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Análise Psicológica

Print version ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica vol.27 no.1 Lisboa Mar. 2009

 

Domínios de investigação, orientações metodológicas e autores nas revistas portuguesas de psicologia

Tendências de publicação nas últimas quatro décadas do século XX

Valentim Rodrigues Alferes (*)

Maria Da Graça Bidarra (*)

Cláudia Abreu Lopes (*)

Lisete Dos Santos Mónico (*)

 

RESUMO

Classificam-se os domínios de investigação, os métodos e os autores de 2070 artigos publicados durante as últimas quatro décadas do séc. XX em oito revistas portuguesas de psicologia (Análise Psicológica; Cadernos de Consulta Psicológica; Psicologia; Psicologia, Educação e Cultura; Psicologia: Teoria, Investigação e Prática; Psychologica; Revista de Psicologia e de Ciências da Educação e Revista Portuguesa de Psicologia) e confrontam-se os dados obtidos com as orientações temáticas e metodológicas dos artigos indexados na PsycINFO.

Conclui-se que a investigação publicada negligenciou o estudo dos conteúdos nucleares (processos psicológicos básicos), centrando-se predominantemente na psicologia geral/psicometria e nas áreas de aplicação. De modo paralelo, foram privilegiados os trabalhos de revisão e síntese da literatura, em detrimento das investigações de natureza empírica. Estas tendências constituem as principais marcas distintivas em relação à produção internacional, tal como esta se encontra documentada nos registos da PsycINFO.

Os 2070 artigos foram assinados por 3193 autores, sendo o contributo dos homens superior ao das mulheres, ainda que na década de 90 se tenha verificado uma quasi-paridade. Predominaram as estratégias de “publicação interna”, características de redes de comunicação científica de fraca intensidade, embora marcadas por sinais de uma progressiva cultura de colaboração, expressos no aumento sistemático de co-autorias.

Palavras chave: Autores, Domínios de investigação, Orientações metodológicas, Revistas portuguesas de psicologia.

 

 

ABSTRACT

The domains of research, the methods, and the authors of 2070 articles published during the last four decades of the 20th century in eight Portuguese journals of psychology (Análise Psicológica; Cadernos de Consulta Psicológica; Psicologia; Psicologia, Educação e Cultura; Psicologia: Teoria, Investigação e Prática; Psychologica; Revista de Psicologia e de Ciências da Educação; and Revista Portuguesa de Psicologia) were classified and compared with the thematic and methodological orientations of the articles indexed in PsycINFO database.

The study main conclusion points to an underrepresentation of core psychology contents (basic psychological processes), whereas general psychology/psychometrics and applied psychology were the primary fields of research. Simultaneously, there is a focus on literature review and synthesis at the expense of empirical research. These trends are the major distinguishing characteristics relative to international standards, as they are documented in the records of PsycINFO.

The 2070 articles were signed by 3193 authors. The contributions of men were higher than those of women, despite the quasi-parity in the nineties. Internal strategies of publication – a typical feature of low intensity scientific communication networks – were predominant, though marked by signs of a progressive culture of cooperation, expressed in the systematic increase of co-authorship.

Key words: Authors, Domains of research, Methodological orientations, Portuguese journals of psychology.

 

 

Este artigo tem como objectivo principal apresentar os resultados de um estudo sobre os domínios de investigação, as orientações metodológicas e os autores nas revistas portuguesas de psicologia publicadas nas últimas quatro décadas do séc. XX. Excluindo trabalhos dispersos em publicações periódicas de disciplinas vizinhas, como a filosofia ou a psiquiatria, a primeira revista que publica de modo sistemático artigos de psicologia é a Revista Portuguesa de Pedagogia, cujo primeiro número remonta a 1960. Em 1967, inicia-se a publicação da Revista Portuguesa de Psicologia, a que se seguem a Análise Psicológica (1977), a Psicologia (1980), os Cadernos de Consulta Psicológica (1985), a Revista de Psicologia e de Ciências da Educação (1986) e a Psychologica (1988). Na década de 90, surgem a Psicologia: Teoria, Investigação e Prática (1996) e a Psicologia, Educação e Cultura (1997). Note-se que, com excepção da Revista Portuguesa de Pedagogia e da Revista Portuguesa de Psicologia, todas as publicações têm a sua origem depois do 25 de Abril de 1974, traduzindo o investimento na investigação e a institucionalização progressiva do ensino das ciências sociais e humanas, menorizadas, ignoradas e, inclusivamente, censuradas durante o período da ditadura (cf. Almeida, 1968; Nunes, 1971)1.

Na secção de Método, descreve-se a estrutura da base de dados e explicitam-se as categorias de análise; na secção de Resultados e Discussão, identificam-se os conteúdos, os métodos e os autores do material publicado nas revistas portuguesas de psicologia e confrontam-se os dados obtidos com as orientações temáticas e metodológicas dos artigos indexados na PsycINFO. Espera-se que a informação aqui reunida e discutida possa vir a constituir um contributo significativo para o estudo sistemático da história da psicologia em Portugal.

 

MÉTODO

Base de dados

A base de dados em análise é constituída por 2070 artigos, publicados, entre 1967 e 2000, em oito revistas nacionais ligadas a instituições de ensino superior universitário ou a associações científicas de psicologia (cf. Quadro 1)2. Do conjunto das oito revistas, a Análise Psicológica destaca-se pelo volume de artigos dados a público (42.3% da totalidade); ao invés, a Revista de Psicologia e de Ciências da Educação teve uma existência efémera, contribuindo apenas com 27 artigos (1.3% da totalidade), correspondentes a três anos de publicação (1986-1987 e 1992). As restantes revistas publicaram-se ininterruptamente até ao final do período em análise.

QUADRO 1

Base de dados: Artigos publicados entre 1967 e 2000 nas revistas portuguesas de psicologia

 

FPCE = Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.

* Apenas artigos no domínio da Psicologia (Fonte: Alferes et al., 1996).

 

A adopção do critério presença do termo psicologia no título da revista conduziu à exclusão da Revista Portuguesa de Pedagogia, ligada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, entre 1960 e 1976, e à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da mesma Universidade, de então para cá, tendo constituído, entre 1976 e 1988, data da fundação da Psychologica, o órgão de publicação desta Faculdade. A Revista Portuguesa de Pedagogia foi, no entanto, objecto de estudo em investigação anterior, realizada por Alferes et al. (1996), por ocasião dos 30 anos de publicação (1960-1963 e 1971-1995). Dos 449 artigos publicados entre 1960 e 1995, 280 (62.4%) são do domínio da psicologia (incluindo a psicologia da educação) e os restantes ligam-se ao domínio das ciências da educação (32.3%) e a outros domínios científicos (5.3%). Se adicionados à base aqui considerada, os 280 artigos do domínio da psicologia corresponderiam a 11.9% do total de artigos publicados no período compreendido entre 1960 e 2000. Na secção de resultados, as estatísticas relativas às oito revistas incluídas na base de dados serão complementadas pela síntese das estatísticas relativas aos 280 artigos do domínio da psicologia publicados na Revista Portuguesa de Pedagogia, entre 1960 e 1995.

 

Categorias de análise

Domínios de investigação. A categorização do conteúdo dos artigos baseou-se no sistema de indexação da PsycINFO (Content Classification Code System, cf. APA, 2008; Walker, 1997, p. xxvi). Contrariamente à classificação das orientações metodológicas (cf. próximo ponto), em que o grau de ambiguidade é virtualmente nulo, a classificação dos conteúdos implica opções discutíveis e coloca questões de imputação múltipla. Para reduzir eventuais enviesamentos, todos os artigos foram classificados de modo independente pelos quatro autores, tendo-se optado, na ausência de consenso, pela posição maioritária, ou, quando a concordância se situou abaixo de 75%, pela reapreciação, discussão e decisão conjuntas.

 

Orientações metodológicas.

Em relação às metodologias adoptadas nos artigos em análise, fez-se uma primeira distinção entre estudos teóricos – incluindo os artigos de revisão e integração da literatura científica – e estudos empíricos. No interior desta categoria, operou-se uma segunda distinção entre estudos documentais e estudos não documentais. Os primeiros, também designados por estudos de traços (Ghiglione & Matalon, 1978) ou investigação de arquivos (Hoyle, Harris, & Judd, 2002), constituem formas de “observação diferida”, incidindo sobre documentos, estatísticas oficiais ou qualquer outro material previamente arquivado. Os segundos, aqui genericamente designados por estudos não documentais, implicam, pelo contrário, o contacto efectivo com os sujeitos ou unidades de investigação, com vista à recolha de informação através da observação, da entrevista ou do questionário auto-administrado (De Ketele & Roegiers, 1993).

Dentro dos estudos empíricos não documentais, procedeu-se a uma terceira distinção, tendo como critério a lógica do processo de investigação, i.e., o grau em que a estratégia de validação das hipóteses permite fazer inferências causais, ou, o que é equivalente, maximiza as condições de validade interna (Alferes, 1997). Mais exactamente, e adoptando a conceptualização campbelliana (Campbell & Stanley, 1963/1966; Cook & Campbell, 1979; Shadish, Cook, & Campbell, 2002), os estudos empíricos não documentais são classificados em experimentais, quasi-experimentais e não experimentais.

De modo muito sumário, as investigações experimentais caracterizam-se pela distinção explícita entre causas (variáveis independentes ou factores experimentais) e efeitos (variáveis dependentes ou medidas), pela variação sistemática das causas (manipulação) e pelo controlo eficaz dos factores classificatórios (aleatorização completa, aleatorização restrita por blocos ou utilização das mesmas unidades em todas as condições experimentais) e dos pseudofactores (constância ou contrabalanceamento das variáveis situacionais através das diferentes condições experimentais). Por sua vez, as investigações quasi-experimentais recorrem à variação sistemática das causas, mas – por razões de natureza contextual, técnica ou ética – não controlam de modo eficaz as variáveis disposicionais (factores classificatórios) associadas às unidades experimentais (v.g., atribuição às diferentes condições experimentais de grupos naturais previamente constituídos). Por último, quando – na ausência de qualquer manipulação – um investigador se limita a quantificar a relação entre duas ou mais variáveis, estamos perante uma investigação não experimental ou correlacional, independentemente da natureza das medidas, da técnica de recolha de informação ou do modelo de análise de dados: interdependência (estudo do padrão de inter-relações entre variáveis, sem explicitação de causas e efeitos) ou dependência (modelização causal dos efeitos de variáveis independentes passivas) (cf. Alferes, 1997, pp. 59-72; Alferes et al., 1996, pp. 10-12)3.

Autores. Os autores dos artigos publicados nas revistas portuguesas de psicologia foram caracterizados segundo o género, o grau académico (não doutorados versus doutorados) e a afiliação.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Domínios de investigação

Tendo como critério o sistema de indexação da PsycINFO, classificaram-se por categorias de conteúdos os 2070 artigos incluídos na base de dados. Não fazendo distinção entre revistas, os artigos distribuem-se pelas 22 categorias indicadas na Figura 1. De salientar as percentagens para as categorias 3500 – Psicologia da Educação (16.6%), 3300 – Saúde & Saúde Mental – Tratamento e Prevenção (15.9%), 2200 – Psicometria & Estatística & Metodologia (10.6%), 2800 – Psicologia do Desenvolvimento (9.1%) e 3200 – Perturbações Físicas & Psicológicas (8.9%). No conjunto, estas cinco categorias correspondem a 61.1% dos artigos publicados.

FIGURA 1

Comparação por categorias de conteúdo da PsycINFO entre as percentagens de artigos publicados nas revistas portuguesas de psicologia (N=2070) e as percentagens de artigos indexados na PsycINFO (N=1087930), no período entre 1967 e 2000

 

 

Note-se, em primeiro lugar, que as posições de destaque da psicologia da educação e da psicologia clínica são consonantes com o passado da psicologia em Portugal: (a) as três escolas clássicas (FPCE de Coimbra, Lisboa e Porto) tiveram como antecedentes próximos o ensino da pedagogia e da psicologia nas Faculdades de Letras das mesmas universidades e o ISPA resultou da transformação do Instituto de Ciências Pedagógicas, fundado em 1962; (b) motivada por razões de natureza prática e na ausência de uma verdadeira tradição de investigação em psicologia clínica, a produção académica das primeiras gerações de psicólogos clínicos alicerçou-se nas correntes da psiquiatria e da psicanálise portuguesas, tal como as mesmas se vieram a desenvolver do início do séc. XX até aos anos 70 (cf. Bairrão, 1968; Borges, 1985-1986). Note-se, em segundo lugar, que a percentagem de 10.6% da categoria 2200 – Psicometria & Estatística & Metodologia se reporta, basicamente, à construção e adaptação de instrumentos e medidas psicológicas (subcategoria Psicometria – 9.5%), não representando qualquer investimento substancial na reflexão metodológica (0.7%) ou na inovação de técnicas de análise estatística (0.4%).

Na Figura 1, apresentam-se igualmente os valores percentuais obtidos através de uma pesquisa por conteúdos na PsycINFO relativa ao mesmo período de publicação (1967-2000)4. Tal como se pode observar, existem afastamentos substanciais entre as duas distribuições percentuais, traduzidos no valor da (não)qualidade do ajustamento de χ2(21, N=2070)=1040.93, p<.001. A análise dos resíduos mostra que o volume relativo nas revistas portuguesas é superior em 13 categorias (3500, 2200, 3000, 2800, 2600, 3600, 2900, 2100, 2700, 3700, 4000, 4100 e 4200) e inferior em 9 categorias (3200, 2500, 2300, 3300, 2400, 3400, 3900, 3800 e 3100). Atendendo à magnitude dos resíduos, os principais contributos para a discrepância entre as duas distribuições são da categoria 3500 – Psicologia da Educação, entre os domínios sobre-representados, e das categorias 3200 – Perturbações Físicas e Psicológicas e 2500 – Psicologia Fisiológica e Neurociências, entre os domínios sub-representados.

Tal como é reconhecido pela própria APA (Tuleya, 2007; Walker, 1997), o sistema de indexação visa descrever os conteúdos da PsycINFO e não o campo da psicologia em si mesmo. Correndo o risco inerente a qualquer tentativa de mapeamento conceptual do campo da psicologia, optámos por reorganizar os conteúdos disciplinares no esquema da Figura 2. Em primeiro lugar, o esquema assume que a psicologia é um discurso científico sobre: (a) os processos básicos de natureza cognitiva, afectivo-motivacional e comportamental, ancorados na biologia e na cultura e integrados numa unidade funcional designada por personalidade; (b) o modo como tais processos se desenvolvem, se configuram e diferenciam nos diversos contextos e situações de interacção e, eventualmente, se deterioram. Em segundo lugar, admite-se que tal discurso é correlativo de um metadiscurso histórico-sistemático, epistemológico e metodológico e duma prática onde confluem problemáticas de aplicação e modelos de intervenção.

 

FIGURA 2

Comparação por domínios de investigação (conteúdos) entre as percentagens de artigos publicados nas revistas portuguesas de psicologia (valores a negrito; N=2070) e as percentagens de artigos indexados na PsycINFO (valores entre parêntesis rectos; N=1087930), durante o período de 1967 a 2000 [as categorias de conteúdos da PsycINFO são as indicadas na Figura 1; para o cálculo das percentagens, os efectivos da Categoria 2900 – Processos e Questões Sociais foram distribuídos pela Cultura (subcategorias relativas à Estrutura Social, Religião, Cultura e Etnologia) e pelas Outras Problemáticas de Aplicação (v.g., Divórcio e Recasamento)]

 

Esta reorganização do campo da psicologia permite-nos constatar que os conteúdos das publicações periódicas em análise se centram nas problemáticas de aplicação (45.6%), seguindo-se as três subdisciplinas fundamentais (psicologia do desenvolvimento, psicologia social e psicopatologia – 24.0%)5 e os conteúdos de natureza meta-discursiva (14.8%). Tomados em sentido estrito, os processos psicológicos básicos (atenção, sensação, percepção, aprendizagem, memória, raciocínio, emoção, motivação, etc.), somados com a psicologia da personalidade, não atingem mais do que 7.6%.

Reorganizando do mesmo modo os conteúdos indexados na PsycINFO, verifica-se que o volume relativo nas publicações portuguesas é superior para as problemáticas de aplicação (45.6% versus 38.6%) e para os conteúdos de natureza meta-discursiva (14.8% versus 7.4%) e inferior para os processos psicológicos básicos/personalidade (7.6% versus 13.7%) e para as três subdisciplinas fundamentais (24.0% versus 27.2%). Dito por outras palavras, a avaliar pelo material publicado nas revistas científicas nacionais, a psicologia portuguesa, durante as últimas quatro décadas do séc. XX, negligenciou o estudo dos conteúdos nucleares (core psychology), para se focalizar na psicologia geral/psicometria, a montante, e nas áreas de aplicação, a jusante. Sublinhe-se que o mapeamento conceptual que fizemos do campo da psicologia não alterou o padrão global de discrepâncias entre as duas distribuições: o valor do qui-quadrado da (não)qualidade do ajustamento para as distribuições de 12 categorias da Figura 22(11, N=2070)=1010.35, p<.001] é semelhante ao que se obteve para as distribuições de 22 categorias da Figura 1.

Merece ainda uma nota complementar a inversão dos “pesos” da Biologia e da Cultura: enquanto na PsycINFO o estudo das bases biológicas ultrapassa o estudo das bases culturais do comportamento (9.9% versus 3.2%), nas revistas portuguesas, a biologia subordina-se à cultura (1.1% versus 6.8%). Numa leitura benevolente, estes dados traduziriam o individualismo metodológico característico das ciências sociais do “outro lado do Atlântico”; numa leitura sem enviesamentos em benefício próprio, tal inversão pode apenas significar a ausência de condições materiais (v.g., laboratórios devidamente equipados) e humanas (v.g., o “deslocamento” da filosofia e da psiquiatria para a psicologia da “geração fundadora” e das gerações que se lhe seguiram não foi acompanhado pela formação adequada em ciências biológicas).

Com o objectivo de identificar orientações temáticas diferenciadas, procedeu-se a uma análise de correspondência simples (SPSS/CORRESPONDENCE, cf. SPSS, 2007) entre revistas (8 categorias) e domínios de investigação (12 categorias da Figura 2). Das sete dimensões fornecidas pela análise do quadro de contingência 8x12 2 (77, N=2070)=619.57,p<.001], retiveram-se para interpretação as duas primeiras, que, conjuntamente, explicam 66.1%da inércia total. A primeira dimensão, responsável por 39.0% da variabilidade, opõe, fundamentalmente, os conteúdos de natureza meta-discursiva (psicologia geral/psicometria) e o estudo dos processos básicos às problemáticas de aplicação, com particular destaque para a saúde e doença e para as outras áreas de aplicação. Se quisermos, esta dimensão corresponde, grosso modo, à dicotomia psicologia fundamental/psicologia aplicada. A segunda dimensão, à qual cabe 27.1% da variabilidade, é, essencialmente, polarizada pela educação, que se opõe aos restantes domínios (cf. Figura 3).

FIGURA 3

Revistas e domínios de investigação (conteúdos): Análise de correspondência simples (representação conjunta dos pontos-linha e dos pontos-coluna nas duas primeiras dimensões; normalização simétrica) [Para as siglas das revistas, cf. Quadro 1; os domínios de investigação são os que constam da Figura 2]

 

A consideração das revistas no espaço definido pelos conteúdos permite dividi-las em três grupos: (1) Psychologica, Revista Portuguesa de Psicologia e Revista de Psicologia e de Ciências da Educação; (2) Cadernos de Consulta Psicológica e Psicologia Educação e Cultura; e (3) Psicologia, Análise Psicológica e Psicologia: Teoria, Investigação e Prática. O primeiro grupo, constituído pelas três publicações ligadas às “escolas clássicas” (FPCE das Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto), contrasta com o terceiro grupo, ao longo da dimensão fundamental/aplicada. Por sua vez, o segundo grupo (Cadernos de Consulta Psicológica e Psicologia, Educação e Cultura) opõe-se aos outros dois na dimensão polarizada pela educação. Note-se, de passagem, que a associação dos Cadernos de Consulta Psicológica à psicologia da educação é explicada basicamente pela inclusão nesta categoria da PsycINFO dos artigos na área da orientação vocacional. De realçar, ainda, a proximidade do terceiro grupo (Psicologia, Análise Psicológica e Psicologia: Teoria, Investigação e Prática) aos domínios da psicologia social, da psicopatologia e das organizações (cf. Figura 3).

Por último, deixando entre parêntesis as revistas, note-se que a introdução de critérios temporais não altera substancialmente o panorama global que temos vindo a descrever.Com efeito, se tomarmos como analisador a evolução das percentagens de artigos dedicados às problemáticas de aplicação (categorias 2900*e 3300 a 4200, cf. Figuras 1 e 2) e estabilizarmos a série calculando as médias móveis com um intervalo de cinco anos, verificamos que a tendência, de 1967 a 2000, é mesmo para um aumento gradual da investigação aplicada, com valores entre 40 e 50% a partir da década de 80 (cf. Figura 4). Em concomitância, o peso relativo do estudo dos processos básicos (categorias2300 e 2400, cf. Figuras 1 e 2) é sempre reduzido, situando-se próximo de 5% a partir da mesma década (cf. Figura 4).

FIGURA 4

Evolução dos domínios de investigação (conteúdos) no período de 1967 a 2000: percentagem de artigos nas áreas de aplicação e percentagem de artigos sobre processos psicológicos básicos

 

Orientações metodológicas

Dos 2070 artigos analisados, 1191 (57.5%) são estudos teóricos e/ou de revisão da literatura científica, 112 (5.4%) são estudos empíricos documentais e 767 (37.1%) são estudos empíricos não documentais (cf. Quadro 2). Dentro desta última categoria, registe-se que a quase totalidade (645 artigos, i.e., 31.2% do total) são investigações não experimentais ou correlacionais. Tomadas em conjunto, as investigações experimentais e quasi-experimentais correspondem apenas a 5.9 % (122 artigos) do material publicado. De notar que um número não desprezível de artigos analisados recorre a falsas distinções conceptuais entre os diversos planos de investigação, incluindo o uso indiscriminado dos termos empírico e experimental ou a adopção da expressão estudo experimental para referir os ex post facto designs efectivamente utilizados6. Como é evidente, tais artigos foram contabilizados na categoria não experimental.

QUADRO 2

Orientações metodológicas nos artigos publicados nas revistas portuguesas de psicologia (percentagens-linha)

 

Fazendo uma pesquisa por metodologia na PsycINFO, circunscrita ao período entre 1967 e 2000 (cf. nota 4), obtêm-se registos para 552087 (50.7%) dos 1087930 artigos indexados por conteúdos (cf. subsecção anterior). No sub-universo de 552087 artigos, 37663 (6.8%) são estudos teóricos e/ou de revisão de literatura (incluindo modelizações matemáticas), 2489 (0.5%) são estudos documentais (essencialmente meta-análises) e 511935 (92.7%) são estudos de natureza empírica (experimentais, quasi-experimentais e não experimentais). Tal distribuição afasta-se substancialmente da obtida para as revistas portuguesas de psicologia, χ2(2, N=2070)=9625.54, p<.001.

Com a ressalva de que nos estamos a referir a cerca de metade dos artigos indexados e deixando entre parêntesis os estudos de tipo documental, o rácio estudo empírico/estudo teórico é de 0.64 (=767/1191), para as revistas portuguesas de psicologia, e de 13.59 (=511935/37663), para os artigos classificados na PsycINFO. Podemos, pois, afirmar que as discrepâncias no domínio dos conteúdos mencionadas na subsecção anterior, com particular destaque para o “não investimento” no estudo dos processos psicológicos básicos, são correlativas de uma acentuada inversão do balanço estudos empíricos/estudos teóricos. Infelizmente, a opção essencialmente descritiva adoptada pela PsycINFO na categorização dos métodos não nos permite estabelecer as comparações relativas à natureza das investigações empíricas não documentais7.

Retomando os dados portugueses, cabe referir, antes de mais, a acentuada homogeneidade dos padrões de orientação metodológica nas oito revistas em análise (cf. Figura 5). Com efeito, o volume de estudos empíricos não documentais (experimentais/quasi-experimentais/ /não experimentais) é minoritário em todas as revistas, variando entre 33.0% (Psicologia, Educação e Cultura) e 44.4% (Revista de Psicologia e de Ciências da Educação – cf. Figura 5 e Quadro 2).

FIGURA 5

Distribuição dos artigos por orientação metodológica (percentagens do Quadro 2)

 

 

Tendo como objectivo identificar os modos de articulação entre orientações temáticas e orientações metodológicas, procedeu-se a uma análise de correspondência simples (SPSS/ CORRESPONDENCE, cf. SPSS, 2007) entre métodos (5 categorias) e domínios de investigação (12 categorias da Figura 2). Das quatro dimensões fornecidas pela análise do quadro de contingência 5x12 2(44, N=2070)=216.17, p<.001], as duas primeiras explicam 82.7% da inércia total. A primeira dimensão, responsável por 49.8% da variabilidade, representa o eixo não experimental/quasi-experimental/experimental. A segunda dimensão, responsável por 32.9% da variabilidade, contrasta os estudos empíricos não documentais com os estudos teóricos. De modo concomitante, os conteúdos metadiscursivos (psicologia geral/psicometria) e, em parte, as problemáticas de aplicação opõem-se aos processos psicológicos básicos, ao longo da primeira dimensão, ao passo que as subdisciplinas fundamentais (em especial, a psicologia social e a psicologia do desenvolvimento) contrastam com os conteúdos relacionados com a personalidade e com as respectivas bases biológicas e culturais, ao longo da segunda dimensão (cf. Figura 6).

FIGURA 6

Orientações metodológicas (métodos) e domínios de investigação (conteúdos): Análise de correspondência simples (representação conjunta dos pontos-linha e dos pontos-coluna nas duas primeiras dimensões; normalização simétrica) [TEO=Estudos teóricos; DOC=Estudos documentais; EXP=Estudos experimentais; QE=Estudos quasi-experimentais; NE=Estudos não experimentais; os domínios de investigação são os que constam da Figura 2]

 

Deixando entre parêntesis as orientações temáticas e introduzindo critérios temporais para o estudo dos métodos, verifica-se que, à semelhança do que aconteceu com os conteúdos, o panorama global pouco se altera. Com efeito, se podemos constatar um aumento gradual da percentagem de estudos empíricos não documentais tomados no seu conjunto (estudos experimentais, quasi-experimentais e não experimentais), o dado mais marcante é que nem no final do período em análise as percentagens ultrapassam o limiar de 50% (cf. Figura 7), ou, dito de outro modo, o rácio estudo empírico//estudo teórico permanece inferior à unidade. Recorde-se que esse valor para os artigos indexados na PsycINFO é superior a 13 estudos empíricos por cada estudo teórico. Acresce que o aumento verificado no conjunto dos estudos empíricos se deve basicamente aos estudos não experimentais, tal como se pode constatar comparando os dois gráficos da Figura 7.

FIGURA 7

Evolução das orientações metodológicas no período de 1967 a 2000: percentagem de artigos empíricos (experimentais & quasi-experimentais & não experimentais) e percentagem de artigos experimentais e quasi-experimentais

 

 

Autores

Os 2070 artigos em análise são assinados por3193 autores. No conjunto das oito revistas, a percentagem de artigos assinados por um só autor é de 67.3%. As percentagens de artigos em co-autoria variam entre 16.9% (Revista Portuguesa de Psicologia) e 59.1% (Psicologia: Teoria, Investigação e Prática – cf. Quadro 3).

QUADRO 3

Autores dos artigos publicados nas revistas portuguesas de psicologia: Número médio de autores por artigo (M) e percentagem de artigos em co-autoria

 

No que diz respeito ao género, as percentagens apuradas são de 53.9% para o género masculino e de 42.0% para o género feminino, não tendo sido possível identificar o género de 4.2% dos autores (cf. Quadro 4, incluindo nota). Admitindo que a distribuição nos casos não identificados é idêntica à dos casos identificados, a estimativa final para a população de autores é de 56.2%, para o género masculino, e de 43.8%, para o género feminino. Estes dados equivalem a um rácio homem/mulher de 1.28, i.e., no conjunto das revistas portuguesas de psicologia, publicadas entre 1967 e 2000, por cada artigo assinado por uma mulher, contam-se 1.28 artigos assinados por um homem. Tal valor é comparável ao que se pode obter calculando o rácio entre o número médio de publicações dos homens e das mulheres (Mh/Mm =3.21/2.74=1.17), a partir dos resultados de Amâncio e Ávila (1995, p. 147), baseados num Inquérito à Comunidade Científica Portuguesa, realizado pelo CIES//ISCTE, entre Março e Dezembro de 1993, junto de uma amostra probabilística de 1085 inquiridos.

QUADRO 4

Género e grau académico dos autores dos artigos publicados nas revistas portuguesas de psicologia (percentagens-linha)

NI = Não identificado: no caso do género, apenas as iniciais do(s) primeiro(s) nome(s) e apelido constavam dos artigos; no caso do grau académico, informação omitida no artigo.

 

Em consonância com as mutações da comunidade científica portuguesa ao longo das últimas décadas, verifica-se um aumento gradual da percentagem de autores do género feminino.Com efeito, se estabilizarmos as flutuações anuais calculando as médias móveis (intervalo de cinco anos) das percentagens em análise, passamos de valores abaixo de 20%, no período anterior ao 25 de Abril de 1974, para valores próximos de 50%, na década de 90 (cf. Figura8). Procedendo de modo idêntico com os dados relativos aos artigos em co-autoria, assistimos a uma passagem abrupta das percentagens nulas iniciais para valores entre 20 e 30%, durante a década de 80, seguidos por um aumento gradual até 50%, no final da década de 90 (cf. Figura 8).

FIGURA 8

Evolução das percentagens de autoras e de artigos em co-autoria, no período entre 1967 e 2000

 

Em relação ao grau académico, a elevada percentagem de artigos (40.4%) em que a informação relevante é omissa não aconselha a que se tratem os dados de modo semelhante ao que foi feito com o género e com as co-autorias. Para memória futura, registam-se os valores apurados no Quadro 4. Note-se, de passagem, que a opção pela não indicação dos títulos/graus académicos dos autores é a opção maioritária a partir da década de 90.

Da análise das afiliações sobressaem, antes demais, as elevadas percentagens de “autores da casa”, com um máximo de 77.5% para a Revista de Psicologia e de Ciências da Educação e um mínimode 28.6% para a Análise Psicológica (cf. valores a negrito no Quadro 5). Por sua vez, a percentagem de autores ligados a instituições estrangeiras é de15.7% para o conjunto das revistas, variando o grau de “internacionalização” entre 5.0% (Revista de Psicologia e de Ciências da Educação) e 22.4% (Análise Psicológica – cf. antepenúltima coluna do Quadro 5). O padrão de co-ocorrências entre afiliação dos autores e instituição de referência das revistas, conjugado com as baixas percentagens de participação de autores estrangeiros, aponta para “estratégias” de publicação interna que configuram uma acentuada auto-insularização das comunidades científicas locais.

QUADRO 5

Afiliação dos autores dos artigos publicados nas revistas portuguesas de psicologia (percentagens-linha)

Port = Outras instituições portuguesas. Estr=Instituições estrangeiras. NI=Não identificada (para as restantes siglas, cf. Quadro 1). A negrito assinalaram-se as afiliações dos autores coincidentes com as instituições que editam as revistas.

 

 

CONCLUSÃO

Nas últimas quatro décadas do séc. XX, a avaliar pelo material publicado nas revistas científicas nacionais, a investigação em psicologia negligenciou o estudo dos conteúdos nucleares (processos psicológicos básicos), para se focalizar na psicologia geral/psicometria, a montante, e nas áreas de aplicação, a jusante. De modo paralelo, privilegiou os trabalhos de revisão e síntese da literatura, em detrimento dos estudos de natureza empírica. A inversão acentuada do balanço estudos empíricos/estudos teóricos e o “não investimento” nos conteúdos nucleares constituem marcas distintivas em relação à produção internacional, tal como esta se encontra documentada nos registos da PsycINFO. No caso dos estudos empíricos não documentais, o enviesamento em prejuízo da investigação dita fundamental é correlativo de uma orientação metodológica não experimental. Tanto em relação aos conteúdos, como aos métodos, a introdução de critérios temporais não altera o panorama traçado para o conjunto do período em análise.

Em relação à totalidade dos artigos, o contributo dos homens foi superior ao das mulheres, ainda que na década de 90 se tenha verificado uma quasi-paridade. Predominaram as estratégias de “publicação interna”, características de redes de comunicação científica de fraca intensidade, embora marcadas por sinais de uma progressiva cultura de colaboração, expressos no aumento sistemático de co-autorias.

O alargamento da base de dados ao período posterior a 2000, com integração de novas revistas entretanto dadas a público (v.g., Laboratório de Psicologia, Psicologia e Educação, Psicologia: Saúde & Doenças) e a consideração simultânea de factores de natureza externa (alterações do contexto institucional da investigação e do ensino da psicologia em Portugal) e interna (mutações temáticas e metodológicas das ciências psicológicas nas últimas décadas) permitir-nos-ão um estudo mais pormenorizado dos domínios de investigação e das orientações metodológicas nas revistas portuguesas de psicologia. Adicionalmente, a conjugação dos perfis e afiliações dos autores com a análise documental das fichas técnicas e dos textos de natureza editorial possibilitar-nos-á recontextualizar estes resultados no quadro da sociologia e da psicologia social da ciência. São estas as tarefas que nos propomos realizar em investigações futuras, em paralelo com a análise das publicações de autores portugueses em revistas internacionais, da inventariação dos conteúdos e metodologias das dissertações académicas e do estudo do mercado editorial português no domínio das monografias científicas e das obras de divulgação da psicologia.

 

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Notas

1 Desde 1890 – data do primeiro curso livre leccionado por Ferreira Deus dado, no Curso Superior de Letras –, com especial destaque para as inovações introduzidas pela reforma universitária de 1911, que a disciplina de psicologia vinha a ser ensinada no âmbito de diferentes planos de estudo das universidades portuguesas (cf. Bairrão, 1968; Borges, 1985-1986; Gomes, 1994; Lima, 1949; Nóvoa, 2003). Registe-se, igualmente, que aquele que é considerado o primeiro laboratório português de psicologia experimental foi fundado, em 1912, na Universidade de Coimbra, por Alves dos Santos, professor desta Universidade e compagnon de route da “geração positivista” que entre nós marcou a passagem do séc. XIX para o séc. XX (cf. Abreu & Oliveira, 1999). Contudo, foi necessário esperarmos por 1964 para assistirmos à criação da primeira escola de psicologia no ensino superior privado – o Instituto Superior de Psicologia Aplicada –, datando de 1976 a institucionalização no ensino superior público, aquando da criação, nas Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto, dos Cursos Superiores de Psicologia, transformados em Faculdades em 1980 (cf. Bairrão, 1968; Borges, 1985-1986; Santos, 1970).

2 Dos 2097 artigos incluídos na base inicial, excluíram-se da análise 27 artigos cujos conteúdos não se enquadravam no campo da psicologia. Excluíram-se, igualmente, os editoriais, as notas introdutórias e/ou explicativas das sucessivas comissões de redacção, as recensões críticas e o “material” reunido nas secções dedicadas à divulgação de notícias de congressos, conferências, provas e outros acontecimentos académicos e científicos.

O trabalho de análise documental decorreu entre Janeiro de 2002 e Julho de 2004. De sublinhar a inexistência de indexação em bases informáticas dos conteúdos respeitantes ao período em estudo, o que obrigou à consulta “manual” de todos os volumes incluídos na base dados. Com efeito, o acesso on line ao texto integral das revistas é relativamente recente e parcelar. No momento em que escrevemos (Setembro de 2008) apenas a Análise Psicológica (1997-) e a Psicologia (2006-) disponibilizam os seus conteúdos na interface do SciELO Portugal. Em relação à indexação dos títulos e resumos na PsycINFO, verificou-se, igualmente, um atraso significativo: Análise Psicológica (1992-), Psicologia (1998-), Psicologia, Educação e Cultura (1998-), Psicologia: Teoria, Investigação e Prática (1996-) e Psychologica (2005-) (para mais informações, cf. Alferes, 2000-2008). O leitor pode ainda consultar os estudos de Machado, Lourenço, Pinheiro e Silva (2004) – que se debruça sobre os artigos publicados na Análise Psicológica, na Psicologia: Teoria, Investigação e Prática e na Psychologica, durante o período compreendido entre Janeiro de 1996 e Setembro de 2003 – e de Lopes e Couto (1999) – que analisa os conteúdos no domínio da psicologia da saúde publicados na Análise Psicológica, entre 1987 e 1996.

Cabe aqui uma palavra de agradecimento aos directores das revistas que nos disponibilizaram diversos volumes das respectivas colecções particulares, aos nossos alunos da disciplina de Metodologia da Investigação Científica em Psicologia, que, em anos sucessivos, nos auxiliaram na inventariação do “material” em análise, e aos colegas que tiveram a generosidade de ler e criticar as versões preliminares do presente artigo.

3 Ao adoptarmos o presente sistema de classificação das orientações metodológicas, não queremos deixar de sublinhar que, apesar de nos inscrevermos na tradição campbelliana (v.g., Alferes, 1997), não defendemos a experimentação à outrance, nem ignoramos as potencialidades de metodologias alternativas. Pelo contrário, fazemos nossas as palavras do próprio Donald Campbell, num prefácio luminoso ao clássico de Yin (1984) sobre o estudo de casos individuais: “cada vez mais tenho chegado à conclusão de que a essência do método científico não é a experimentação em si mesma, mas a estratégia implicada na frase hipóteses rivais plausíveis” (1984, p. 9). É apenas pelo valor acrescentado na eliminação de hipóteses rivais plausíveis que a experimentação ocupa um lugar privilegiado no conjunto dos métodos de investigação empírica.

4 Pesquisa realizada na PsycINFO, em 28 de Agosto de 2008, através da interface da EBSCO (Advanced Search mode), tendo como critério os códigos de classificação de conteúdos (Classification Code numbers – cf. APA, 2008), restrita às revistas (Publication Type=All Journals) e limitada temporalmente por Janeiro de 1967 e Dezembro de 2000.

5 Considerar a psicologia do desenvolvimento, a psicologia social e a psicopatologia como subdisciplinas fundamentais e remeter para o domínio das problemáticas de aplicação as subdisciplinas clássicas da psicologia da educação, da psicologia das organizações e da psicologia clínica e da saúde, não implica, obviamente, que estas últimas se caracterizem pela ausência de problemáticas de natureza fundamental ou de preocupações de formalização e validação de modelos. O que queremos dizer é que tais subdisciplinas, ao definirem-se, antes de mais, pela especificidade dos contextos ou das dimensões da acção humana, são tendencialmente polarizadas por problemáticas de aplicação, sem o que seriam uma contradição nos termos. Para uma discussão do perfil destas subdisciplinas, cf. Bidarra (1998), Ramos (2004), Raposo (2004), Teixeira, Cima, e Cruz (1999) e Vala, Garrido, e Alcobia (2002). Para uma visão de conjunto do campo da psicologia no último século, cf. os volumes editados por Koch (1959-1963) e por Koch e Leary (1992). Para aspectos de natureza epistemológica e histórica, cf. Silva (1990) e os volumes editados por Leary (1990) e por O’Donohue e Kitchener (1996).

6 Os ex post facto designs – investigações em que factores classificatórios como o sexo, a idade, a classe social, as categorias nosográficas ou qualquer outro atributo ou característica psicológica dos sujeitos funciona como variável independente passiva – constituem um caso paradigmático das investigações não experimentais.

7 Para além de não abranger a totalidade dos artigos indexados por conteúdos, a classificação por metodologias da PsycINFO adopta uma perspectiva descritiva, subordinando a lógica do processo de investigação (i.e., a estrutura dos designs utilizados – cf. subsecção Categorias de Análise) às técnicas, aos contextos e aos momentos de recolha de informação ou aos procedimentos de análise de dados: estudo de caso clínico, estudo empírico (incluindo replicações experimentais e estudos longitudinais), estudo de campo, revisão da literatura (diferenciada de revisão sistemática), modelização matemática, meta-análise, estudo de caso não-clínico, estudo qualitativo, estudo quantitativo e ensaios clínicos aleatorizados. Como é evidente, em diversas rubricas relativas a estudos empíricos não documentais (v.g., estudos empíricos ou estudos quantitativos) podem ser incluídas investigações experimentais, quasi-experimentais ou não experimentais.

 

 

O presente artigo retoma e desenvolve o conteúdo de uma comunicação apresentada no II Congresso Hispano-Português de Psicologia (secção História da Psicologia), realizado na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, nos dias 23, 24 e 25 de Setembro de 2004.

Enviar correspondência para Valentim Rodrigues Alferes, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra, Rua do Colégio Novo, Apartado 6153, 3001-802 Coimbra, Portugal. E-mail: valferes@fpce.uc.pt

(*) Núcleo de Investigação e Intervenção em Psicologia Social, Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra.

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