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Análise Psicológica

 ISSN 0870-8231

     

 

A amamentação, o feminino e o materno

Ana Margarida Rocha (*)

Isabel Leal (**)

João Maroco (*)

RESUMO

A recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) da imprescindibilidade da amamentação durante os primeiros seis meses de vida da criança conduz, em todo o mundo e em todas as circunstâncias, a um conjunto de pressões sociais para a sua prática que colocam a mulher num papel diferenciado ao nível dos cuidados primários à primeira infância e, nessa medida, reforça a assimetria de géneros.

Esta investigação tem como objectivo avaliar se a prática da amamentação se traduz em efectivos benefícios para a saúde e bem-estar das crianças, tal como genericamente é assumido, ou se, no mundo dito desenvolvido, a amamentação é mais uma crença de saúde. O estudo, de carácter comparativo, assenta na análise de conteúdo de 300 fichas clínicas de crianças de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os zero e os cinco anos, facultadas por diferentes pediatras, que permitem a avaliação, para lá das características do aleitamento, da saúde geral, do desenvolvimento e das alterações comportamentais das crianças. Foram ainda controladas algumas variáveis que poderiam interferir na saúde, bem-estar e desenvolvimento infantil, como sejam: antecedentes familiares de doenças, intercorrências na gravidez, tempo de gestação e tipo de parto.

De acordo com os resultados obtidos, para a variável tipo de alimentação e também para a variável duração do tipo de alimentação, não se observaram diferenças estatisticamente significativas na saúde, no desenvolvimento psicomotor, na evolução estaturo-ponderal, e nas alterações comportamentais (p<0.05) das crianças. Assim sendo, e para lá do prosseguimento da investigação nesta área com recurso a diferentes metodologias e amostras, reforça-se a importância de concluir sobre eventuais vantagens da amamentação já que, enquanto prática exclusivamente feminina, colabora de forma muito importante na manutenção dos estereótipos de género.

Palavras-chave: Amamentação, estereótipo de género, crenças de saúde

 

 

ABSTRACT

The World Health Organization (WHO) recommendation regarding the commitment of breastfeeding during a child’s first six months leads to several social pressures towards its use, placing the role of women at a different level concerning primary care during childhood and in this sense promotes a gender asymmetry.

The aim of this research is to evaluate the real benefits towards the child’s health and wellbeing. In a comparative study based upon the content analysis of 300 medical files of children of both sexes, (ages 0-5 years), the classification of the breastfeeding characteristics, the clinical health evaluation, the development and the changes in the child’s behaviour were registered.

Data shows no statistically significant differences at the health classification level, psychomotor development and evolution of stature-mass, nor behavioural changes between type of breastfeeding and the duration of the breastfeeding type variants (p<0.05).

Therefore, we suggest further research in this area with different methodologies and approaches so as to understand if breastfeeding health beliefs, which enhance gender stereotyping, is in fact beneficial to the child.

Key words: Breast-feeding, gender stereotypes, health beliefs

 

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(*) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa. Bolseira de Doutoramento FCT SFRH/BD/32112/2006.

(**) Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa. E-mail: ileal@ispa.pt

 

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