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Análise Psicológica

versão impressa ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica v.26 n.3 Lisboa jul. 2008

 

Envolvimento paterno e organização dos comportamentos de base segura das crianças em famílias portuguesas (*)

 

Lígia Monteiro (**)

Manuela Veríssimo (***)

António J. Santos (***)

Brian E. Vaughn (**)

 

RESUMO

Estuda-se, numa amostra de famílias bi-parentais, em que as mães trabalham a tempo inteiro, e as crianças frequentam cuidados não-maternos, várias horas por dia, o envolvimento paterno nas actividades de organização/cuidados (Práticas) e de brincadeira/lazer (Lúdicas). Analisam-se, os correlatos (variáveis socio-demográficas) e as consequências da participação paterna, ao nível da organização dos comportamentos de base segura da criança, com o pai e a mãe. Os participantes são 44 díades mãe/criança e pai/criança, tendo as crianças em média 31.91 meses (DP=2.56). Aplicou-se, a ambos os pais (separadamente), um questionário que avalia o envolvimento parental (Monteiro, Veríssimo, Castro, & Oliveira, 2006), e utilizou-se o Attachment Behavior Q-Set (Waters, 1995) na análise das relações de base segura. Os resultados indicam que é quase sempre a mãe a realizar as Tarefas Práticas e que tanto a mãe como o pai participam nas Actividades Lúdicas. A participação dos pais, nas Actividades Práticas, está significativamente correlacionada com o modo como a criança organiza os seus comportamentos de base segura, na relação com o progenitor, enquanto que, nas Actividades Lúdicas este valor é marginalmente significativo. Apenas a participação paterna, nas Actividades Lúdicas, se encontra significativamente correlacionada com o valor de segurança da criança na relação com a mãe. Nesta amostra a quantidade do envolvimento paterno tem consequências positivas para o desenvolvimento sócio-emocional da criança.

Palavras-chave: Envolvimento paterno, tipo de actividades, relações de base segura, contexto familiar.

 

ABSTRACT

Paternal involvement in organizational/care tasks and play/leisure activities was studied in a sample of dual-earner Portuguese families, with children that attend day-care for several hours a day. Socio-demographic variables were analysed in relation to involvement, as well as the impact of father’s participation in children’s organization of secure base behaviour in mothers and fathers relationships. 44 mother/child and father/child dyads participated in the study, children’s average age was 31.91 months (DP=2.56). To assess paternal involvement, (relative measure), both parents answered separately a questionnaire (Monteiro, Veríssimo, Castro, & Oliveira, 2006). The quality of the children’s secure base behavior was assessed with the Attachment behavior Q-Set (Waters, 1995). Mother/child and father/child dyads were observed, separately, in their homes, by different teams of observers. A traditional division in organization/care and a shared participation in the play activities emerged. No significant correlations were found between socio-demographic variables and fathers participation. Fathers that shared caregiving and play activities with mothers have children with higher security scores. In this sample the quantity of father’s participation showed positive consequences for the child socio-emotional development.

Key words: Paternal involvement, type of activities, secure base relationships, family context.

 

INTRODUÇÃO

Profundas transformações económicas, socio-demográficas e culturais ocorridas nas últimas décadas (onde a entrada massiva da mulher no mercado de trabalho é apontada como o factor mais saliente), conduziram a uma mudança na estrutura tradicional da família e nas expectativas acerca dos papéis a desempenhar pelas figuras parentais (Cabrera, Tamis-LeMonda, Lamb, & Boller, 1999; Parke, 1996; Torres, 2004). Seja por motivos económicos ou de desejo de autonomia e realização pessoal, o número de mulheres com trabalho remunerado, em Portugal, tem aumentado significativamente nas últimas décadas, em particular, a partir dos anos 1970. Em 2006, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (2007), a taxa de actividade feminina foi de 55.8%, face a 69% dos homens, o que comparativamente com os países da União Europeia coloca Portugal com uma das percentagens mais elevadas de mulheres no mercado de trabalho, em particular, no caso de mulheres com crianças em idade pré-escolar (Amâncio & Wall, 2004). Este aumento foi acompanhado por um crescimento substancial do número de crianças em cuidados não-maternos, durante várias horas por dia (e.g., o número de crianças na educação pré-escolar subiu de 12,6% no final dos anos 1970, para 77% em 2004/2005, Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação, 2007). Adicionalmente, o aumento do número de divórcios, de famílias mono-parentais, de coabitações e de famílias resultantes de segundos casamentos, tem contribuído, também, para a alteração da estrutura familiar tradicional (ver INE, 2007).

 

UM NOVO IDEAL DE CO-PARENTALIDADE OU PARTILHA PARENTAL

A par da mudança na imagem da mulher que, no presente, assume, simultaneamente, responsabilidades na esfera familiar e profissional, a imagem do homem tem vindo a alterar-se, colocando-se a tónica num pai afectuoso e activamente envolvido no quotidiano dos filhos. Em vez da atribuição de papéis específicos e complementares, surge um novo ideal de co-parentalidade em que ambos os pais partilham responsabilidades e tarefas nos domínios financeiro, doméstico e nos cuidados das crianças de um modo mais igualitário, pelo que, a divisão baseada no género é diluída (Deutsch, 2001; Cabrera et al., 1999; Cabrera, Tamis-LeMonda, Bradley, Hofferth, & Lamb, 2000).

Numa análise acerca das representações da paternidade, de avós e pais portugueses, Balancho (2004) verificou que as representações dos primeiros vão ao encontro da imagem do pai como figura de autoridade e disciplinadora, pouco envolvido emocionalmente e pouco presente na vida da criança. A actual geração, por oposição, considera como mais importante a capacidade de ser sensível, compreensivo e dialogante, de estar presente na vida da criança, partilhar a autoridade, ser descontraído e lúdico, o que vai ao encontro da noção do “novo pai”. Neste sentido, Gouveia, Baptista, Lopes, Barreto e Lacerda et al. (1991) verificaram, numa amostra de pais portugueses, que estes tinham um elevado grau de participação nos cuidados prestados aos filhos no 1.º ano de vida. No entanto, Monteiro, Veríssimo, Castro e Oliveira (2006), constataram que, na perspectiva de mães e pais portugueses, com crianças entre 1 e 6 anos de idade, é quase sempre a mãe a responsável pelas actividades relacionadas com as rotinas de cuidados à criança, assumindo o pai um papel de suporte, de ajuda quando é necessário. Apesar da crescente atenção dada a este “novo pai” os resultados parecem indicar que na prática as diferenças tendem a permanecer.

A imagem cultural da mulher como primeira prestadora de cuidados e do pai como figura substituta, ou apenas como companheiro de brincadeira parece ser, ainda, uma crença bastante enraizada na sociedade Ocidental (Deutsch, 2001; Parke, 1996; Rohner & Veneziano, 2001). Na realidade, até há aproximadamente uma década atrás, era visto como pouco masculino, para o homem, passar muito tempo envolvido nos cuidados das crianças, com excepção do apoio temporário à mãe (Rohner & Veneziano, 2001). Provavelmente, pais que optam por desempenhar papéis desiguais acreditam que as crianças têm um laço afectivo especial com a mãe e que não podem cuidar delas do mesmo modo (Beitel & Parke, 1998; Russell, 1983). Por outro lado, as pressões sociais vão no sentido de não se esperar que seja o homem, por exemplo, a ficar em casa quando os filhos estão doentes, dado que dele se espera um investimento total no trabalho, enquanto que, para a mulher as expectativas de desempenho são menores uma vez que, socialmente, é assumido ser ela a responsável directa pela família (Torres, 2004).

A representação da paternidade parece, assim, alternar entre uma perspectiva modernista e conservadora. Embora alguns pais desempenhem, no presente, um papel mais activo na vida dos filhos, comparativamente com os seus próprios pais, ou com os seus pares, no global poucas mudanças se verificaram. Este tem sido um processo de mudança lento, porém, contínuo, nomeadamente, nas famílias em que ambos os pais trabalham. A mudança é, contudo, mais modesta do que as crenças populares poderiam eventualmente indicar (Lamb & Tamis-Lemonda, 2004; Parke, 1996; Pleck & Masciadrelli, 2004).

 

ENVOLVIMENTO NAS ACTIVIDADES RELACIONADAS COM A CRIANÇA:COMPLEMENTARIDADE OU PARTILHA

De acordo com o modelo de Lamb, Pleck, Charnov e Levine (ver Lamb, 1987; Pleck & Masciadrelli, 2004) distinguem-se três componentes do envolvimento: (1) a participação, interacção directa com a criança no contexto da prestação de cuidados e de actividades partilhadas; (2) a acessibilidade à criança, quer ocorra ou não interacção, os pais estão vigilantes de modo a responder se e quando for necessário; (3) a responsabilidade que cada progenitor assume pelo bem-estar da criança, o que envolve lembrar-se, planear e marcar por exemplo, uma consulta médica, o que não implica a presença da criança.

Segundo Parke (1996) duas distinções devem, ainda, ser claramente efectuadas. A primeira, ao nível do envolvimento nas tarefas de cuidados à criança e nas actividades de brincadeira/lazer diferenciando, deste modo, os contextos e tipos de interacção. Tal distinção possibilita uma análise mais específica dos papéis parentais e dos seus efeitos no desenvolvimento da criança. A segunda, ao nível do envolvimento absoluto e relativo, considerando que famílias onde o envolvimento relativo de mães e pais é semelhante, constituem ambientes muito distintos para as crianças, comparativamente com aquelas em que o nível relativo de envolvimento é muito desigual.

Estudos comparativos entre mães e pais são consistentes quanto às diferenças nos estilos parentais, nomeadamente, no facto da componente mais saliente nas interacções mãe/criança ser a dos cuidados, enquanto que, nas interacções com os pais a componente mais saliente é a da brincadeira. Desde os primeiros meses de vida, os estilos comunicativos e de brincadeira apresentam características distintas, com as mães, por exemplo, a terem maior tendência a pegar ao colo dos seus bebés no decurso da realização dos cuidados diários e os pais a fazê-lo quando solicitados ou no decurso das brincadeiras. Estas são mais imprevisíveis e estimulantes do ponto de vista físico com os pais, e mais tranquilas e mediadas por objectos com as mães. As diferenças existem, mesmo quando os pais consideram que devem partilhar responsabilidade e participação nos cuidados à criança, tendendo a adoptar um estilo de interacção baseado na brincadeira, contudo, são mais salientes, quando a divisão de tarefas é tradicional (ver revisão Lamb & Lewis, 2004; Lewis & Lamb, 2003). Porém, estas diferenças não são tão claras noutras culturas, nomeadamente, nos Aka Pigmeus da República Central Africana (Hewlett, 1987), nos Kibbutzim israelitas (Sagi, Lamb, Shoham, Vira, & Lewkowicz, 1985), ou na Suécia (Lamb, Frodi, Hwang, & Frodi, 1983). Ao salientar as características específicas dever-se-á, também, reconhecer a existência de semelhanças nos padrões de interacção das figuras parentais, por exemplo, o facto de ambos serem sensíveis às características e competências dos filhos, ajustando os seus comportamentos nas interacções com os mesmos (Lewis & Lamb, 2003).

No entanto, quando os pais participam nas actividades relacionadas com as crianças, fazem-no, com maior probabilidade, nas de brincadeira e lazer (e.g., Lamb, 1987; Parke, 1996; Russell, 1983). Estas são mais flexíveis em termos de rotinas e horários (Craig, 2003) e são, provavelmente, onde os pais se sentem mais à vontade, dado que, a componente dos cuidados parece ser, culturalmente, menos bem definida para os pais (Peitz, Fthenakis, & Kalicki, 2001). Neste sentido, Monteiro et al. (2006) observaram a existência de diferentes padrões de responsabilidade e participação paterna, consoante o tipo de actividade. Assim, é quase sempre a mãe que realiza as tarefas de organização/cuidados (Práticas), enquanto que, nas actividades de brincadeira/lazer (Lúdicas), existe uma participação igualitária de ambos os pais, o que vai ao encontro de outros resultados obtidos com amostras de crianças em idade pré-escolar (e.g., Bailey, 1994; Peitz et al., 2001).

 

ENVOLVIMENTO PATERNO E ORGANIZAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS DE BASE SEGURA DA CRIANÇA

A construção de relações de vinculação na infância é tida como uma tarefa normativa no desenvolvimento sócio-emocional. Durante o segundo e terceiro ano de vida, o uso das figuras vinculativas mantém-se central na organização dos comportamentos da criança, num mundo físico e social em rápida expansão (Bowlby, 1969/1982; Marvin & Britner, 1999). Embora a criança organize os seus comportamentos em torno das figuras que com ela interagem regularmente, independentemente do seu envolvimento nos cuidados físicos (Schaffer & Emerson, 1964), quanto mais experiências de interacção social, a criança tiver com estas, mais salientes elas se tornam (Bowlby, 1969/1982). A composição tradicional da família implica que, para além da mãe e do pai, irmãos mais velhos ou avós possam funcionar como base segura da criança, porém, estas figuras não são todas tratadas do mesmo modo. Na cultura ocidental, esse papel é, tradicionalmente, assumido pela mãe, sendo o pai, essencialmente, tido como um companheiro de brincadeira ao qual as crianças dirigem, preferencialmente, comportamentos de carácter afiliativo. Embora não se possa assumir que os pais são menos capazes de cuidar dos seus filhos, esta não parece ser a componente mais saliente do seu comportamento (e.g., Bowlby, 1969/1982; Lamb, 1987; Parke, 2006).

As diferenças individuais na organização dos comportamentos de base segura estão, de acordo com a teoria da vinculação, fortemente relacionadas com os comportamentos maternos, nomeadamente, com a sua sensibilidade, aceitação, cooperação e acessibilidade nas interacções diárias com as crianças (Ainsworth, Blehar, Waters, & Wall, 1978). Apesar das crianças se encontrarem vinculadas aos pais (e.g., Bowlby, 1969/1982; Main & Weston, 1981; Monteiro, Veríssimo, Vaughn, Santos, & Fernandes, no prelo), a meta-análise de van IJzendoorn e De Wolff (1997) revela que a sensibilidade paterna tem um efeito médio de 0.13, cerca de 50% inferior ao efeito encontrado nas amostras maternas (0.24). Pelo que, alguns autores (e.g., Cox, Owen, Henderson, & Margand, 1992; Goossens & van IJzendoorn, 1990) sugerem que as origens da segurança da vinculação pai/criança podem residir em diferentes tipos de interacção e contextos. Segundo Grossmann, Grossmann, Fremmer-Bombik, Kindler, Scheuerer-Englisch e Zimmermann (2002), a sensibilidade no contexto de brincadeira, por parte do pai, será central na relação de vinculação criança/pai, do mesmo modo que a sensibilidade na prestação de cuidados é central na relação criança/mãe, uma vez que parece ser nestes domínios que estas figuras são mais salientes e onde interagem preferencialmente.

Um aumento da participação do pai, nas actividades diárias relacionadas com as crianças, parece fortalecer a relação de base segura com o progenitor, indicando que a experiência nos cuidados poderá facilitar o modo como os pais interpretam e respondem aos sinais das crianças. Embora o pai possa ter capacidade para ser sensível aos sinais comunicativos do filho(a), se a criança e o pai têm pouca experiência de interacção, esta capacidade poderá fazer pouca diferença (Cox et al., 1992). No entanto, quando a mãe assume o principal papel nos cuidados à criança é, com maior probabilidade, preferida como figura de vinculação, independentemente das crianças estarem vinculadas a ambos os pais (Lamb & Lewis, 2004).

Lamb et al. (1983) sugerem que a qualidade da relação criança/pai poderá não estar associada com a quantidade global do envolvimento, mas com um tipo particular de envolvimento, nomeadamente, a brincadeira. Sugerindo, ainda, que estas interacções poderão tornar os pais mais salientes, do ponto de vista afectivo e, assim, facilitar o desenvolvimento destas relações diádicas, mesmo quando os pais não passam muito tempo com os filhos ou participam pouco nas tarefas de cuidados. Easterbrooks e Goldberg (1984) verificaram que a participação paterna nas actividades de cuidados não se encontra relacionada com a qualidade da vinculação estabelecida com o progenitor, contrariamente, ao tempo passado sozinho com a criança e em brincadeira. Porém, Caldera (2004) verificou que pais com maior nível de participação nos cuidados (e.g., mudar fraldas, dar banho) tinham crianças com valores mais elevados na segurança (AQS), o mesmo não se observando para a participação nas actividades de brincadeira/leitura.

 

OBJECTIVOS

Este estudo tem como objectivo analisar o envolvimento parental, centrando a sua análise no tipo de actividades realizadas por pais e mães (organização/ cuidados e brincadeira/lazer), numa perspectiva relativa. Dado que esta informação foi obtida de modo independente, é possível analisar o nível de concordância entre as respostas parentais, o que será indicador de uma percepção partilhada ou divergente das suas responsabilidades e participação nas diferentes actividades relacionadas com a criança.

Estudos com famílias portuguesas (Monteiro et al., 2006; Torres, 2004) indicam que, mesmo quando as mulheres trabalham são elas quem continua a assegurar o essencial dos cuidados físicos (Práticas) às crianças, sendo a divisão destas tarefas, ainda, baseada no género. Um padrão distinto surge nas actividades de brincadeira/lazer (Lúdicas), onde a participação dos pais é mais expressiva ou mesmo partilhada. Assim, analisa-se, numa amostra de famílias bi-parentais, em que as mães trabalham e as crianças frequentam cuidados não-maternos várias horas por dia, se existe uma partilha parental (co-parentalidade), ou uma divisão tradicional, baseada no género, nas Actividades Práticas e nas Lúdicas.

Diversos factores estão relacionados com o envolvimento paterno. Neste estudo, são analisadas variáveis socio-demográficas como: a idade e habilitações literárias de ambos os pais, o género da criança, a sua posição na fratria, a idade de entrada para Creche/ Jardim-de-Infância e o número de horas que passam na escola.

Segundo Lamb e Lewis (2004), nos últimos trinta anos os investigadores têm demonstrado que, não só os pais têm um impacto directo nas crianças ao interagirem com elas como, também, indirecto, pelo impacto que têm, por exemplo, nas mães. Centrando-nos nas relações de base segura, no contexto familiar, este estudo surge na continuidade dos trabalhos de Monteiro et al. (no prelo) e Monteiro, Veríssimo, Vaughn e Bost (2008). Na análise das díades criança/mãe e criança/pai, Monteiro et al. (no prelo) verificaram que as crianças organizam os seus comportamentos de base segura em torno de ambas as figuras parentais, e em magnitudes semelhantes. Apesar de não existirem diferenças significativas entre os valores de segurança à mãe e ao pai, os autores encontraram algumas características específicas nos estilos de interacção das díades, em particular, ao nível da Proximidade e Contacto Físico que parecem ser comportamentos mais salientes na relação com a mãe, embora estejam, também, presentes na relação com o pai. Encontrou-se, ainda, uma associação significativa, mas modesta, entre os valores de segurança da criança nestas duas relações (Monteiro et al., no prelo), considerando-se que a segurança não está, substancialmente, generalizada às diferentes relações dentro do sistema familiar (van IJzendoorn & De Wolff, 1997). Verifica-se, ainda, que a relação entre o papel do pai e o valor de segurança da criança, não é mediada ou suprimida pelo papel materno, e análises ao nível do casal indicam a existência de uma concordância entre os papéis de base segura materno e paterno, o que explica (pelo menos em parte) a concordância encontrada entre os valores AQS da criança, para ambos os pais (Monteiro et al., 2008). Os resultados vão, assim, no sentido de uma organização das relações como únicas e específicas no contexto familiar.

A análise de alguns aspectos da ecologia familiar poderá contribuir para uma melhor compreensão da natureza da organização das relações de vinculação da criança, neste micro-sistema. Deste modo, analisa-se se um maior envolvimento, isto é, uma maior participação paterna nas Tarefas Práticas e nas Actividades Lúdicas, está associado à qualidade da organização dos comportamentos de base segura da criança com o progenitor, ao nível do valor de segurança e das escalas do AQS (benefícios directos do envolvimento). Segundo Bowlby (2002), o pai exerce, também, um papel de apoio emocional e instrumental à mãe, ajudando-a a manter um clima harmonioso e propício ao desenvolvimento da criança. Tendo em consideração que, nesta amostra, as relações criança/mãe e criança/pai são específicas e únicas, explora-se se uma maior participação paterna, nos cuidados e nas brincadeiras, estará relacionada com a organização dos comportamentos de base segura da criança com a mãe, estando, assim, o pai a funcionar como suporte à figura materna (benefícios indirectos).

 

MÉTODO

Participantes

Os participantes são 44 díades mãe/criança e pai/criança. À data das observações AQS, as crianças tinham idades compreendidas entre os 29 e os 38 meses (M=31.75, DP=2.56), sendo 23 do sexo feminino e 21 do sexo masculino. Destas, 24 são filhos primogénitos e 31 têm irmãos. As idades de entrada na Creche/Jardim-de-Infância variam entre os 4 e os 30 meses (M=8.63, DP=6.22), passando entre 3 a 10 horas/dia (M=7.47, DP=1.50) neste contexto. As mães tinham idades entre os 26 e 48 anos (M=34.95, DP=4.33) e os pais entre os 28 e os 63 anos (M=37.32, DP=6.08). As habilitações literárias maternas variam entre os 7 e os 23 anos de escolaridade (M=15.48, DP=3.45) e as paternas entre os 7 e os 23 anos (M=14.61, DP=3.29). Todas as mães e pais trabalham a tempo inteiro. As famílias pertencem a um nível socio-económico médio/médio alto, tendo sido recrutadas para o projecto através das Creches/Jardins-de-infância de ensino particular que as crianças frequentam. Estas famílias participam num projecto longitudinal que analisa o desenvolvimento sócio-emocional de crianças entre os dois anos e meio e os cinco anos.

 

INSTRUMENTOS

Envolvimento parental

O envolvimento parental é avaliado como a participação na organização e realização de diferentes actividades, relacionadas com as crianças, que ocorrem no contexto das vivências familiares. O questionário, elaborado por Monteiro e Veríssimo (Monteiro et al., 2006), é constituído por 17 itens, organizados em duas dimensões: Actividades Práticas, composta por 11 itens (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 14, 15, 16, 17), relacionados com a organização e realização de cuidados à criança (e.g., “Quem fica em casa quando o seu filho está doente” ou “Quem dá banho ao seu filho”). A dimensão das Actividades Lúdicas é composta por 6 itens (8, 9, 10, 11, 12, 13), relacionados com a brincadeira e o lazer (e.g., “Quem lê histórias ao seu filho” ou “Quem leva o seu filho ao parque infantil”). O Alfa de Cronbach para as Actividades Práticas, na perspectiva das mães é de .68 e, na dos pais de .70; para as Actividades Lúdicas, os Alfas são .84 e .70 para mães e pais, respectivamente. Valores que indicam níveis aceitáveis de fiabilidade e que se encontram dentro dos valores apresentados por Monteiro et al. (2006).

O envolvimento é avaliado numa perspectiva relativa, ou seja, como é que as actividades são divididas ou partilhadas em relação à o utra figura parental. É pedido aos pais que respondam a cada item numa escala de 5 pontos: Sempre a mãe (1); Quase sempre a mãe (2); Tanto a mãe como o pai (3); Quase sempre o pai (4); Sempre o pai (5), apenas para a criança alvo e não para todas as crianças do agregado familiar. Não existe, assim, uma medida separada de envolvimento per se, para o pai e para a mãe, sendo o envolvimento da mãe (pai) a porção de envolvimento que não é atribuída ao pai (mãe). Por exemplo, se o pai realiza usualmente uma actividade, a mãe quase nunca realiza essa mesma actividade, ou se a mãe realiza sempre essa tarefa, o pai nunca o faz (Bailey, 1994). Os valores mais elevados representam uma maior participação do pai.

 

ATTACHMENT BEHAVIOR Q-SET (AQS): VERSÃO 3.0 DE WATERS (1995)

O AQS avalia a organização do comportamento de base segura da criança, definido como a organização harmoniosa e o equilíbrio adequado entre a procura de proximidade e a exploração do meio (Posada, Goa, Wu, Posada, Tascon et al., 1995), face à mãe ou a outras figuras, em contexto ecologicamente válido. Este é um instrumento de classificação e observação sistemática, baseada na metodologia do Q-Sort, sendo preenchido através da atribuição de itens a categorias, utilizando uma distribuição fixa. A validade do AQS, realizado por observadores, foi claramente confirmada na meta-análise de van IJzendoorn, Vereijken, Bakermans-Kranenburg e Riksen-Walraven (2004), assim como, em amostras portuguesas com crianças, em idade pré-escolar (e.g. Veríssimo et al., 2005; Veríssimo et al., 2006).

As quatro escalas criadas por Posada e Waters (Posada, Waters, Crowell, & Lay, 1995), derivadas do AQS são: Interacção Suave com a Mãe/Pai; Proximidade com a Mãe/Pai; Contacto Físico com a Mãe/Pai e Interacção com Outros Adultos (ver Monteiro et al., no prelo, para uma descrição das escalas). Os Alfas de Cronbach obtidos nas escalas para a mãe são de 0.87, 0.90, 0.83, 0.78, respectivamente, e para o pai de 0.86, 0.92, 0.84, 0.78. Valores que traduzem níveis aceitáveis de fiabilidade das escalas, para ambos os pais, e são comparáveis aos obtidos por Posada, Waters et al. (1995).

 

PROCEDIMENTO

Questionário

Os questionários foram entregues a mães e pais em dois momentos distintos e preenchidos independentemente por estes, tendo sido devolvidos aos investigadores que realizaram as observações do AQS e, ocasionalmente, às educadoras das salas que as crianças frequentavam.

Observações do AQS

As visitas domiciliárias, com duração de duas a três horas, foram combinadas com a mãe e o pai, separadamente, de modo a observar as interacções da criança com cada progenitor. Estas obedeceram ao princípio de contra-balanceamento, com um intervalo médio de um mês. Cerca de 82% das observações realizadas com as mães e 64% das realizadas com os pais ocorreram durante a semana, após os pais terem ido buscar as crianças à escola, tendo as restantes sido efectuadas no fim-de-semana.

Foi dito aos pais que o objectivo da visita era conhecer a criança e a mãe/pai nas suas rotinas e experiências diárias, pelo que lhes foi pedido que mantivessem as suas actividades do dia-a-dia inalteradas. As observações foram realizadas por duas equipas de observadores independentes que se comportaram como se de visitas sociais da casa se tratassem, procurando não interferir nas interacções em curso, mas participando nas brincadeiras da criança quando solicitados e conversando informalmente com a mãe/pai. Quando se tornava oportuno, e na sequência da conversa com a mãe/pai, foram colocadas questões acerca de itens que não se podem observar ou que não foram observados na visita.

No final, os observadores realizaram a distribuição dos itens do AQS relativos ao sujeito, de modo totalmente independente. Os 90 itens foram distribuídos por uma escala de nove pontos (10 itens em cada categoria), em que os itens mais característicos da criança são colocados nas categorias mais elevadas (9–7) e os itens menos característicos, ou os que não são como a criança observada são colocados nas categorias inferiores (3–1). Os itens que não são, nem característicos, nem incaracterísticos e/ou os itens que não foram observados são colocados no centro da distribuição (6–4). O perfil do sujeito observado é, então, correlacionado com o critério de segurança (Waters, 1995), obtendo-se um valor que reflecte o lugar ocupado pela criança num contínuo de segurança (ver Monteiro et al., no prelo, descrição mais pormenorizada do procedimento). A média das correlações inter-observadores para as díades mãe/criança f oi de 0.72 e de 0.73 para as díades pai/criança. O Q-Sort de cada criança é o compósito (média) das duas descrições-Q realizadas pelos observadores.

 

RESULTADOS

Análise das representações de mães e pais sobre o envolvimento: participação

Numa primeira análise descritiva obteve-se a Moda para cada item do questionário, separadamente para a mãe e pai, como se pode observar na Tabela 1.

 

TABELA 1

Análise dos 17 itens, como base na Moda, na perspectiva da mãe e do pai

 
Mãe
Pai
1 Quem dá as refeições ao seu filho
Quase sempre a mãe
Quase sempre a mãe
2 Quem dá banho ao seu filho
Quase sempre a mãe
Quase sempre a mãe
3 Quem veste o seu filho
Quase sempre a mãe
Tanto a mãe como o pai
4 Quem vai deitar o seu filho
Quase sempre a mãe
Tanto a mãe como o pai
5 Quem é responsável pela ida ao médico do seu filho
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
6 Quem fica em casa quando o seu filho está doente
Quase sempre a mãe
Sempre a mãe
7 Quem costuma comprar as roupas do seu filho
Sempre a mãe
Sempre a mãe
8 Quem costuma comprar os brinquedos do seu filho
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
9 Quem leva o seu filho às actividades, por e.g. natação
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
10 Quem leva o seu filho às festas de anos
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
11 Quem brinca com o seu filho
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
12 Quem lê histórias ao seu filho
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
13 Quem leva o seu filho ao parque infantil
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
14 Quem escolheu a escola que o seu filho frequenta
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
15 Quem leva e traz o seu filho da escola
Tanto a mãe como o pai
Tanto a mãe como o pai
16 A quem telefona a escola se algo se passar com o seu filho
Sempre a mãe
Sempre a mãe
17 Quem costuma ir às reuniões de escola do seu filho
Sempre a mãe
Quase sempre a mãe

 

De acordo com as mães, nove das actividades descritas são realizadas tanto a mãe como o pai, cinco são quase sempre a mãe, e três são sempre a mãe. Na perspectiva dos pais, dez das actividades são tanto a mãe como o pai a realizá-las, quatro são quase sempre a mãe e, três são sempre a mãe a realizá-las. A discordância entre os pais e as mães situa-se nos itens 3 (Quem veste o seu filho) e 4 (Quem vai deitar o seu filho) que os pais consideram ser tanto a mãe como o pai a realizá-los, enquanto que, as mães consideram ser quase sempre a mãe. No item 6 (Quem fica em casa quando o seu filho está doente) os pais consideram ser sempre a mãe e, as mães ser quase sempre a mãe; no item 17 (Quem costuma ir às reuniões de escola do seu filho) os pais indicam ser quase sempre a mãe e, as mães, sempre a mãe.

 

Concordância entre as representações parentais

A análise da concordância entre as respostas maternas e paternas, para as duas dimensões do questionário, é apresentada na Tabela 2.

 

TABELA 2

Concordância entre mãe e pai nas Actividades Práticas e Lúdicas

Actividades Práticas
Actividades Lúdicas
1(M)
2 (M)
3 (M)
1 (M)
2 (M)
3 (M)
1 (P)
4
0
0
0
0
0
2 (P)
0
26
0
0
11
0
3 (P)
0
0
14
0
0
33

Legenda: M=mãe; P=pai; 1=Sempre a mãe; 2=Quase sempre a mãe; 3=Tanto a mãe como o pai

 

O valor do Kappa = 1, para as Actividades Práticas e Lúdicas, significa que os pais não subestimam ou sobrestimam o seu envolvimento nas diferentes actividades. Do ponto de vista estatístico, a concordância entre ambos é perfeita, tendo-se optado por realizar um compósito (média) dos valores de envolvimento das mães e pais para as Tarefas Práticas e para as Actividades Lúdicas, utilizados nas análises seguintes.

Análise da participação com base no tipo de actividades

A análise das duas dimensões do questionário indica que é quase sempre a mãe a realizar as tarefas de organização/cuidados (M=2.18, DP=0.39) e que tanto a mãe como o pai (M=2.70, DP=0.32) participam nas actividades de brincadeira/lazer. Uma análise T de Student, para amostras emparelhadas, indica que as figuras parentais partilham significativamente mais as Actividades Lúdicas, do que as Práticas (t (42)=-10.1, p<0.01).

Factores associados com o envolvimento: variáveis socio-demográficas

As relações entre variáveis socio-demográficas e os valores de envolvimento nas Actividades Práticas e Lúdicas são analisadas utilizando o Coeficiente de Correlação de Pearson. Os resultados são apresentados na Tabela 3.

Como se pode observar na Tabela 3, apenas foi encontrada uma correlação positiva e significativa entre as habilitações literárias do pai e o valor de participação nas Actividades Lúdicas, ou seja, quanto mais elevadas as habilitações literárias do pai, maior a sua participação nas actividades de brincadeira/lazer.

 

TABELA 3

Correlações entre variáveis socio-demográficas e valores de participação

Actividades Práticas
Actividades Lúdicas
Idade da criança
0.07
-0.11
Idade da mãe
0.14
-0.12
Idade do pai
0.16
-0.12
Habilitações Literárias da mãe
0.17
0.18
Habilitações Literárias do pai
0.12
0.40**
Idade entrada/cuidados não maternos
-0.12
0.04
Número de horas na escola
0.32
0.02

Legenda: ** p< .01

Com base em análises de Variância não foram encontradas diferenças significativas entre os valores de participação dos pais nas Actividades Práticas para as raparigas (M=2.23, DP=0.35) e rapazes (M=2.14, DP=0.45), (F(42,1)=0.57, p>0.05) e nas Actividades Lúdicas para raparigas (M=2.76, DP=0.31) e rapazes (M=2.67, DP=0.33), (F(42,1)=0.57, p>0.05). O mesmo verificou-se para a ordem de nascimento das crianças, ou seja, não existem diferenças significativas entre os valores de participação para as crianças primogénitas (M=2.25, DP=0.37) e não primogénitas (M=2.09, DP=0.42) (F(41,1)=1.68, p>0.05) nas Tarefas Práticas, nem entre os valores de participação nas Actividades Lúdicas para primogénitos (M=2.72, DP=0.32) e não primogénitos (M=2.07, DP=0.33), (F(41,1)= 0.02, p>0.05).

 

Participação paterna e organização dos comportamentos de base segura na díade criança/pai

Utilizando o Coeficiente de Correlação de Pearson, verificou-se que a participação dos pais nas Tarefas Práticas está positiva e significativamente correlacionada com o modo como a criança organiza os seus comportamentos de base segura na relação com o progenitor (r=0.44, p<0.01), enquanto que, nas Actividades Lúdicas este valor é marginalmente significativo (r=0.26, p<0.08). Assim, quanto maior a participação dos pais nas tarefas de organização/ cuidados à criança mais elevado o valor de segurança da criança na relação com o pai.

Correlacionaram-se, ainda, os valores de participação nos dois tipos de actividades com os valores das quatro escalas AQS/pai. Os resultados são apresentados na Tabela 4.

 

TABELA 4

Correlações entre as Actividades Práticas e Lúdicas e as escalas do AQS/Pai

 
Interacção Suave
Proximidade
Contacto Físico
Interacção Outros Adultos
Actividades Práticas
0.26
0.37**
0.45**
0.07
Actividades Lúdicas
0.06
0.36*
0.35*
-0.09

Legenda: * p< 0.05; ** p< 0.01

 

As escalas de Proximidade e Contacto Físico encontram-se positiva e significativamente correlacionadas com a participação dos pais nas Actividades Práticas e Lúdicas. Na Interacção Suave e, apenas para as Actividades Práticas, o valor é marginalmente significativo p<0.08.

Participação paterna e organização dos comportamentos de base segura na díade criança/mãe

O valor da participação paterna, nas Tarefas Práticas, não se encontra significativamente correlacionado com o valor de segurança da criança, na relação com a mãe (r=0.12, p>0.45). Enquanto que, nas Actividades Lúdicas há uma correlação positiva e significativa com o valor de segurança (r=0.32, p<0.05).

Correlacionaram-se, ainda, os valores de participação nos dois tipos de actividades com os valores das escalas AQS/mães. Nenhuma das escalas: Interacção Suave, Proximidade, Contacto Físico e Interacção com Outros Adultos, se encontra significativamente correlacionada com os valores de participação nas Tarefas Práticas (0.03; 0.13; 0.07; 0.07, respectivamente) e nas Actividades Lúdicas (0.22; 0.19; 0.12; -0.06, respectivamente).

 

DISCUSSÃO

Analisou-se o envolvimento com base na participação nas tarefas de organização/cuidados (Práticas), e nas actividades de brincadeira/lazer (Lúdicas), uma vez que estudos anteriores indicam que o envolvimento do pai varia consoante o contexto e as actividades (e.g., Bailey, 1994; Monteiro et al., 2006; Parke, 1996). Embora um elevado número de trabalhos utilize a mãe como fonte de informação acerca do pai, a visão que este tem da sua própria responsabilidade e participação é tão importante como a da figura materna (Beitel & Parke, 1998). Assim, pediu-se que, mães e pais descrevessem, de modo independente, o seu nível de participação relativamente à outra figura parental. A concordância obtida nas respostas é de Kappa = 1, tanto nas Actividades Práticas, como nas Lúdicas, o que do ponto de vista metodológico confirma a validade da informação obtida via auto-relato (Pleck & Masciadrelli, 2004). É, ainda, indicador que ambos os pais têm uma percepção partilhada da sua responsabilidade e participação nas actividades analisadas, o que é particularmente importante, se considerarmos que vivem e cuidam juntos da criança.

Mas, até que ponto este novo ideal de partilha parental corresponde a um maior envolvimento real do pai, em particular, nas famílias bi-parentais, onde a mãe, também, trabalha? Os resultados obtidos replicam os de outras amostras (e.g., Bailey, 1994; Peitz et al., 2001), nomeadamente, portuguesas, com crianças em idade de Creche/Jardim-de-Infância (Monteiro et al., 2006). Embora a mulher acumule responsabilidades na esfera familiar e profissional, continua a ser a principal responsável (M=2.18, quase sempre a mãe) pela r ealização das Tarefas Práticas, assumindo o pai um papel de suporte, ajudando quando necessário, pelo que neste domínio assiste-se, ainda, a uma divisão tradicional de papéis. Contrariamente, nas Actividades Lúdicas existe uma participação igualitária (M=2.70, tanto a mãe como o pai), pelo que, a brincadeira/lazer surge como a dimensão mais saliente nas interacções pai/criança, embora não a única. Assim, apesar de, na sociedade portuguesa, as representações do papel paterno, face a gerações anteriores, parecerem estar a mudar (Balancho, 2004), os dados obtidos vão no sentido de existir, ainda, num padrão específico, baseado no género. Embora alguns pais desempenhem, no presente, um papel mais activo na vida dos filhos, poucas mudanças se verificaram, nomeadamente, na área de cuidados. Este tem sido um processo de mudança lento, porém contínuo, em particular nas famílias em que ambos os pais trabalham (Lamb & Tamis-Lemonda, 2004; Parke, 1996; Pleck & Masciadrelli, 2004).

Contudo, mesmo com um número reduzido de participantes (n=44) é possível encontrar alguma diversidade no modo como a divisão e partilha das actividades é realizada nos diferentes contextos familiares. Existem pais que assumem uma co-parentalidade, partilhando as diversas actividades com as mães, enquanto que, outros têm uma participação limitada na vida das crianças (nas actividades analisadas), enquadrando-se no estereótipo do “pai não envolvido”. No entanto, cerca de metade dos pais assume um papel temporário ou de ajuda às mães nas tarefas de organização/cuidados, partilhando as de brincadeira/lazer indo, assim, ao encontro da imagem de pai, essencialmente, como companheiro de brincadeira (e.g., Lamb, 1987; Parke, 1996; Russel, 1983). Este tipo de actividades tem horários mais flexíveis, e podem ser adequadas à disponibilidade dos pais e intervaladas com outras, contrariamente às actividades definidas como práticas que são rotineiras e orientadas pelas necessidades imediatas das crianças. Deste modo, as mães terão de gerir o seu tempo e disponibilidade entre as diversas actividades, realizando com maior frequência tarefas em simultâneo, de modo a preservar o tempo passado em actividades mais valorizadas, como por exemplo, conversar, brincar ou ler, enquanto que, os pais passam mais tempo a realizar estas actividades em exclusivo (Craig, 2003, 2006).

Os resultados obtidos são, ainda, indicadores de que, em famílias onde ambos os pais trabalham a tempo inteiro e as crianças frequentam Creche/ Jardim-de-Infância várias horas por dia, o emprego, per se, poderá não ser uma explicação suficiente para o grau e tipo de participação paterno (e.g., Manlove & Vernon-Feagans, 2002). Diversos autores (e.g., Cabrera et al., 2000; Lamb & Tamis-Lemonda, 2004; Levy-Shiff & Israelashvili, 1988; Parke, 1996) salientam, entre outros aspectos, a importância das atitudes e representações que mães e pais têm acerca d os seus papéis e competências, em particular, nos cuidados à criança, que do ponto de vista cultural, têm um papel menos bem definido, para o pai, comparativamente com as brincadeiras (Peitz et al., 2001). Na realidade, os pais poderão preferir ajudar as mães quando estas necessitam, por considerarem que elas desempenham melhor as tarefas de cuidados, optando por ser mais activos noutros domínios. Ou, as próprias mães poderão incentivar pouco a sua participação, uma vez que percepcionam estas tarefas como sendo da sua responsabilidade, podendo, inclusivamente, considerar que os maridos têm menos competências para as realizar (e.g., Beitel & Parke, 1998; Russell, 1983). Assim, apesar de trabalharem, as mães podem estar pouco disponíveis para abdicar da sua posição no contexto familiar, agindo com gatekeepers, na gestão que fazem das actividades e tempos em que esperam que o pai participe. Ainda, do ponto de vista social e institucional, o local de trabalho parece manter-se organizado para uma estrutura familiar mais tradicional, parecendo haver maior intolerância quando as responsabilidades familiares interferem no desempenho profissional dos homens, do que no das mulheres (Lamb et al., 1988).

Diversas variáveis socio-demográficas têm sido empiricamente relacionadas com o envolvimento do pai, contudo, os resultados obtidos indicam que apenas as habilitações literárias paternas se encontram positiva e significativamente correlacionadas com a sua participação nas actividades de brincadeira/ lazer. Estas são vistas, cultural e socialmente, como mais características dos comportamentos paternos, sendo este o contexto em que os pais, eventualmente, se sentem mais à vontade para estarem próximos e dar suporte afectivo, bem como, estimularem as aprendizagens cognitivas e sociais dos seus filhos. Não foram, ainda, encontradas diferenças na participação, em função do tipo de actividades para as raparigas e rapazes, nem para a ordem de nascimento, o que confirma os resultados de estudos anteriores (e.g., Bailey, 1994; Monteiro et al., 2006; Russell, 1983). De acordo com Pleck e Masciadrelli (2004), actualmente, o género exerce menor influência sobre o envolvimento paterno, do que em décadas passadas.

Um maior envolvimento do pai está associado a benefícios directos e indirectos para a criança (ver Lamb, 2004; Parke, 1996), neste trabalho, centramo-nos nas relações de base segura estabelecidas com o pai e a mãe. Os resultados indicam que, quanto maior o valor de participação paterna nas Tarefas Práticas, mais elevado o valor de segurança da criança na relação com o pai. Nas Lúdicas, o valor é marginalmente significativo (p<.08), ou seja, existe uma tendência para que quanto maior a participação dos pais nestas tarefas, mais elevado o valor de segurança da criança. No único estudo encontrado que utiliza o AQS, mas sob a forma de auto-relato, Caldera (2004) verificou que os pais que participavam com maior regularidade, nas tarefas de cuidados, tinham crianças com valores de segurança superiores, às crianças de pais menos envolvidos. Nenhuma correlação foi obtida para a participação na brincadeira/leitura.

Considerando domínios mais específicos dos comportamentos (escalas do AQS), verifica-se que as escalas de Contacto Físico e Proximidade encontram-se positiva e significativamente associadas com a participação do pai, nas tarefas de organização/ cuidados e nas actividades de brincadeira/lazer. Apenas para as primeiras, e na escala de Interacção Suave, se encontra uma correlação marginalmente significativa. Assim, os resultados sugerem que uma maior participação nos cuidados à criança parece facilitar uma comunicação harmoniosa entre os elementos da díade, as crianças aceitam sugestões, participam num dar e receber marcado por um tom emocional positivo. Associados com a participação, nos dois tipos de actividades analisadas, encontram-se comportamentos relacionados com manter a noção da localização do pai, e com o regressar para junto deste quando arreliada, aborrecida ou a necessitar de ajuda. Estas relações são, ainda, caracterizadas pela satisfação da criança no contacto físico com a figura paterna e pela capacidade deste a reconfortar, numa situação de aflição ou ansiedade, sendo marcadas por uma partilha afectiva entre a díade, aspectos que são centrais numa relação de base segura.

Os resultados vão no sentido dos pais serem tão capazes, como as mães, de cuidar dos seus filhos, sendo competentes e sensíveis nas interacções com os mesmos, parecendo que à medida que as crianças se desenvolvem, e os pais se tornam mais experientes, estes sentem-se mais à vontade no seu papel (Belsky, Gilstrap, & Rovine, 1984). Contrariando a crença popular, de que as mães estão instintivamente predispostas para cuidar melhor dos filhos, tanto as mães, como os pais, parecem adquirir as suas competências “on the job” (Lamb, 1987; Parke, 1996).

Os resultados indicam, também, a importância do contexto de brincadeira/lazer nas relações criança/ pai (e.g., Cox et al., 1992; Grossmann et al., 2002). Lamb et al. (1983) consideram que a brincadeira poderá servir para aumentar a saliência dos pais, nomeadamente, através de um estilo e tipo de brincadeira activo e diferenciado da mãe. Neste estudo não são analisados os comportamentos das figuras parentais, contudo, uma análise a nível dos itens do AQS realizada por Monteiro et al. (no prelo), indica que os comportamentos das crianças nas interacções com a mãe sugerem um estilo mais verbal, tranquilo e mediado por brinquedos. Enquanto que, alguns comportamentos nas interacções criança/pai estão associados com o contacto físico relacionado com a brincadeira, tendencialmente, física e estimulante (e.g., o trepar pelo pai enquanto brincam, o aceitar e gostar de sons barulhentos ou ser balanceada). As crianças poderão beneficiar de interacções com dois pais envolvidos, com diferentes estilos de comportamentos (Cabrera et al., 2000) e em que ambos parecem ser sensíveis às suas competências e mudanças comportamentais, resultado das diferentes fases de desenvolvimento (Belsky et al., 1984). Na realidade, quando mães e pais utilizam cuidados não maternos passam menos tempo nas tarefas de cuidados físicos, mas parecem manter o seu tempo em actividades como conversar, ler ou brincar com as crianças, o que é indicativo do valor atribuído, por ambos, a este tipo de actividades (Bittman, Craig, & Folbre, 2004).

O pai poderá, ainda, desempenhar um importante papel de apoio emocional e instrumental à mãe (e.g., Bowlby, 2002; Lamb & Tamis-Lemonda, 2004; Parke, 1996). Deste modo, analisou-se se uma maior participação nas tarefas de organização/ cuidados e de brincadeiras/lazer, poderia funcionar como suporte à figura materna, permitindo que esta estivesse mais disponível nas interacções com a criança, o que se reflectiria na qualidade desta relação. Não foi encontrada nenhuma associação entre a participação nas Tarefas Práticas e o valor de segurança com a mãe ou com as escalas/AQS. Estas poderão ser vistas pelas mães como, essencialmente, da sua responsabilidade, esperando que o pai apenas ajude, quando necessário. Na realidade, alguns estudos (e.g., Hochschild, 1995) indicam que um elevado número de mulheres parece estar satisfeita, não só com a extensão do envolvimento como, também, com o tipo de actividades nas quais os pais participam. Nas Actividades Lúdicas encontrou-se uma correlação significativamente positiva, mas apenas para o valor de segurança. Um maior envolvimento do pai, nestas actividades, poderá permitir que ambas as figuras parentais façam o que para elas é recompensador e as realiza, possibilitando ao pai satisfazer os seus desejos de maior proximidade com a criança e às mães manter, simultaneamente, relações harmoniosas com os seus filhos e satisfazer os seus objectivos pessoais (Lamb & Tamis-Lemonda, 2004).

Será, contudo, um erro assumir que um maior envolvimento tenha sempre consequências positivas para a criança (Lamb, 1987). Há pais que se vêem forçados a assumir a responsabilidade pelos cuidados dos filhos (e.g., quando o pai perde o emprego e a mãe o mantém), sem que isso seja desejado por si, ou pela sua mulher, não resultando daí benefícios para a criança, podendo inclusivamente, ter consequências negativas (Russell, 1983). Cox et al. (1992) encontraram uma relação negativa entre o tempo passado com a criança e a segurança da vinculação ao pai (controlando variáveis relacionadas com as atitudes e interacção), sugerindo que os pais poderão passar mais tempo com as crianças devido a pressões do contexto familiar, podendo este ser um indicador de stress familiar. Outros estudos (e.g., Grossman et al., 1988) não encontraram qualquer associação entre quantidade e qualidade do envolvimento. Contudo, nas famílias analisadas, neste estudo, uma maior participação do pai está relacionada com a qualidade das relações de base segura da criança, pelo que se sugere que os pais, provavelmente, consideram importante e optaram por estar mais envolvidos com os filhos, apresentando características comportamentais positivas nas interacções com os mesmos.

Segundo Easterbrooks e Goldberg (1984) é a interacção entre um maior envolvimento e as características positivas do pai que explicam a maior parte da variância no desenvolvimento da criança, nomeadamente, da vinculação (embora a qualidade, per se, tenha um peso maior). Deste modo, em estudos futuros será importante não só analisar o modo como as diferentes actividades são divididas/partilhadas entre mães e pais como, também, as representações dos pais acerca dos seus papéis e o suporte materno, incluindo uma medida da qualidade dos comportamentos parentais. Uma análise em contexto ecologicamente válido, por exemplo, em casa e/ou no parque, poderá permitir observar o estilo e qualidade dos comportamentos dos pais, na interacção com os seus filhos, em diferentes contextos.

A definição do papel do pai e do que deste se espera, em termos do seu envolvimento, é claramente menos definida, do ponto de vista cultural, do que o da mãe, não existindo uma norma que defina o que este envolvimento deverá ser. Assim, os novos papéis dos pais estão aptos a ser negociados, em vez de prontamente adoptados (Manlove & Veron-Feagans, 2002; Parke, 1996). O mais importante, é que as famílias tenham oportunidade de tomar as decisões que melhor se acomodem aos seus valores, necessidades e objectivos (Lamb, 1996), devendo essa diversidade ser reconhecida, quer social, quer cientificamente.

 

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(*) Agradecimentos: Os autores gostariam de agradecer a todas as mães, pais e crianças que aceitaram participar neste estudo, financiado em parte pela FCT (PTDC/PSI/ 66172/2006). Os autores gostariam ainda de agradecer a todos os colegas da “Linha 1”, Psicologia do Desenvolvimento, da UIPCDE pelos seus comentários valiosos.

Contactos: ligia_monteiro@ispa.pt, Department of Human Development and Family Studies, Auburn University, USA.

(**) Department of Human Development and Family Studies Auburn University, USA.

(***) UIPCDE, Instituto Superior Psicologia Aplicada, Lisboa, Portugal.

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