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Análise Psicológica

Print version ISSN 0870-8231

Aná. Psicológica vol.25 no.3 Lisboa  2007

 

Nota de Abertura

Nos territórios de encontro entre a Psicologia e a Saúde, o género é um dos analisadores que emerge de forma consistente, adquirindo estatuto de variável incontornável. Género que, diferentemente de sexo, pressupõe comportamentos e atitudes psicologicamente motivados e inscritos numa matriz social que, ainda que flexível e mutável, apresenta a estabilidade relativa suficiente para permitir a construção de grandes categorias, como sempre, classificatórias e diferenciadoras.

Estas categorias, que num olhar inadvertido parecem apenas ser uma outra forma de designar a clássica dicotomia sexual entre machos e fêmeas, dão conta da circunstância de a nossa espécie ser culturalmente determinada, quer dizer, possuir a possibilidade de moldar e transformar formas de ser e fazer diversas daquelas que já se acreditou que a anatomia e a fisiologia apontavam. Dito ainda de outro modo: ser Homem ou Mulher, não é para nós um dado de natureza conformado à genética mas, antes, uma complexa construção identitária, tão subsidiária de recursos inatos como de aquisições, umas precoces e outras ao longo de todo o desenvolvimento.

Estas identidades, que a psicologia toma como objecto de estudo, permitem ou inviabilizam comportamentos e atitudes, uns protectores e outros de risco para a saúde. Daí a relevância de percebermos como a modulação cultural opera, como a formatação estereotípica activa ou amortece a identidade dos géneros, e como as relações entre géneros se processam em diferentes circunstâncias. Daí o interesse de, mais do que irmos dando conta das semelhanças e das diferenças, podermos entender as especificidades que cada género apresenta.

A centralidade da sexualidade e da parentalidade na identidade dos géneros, mas também na actual investigação no campo da saúde, justifica o conjunto de artigos de revisão teórica e investigação empírica aqui apresentados.

Assim os artigos apresentados neste número de Análise Psicológica propõem-se reflectir sobre as questões de género, no que especificamente se refere aos papéis sexuais e parentais e às crenças e comportamentos de saúde.

Situando-se no quadro da teoria psicanalítica, José de Abreu Afonso, emMasculino e Feminino: Alguns Aspectos da Perspectiva Psicanalítica, apresenta e discute perspectivas sobre o processo de construção das diferenças de género e do desenvolvimento da identidade sexual. Segue-se a revisão da literatura de Joana Almeida e Ana Alexandra Carvalheira a respeito dasFlutuações e Diferenças de Género no Desenvolvimento da Orientação Sexual: Perspectivas Teóricas, dando conta das transições e flutuações na orientação sexual dos indivíduos, assim como das diferenças de género no desenvolvimento da orientação e comportamento sexual. Por sua vez, Nuno Nodin, com base também numa revisão da literatura, mostra como os padrões de género se expressam na vida sexual tal como surge nos anúncios pessoais, e as variações de acordo com a orientação sexual, num texto intituladoA Vida Sexual dos Anúncios Pessoais: Uma Revisão da Literatura”. O papel de género atribuído à mulher, mas agora no que concerne os cuidados parentais, é analogamente discutido e analisado empiricamente emA Amamentação, o Feminino e o Maternopor Ana Margarida Rocha, Isabel Leal e João Maroco, que não encontram fundamentos para a assumpção generalizada da imprescindibilidade da amamentação durante os primeiros meses de vida da criança.

Os artigos seguintes investigam empiricamente como as diferenças de género se expressam no comportamento parental e nas crenças e comportamentos de saúde de mulheres e homens. Ana Conde e Bárbara Figueiredo mostram que são semelhantes e diferem de forma semelhante as Preocupações de Mães e Pais, na Gravidez, Parto e Pós-Parto , sem que se observem padrões de género neste aspecto da parentalidade. Diferenças de género entre pais e mães foram no entanto presenciadas por Mariana Moura-Ramos e Maria Cristina Canavarro, mas agora no que concerne aAdaptação Parental ao Nascimento de um Filho: Comparação da Reactividade Emocional e Psicossintomatologia Entre Pais e Mães nos Primeiros Dias Após o Parto e Oito Meses Após o Parto, sendo que as mães apresentam uma reacção emocional mais intensa e mais psicossintomatologia do que os pais, principalmente nos primeiros dias após o parto.

Nuno Correia Alves e Maria João Figueiras emQueixas Subjectivas de Saúde, Afectividade Negativa e Utilização de Serviços de Saúde: Diferenças de Géneroverificam que existem diferenças de género nas queixas subjectivas de saúde e na utilização de serviços de saúde, mais frequente nas mulheres do que nos homens. No estudo seguinte, intitulado Crenças de Senso-Comum Sobre Medicamentos Genéricos vs. Medicamentos de Marca: Um Estudo Piloto Sobre Diferenças de GéneroMaria João Figueiras, Dália Marcelino, Maria Armanda Cortes, Rob Horne, e John Weinman relatam diferenças de género associadas a crenças sobre o uso de medicamentos genéricos versus de marca: os homens associam os medicamente genéricos a doenças que consideram menos graves, enquanto que as mulheres associam os medicamentos de marca a doenças que percepcionam como mais graves. EmGénero e Saúde Mental: Uma Abordagem EpidemiológicaCidália Rabasquinho e Henrique Pereira debruçam-se sobre as diferenças de género relativamente à saúde mental, reportando-se em particular à psicopatologia apresentada pela população que recorre aos serviços de psiquiatria: à excepção do álcool, abuso de substancias ilícitas e comportamentos sociais, mais frequentes nos homens, os valores de prevalência quer das tentativas de suicídio, quer das perturbações de humor, das perturbações de ansiedade, e das perturbações de adaptação, entre outras, são mais elevados nas mulheres.

No âmbito da Psicologia da Saúde da Mulher e Homem, é apresentado um conjunto de estudos que exploram os factores que se relacionam com a adaptação da mulher e do homem à saúde e à doença.

EmMenopausa, A Experiência Intrínseca de uma Inevitabilidade Humana: Uma Revisão da Literatura , Filipa Pimenta, Isabel Leal, e Jorge Branco fazem uma revisão da literatura em volta da problemática da menopausa, discutindo, entre outros aspectos, o impacto que as circunstâncias de vida da mulher têm na experiência de menopausa e as estratégias não médicas que podem favorecer a saúde da mulher neste período de vida.

Ana Rebelo e Isabel Leal estudam osFactores de Personalidade e Comportamento Alimentar em Mulheres Portuguesas com Obesidade Mórbida: Estudo Exploratório, salientando diferenças de personalidade (em domínios como o neuroticismo e a impulsividade), assim como maior restrição alimentar e ingestão emocional, em relação à população feminina portuguesa em geral.

Já Margarida Varela e Isabel Leal analisam as Estratégias de Coping em Mulheres com Cancro da Mama”, verificando que essas mulheres utilizam estratégias de coping muito distintas para se ajustar à doença, e estão particularmente focadas na resolução do problema e na emoção.

O efeito positivo da prática deActividade Física e Qualidade de Vida na Gravidezfoi observado no estudo empírico reportado por Iva Tendais, Bárbara Figueiredo e Jorge Mota.

As condições que dificultam a adaptação à gravidez e ao nascimento de um filho nas mulheres infectadas pelo VIH foram estudadas por Marco Pereira e Maria Cristina Canavarro em Vulnerabilidade de Género e Outras Dimensões de Influência na Adaptação ao VIH/SIDA e à Gravidez e Maternidade, verificando uma adaptação particularmente difícil quando a mulher é solteira, de raça negra, foi infectada por via sexual e tem uma gravidez que não foi planeada.

Finalmente, Henrique Pereira investiga os Determinantes do Risco e Implicações Para a Saúde nas Práticas Sexuais de Homens que Têm Sexo com Homens, averiguando que um elevado número tem relações sexuais sem protecção, principalmente quando expostos a práticas sexuais coactivas, praticam sempre sexo oral, têm a expectativa de continuar a ter uma relação sexual mesmo sem preservativo e adoptam papéis mais activos no acto sexual.

Isabel Leal / Bárbara Figueiredo

 

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