pelos sujeitos, sem a influência do experimentador. A instrução que é dada aos sujeitos, como já foi explicado, enviesa a evocação destes a favor das memórias alargadas, sendo que quaisquer conclusões que sejam retiradas relativamente às proporções de ambos os tipos de memória, estarão sempre limitadas. Ainda assim, a aplicação deste critério provou a sua utilidade, pois constatou-se que, perante uma instrução que privilegiava a evocação de memórias alargadas por parte dos dois grupos, o grupo de sujeitos deprimidos evocou significativamente mais memórias categóricas que específicas, situação que não se constatou no grupo de sujeitos sem alteração psicopatológica.

Apesar do critério utilizado nos ter permitido chegar a esta conclusão, propomos que, num trabalho futuro, seja desenvolvida uma metodologia que permita erradicar o viés associado ao mesmo. A forma mais simples de o fazer, seria fornecer aos sujeitos uma instrução menos directiva no que concerne ao período temporal a partir do qual seriam evocadas as memórias autobiográficas – um pouco à semelhança do que ocorreu no trabalho de Claudio (2004). No entanto, tendo em conta as características da patologia depressiva, seria particularmente difícil obter memórias de infância em detrimento de memórias mais recentes, sendo necessária uma amostra enormíssima que permitisse recolher algumas memórias de infância.

A solução para esta situação pode passar por uma reformulação da instrução. Caso seja pedido aos participantes que evoquem uma memória antiga, o carácter vago, ao nível da temporalidade, subjacente à palavra “antiga”, seria, a nosso ver, suficiente, pois dar-se-ia a possibilidade aos sujeitos de evocarem memórias características de um determinado período da sua vida (como a infância), mas também a possibilidade de evocarem memórias mais gerais, vivenciadas através de diversos períodos de vida (infância, adolescência, inicio da fase adulta). Naturalmente que esta instrução apelaria ao que cada participante considera ser uma memória antiga, mas ainda assim parece-nos ser a solução mais viável a apresentar num estudo futuro.

Após a conclusão deste estudo, apercebemo-nos que muito pode ser feito para melhorar o mesmo e para explorar, de forma diferente mas igualmente interessante, os temas abordados. É nesse sentido que propomos a realização de um estudo que compare os processos de evocação envolvidos nas memórias autobiográficas recentes e nas memórias autobiográficas de infância, para um mesmo grupo de sujeitos, podendo inclusive ser feita uma comparação, obtidos os resultados, entre grupos de sujeitos com diferentes patologias e sem alteração psicopatológica. Cremos que um estudo deste tipo seria fundamental para a compreensão das diferenças entre os processos envolvidos na evocação de memórias autobiográficas mais recentes e aqueles envolvidos nas memórias de infância.

 

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(*) Psicólogo.

(**) Instituto Superior de Psicologia Aplicada.

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