26 3 
Home Page  

  • SciELO

  • SciELO


Análise Psicológica

 ISSN 0870-8231

     

 

Qualidade da vinculação ao pai e à mãe e o desenvolvimento da amizade recíproca em crianças de idade pré-escolar (*)

 

Nuno Torres (**)

António J. Santos (**)

Orlando Santos (**)

 

RESUMO

Estudos empíricos demonstraram que as crianças com uma vinculação mais segura com as figuras parentais são mais capazes de co-construir relações significativas com os pares, e que os relacionamentos afiliativos das crianças (em particular as amizades) parecem ter um grande impacto no desenvolvimento social ao longo da vida. Grande parte dos estudos têm-se centrado sobretudo na relação de vinculação com a mãe e não é claro qual o papel da vinculação com o pai no estabelecimento de relações próximas com os pares. O presente estudo examinou as relações entre a segurança da vinculação à mãe e ao pai aos 2,5 anos e o número de amizades da criança aos quatro anos. Participaram neste estudo 35 díades mãe-criança e pai-criança de famílias bi-parentais. A idade inicial das crianças variou entre 29 e 38 meses (M=31.75; DP=2.56), 23 eram raparigas. Ambos os progenitores trabalhavam fora de casa e as famílias pertenciam a um nível socio-económico médio. Para avaliar a segurança dos comportamentos de vinculação com ambos os pais foi utilizada a versão portuguesa do Attachment Behavior Q-Set (AQS) (Waters, 1995) aos 2,5 anos de idade. Para avaliar o número de amizades foram usadas duas técnicas sociométricas aos quatro anos de idade: 1) Método das Nomeações: (McCandless & Marshall, 1957), e 2) Escala de Apreciação (Asher, Singleton, Tinsley, & Hymel, 1979). Os resultados demonstraram uma consistência significativa nos comportamentos de base-segura da criança com os dois progenitores (r=.47, p<.05), e a uma correlação positiva entre comportamentos de base-segura com o pai e o posterior numero de amizades recíprocas da criança (r=.43, p<.05), o que sugere a existência de um efeito da interacção específica com o pai no estilo relacional da criança com os pares. Discutem-se os resultados argumentando que a vinculação segura ao pai pode ser uma condição necessária para o desenvolvimento de competências específicas na gestão da rede social das crianças em idade pré-escolar.

Palavras-chave: Vinculação pai, vinculação mãe, amizade recíproca.

 

ABSTRACT

Attachment research suggests that children with secure attachments are more able to construct meaningful relationships with peers. Few studies, however, have attempted to map early attachment security to the formation and maintenance of preschool friendships. Special attention has been paid to affiliative relationships (particularly friendships) because these are presumed to be of special importance with respect to a number of developmental outcomes and social adjustment indices. The present study examined the relations between mother-child and father-child attachment relationships and the number of child preschool friendships. Thirty-five mother/child and father/child dyads from bi-parental families participated in the study. Children were between 29 and 38 months of age (M=31.75; SD=2.56), all Caucasian, 23 were girls. 24 were firstborn and 31 had siblings. Both parents were employed outside home, and families are from middle class status according to local community standards. The AQS (Waters, 1995) was used to measure the organization of children’s secure base behavior with both parents at 2,5 years of age. Subsequently, two sociometric measures were used at 4 years of age: 1) Nominations (Marshall & McCandless, 1957), a standard measure composed of attributions of positive and negative nominations, and 2) Rating-scale (Asher, Singleton, Tinsley, & Hymel, 1979). The correlation between the independent AQS scores for fathers and mothers was positive and reached significance levels, (r=.47, p<.05). Thus, there was consistency in child secure base behavior across visits with each parent. There was a significant positive correlation between secure base behavior with fathers and the number of reciprocal friendships (r=.43, p<.05). In the present study secure children with fathers tend to have more reciprocal friends, a result that may indicate the existence of a distinct relational effect of father’s style of interaction.

Key words: Father attachment, mother attachment, reciprocal friendship.

 

A maioria das crianças na sociedade urbana actual toma contacto com uma rede alargada de relacionamentos, fora da família nuclear e da supervisão dos pais, durante o chamado período pré-escolar, ou seja sensivelmente entre os 2-3 e os 5-6 anos de idade. As crianças inseridas em contextos educativos e de cuidados pré-escolares estabelecem relacionamentos cada vez mais numerosos e qualitativamente diferenciados, configurando uma rede social afiliativa complexa (Hay, Payne, & Chadwick, 2004; Howes et al., 1998; Strayer & Santos, 1996). Esta rede afiliativa normalmente inclui o contacto frequente com crianças desconhecidas, interacções mais ou menos esporádicas com crianças familiares, mas também relacionamentos preferenciais e estáveis que podem configurar as chamadas amizades (Howes, 1983).

De facto, parece existir um aumento linear no tamanho dos grupos afiliativos da criança à medida que a idade avança e o desenvolvimento ocorre. Se já é possível observar relações diádicas coesas em crianças com cerca de dois anos de idade, cerca dos três anos os laços diádicos parecem ser aspectos nascentes de organização grupal mais vasta e mais complexa (Strayer & Santos, 1996; Hay et al., 2004). O contacto com uma nova rede social de adultos e outras crianças é uma oportunidade para o desenvolvimento socio-emocional ao mesmo tempo que representa um desafio às capacidades de adaptação da criança num ambiente social complexo (Hay et al., 2004; Waters & Sroufe, 1983).

O estabelecimento, manutenção e estabilidade de relações positivas de amizade parece conduzir ao desenvolvimento de repertórios de competências sociais mutuamente aprendidas, que se tornam cada vez mais sofisticados (Howes, 1983) e estes são considerados factores importantes para uma melhor adaptação ao jardim-escola (Ladd & Price, 1987; Rubin & Coplan, 1998), bem como para o ajustamento psicológico, bem-estar e relação social ao longo da vida (e.g. Szewczyk-Sokolwski et al., 2005).

Trabalhos empíricos têm mostrado a influência decisiva da interacção com os pares e da amizade na socialização dos impulsos agressivos, na cognição e cognição social, nas competências linguísticas, e no desenvolvimento moral da criança, bem como no ajustamento posterior em pelo menos três domínios: abandono escolar, criminalidade juvenil e adulta e psicopatologia (Coie et al., 1992; Parker & Asher, 1987; Szewczyk-Sokolwski et al., 2005). Segundo alguns autores a influência dos pares no comportamento da criança pode igualar ou mesmo ultrapassar a influência dos pais em domínios como o brincar, a agressividade e a justiça (Vaughn et al., 2000). Por outro lado a existência de amigos na infância aumenta a probabilidade de acesso a suporte social quando a criança dele necessita (Ladd & Kochenderfer, 1996).

Assim, a qualidade da adaptação à rede social da criança pré-escolar, tanto dentro da família como fora dela, pode determinar em grande parte o desenvolvimento social nesta faixa etária, bem como ter importantes implicações para o ajustamento psicossocial durante o resto da vida (Hawley, 2002; Santos & Winegar, 1999; Wood et al., 2004).

 

DIFERENÇAS INDIVIDUAIS NA INTERACÇÃO COM OS PARES

É possível observar desde cedo na infância assinaláveis diferenças individuais no estilo de interacção da criança com as outras crianças: se por um lado algumas desfrutam de muitas amizades e são bem aceites socialmente, no outro extremo algumas crianças são quase totalmente rejeitadas e não tem amigos (Hay et al., 2004; Parker & Asher, 1987).

Apesar de não existir uma sobreposição total entre determinados comportamentos (ex., agressividade, empatia, etc.) e a afiliação da criança, as crianças emocionalmente perturbadas demonstram agressividade e antagonismo com os pares, e parecem formar afiliações instáveis (Strayer, 1979). Com base numa meta-análise, Newcomb e Bagwell (1996) concluíram que ter amigos é um indicador de competências interpessoais específicas.

Segundo o modelo de desenvolvimento sócio-emocional proposto por Waters e Sroufe (1983) as vicissitudes da adaptação da criança a novas situações sociais dependem 1) dos recursos materiais e sociais disponíveis no ambiente externo e 2) dos recursos pessoais da criança, nomeadamente ao nível das competências sociais para estabelecer relacionamentos e interacções positivas e para explorar o ambiente de forma adequada.

Ao nível dos recursos pessoais da criança pré-escolar, o estabelecimento de amizades está dependente de competências para a troca de acções prosociais recíprocas entre indivíduos tais como o brincar em cooperação, partilhar, ajudar, confortar, etc. (Hay et al., 2004; Hinde, 1979; Parker & Asher, 1987; Ross, Cheyne, & Lollis, 1988; Youniss, 1986), bem como da expressão e controlo da agressividade, da tomada de perspectiva, e da reciprocidade de afecto positivo (Hay et al., 2004; Howes, 1983, Kramer & Gottman, 1992).

Apesar do relacionamento com os pares constituir uma tarefa desenvolvimental muito saliente e importante nesta idade, não é no entanto o único factor de desenvolvimento social. É comummente aceite que a relação primária com os pais durante os primeiros anos de vida fornece à criança as fundações da capacidade ou incapacidade de desenvolver relações sociais em geral e relações íntimas em particular (e.g. Schneider et al., 2001). Assim, é importante compreender o intercâmbio entre diferentes tipos de relacionamentos na rede social das crianças (Hay et al., 2004). Por exemplo, de acordo com o modelo sinergético de Hartup (1983), os relacionamentos com os pares e com as figuras parentais contribuem de forma complementar para o desenvolvimento social. Segundo McElwain e Volling (2004), e em concordância com Waters e Sroufe (1983), estabelecer uma relação de vinculação segura aos pais assume a maior relevância na primeira infância e providencia as fundações para um bom desempenho da criança nas tarefas desenvolvimentais posteriores, especialmente as relacionadas com as relações entre pares (Waters & Sroufe, 1983).

 

RELAÇÕES DE AMIZADE E VINCULAÇÃO AOS PAIS

A teoria da vinculação, originalmente proposta por John Bowlby, propõe que a qualidade da vinculação da criança com os pais vai influenciar a qualidade da interacção nas relações com os pares (Ainsworth et al., 1978; Bowlby, 1973, 1980, 1982; Park & Waters, 1989; Verissimo et al., 2003; Waters & Sroufe, 1983). O estudo das relações com os pares na idade pré-escolar é de particular interesse na perspectiva da teoria da vinculação, uma vez que nesta idade costuma ocorrer o já referido alargamento significativo da rede social da criança, e assim os efeitos da relação primária com os pais nos padrões de relacionamento com outros parceiros se devem fazer sentir mais claramente (Weinfield et al., 1997; Clark & Ladd, 2000).

 

PROCESSOS COMUNS À VINCULAÇÃO AOS PAIS E AO ESTABELECIMENTO DE AMIZADES

Existem várias razões teóricas para esperar uma associação entre a segurança da vinculação com os cuidadores primários e a qualidade das relações da criança com outras pessoas nomeadamente através da construção de modelos internos dinâmicos (Ainsworth et al., 1978; Bowlby, 1973; Kerns, 2000; Wood et al., 2004). Crianças com vinculação segura podem construir modelos internos dinâmicos caracterizados por expectativas sociais positivas para as relações (Bretherton, 1990; Booth et al., 1998; Weinfield et al., 1997; Wood et al., 2004). Simultaneamente o fenómeno da “base segura” (Ainsworth et al., 1978; Waters & Cummings, 2000) pode promover a exploração do meio e as interacções com novas crianças, representando oportunidades para exercer e desenvolver competências sociais gerais (Booth et al., 1998). Uma vinculação segura pode determinar uma boa auto-estima e sentimentos de eficácia, o que combinado com a aprendizagem de interacções recíprocas satisfatórias nas relações precoces pode resultar numa tendência a obter respostas positivas dos pares e a formar laços de amizade (Booth et al., 1998; Wood et al., 2004).

Em contraste, os padrões precoces inseguros de vinculação parental, pela ausência dos referidos recursos pessoais e pelo afecto negativo resultante dessa mesma vinculação insegura (Wood et al., 2004), podem resultar em relacionamentos pobres com outras crianças e rejeição pelos pares. Crianças com uma vinculação insegura podem tornar-se mais sensíveis a comportamentos percepcionados como rejeição e hostilidade e dar origem respostas típicas tais como evitamento ou agressão (e.g. Weinfield et al., 1997). Assim estas crianças, podem tender a esperar dos outros hostilidade e relacionar-se com pares com base nessa expectativa (Troy & Sroufe, 1987).

A influência da vinculação parental pode ser considerada de uma forma mais global, ou seja explicando todos ou quase todos os aspectos do desenvolvimento social da criança, ou pode ser tomada de uma forma mais restrita, ou seja prevendo apenas a qualidade das relações próximas, íntimas, da criança com os seus amigos (Schneider et al., 2001). Assim, segundo Howes (1983), enquanto o pequeno número de relações diádicas de crianças mais novas pode servir a necessidade de segurança da criança face à ausência das figuras parentais, por outro lado as crianças do pré-escolar parecem explorar um número maior de relações mais esporádicas e menos estáveis, o que pode implicar diferentes tipos de competências sociais.

Desta forma, vários podem ser os processos que podem ligar causalmente os fenómenos de vinculação aos pais e a relação da criança com as outras crianças; estes processos podem ocorrer em vários níveis e ter várias ordens de interacção entre eles. Na literatura são referidos quatro grandes tipos de processos: 1) modelos internos dinâmicos, 2) imagem de si e auto-estima, 3) emocionalidade de base e regulação emocional, 4) competências sociais específicas para interacções sociais, pró-sociais e cooperativas.

 

MODELO INTERNO DINÂMICO

O modelo interno dinâmico de vinculação pode guiar o comportamento e a cognição do sujeito de uma forma generalizada face a outros relacionamentos fora da esfera familiar nuclear e em particular na relação com os pares (Park & Waters, 1989; Weinfeild et al., 1997; Wood et al., 2004). Os esquemas cognitivos e afectivos tais como expectativas, crenças e atitudes sobre as relações humanas são considerados pela teoria como sendo partes operantes deste modelo interno (e.g. Monteiro et al., 2008). Assim, crianças com vinculação do tipo seguro podem ter expectativas sociais positivas que levam a uma interpretação geralmente benévola dos comportamentos dos outros, e a respostas pró-sociais (Weinfield et al., 1997). A exploração activa de um meio novo é favorecido pelo fenómeno de “base segura”, aumentando as oportunidades para interacção positiva e relações satisfatórias (Booth et al., 1998). Por outro lado, as crianças inseguramente vinculadas estão geralmente mais predispostas a dar atenção, a interpretar e a responder a comportamentos de rejeição e hostilidade, podendo levar a respostas contingentes de afastamento e agressividade (Wood et al., 2004).

 

COMPETÊNCIAS SOCIAIS ESPECÍFICAS

As competências sociais específicas necessárias para a integração sequencial de comportamentos, de modo a ser capaz de realizar interacções recíprocas com outras pessoas, parecem ser aprendidas nas primeiras relações com as figuras parentais (Weinfield et al., 1997). O mesmo sucede com a capacidade de tomada de perspectiva social e comportamentos pró-sociais de aproximação (Wood et al., 2004). Estudos empíricos têm revelado associações entre o relacionamento positivo com os pais (em particular o suporte emocional), e competências altruístas e de redução da agressividade na criança. Estes estudos, revelaram por seu lado que o controlo excessivo e a intrusividade parental estão associados a um baixo estatuto da criança entre os seus pares (Clark & Ladd, 2000). As crianças de idade pré-escolar com uma vinculação segura, têm mostrado ser mais empáticas e competentes com os seus pares e simultaneamente terem melhores desempenhos nas medidas sociométricas de popularidade, bem como uma melhor qualidade de interacção com os amigos pré-escolares do que as crianças com vinculação insegura (Troy & Sroufe, 1987; Park & Waters, 1989). Num estudo com 192 crianças de 5 anos, Clark e Ladd (2000) definiram um constructo de “orientação pró-social” composto por um conjunto de capacidades da criança para empatizar com as emoções das outras crianças; verificaram que a relação de suporte emocional com os pais determinava esta orientação pró-social da criança; por sua vez a orientação pró-social da criança estava significativamente relacionada com a) aceitação pelos pares, b) número de amizades (mútuas), c) harmonia da amizade, e d) redução de conflito nas interacções.

 

ESTUDOS SOBRE A ASSOCIAÇÃO ENTRE VINCULAÇÃO E RELAÇÃO COM PARES

A grande variedade de estudos usando medidas diferentes tanto de vinculação como de relação com pares e amizade tem demonstrado resultados congruentes e que revelam uma associação significativa entre segurança da vinculação parental com a aceitação da criança entre os pares, assim como com o número e a qualidade das amizades recíprocas da criança (Clark & Ladd, 2000; Schneider et al., 2001) mas inúmeros aspectos permanecem ainda pouco claros e insuficientemente estudados.

Numa meta-análise realizada com 65 estudos publicados entre 1970 e 1998, Schneider et al. (2001) verificaram que o efeito da dimensão (effect size) da associação entre a vinculação à figura materna e o sucesso das relações com pares foi de 0.20 (Z=11.91, p<0.001). O grupo de estudos que avaliou especificamente as amizades próximas revelou um efeito significativamente maior da vinculação com mãe que o grupo de estudos sobre outro tipo de relação entre pares. Estudos posteriores têm obtido resultados na mesma linha (e.g. Kerns, 2000; Wood et al., 2004).

Por outro lado, grande parte dos estudos tem-se centrado sobretudo na relação de vinculação com a mãe, e não é claro qual o papel da vinculação a outras figuras importantes da rede social da criança, tal como o pai, nestes processos. Apenas cinco estudos dos 65 analisados por Schneider et al. (2001) envolveram a avaliação da vinculação ao pai.

 

O PAPEL DA VINCULAÇÃO AO PAI

Apesar da teoria original de Bowlby (1973, 1980, 1982) propor a existência de vinculação ao pai e salientar a sua grande importância no desenvolvimento da criança, sobretudo como um companheiro de brincadeiras, existem muito poucos estudos empíricos sobre a especificidade do pai na área da vinculação (para uma revisão ver Monteiro, 2008).

No entanto, resultados contraditórios no que respeita aos factores antecedentes da vinculação com a figura paterna, e a ausência de correlações da magnitude esperada entre a vinculação à mãe e a vinculação ao pai (e.g. van IJzendoorf & de Wolff, 1997), levaram os investigadores a propor que a vinculação às duas figuras parentais deve ter trajectórias e determinantes específicos e únicos a cada uma delas (Caldera, 2004; Grossman et al., 2002). Schneider et al. (2001) referiram a grande importância de continuar a explorar as implicações entre a vinculação ao pai e as relações de pares da criança.

Alguns estudos utilizando o Attachment Q-Sort (AQS) de Waters e Deane (1985) encontraram correlações moderadas mas significativas entre a segurança de vinculação da criança ao pai e à mãe, embora com importantes diferenças em determinadas facetas da vinculação ao pai e à mãe, tais como a maior proximidade e o maior contacto físico entre a criança com a mãe (Caldera, 2004; Monteiro, 2008; Monteiro et al., 2008).

Verifica-se que desde os primeiros meses de vida, os estilos de interacção, de comunicação e de actividades lúdicas de pais e de mães apresentam características distintas: o pai costuma ser mais imprevisível e estimulantes do ponto de vista físico, e a mãe mais tranquila e usar objectos para mediar as interacções com a criança (Lewis & Lamb, 2003). É assim bastante provável que mães e pais desempenhem papéis diferentes na vida dos filhos em geral e no estabelecimento de relações de vinculação em particular (Lamb, 2005), o que se pode verificar empiricamente em famílias mais tradicionais (Grossman et al., 2002; Monteiro, 2008).

Num estudo longitudinal com famílias tradicionais, Grossman et al. (2002) verificaram que os modelos internos de vinculação segura da criança aos dez e aos dezasseis anos estavam significativamente relacionados com a sensibilidade do estilo de brincadeira mais desafiante, anteriormente exercido pelo pai aos dois anos de idade das crianças. Lamb (1975) propôs a hipótese que a figura paterna exerce um papel fundamental na socialização da criança, papel esse qualitativamente diferente do papel desempenhado pela figura materna. Cerca de trinta anos mais tarde, e depois de uma vasta revisão de estudos sobre o papel do pai tendo em conta a ecologia da paternidade, Grossman et al. (2002) concluíram que o pai desempenha um papel muito saliente de suporte nos aspectos exploratórios do fenómeno de base segura, providenciando segurança psicológica em momentos de brincadeira e excursões exploratórias, e permitindo que a criança se sinta segura ao experimentar certas coisas que as mães evitariam por considerarem perigosas.

Alguns estudos têm sugerido que a análise da rede de relações de vinculação da criança, que inclui não apenas a mãe mas uma série de figuras incluindo o pai, podem predizer melhor os resultados das interacções entre a criança e o amigo do que somente a qualidade da vinculação entre a mãe e a criança (Schneider et al., 2001; Lamb, 2005). Marcus e Mirle (1990) descobriram que a vinculação ao pai estava correlacionada com a competência social dos rapazes e Rice, Cunningham e Young (1997) verificaram que enquanto a vinculação ao pai estava associada à competência social na universidade a vinculação à mãe não estava.

Assim, a inclusão da díade pai-criança nos estudos sobre as amizades das crianças no pré-escolar permitirá examinar como é que as relações com a mãe e o pai contribuem, de forma conjunta e diferenciada, para a interacção criança-amigo. Segundo Daniels-Beirness, (1989) espera-se que a qualidade da relação de vinculação entre a criança e pai esteja fortemente relacionada com as relações sociais da criança, especialmente em rapazes de idade pré-escolar.

 

AVALIAÇÃO DA AMIZADE NA IDADE PRÉ-ESCOLAR

A definição e operacionalização do conceito de amizade em várias idades e períodos de desenvolvimento têm sido alvos de consideráveis esforços nas últimas décadas. A noção mais consensual é de que característica mais central de amizade é a reciprocidade e intimidade numa série de dimensões do relacionamento (e.g. Larsen & Hartup, 2002). Muitas crianças de idade pré-escolar não têm ainda capacidades cognitivas e linguísticas para descrever as qualidades da amizade e para identificar amigos específicos. No entanto, elas demonstram no seu comportamento preferências claras e estáveis por determinados parceiros de brincadeira (Santos, Vaughn, & Bost, 2008; Santos & Winegar, 1999; Strayer & Santos, 1996). De facto, comportam-se com esses parceiros preferenciais de uma forma particular, que levam os adultos (pais, professores, observadores) a descrevê-la como sendo uma relação de “amizade” (e.g. Howes, 1983; Kerns, 2000; Vaughn & Santos, 2008).

A avaliação por entrevistas sociométricas tem demonstrado fornecer informação útil e adequada sobre os membros das redes sociais de pares das crianças. Pesquisas recentes sugerem que a sociometria de crianças a partir dos quatro anos fornece dados válidos e fiáveis sobre as amizades (Vaughn et al., 2000, 2001). É possível abordar as escolhas sociométricas (ou seja as preferências sociais), focando não apenas o estatuto de aceitação social do indivíduo em relação ao seu grupo de pares através do número de nomeações sociométricas que recebe e envia, mas focando também as relações diádicas existentes entre os elementos do grupo, ou seja, a existência de bilateralidade ou reciprocidade entre quem escolhe e quem foi escolhido (e.g., Santos, Vaughn, & Bonnet, 2000). De facto, alguns autores sugeriram que a inclusão de escolhas sociométricas recíprocas e não recíprocas indistintamente na mesma categoria de “amizade” acaba por negligenciar as diferenças entre amizades próximas e ligações superficiais que podem ser unilaterais; desta forma obscurece-se o aspecto diádico, mútuo e recíproco das amizades (Hartup, 1996; Newcomb & Bagwell, 1995). Assim, analisámos separadamente escolhas sociométricas de amizade recíprocas (ou mútuas) e escolhas não-recíprocas (ou unilaterais), determinada pelas entrevistas sociométricas de cada criança, seguindo a proposta de Vaughn et al. (2001).

O presente estudo tem por objectivo esclarecer de que forma a qualidade da vinculação na rede familiar nuclear, (na perspectiva da qualidade da vinculação da criança ao pai e à mãe) está relacionada com a adaptação posterior à rede de pares, em particular na formação de amizades diádicas recíprocas com outras crianças da mesma idade.

 

MÉTODO

Participantes

Os participantes neste estudo foram contactados no âmbito do projecto (PTDC/PSI/66172/2006 e PTDC/PSI/64149/2006). Consistem em 35 díades mãe-criança e 35 díades pai-criança oriundos de 35 famílias. Todas as famílias são bi-parentais. A idade das crianças na altura da primeira avaliação variava e ntre os 29 e os 38 meses (M=31.75; DP=2.56). Do total de 35 crianças, 23 raparigas e 12 eram rapazes. 24 das crianças eram primogénitos, e 31 tinham irmãos. A Idade das mães na altura da primeira avaliação variava entre os 26-48 anos (M=34.95; DP=4.33) e a Idade dos pais entre 28-63 anos (M=37.48; DP=6.08). O Nível educativo das mães entre variava entre 7-23 anos de escolaridade (M=15.46; DP=3.34) e o Nível educativo dos pais entre 7-23 anos de escolaridade (M=14.77; DP=3.17). Ambos os progenitores trabalhavam fora de casa e as famílias pertenciam a um nível socio-económico médio.

Instrumentos

Attachment Behavior Q-Set (AQS)

O AQS (Waters, 1995) mede a organização da base-segura pela criança (i.e., equilíbrio entre comportamentos de manutenção da proximidade e de exploração do ambiente), na presença de figuras de vinculação (mãe, pai e outras) em contextos ecologicamente válidos. Trata-se de um Q-sort com noventa itens, usados para descrever comportamentos relevantes em que a criança usa os progenitores como base-segura. Estudos prévios demonstraram suporte para a validade e adequação do AQS na cultura Portuguesa (Veríssimo et al., 2005; Veríssimo et al., 2006).

Entrevistas Sociométricas

Foram usadas duas técnicas sociométricas.

1) Método das Nomeações: uma medida standard composta de nomeações de pares com atribuições positivas e com atribuições negativas (McCandless & Marshall, 1957).

2) Escala de Apreciação: uma medida da apreciação dos colegas de aula através de uma escala de 3 pontos (Asher, Singleton, Tinsley & Hymel, 1979).

Apesar de existirem ainda muito poucos estudos em crianças do pré-escolar sobre a coerência de diferentes medidas sociométricas, tais como o método das nomeações e as escalas de apreciação, os resultados apontam para uma associação significativa entre eles (Wasik, 1987; ver o artigo de Inês Peceguina et al. neste número, para uma revisão detalhada).

Procedimentos

Visitas ao lar e aplicação do AQS

As díades mãe-criança e pai-criança foram observadas em visitas separadas, cada uma com a duração entre duas a três horas, efectuadas por duas equipas diferentes de investigadores treinados para o efeito, e foram contrabalançadas. Os observadores ordenaram os itens num contínuo de nove categorias desde “extremamente incaracterístico” até “extremamente característico” da criança. As visitas foram realizadas aos 2,5 anos de idade (aproximadamente aos trinta meses; M=31.75; DP=2.56) da criança.

Sociometria

As crianças foram entrevistadas individualmente, durante o segundo semestre do ano escolar, aos quatro anos de idade.

1) Método das Nomeações (McCandless & Marshall, 1957). Pediu-se a cada criança que escolhesse (a partir das fotografias de rosto dos colegas), as três crianças com quem mais gosta de brincar (três primeiras escolhas positivas), as três crianças com quem não gosta de brincar (três escolhas negativas) e, por fim, que seleccionasse as restantes, uma a uma, pelo critério gosta mais de brincar. As nomeações positivas basearam-se nas três primeiras escolhas. As escolhas sociométricas positivas foram depois usadas para identificar díades de nomeações positivas recíprocas (amigos) e o número de nomeações não-recíprocas.

2) Escala de Apreciação (Asher, Singleton, Tinsley, & Hymel, 1979). Pediu-se a cada criança que classificasse os colegas, numa escala do tipo Likert, que variava entre “1” (não gosta muito de brincar) e “3” (gosta muito de brincar). Para facilitar a compreensão da classificação intermédia (i.e., “2” – gosta mais ou menos de brincar), utilizaram-se cartões com smiles (cara contente – gosta muito de brincar, cara triste – não gosta muito de brincar e cara séria – gosta mais ou menos de brincar). O total de aceitação baseou-se na posição relativa de cada criança no grupo.

 

RESULTADOS

AQS

Os valores de segurança no AQS com o pai variaram entre -.04 e .79 (M=.41; SD=0.22). As notas com a mãe foram entre -.12 e .79 (M=.43; SD=0.24). Estes valores estão no intervalo de valores típicos identificados por van Ijzendoorn et al. (2004) na sua meta-análise de estudos com o AQS em amostras normais. Uma ANOVA de medidas repetidas agrupada pelo sexo da criança testou diferenças entre as notas AQS de pais e mães. Não foram encontradas diferenças significativas nos efeitos principais referentes aos progenitores (entre grupos), ao sexo da criança, nem à interacção entre eles.

A correlação entre as notas AQS do pai e da mãe foi positiva e atingiu o nível de significância estatístico (r[35]=.47, p<.05). Assim, verificou-se uma consistência significativa nos comportamentos de base-segura da criança com os dois progenitores, isto é, crianças com resultados mais elevados nos comportamentos de base segura com um dos progenitores tinham tendência a ter resultados mais elevados também com o outro progenitor.

Sociometria

A análise da coerência entre as duas medidas sociométricas utilizadas nesta amostra (ver Peceguina et al. neste número) revelou a existência de uma correlação significativa entre a quantidade de nomeações positivas e os resultados da escala de apreciação tanto para rapazes como para raparigas. Assim, utilizámos apenas uma delas, a medida de nomeações positivas, para identificar as díades de nomeações recíprocas e o número de nomeações não-recíprocas de cada criança. Ambos os valores brutos variam entre 0 e 3, e foram estandardizados dividindo-os pelo número de crianças em cada grupo, de modo a controlar os efeitos do tamanho do grupo no número de nomeações.

Relação entre AQS e número de Amizades recíprocas e não-recíprocas

Como se pode verificar na Tabela 1, os comportamentos de base segura com o pai e com a mãe estão ambos positivamente correlacionados com o número de amizades recíprocas da criança, e ambos estão negativamente correlacionadas com o número de nomeações não recíprocas da criança (isto é, com nomeações positivas da criança “não correspondidas” pelos pares).

 

TABELA 1

Correlações entre segurança no AQS e nomeações positivas na sociometria

 
Número de Amizades Recíprocas
Número de Nomeações Não Recíprocas
Comportamento de Base Segura com a Mãe
0.31
-0.21
Comportamento de Base Segura com o Pai
0.43*
-0.22

Legenda: * p<.05

 

No entanto, apenas a correlação positiva entre comportamentos de base-segura com o pai e o número de amizades recíprocas atingiu significância estatística. Este resultado demonstra que as crianças que manifestaram mais segurança na vinculação com o pai aos 2.5 anos de idade obtiveram significativamente mais nomeações recíprocas de amizade com os pares do jardim-de-infância aos quatro anos de idade (r[35]=0.43; p<0.05)

 

DISCUSSÃO

Os resultados apoiam a ideia de que em geral ambos os pais desta amostra são capazes de construir relacionamentos de base segura com os seus filhos, isto é, são sensíveis às características e competências dos filhos e ajustam os seus comportamentos durante as interacções com eles (Lewis & Lamb, 2003), o que é demonstrado pelos valores médios do AQS que se encontram dentro do intervalo normativo (van Ijzendoorn et al., 2004). No presente estudo crianças com uma vinculação mais segura com a figura paterna tendem a ter mais amizades recíprocas. Este resultado sugere a existência de efeitos relacionais distintos que o estilo de interacção com a figura paterna pode ter no posterior relacionamento da criança com os pares.

De facto, a literatura sugere que a presença de estilos diferentes de interacção e brincadeira evidenciado pelo pai e pela mãe pode ter impactos diferentes na trajectória de desenvolvimento. É possível que a interacção com o pai, por ser tipicamente mais estimulante, imprevisível e desafiante, contribua para o desenvolvimento de competências que são adequadas num contexto mais complexo, imprevisível e desafiante para a criança pré-escolar, tal como a interacção com um grupo de crianças inicialmente desconhecidas num ambiente externo à família. Neste sentido, Grossman et al. (2002) verificaram que a sensibilidade do pai nas brincadeiras desafiantes e exploratórias com a criança aos dois anos era um preditor longitudinal significativo da segurança do modelo interno da criança aos dez anos. O estilo de interacção específico do pai, desde que ao mesmo tempo promova uma vinculação segura, pode exercer um efeito nas capacidades de gerir a agressividade e afectos negativos dos filhos.

Adicionalmente, e tendo em conta uma perspectiva ecológica das redes sociais e complexidade proposta por Lamb (2005), é possível integrar a noção de relação triangular, proposta por uma linha psicodinâmica de pensamento, na tentativa de compreender estes resultados (e.g. Sharpless, 1990). A existência de uma relação de vinculação segura simultaneamente à mãe e ao pai pode estar dependente de variados factores inerentes aos três elementos em estudo da família (criança, mãe e pai), entre as quais a competência social para gerir uma dinâmica afectiva não apenas diádica mas também triádica, proposta por exemplo pela noção de Relação de Objecto Triádica (T.O.R.; Sharpless, 1990).

É então possível conceber que o desenvolvimento precoce de competências para gerir uma relação de nível mais complexo do que a díadica, tanto cognitivamente como emocionalmente, como é a relação triádica familiar, possa servir como facilitador para a gestão de tríades de amigos pela criança pequena em contextos extra-familiares. A capacidade de estabelecer relações transitivas do tipo triangular pela criança (ou seja, em que “o amigo do meu amigo se torna também meu amigo”) pode certamente aumentar o número de amizades recíprocas e pode mesmo ser um antecedente da gestão adequada de triângulos de amigos, os quais, tendendo a agrupar-se em cliques durante o período pré-escolar, aumentam significativamente o número de amizades da criança.

Sem a existência de vinculação segura aos dois elementos parentais estas capacidades podem estar menos desenvolvidas e dificultar a aquisição de novos amigos através do processo de transitividade afiliativa, comum em redes afiliativas de crianças a partir de tenra idade (e.g. Lamb, 2005; Santos et al., 2008; Strayer & Santos, 1996; Vaughn & Santos, 2008). Assim, a vinculação segura ao pai pode ser a condição necessária para o desenvolvimento de competências específicas na gestão de relacionamentos numa rede social que tem fenómenos estruturais de complexidade progressivamente crescente

 

REFERÊNCIAS

Ainsworth, M. D. S., Blehar, M., Waters, E., & Wall, S. (1978). Patterns of attachment: A psychological study of the strange situation. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.

Asher, S. R., Singleton, L. C., Tinsley, B. R., & Hymel, S. (1979). A reliable sociometric measure for children. Developmental Psychology, 15, 443-444.

Booth, C. L., Rubin, K. H., & Rose-Krasnor, L. (1998). Perceptions of emotional support from mother and friend in middle childhood: Links with social-emotional adaptation and pre-school attachment security. Child Development, 69, 427-442.

Bowlby, J. (1973). Attachment and loss. Separation: Anxiety and anger (Vol. 2). New York: Basic Books.

Bowlby, J. (1980). Attachment and loss. Loss: Sadness and depression (Vol. 3). New York: Basic Books.

Bowlby, J. (1982). Attachment and loss: Attachment (Vol. 1, 2nd ed. rev.). New York: Basic Books (Original work published, 1969).

Bretherton, I. (1990). Communication patterns, internal working models and the intergenerational transmission of attachment relationships. Infant Mental Health Journal, 11, 237-251.

Caldera, Y. (2004). Paternal involvement and infant-father attachment: A Q-set study. Fathering: A Journal of Theory, Research, and Practice about Men as Fathers, 2, 191-210.

Clark, K. E., & Ladd, G. W. (2000). Connectedness and autonomy support in parent-child relationships: Links to children’s socioemotional orientation and peer relationships. Developmental Psychology, 36, 485-498.

Coie, J. D., Lochman, J. E., Terry, R., & Hyman, C. (1992). Predicting early adolescent disorder from childhood aggression and peer rejection. Journal of Consulting and Clinical Psychology, 60, 783-792.

Daniels-Beirness, T. (1989). Measuring peer status in boys and girls: A problem of apples and oranges. In B. H. Schneider, G. Attili, J. Nadel, & R. P. Wiessberg (Eds.), Social competence in developmental perspective (pp. 107-120). Dordrecht, The Netherlands: Kluwer.

Grossmann, K., Grossmann, K. E., Fremmer-Bombik, E., Kindler, H., Scheuerer-Englisch, H., & Zimmermann, A. P. (2002). The uniqueness of the child-father attachment relationship: Fathers sensitive and challenging play as a pivotal variable in a 16-year longitudinal study. Social Development, 11, 301-337.

Hawley, P. (2002). Social dominance and prosocial and coercive strategies of resource control in preschoolers. International Journal of Behavioral Development, 26, 167-176.

Hay, D. F., Payne, A., & Chadwick, A. (2004). Peer relations in childhood. Journal of Child Psychology and Psychiatry, and Allied Disciplines, 45, 84-108.

Hartup, W. W. (1983). Peer groups. In P. H. Mussen (Gen Ed.), Handbook of child psychology (Vol. 4, pp. 103-196). New York: Wiley.

Howes, C. (1983). Patterns of friendship. Child Development, 54, 1041-1053.

Hinde, R. A. (1979). Towards understanding relationships. London: Academic Press.

Howes, C., Hamilton, C. E., & Phillipsen, L. C. (1998). Stability and continuity of child-caregiver and child-peer relationships. Child Development, 69, 418-426.

Kerns, K. A. (2000). Types of preschool friendships. Personal Relationships, 7, 311-324.

Kramer, L., & Gottman, J. M. (1992). Becoming a sibling: ‘With a little help from my friends’. Developmental Psychology, 28, 685.

Ladd, G. W., & Price, J. M. (1987). Predicting children’s social and school adjustment following the transition from preschool to kindergarten. Child Development, 58, 1168-1189.

Ladd, G. W., & Kochenderfer, B. J. (1996). Linkages between friendship and adjustment during early school transitions. In W. M. Bukowski, A. F. Newcomb, & W. W. Hartup (Eds.), The company they keep: Friendship in childhood and adolescence (pp. 322345). New York: Cambridge University Press.

Lamb, M. (1975). Fathers: Forgotten contributors to child development. Human Development, 18, 245-266.

Lamb, M. E. (1977). The development of mother-infant and father-infant attachments in the second year of life. Developmental Psychology, 13 (6), 637-648

Lamb, M. E. (2005). Attachments, Social Networks, and Developmental Contexts. Human Development, 48, 108-112.

Laursen, B., & Hartup, W. (2002). The origins of reciprocity and social exchange in friendships. New Directions for Child & Adolescent Development, 95, 27-40.

Lewis, C., & Lamb, M. E. (2003). Fathers’ influences on children’s development. The evidence from two-parent families. European Journal of Psychology of Education, 18, 211-228.

Marcus, R. F., & Volling, J. (1990). Validity of a child interview measure of attachment as used in child custody evaluations. Perceptual and Motor Skills, 70, 1043-1054.

McCandless, B. R., & Marshall, H. R. (1957). A picture sociometric technique for preschool children and its relation to teacher judgments of friendship. Child Development, 28, 139-148.

McElwain, N. L., & Volling, B. L. (2004). Attachment security and parental sensitivity during infancy: Associations with friendship quality and false-belief understanding at age 4. Journal of Social and Personal Relationships, 21, 639-667.

Monteiro, L. (2008). Análise do fenómeno de base segura em contexto familiar: A especificidade das relações criança/mãe e criança/pai. Tese de Doutoramento. Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.

Monteiro, L., Veríssimo, M., Vaughn, B. E., Santos, A. J., & Bost, K. K. (2008). Secure base representations for both fathers and mothers predict children’s secure base behavior in a sample of Portuguese families. Attachment & Human Development, 10, 1-18.

Newcomb, A. F., & Bagwell, C. L. (1996). The developmental significance of children’s friendship relations. In W. Bukowski, A. Newcomb, & W. Hartup (Eds.), The company they keep: Friendship in childhood and adolescence (pp. 289-321). Cambridge: Cambridge University Press.

Park, K. A., & Waters, E. (1989). Security of attachment and preschool friendships. Child Development, 60, 1076-1081.

Parker, J. G., & Asher, S. R. (1987). Peer relations and later personal adjustment: Are low-accepted children at risk? Psychological Bulletin, 102, 3 57-389.

Rice, K. G., Cunningham, T. J., & Young, M. (1997). Attachment, social competence, and emotional wellbeing: A comparison of black and white late adolescents. Journal of Counseling Psychology, 44, 89-101.

Ross, H. S., Cheyne, J. A., & Lollis, S. P. (1988). Defining and studying reciprocity in young children. In S. W. Duck (Ed.), Handbook of interpersonal relationships (pp. 143-160). New York: Wiley.

Rubin, K. H., & Coplan, R. J. (1998). Social and non-social play in early childhood: An individual differences perspective. In O. N. Saracho, & B. Spodeck (Eds.), Multiple perspectives on play in early childhood education (pp. 144-170). Albany: SUNY Press.

Santos, A. J., Vaughn, B. E., & Bonnet, J. (2000). L’influence du réseau affiliatif sur la répartition de l’attention sociale chez l’enfant en groupe préscolaire. Revue des Sciences de l´Éducation, 26, 17-34.

Santos, A. J., & Winegar, L. T. (1999). Child social ethology and peer relations: A developmental review of methodology and findings. Acta Ethologica, 2, 1-11.

Schneider, B. H., Atkinson, L., & Tardif, C. (2001). Child-parent attachment and children’s peer relations: A quantitative review. Developmental Psychology, 37, 86-100.

Sharpless, E. A. (1990). The Evolution of triadic object relations in the preoedipal phase: Contributions of developmental research. Psychoanal. Contemp. Thought, 13, 459-482.

Strayer, F. F. (1980). Social ecology of the preschool peer group. In W. A. Collins (Ed.), Development of cognition, affect and social relations (Vol. 13, pp. 165-196). Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum Associates.

Strayer, F. F., & Santos, A. J. (1996). Affiliative structures in preschool peer groups. Social Development, 5, 117-130.

Szewczyk-Sokolowski, M., Bost, K. K., & Wainwright, A. B. (2005). Attachment, temperament, and preschool children’s peer acceptance. Social Development, 14, 379-397.

Troy, M., & Sroufe, L. A. (1987). Victimization among preschoolers: Role of attachment relationship history. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 26, 166-172.

Vaughn, B. E., Azria, M. R., Krzysik, L., Caya, L. R., Bost, K. K., & Kazural, K. L. (2000). Friendship and social competence in a sample of preschool children attending head start. Developmental Psychology, 36, 326-338.

Vaughn, B. E., Colvin, N. T., Azria, M. R., Caya, L., & Krzysik, L. (2001). Dyadic analyses of friendship in a sample of preschool-age children attending Head Start: Correspondence between measures and implications for social competence. Child Development, 72, 862-878.

Van IJzendoorn, M. H. V., & Wolff, M. S. D. (1997). In Search of the absent father-meta-analyses of infant-father attachment: A rejoinder to our discussants. Child Development, 68, 604-609.

Van Ijzendoorn, M. H., Vereijken, C. M. J. L., Bakermans-Kranenburg, M. J., & Riksen-Walraven, J. M. (2004). Assessing attachment security with the attachment Q sort: Meta-analytic evidence for the validity of the observer AQS. Child Development, 75, 1188-1213.

Vaughn, B., & Santos, A. J. (2008). Behavioral structures governing social transactions among young children: Affiliation and dominance in groups of preschool age children. In K. H. Rubin, W. Bukowski, & B. Laursen (Eds.), Handbook of peer interactions, relationships, and groups (pp. 195-214). New York: Guilford Press.

Veríssimo, M., Monteiro, L., Vaughn, B., & Santos, A. J. (2003). Qualidade da vinculação e desenvolvimento sócio-cognitivo. Análise Psicológica, 21, 419-430.         [ Links ]

Veríssimo, M., Monteiro, L., Vaughn, B. E., Santos, A. J., & Watters, H. (2005). Coordenação entre o Modelo Interno Dinâmico da Mãe e o comportamento de base segura dos seus filhos. Análise Psicológica, 23, 7-17.         [ Links ]

Veríssimo, M., & Salvaterra, F. (2006). O modelo interno dinâmico da mãe e o comportamento de base segura dos seus filhos num grupo de crianças adoptadas. Psicologia, 20, 37-50.         [ Links ]

Wasik, B. H. (1987). Sociometric measures and peer descriptors of kindergarten children: A study of reliability and validity. Journal of Clinical Child Psychology, 16, 218-224.

Waters, E. (1995). Appendix A: Attachment Q-set (version 3.0). In E. Waters, B. E. Vaughn, G. Posada, & K. Kondon-Ikemura (Eds.), Caregiving, cultural, and cognitive perspectives on secure-base behavior and working models: New growing points of attachment theory and research. Monographs of the Society for Research in Child development, 60, 234-246.

Waters, E., & Deane, K. (1985). Defining and assessing individual diferences in attachment relationships: Q-methodology and the organization of behavior in infancy and early childhood. In I. Bretherton, & E. Waters (Eds.), Monographs of the Society for Research in the Child Development, 50, 41-65.

Waters, E., & Sroufe, L. A. (1983). Social competence as a developmental construct. Developmental Review, 3, 79-97.

Weinfield, N., Ogawa, J., & Sroufe, L. A. (1997). Early attachment as a pathway to adolescent peer competence. Journal of Research on Adolescence, 7, 241-265.

Wood, J. J., Emmerson, N. A., & Cowan, P. A. (2004). Is early attachment security carried forward into relationships with preschool peers? British Journal of Developmental Psychology, 22, 245-253.

Youniss, J. (1986). Development in reciprocity through friendship. In C. Zahn-Waxler, E. M. Cummings, & R. Iannotti (Eds.), Altruism and aggression: Biological and social origins (pp. 88-106). Cambridge, UK: Cambridge University Press.

 

(*) Agradecimentos: Os autores gostariam de agradecer a todas as mães, pais e crianças que aceitaram participar neste estudo, financiado em parte pela FCT (PTDC/ PSI/66172/2006 e PTDC/PSI/64149/2006). Os autores gostariam ainda de agradecer a todos os colegas da Linha 1, Psicologia do Desenvolvimento , da UIPCDE pelos seus comentários valiosos.

Contactos: asantos@ispa.pt, Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa.

(**) UIPCDE, Instituto Superior Psicologia Aplicada, Lisboa, Portugal.

Creative Commons License All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License